Cabana, 00:30 AM.
POV’s Natalie.
Laurel está tendo uma crise de choro com a partida do Ryan, estou quase implorando para que ele permaneça de um jeito e de outro. Não quero que a minha garota sofra por inconsequência minha. Tenho meus momentos de bipolaridade, mas acabo voltando sempre atrás com as minhas decisões, chego a me sentir tão mal às vezes por agir por impulso. E dessa vez, fui longe demais.
Por mais que ele ache melhor se mudar e meio que chegamos num "acordo" juntos, não quero ter que ouvir a minha filha chorar, é demais para mim.
—Laurel, pensa pelo lado bom. Você terá duas casas agora.— aproximo-me até onde ela se encontra sentada no sofá, de braços cruzados. Procuro achar um meio de convencê-la, mesmo estando receosa.
— Não é a mesma coisa, mamãe!— a voz chorosa atinge-me, me dá uma dorzinha e uma sensação de incapacidade de vê-la assim. — Quero o papai aqui. Por favor papai, não vá! — súplica, com uma carinha de choro de cortar o coração.
Entreolho tensa para Ryan pedindo que ele faça alguma coisa, já que ele está prestes a sair, não será bom deixá-la nesse estado. Ele atende o meu pedido e se agacha na frente dela, secando suas lágrimas com o polegar e a olhando carinhosamente como se fosse um pai de verdade. Soa até um pouco estranho, mas nunca pensei em ver esse psicopata a acalmando como um pai normal.
— Ei, pequena, não chora.— afasta uma mecha do fio dourado que atrapalha em seu rosto, colocando atrás da orelha. Nossa filha faz birra e se recusa olhá-lo, como se já soubesse que seu choro não vai fazê-lo ficar. — Tá com raiva do pai, por quê?— pergunta com o tom calmo, encarando-a com um olhar suave e mantendo o máximo a postura para contornar a situação.
— Você vai me deixar, papai.— declara manhosa e respiro fundo.
Não gosto de ter que dividir a minha filha com alguém, principalmente com Ryan.
— Claro que não, baixinha. O pai só vai se mudar de casa.— soa manso, querendo a tranquilizar. — Jamais vou te deixar de lado. Venho te ver todos os dias. E olhe, você pode ir me visitar o tanto de vezes que quiser. Passar os fins de semana, se sua mãe permitir.— sugere e logo a menina muda de humor, enchendo os olhos de brilho, como se gostasse da ideia.
Na mesma hora, os dois olham para mim e dou apenas de ombros, concordando que terei que dar o braço a torcer e compartilhar a guarda da Laurel com Ryan, infelizmente.
— Se é assim, papai, por mim tudo bem.— aceita sem mais chorar e solto um "graças a Deus" aliviada. — Já posso dormir na sua nova casa hoje?
— Claro que não.— corto os seus planos, tossindo propositalmente no intuito de interromper ambos. — Seu pai ainda vai ajeitar o trailer, deve está cheio de poeira lá, e essa floresta não é muito segura. Acho melhor você ir só durante o dia visita-ló, por mim não terá problema.
Laurel se desanima e faz um bico murcho nos lábios ao ouvir minhas palavras, quase voltando a chorar de novo.
— Por que não, mamãe?
— Aqui nessa floresta é cheio de assassinos em séries.— minha voz emite preocupada, com a sua segurança.
— Você acha que vou deixar alguns deles machucar a nossa filha, Natalie?
O loiro me pergunta incrédulo e nego de imediato, sendo obrigada admitir que ele jamais deixaria que isso acontecesse.
— Sei que não, Ryan, é só que...— tento me justificar, mas no mesmo momento sou interrompida.
—Natalie, deixa de bobagem, não vai acontecer. Ok?— levanta-se agindo nem um pouco preocupado, colocando-se na minha frente e tocando no meu ombro.
Encaro o gesto, sentindo um breve arrepio.
Droga.
Sem me conter, engulo em seco com a sua presença, é esse o efeito que esse homem me causa toda vez que chega perto.
— Então eu posso ir hoje com você, papai?— a menina se anima, erguendo-se do sofá.
— Sim.
— Não.
Nós dois damos respostas diferentes. Bufo bem fundo, tentando não brigar. Quem esse maníaco irresponsável pensa que é? Suspiro fundo, quando sou contrariada.
—Ryan!— o repreendo, implorando pra que conserte a grande besteira que acabou de fazer. — Laurel vai sentir a minha falta, ela nunca dormiu sem mim.— começo argumentar e a loirinha se agarra a ele, como se não fosse soltá-lo.
