Capítulo 4

O que me restava fazer era meu chá e um livro mesmo, tomei um banho e vesti a roupa mais confortável possível, uma camisola. Sentei na sacada do meu quarto que dava para os fundos.

Ouvi algumas risadas vindo de casa do Victor, penso que alguns vizinhos irão reclamar. Mas coloquei a cadeira voltada para os fundos da casa dele e fiquei observando.

Haviam alguns jovens conversando entre si, música baixinha e cheiro de churrasco até que o vi se aproximando de um grupinho e ele estava lindo, camiseta preta de sempre, sorte branco e tênis. Ele estava com um copo nas mãos e sorrindo, até que virou para minha casa e acenou com a mão direita e depois me chamou.

Fiz que não com o dedo indicador, mas ele insistiu e eu sorri ainda dizendo que não.

Até que ele apontou para mim e foi para frente e eu entendi que ele estava vindo para cá, eu precisava vestir algo imediatamente.

Coloquei um sobretudo antigo que não vestia faz um tempo por cima da minha camisola e desci imediatamente.

Assim que estava descendo as escadas, ouvi as batidas na porta e meu coração acelerou.

Ao abrir, senti seus olhos tocando meu corpo dos pés da cabeça e isso fez o meu coração gelar.

— O que foi? — perguntei cruzando os braços novamente.

— Você e seu marido não vem?

— Não, vou ficar em casa hoje e ele está viajando. Mas obrigada de novo pelo convite, boa noite.

Fechei a porta imediatamente, mas ele colocou o pé e empurrou lentamente.

— Porque não vem? Se divertir um pouco, você vai gostar. — a voz dele era suave.

— Eu não penso que seja uma boa ideia. — Minha voz quase não quis sair.

— Eu insisto. Vou esperar você se arrumar, a não ser que queira ir assim.

— Você não vai desistir, não é?

Ele negou com a cabeça.

— Tudo bem. — Abri espaço para ele entrar. — Já volto.

Corri novamente para meu quarto e procurei alguma roupa mais casual. Peguei meu celular e não havia nenhuma mensagem de Henry, então resolvi ligar enquanto me arrumava.

— Oi!

— Amor, já chegou?

— Sim. O que foi?

— Nada, eu vou jantar nos nossos vizinhos e...

— Amor, não posso falar agora, depois eu ligo para você, ok? — ele me cortou.

— Certo, até depois.

E ele desligou sem se despedir, devia estar em algo urgente ou sei lá.

Vesti, por fim, um vestido básico sem estampa, cor azul e uma sandália para combinar, aquela roupa eu havia feito esses dias por conta própria em casa e eu gostava dela. Passei as mãos em meus cabelos só para abaixar um pouco e desci, pude ver Victor me esperando no sofá e quando me viu, abriu um lindo sorriso.

— Você é linda, sabe disso, não é?

Não respondi, apenas fiquei sem reação mesmo.

— Desculpa dizer essas coisas. Sei que não é bom, porque é casada, vou respeitar você, ok?

Assenti com a cabeça. Ele era muito fofo.

Fomos caminhando até a casa dele, a noite estava com algumas nuvens, mas ainda sim, dava para ver estrelas.

— Está casada a quanto tempo? — ele quebrou o silêncio.

— Cinco anos.

— E você é feliz?

Engoli seco com aquela pergunta.

— Que pergunta é essa? Lógico que sou.

— Desculpa, não queria ser intrometido. Mas me simpatizei com você, acho que podemos ser bons amigos, se você quiser, é claro.

Aquilo não parecia uma má ideia, eu só tinha Jeni como amiga, e alguns amigos do Henry que não eram necessariamente os meus amigos, apenas dele, mas que eu conhecia. Ter algum amigo próximo seria bom.

Entramos no jardim da casa dele e por fim entramos, a casa era linda e minimalista. Sem fotos, apenas alguns quadros pendurados.

— E cadê os seus pais? — perguntei, era uma curiosidade que batia muito na minha mente.

— Minha mãe morreu faz três anos e o meu pai mora no interior com o Eduardo. Trouxe ele aqui para passar uns dias comigo.

— Espera, você mora aqui sozinho?

Aquilo me surpreendeu, um garoto jovem com essa mansão, não poderia ser boa coisa.

— Moro sim, comprei esses dias, e sinceramente... Acho que foi a melhor coisa que fiz. — Seus olhos castanhos estavam brilhosos e me encaravam enquanto cruzávamos a cozinha e partíamos em direção aos fundos da casa onde estava as outras pessoas.

Nos fundos, era exatamente o que eu estava vendo da minha sacada, uma churrasqueira no canto, algumas cadeiras e pessoas conversando, a música estava baixa.

Ele me guiou até uma cadeira e me deu uma lata de cerveja que aceitei.

