Capítulo 4

Liliana

Apresento-me, porquê?

Bem, porque voltei a ser Liliana Cárter e sou uma mulher divorciada.

Sempre pensei que quando me casasse seria para sempre, pensei que tinha um grande amor.

Sim, foi um grande amor, mas apenas da minha parte, acontece que vivi uma mentira a vida toda.

Já que conheço o Harrison desde criança, presume-se que nos amávamos desde sempre.

Por isso mesmo, não entra na minha cabeça que ele me tenha enganado desde o início e porquê.

Por algo que desde o princípio não lhe pertence.

Eu pensando que ele era um homem de bem e afinal é um ladrão e assassino.

Isso mesmo, ele queria ficar com o meu dinheiro e me matar.

Como não conseguiu, encarregou-se de destruir a minha reputação, pois agora a infiel sou eu, e não só isso, como também quero ficar com o filho dele por não poder ter os meus próprios.

Meu pai diz que devo me afastar até que as coisas se acalmem.

Eu sabia que uma vez que meu divórcio fosse um fato consumado, Harrison não gostaria nem um pouco, afinal o que ele queria não era uma esposa, mas um banco que lhe desse dinheiro.

Porque acontece que a única coisa que eu significava era uma mina de ouro, sempre pensei que ter um dote como o meu era uma sorte.

Embora eu não consiga compreender mentalmente isso, afinal fui eu quem decidiu me casar com um amor infantil, isso é tudo o que foi.

Apenas um amor de criança, a fantasia de uma menina, tenho certeza de que poderia culpar qualquer pessoa, embora em parte seja verdade que tudo influenciou.

Naquela época, eu ainda pensava que meu pai não me amava e, no fundo do seu coração, não era carinhoso comigo, e até então o único que sempre estava atento a mim e me mostrava interesse era o Harry.

Por isso mesmo me deixei cegar, mas mesmo assim meu pai me deu a opção de escolher por mim mesma quem eu queria que fosse meu marido.

Naquele momento, todos presumiam que Harry e eu nos casaríamos.

Ainda no dia do meu casamento, meu pai me disse que eu ainda estava em tempo de cancelar o casamento, que eu era muito jovem e que poderia esperar um pouco mais.

Naquela época, respondi que ele não podia estar dizendo aquilo, pois seria uma vergonha cancelar o casamento a poucos minutos da cerimónia.

Lembro-me como se fosse ontem, nunca pensei que ele me demonstrasse seu amor de uma forma tão incomum e foi só então que compreendi.

Que existem muitas formas de demonstrar amor e não apenas as típicas que vemos por toda parte.

É por isso que as palavras são necessárias, pois podem magoar, também podem curar um coração que espera para se sentir amado.

Palavras ao vento, é verdade, mas também é a melhor ferramenta para nos fazer entender e nunca te esquecer quando finalmente ouvi as palavras que há muito queria ouvir quando era criança.

O "eu te amo" da boca do meu pai.

…Farán Cárter:(dia do casamento)…

Quero te dizer uma coisa muito importante, ouça-me e não me interrompa até que eu termine, pois posso nunca mais ter coragem de fazer isso.

Porque para mim demonstrar qualquer tipo de afeto é doloroso, representa traumas profundos ao mesmo tempo que me enche de lembranças.

Filha, eu sei que não demonstro e isso é porque não sei como fazer, dos meus pais nunca recebi um abraço.

Era algo que não me era permitido, pois se em algum momento alguém da criadagem me tratasse com carinho, porque meus pais não o faziam, eram terrivelmente castigados.

Isso piorou quando minha mãe morreu e meu pai se casou novamente.

A mulher que passou a ser minha madrasta também começou a me maltratar, ela queria que o herdeiro da fortuna do meu pai fosse o filho que ela teria com ele.

Então aprendi que demonstrar afeto era ruim e fazia mal, podia até causar a morte, pelo menos foi o que aconteceu com a minha babá que morreu me protegendo.

Meus pais queriam fazer de mim um homem forte, apesar de não terem um título, queriam ser reconhecidos por serem uma família de costumes e tradição.

Bem, essa foi a desculpa da minha madrasta para os maus-tratos, desculpas que meu pai acreditou e permitiu.

Só quando conheci sua mãe é que conheci o amor, mas também com ela muitas vezes fui frio e distante.

Sua mãe era uma grande mulher que era capaz de me compreender e quando ela morreu prometi te dar o melhor.

Tenho vergonha de dizer que não consegui, apenas me certifiquei de que você não sofresse nenhum tipo de abuso.

Dando-te tudo o que quiseres, tudo o que desejares e certificando-me de que estejas rodeada de pessoas boas que possam te dar o carinho que eu não pude dar.

Essa é a única maneira que conheço de amar e a única coisa que sou capaz de demonstrar amor.

Por isso mesmo te digo que se não tens a certeza deste casamento podes esperar, mesmo que não te cases, isso não me incomodará, mas se ainda com tudo o que te estou a dizer quiseres seguir em frente, eu apoio-te.

E se precisares da minha ajuda, eu ajudo-te, mesmo que mais tarde decidas que não queres continuar casada com o Harrison.

Ele é filho do meu sócio, é o único amigo próximo que tenho, porém não confio nele, há algo nele que não me parece bem e para ser sincero preferia que esperasses ou escolhesses outro como esposo.

Não quero que escolhas outro homem que também não te possa amar como mereces.

Liliana: Essas foram as palavras que ele me dedicou e embora não tenha me dito exatamente "eu te amo".

Nessas palavras, em cada uma delas, ele me disse o quanto me amava, mesmo que nunca me abraçasse.

Mesmo que eu nunca mais as ouça de agora em diante, saberei sempre, a única coisa que queria ter feito era ouvi-lo sobre o Harry.

Suponho que há coisas que não podem ser evitadas.

Vou considerar a viagem, mas não vou embora sem antes me vingar um pouco.

Assim eles saberão que não estou indo embora por covardia, nunca me retirarei de cabeça baixa, sempre de cabeça erguida.

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…CARÊNCIA AFETIVA…

Certos sintomas podem ser indicativos.

Os seres humanos precisam, desde o nascimento, de reconhecimento, afeto, contenção e amor das pessoas ao seu redor.

Isso contribui para promover e desenvolver nossa personalidade de forma adequada, saudável e com alta autoestima.

Se não a recebermos na infância, isso nos causará o desenvolvimento de transtornos de desenvolvimento, bem como clínicos. Um deles é conhecido como síndrome da carência afetiva.

A troca de afeto dentro do núcleo familiar é um fator determinante para o desenvolvimento desta complicação.

Um baixo nível de confiança.

Isolamento social, caracterizado por deixar de lado o relacionamento com pessoas importantes para quem sofre.

Apresentar um maior grau de impulsividade que pode levar a comportamentos e reações agressivas.

-A capacidade de atenção e concentração diminui.

-Falta de desenvolvimento da linguagem e habilidades sociais.

-Dificuldade em expressar e gerir os sentimentos, mostrando-se frios perante quase todas as situações.

-A longo prazo, pode desencadear episódios de ansiedade.

Irá gerar em nós a sensação de não sermos amados; sentiremo-nos insatisfeitos e, então, teremos medo de ser abandonados, buscando constantemente a certeza do afeto do outro".

Também existem dois pontos que resultam desta condição.

Por um lado, existem aqueles que não se sentem amados. Por outro, aqueles que não se sentem capazes de amar os outros.

O que muitas vezes leva à procura de carinho e atenção de forma perigosa.

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