— É só hoje, Natalie. — pede com aquele olhar de cachorro morto. Os dois estão assim, estou num beco sem saída. — Se ela chorar sentindo a sua falta, prometo vir deixá-la.
— Não estou gostando nem um pouco dessa aproximação de vocês. — aponto, transparecendo um certo ciúmes.— Eu sinto que vou perder a minha filha.— faço uma cara de chateação ao me sentir trocada.
— Para de drama, Natalie. — resmunga ele ao ver a cena que faço. Permaneço hesitante — Laurel é louca por você. Diz pra ela, baixinha.
— Mamãe, sabia que eu te amo? Eu te amo muito! — fala mega sapeca, soltando as palavras de um jeito fofo. — Não vivo sem você, mamãe. Eu te amo até a lua!
Ganho o abraço carinhoso e o abraço é o suficiente para me fazer ceder, fora a declaração que preenche o meu coração e acabo ficando toda derretida. Ao mesmo tempo, me entristeço porque Laurel não faz ideia que estou doente " e esse não vivo sem você" é o bastante para quebrar as minhas pernas.
O que será da minha filha caso eu não consiga superar essa doença?
— Ok, você dorme hoje, mas amanhã bem cedo trás a minha filha de volta, Ryan. Quero ver ela bem cedo.— ordeno, mesmo não confiando cem por cento nesse psicopata, preciso dá um voto de confiança a ele.— Se eu ver um arranhão sequer nela, eu corto o que você tem debaixo das calças. Está me ouvindo?
Os dois riem, comemorando. Fico séria, não querendo demonstrar o quanto estou feliz em ver que finalmente Laurel está tendo uma figura paterna. Ryan nunca foi de se comportar dessa maneira e cada vez mais ele está me surpreendendo. Espero muito que eu não esteja sendo manipulada pela lábia desse psicopata, porque se eu descobrir qualquer vacilo, eu nem sei o que serei capaz de fazer.
(....)
Dou as orientações a ele. Estou apreensiva, é a primeira vez que a minha criança dorme fora de casa.
— Caso ela sinta frio, faz massagens nas pernas dela.
— Não acha que está exagerando?— ele olha para trás incrédulo, pelo tanto de regras que estou impondo.
Dou de ombros, quando enxergo os seus olhos arregalados.
— Não, a Laurel faz eu fazer isso toda noite.
Sigo atrás do próprio. Ouço-o suspirar fundo de saco cheio, dizendo "tá legal".
— Outra coisa.— o paro com a minha insistência e Ryan revira os olhos.
— O que é dessa vez, Natalie?
— A Laurel tem medo do escuro. Então não apague a luz até se certificar que ela está dormindo mesmo. Entendeu, Ryan?— não escuto uma resposta em volta e sou ignorada.
Os dois saem pela porta enquanto vou atrás, tentando alcançá-los. Estou com o coração na mão e espero que não esteja sendo ingênua em confiar a minha filha com esse insano. Tomara que ele não a machuque.
—A mamãe vai sentir muito a sua falta.— agacho ficando do tamanho dela e me despeço, acariciando as suas bochechas com a palma da minha mão. — Tente dormir cedo, Laurel. Nada de ficar até tarde assistindo desenho no tablet.
— Tá certo, mamãe.— olha-me docemente e abraço-a, dando um beijo em sua cabecinha e apertando-a ao máximo.
— Se passar mal, você me avisa, tá.— ouço o tom rouco percorrendo e assinto.
Estamos jogando nas entrelinhas para que a nossa filha não perceba nada.
Percorro até Ryan, no ato momentâneo, o abraço sentindo o cheiro forte do seu perfume masculino inalar nas minhas narinas, é um cheiro tão bom. Sinto um frio na barriga ao abraço-ló, estamos meio que dizendo adeus um pro outro depois de anos vivendo no mesmo teto. Até sinto seus lábios se encostarem aos meus, não ocorrendo um beijo, mas sim um esbarrão sem querer.
— Chega.— ajo como se estivesse tudo bem, retirando minhas mãos envolta do seu pescoço e sorrindo timidamente, o olhando rendida.
Nossas respirações descompensadas se afastam. Com o polegar e sorrindo de uma forma única, Ryan seca a lágrima que desliza pelo meu rosto. Acho que a cabana não será a mesma coisa sem ele. É a primeira vez que vem essa coisa estranha de "emoção". Nossas íris refletem com tanto brilho em direção um ao outro.