— Fique à vontade. — Ele sorriu e saiu para o outro lado do quintal, pegou uma cadeira e trouxe para perto de mim, colocou do meu lado e sentou-se.

Ele conversava com algumas pessoas e olhava para mim sempre que podia. A garota loira que desceu de um dos Camaros mais cedo se aproximou e sentou no colo do Victor o que me fez recuar um pouco de surpresa.

— E quem é você?

Ela disse enquanto bebia alguma coisa num copo gigante.

— Essa é Ana, minha vizinha.

— Prazer Ana, o meu nome é Yasmin. — Ela disse e tentou beijar Victor que desviou e empurrou ela delicadamente para que saísse do seu colo. Segurei o riso.

— Depois me liga de madrugada para me pedir coisas. — Ela disse, claramente um pouco alterada pelo álcool.

— Nossa. — Eu disse, enquanto ela se afastava e partia para os braços de um garoto moreno no canto próximo à churrasqueira.

— Não ligue para ela. Eu não faço nada disso.

Ele disse ao tentar se justificar, mas dei de ombros.

Victor pegou o seu celular e disse:

— Já volto, chegaram algumas pessoas.

— Vai lá. — Eu respondi.

E ele me deixou sozinha, fiquei observando todos à minha volta e um rapaz se aproximou e sentou onde Victor estava.

— Olá. Meu nome é André e o seu?

— Ana.

— Prazer Ana, você mora por aqui?

— Moro sim, a duas casas aqui. — Ele parecia simpático, tinha um sorriso simpático e acolhedor.

— Victor me disse que te machucou ontem, dá para ver, isso ainda dói?

Ele apontou para minha testa, mas antes que eu pudesse responder ouvi uns gritos altos e alguns explodiram balões cheios de água nas outras pessoas, inclusive André, que se levantou para atacar quem o atacou, me deixando sozinha novamente.

Porém, não demorou muito até que Yasmin sentou novamente onde ele estava.

— E então, vocês estão tendo alguma coisa?

Aquela pergunta me fez engasgar com a cerveja.

— Não, está louca?

— Desculpe, mas achei que sim. Achei que era o novo brinquedinho dele. Cuidado, ele cansa rápido.

Encarei ela assustada, o que Victor anda dizendo sobre mim por aí? Aquilo me afetou, se chegar aos ouvidos do Henry estou arruinada, decidi levantar e sair, mas ao passar pela porta da cozinha, esbarrei com Victor e derrubei o resto de cerveja na sua roupa.

— Desculpa, desculpa. — Pedi imediatamente e tentei passar por ele, mas ele me segurou.

— Hey! O que foi? Parece nervosa.

— Não é nada, eu só vou para casa.

— Alguém te disse alguma coisa, não é? Foi a Yasmin?

— Olha, eu não tenho idade mais pra isso...

— Calma. — Ele me interrompeu. — Vou te acompanhar.

— Não precisa, sério!

Mas me ignorou e começou a ir.

— Então me diz, o que ela disse?

— Ela disse que achou que eu era seu novo brinquedinho e me avisou que você cansa rápido.

Estávamos andando de volta a minha casa, não tinha sido uma boa ideia aquela ida até lá.

— Não ligue para ela, eu terminei com ela semana passada, isso é apenas dor de cotovelo.

— Mas, por que comigo? O que eu tenho a ver com isso?

— É que você é bonita, com esses cabelos longos e ondulados, bem pretos, olhos azuis lindos. Realmente dá inveja com certeza a algumas garotas.

— Com certeza, não dou. — Senti meu rosto queimar pela vigésima vez com aquele garoto.

Então ele segurou minha mão e disse:

— E fica linda com vergonha.

Congelei com o seu toque, já estávamos na frente de casa.

Ele me encarou por alguns minutos, impossível de decifrar a sua feição, então eu disse:

— Acho melhor eu entrar.

Mas ele se aproximou mais de mim.

— Por quê? Está com medo de mim?

— Porque eu teria medo? — Quando notei, estava sussurrando.

— Me diz você. — Victor se aproximou mais do meu rosto e tocou as minhas bochechas com os seus dedos. Fazendo sentir o meu corpo queimar com o seu toque, um toque sutil, porém eficaz, aquilo realmente deixou-me com medo, ele estava certo, eu estava apavorada pelas coisas que estava sentindo.

Senti o toque da sua outra mão na minha cintura e o meu coração senti como se tivesse parado. O tempo havia parado também, mas eu precisava lutar contra aquilo, seja lá o que fosse.

— Boa noite! Victor — Eu disse, finalmente, após reunir todas as minhas forças e dar um passo para trás, mas mesmo assim, minha voz saiu trêmula.

Para minha surpresa, ele sorriu, como se estivesse confiante.

— Boa noite, Ana.

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Comments

Gisele Oliveira

Gisele Oliveira

Estou amando o livro 💞

2023-12-11

1

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