Capítulo 17

...*Liliana* ...

Descansar depois da festa, essa foi a ideia principal, mas certamente em toda a noite eu não consegui pregar o olho.

A proposta do Duque não a deixava em paz; estava a revolver todos os seus pensamentos, por um lado queria dar esse passo, pelo qual se supõe que tinha vindo mesmo atravessado todo um oceano.

Por outro lado tinha medo de arriscar e voltar a errar.

Deu muitas voltas na cama, cansou-se e decidiu levantar-se e dar uma volta.

Já não faltava muito para que amanhecesse, talvez duas ou três horas, pensou que se continuasse a dar voltas na cama ficaria louca.

Saiu para o jardim ou o que se arranjou dele, visto que também sofreu danos e ainda não o arranjaram totalmente.

No entanto, fazia demasiado vento e estava um pouco frio por isso decidiu que era melhor entrar.

Quando ia a passar perto da cozinha ouviu um barulho e decidiu espreitar para ver quem estava lá.

Grande foi a sua surpresa ao ver que não era nada mais nada menos que a Condessa.

Tinha trocado muito poucas palavras com ela, apenas as necessárias, parecia muito amável, no entanto, por uma ou outra razão não se tinha podido aproximar, tudo isto devido a que todos tinham estado muito ocupados com o desastre.

Liliana: Condessa, bom dia... creio, disse meio duvidosa.

Evelyn: Olá, por favor chama-me Evelyn.

Liliana: Mas não seria correto.

Evelyn: Temos a mesma idade, por isso não creio que isso importe muito.

Mas diz-me.

O que se passa, algo te preocupa? Porque não creio que seja agora para andares a vaguear e muito menos para uma senhorita.

Liliana: Não é nada.

Evelyn: Porque não tomas um chá comigo e contaste-me, talvez eu te possa ajudar.

Liliana: Eu não creio que a senhora me possa ajudar sinceramente.

Disse isto com um gesto de alguém como tu não entenderias.

Evelyn: Não deves julgar as pessoas pela aparência, se deres tempo de falar com as pessoas, possivelmente terás uma surpresa.

Devias arriscar a dizer-me o que se passa, talvez tenhas uma surpresa e descubras que sei muito mais do que qualquer outra pessoa.

A sabedoria pode vir até de uma pessoa jovem.

Liliana: A sério?

Disse sem confirmar muito.

Evelyn: Viu a dúvida na jovem e decidiu contar-lhe a sua história.

Sabes, a minha mãe morreu quando eu nasci, qualquer um diria que o meu pai tomaria conta de mim, no entanto, ao meu pai tinham-lhe envenenado o coração.

Na mesma noite em que a minha mãe morreu e eu nasci, o meu pai estava a ter relações sexuais com uma mulher que era minha tia.

A mesma que tinha feito o meu pai acreditar que a minha mãe o tinha enganado e que eu não era sua filha.

Portanto, desde esse instante até há pouco tempo, o meu pai se esqueceu de mim, maltratou-me e fez e disse coisas que um pai jamais deveria dizer a uma filha, tudo para favorecer à que se supõe que era a sua filha.

Sabes, quando eu nasci tinha uma aparência um pouco diferente da que tenho agora, o meu cabelo era de uma cor um pouco diferente e ao não ter características óbvias que me fizessem parecer com o meu pai...

Pois para ele isso era prova suficiente para dizer que eu não era sua filha.

Isso não foi tudo, a minha tia e a sua filha não perderam a oportunidade de me prejudicar e quando foram informadas sobre um compromisso...

Ofereceram-me a mim, porque o meu pai e a minha tia nunca arriscariam a sua querida e adorada filha.

O Conde não contava com uma boa reputação, dizia-se que toda a mulher que se casava com ele morria ou tinha algo a ver com que terminassem mortas.

Até alguns diziam que ele próprio as matava.

É por isso que me ofereceram a mim e foi assim que acabei por me tornar sua esposa.