— Se você continuar me olhando assim, vai ficar difícil ir embora. — escuto o tom soando num tom brincalhão, o loiro está corado e sem jeito. Seu olhar desvia para os meus lábios por um momento.
— Já te pedi para ficar, mas você não quis. — confesso, mordendo o meu lábio inferior.
Toco em seu ombro com delicadeza e Ryan segura.
— Se eu ficar, não será como eu quero. Quero te mostrar que mudei. Quero poder te conquistar de verdade. — enfatiza, e congelo quase tendo um ataque cardíaco ao escutar a declaração.
Afasto envergonhada quando somos interrompidos com a voz da pequena.
— Parem de namorar e vamos logo, papai!— ela o puxa e me recomponho toda constrangida, ficando parada na porta e os vendo ir.
Suspiro bem fundo, Ryan olha para trás e acena um "tchau", acabo retribuindo exibindo um sorriso fraco. Depois, volto para dentro e fecho a porta atrás de mim, ainda lembrando do momento que tivemos agora a pouco.
Ah meu Deus...
Escuto a Mary Jane chorar e me encaminho indo pegar a bebê no carrinho, sussurrando "agora será só nós duas".Não sei se vou conseguir dormir hoje, acho que vou ficar na sala mesmo, não quero ter que entrar no quarto e não ver Laurel lá dentro, será uma tortura.
Encaro os cantos dos cômodos e só vejo o vazio.
Respiro triste.
Ryan vai fazer muita falta.
(.....)
Alguns dias depois....
Nova York
É hoje. Já estou toda arrumada, Canibal me deu a ilustre ideia de vender às imagens das minhas filhas para elas serem modelos.
Foto Laurel
Foto Mary Jane
Estou animada com a proposta que recebi de uma agência, preciso de muita grana para começar o processo de quimioterapia.
— O Ryan está ciente?— o meu amigo indaga amedrontado.
Ele morre de medo, sempre tem essa mesma expressão quando o menciona.
— Claro que não, Canibal. As filhas são minhas filhas, ele não tem o direito de opinar em nada.
— Engano seu. — o velho me corrige, temendo o pior.
— Para de bobagem, Canibal! O Ryan está todo manso, está outra pessoa.— rebato convencida que há uma mudança em sua mente diabólica, lembrando que ultimamente as visitas que vem fazendo é bem agradável, até paramos de brigar. — Acredita que ele está ensinando a Laurel a orar.
Solto o que a minha menina acabou confessando sem querer, em uma das nossas conversas.
— O que significa orar?— interroga confuso, fazendo uma careta bizarra, me encontro da mesma maneira.
— Nem eu mesma sei. Acho que o Ryan está querendo virar pastor.— minha voz soa incomodada, até porque foge da realidade no qual pertencemos.
— Pastor?
— Aqueles que cuidam de igreja, e bem essa coisa aí, velho. Não me pergunte mais nada, porque eu não sei explicar.— gesticulo com as mãos, ecoando com desdém.
— E se ele virar pastor, ele vai te largar de vez?
Paro os meus passos ao escutar, logo me desanimo com a possibilidade.
— Provavelmente. — dou de ombros, fingindo que esse fator não me atinge— Dizem que esse pessoal que vira pastor, se casam e tem uma vida perfeita. Talvez Ryan queira manipular nessa nova realidade paralela que está criando, coitada da pessoa que será a vítima dele.
— Não será você?
— Claro que não, velho!— o repreendo. — Já mandei Ryan embora justamente para eu me manter longe desse cretino.—minto, toda balançada.
— Não parece.
— Vamos parar desse assunto chato.— o corto, ficando desconfortável com as inúmeras insinuações.
— Mas só uma coisa...— rolo os meus olhos. Canibal tirou o dia para me atazanar. — Se um dia ele te propor em casamento, você aceitaria?
Gargalho, ouvindo a piada de mal gosto.
— É mais fácil eu morrer primeiro, do que Ryan querer se casar comigo. Deixa de idealizar o que não vai acontecer, velho. — debocho do seu pensamento.— Vamos logo para essa agência, o meu futuro depende das minhas filhas passarem no teste. Caso o contrário, onde é que vou arrumar 10 mil dólares para pagar o meu tratamento?
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Atualizado até capítulo 66
Comments
Amanda
Acho que o psicopata não é ele não
2025-02-19
0
@TEODORA
kkkkkkkkkk
2023-12-11
0
@TEODORA
CRIANÇA É UMA GRAÇA MESMO!😘
2023-12-11
1