Nos nossos tempos, uma mulher sem apoio de ninguém não é nada, além disso, não podemos fazer nada contra o que os nossos familiares decidem sobre o nosso futuro.

Por isso mesmo não tive outro remédio senão aceitar o casamento, no entanto, decidi que precisava de conhecer o meu marido e não me deixar levar pelo que os outros diziam.

Claro que nem tudo foi fácil, na realidade quase perdi a vida no processo de formar uma família com ele.

Arrisquei-me e não me arrependo, pensei que era melhor tentar do que nunca ter tentado e agora vê-me aqui, tenho um casamento estável, amo o meu marido e sei que ele também me ama a mim.

Foi um casamento arranjado, mas diz-me quantas pessoas não se casaram por amor e no final o que elas pensavam que era amor não o era?

Liliana: Diz isso por mim... por acaso.

Evelyn: Quê...? Por ti...? Por acaso tu...?

Já vejo... mas não... não o digo por ti, porque pensas isso?

Liliana: Porque o seu marido sabe de mim, por isso pensei isso.

Evelyn: Ele jamais andaria a divulgar coisas pessoais dos outros.

Por isso, não te preocupes se ele sabe algo jamais o dirá.

Além disso, ele só me disse que eras filha de um sócio e que lhe tinha encarregado que tomasse conta de ti, apenas isso me disse.

Liliana: Isso de que quase morreu... É certo?

Evelyn: Claro, não me digas que pensaste que estava a exagerar.

Liliana: Pois, sim.

Evelyn: Bom, eu creio que uma boa história de amor tem suspense, tragédia, paixão e talvez um pouco de aventura.

Agora diz-me o que te aflige.

Liliana: Pensou um pouco e no final decidiu contar-lhe, afinal se não o fizesse a quem mais perguntaria? E a Condessa parecia de confiança.

E assim foi, contou-lhe da sua vida passada em Londres, de como se casou com o homem que amava e este a traiu, de como foi humilhada.

Contou-lhe como estava disposta a criar uma criança que não era sua, que quando decidiu aceitar apressou-se a dizê-lo ao seu marido, foi quando o ouviu a ele e à sua amante a planear a sua próxima morte.

Também do seu divórcio e depois a sua decisão de viajar até aqui e também o motivo pelo qual decidiu vir.

O seu encontro com o Duque e a proposta que ele lhe fez.

Pensou que talvez a julgasse, no entanto, não foi nada disso, de facto aconselhou-a que se estivesse decidida a descobrir o que era o prazer, o Duque era um bom prospecto.

Evelyn: O Duque é um bom prospecto, é bonito e além disso tem um título e pelo que vejo vai a sério contigo.

Recomendo-te que se queres viver a vida e saciar as curiosidades que tens, devias aceitar.

Isso foi o que lhe disse.

Além de que já lhe tinha proposto casamento, de facto devia ir direta para o casamento, no entanto, também sabe que possivelmente a moça que tem à sua frente, possivelmente ainda não está preparada para o casamento.

És jovem e tens muito pela frente, e se a vida te der uma surpresa e no final até termines com uma grande família com filhos teus?

Mas isso nunca saberás se não te arriscares. Bom, já é tarde, agora que já te dei a minha opinião é melhor que vás descansar, pensa nisso, mas recomendo-te que só tomes em conta as minhas palavras porque no final a única que pode decidir sobre a sua própria vida és tu, mesmo que aparentemente as mulheres não tenham liberdade isso não é totalmente verdade.

Porque certamente somos nós que decidimos a forma como vivemos a vida, de boa ou má maneira.

Além disso, pelo que me disseste, tens todo o apoio do teu pai, por isso não tens nada a temer e muito a ganhar, pelo menos esse é o meu ponto de vista...

Bom, é melhor que nos retiremos para descansar, senão o mais certo é que não consigamos levantar-nos....

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