Capítulo 10

Liliana:

Chegamos sãos e salvos a Paris, nos instalamos, e como chegamos cansados pedimos algo para comer num restaurante próximo.

Na realidade não iríamos ficar muito tempo aqui.

A ideia foi a de nos afastarmos o mais rápido possível de Londres.

Embora talvez as suspeitas que tínhamos sobre Amanda e Harrison não se concretizassem, ainda assim era melhor prevenir do que remediar.

No dia seguinte:

A casa que tínhamos em Paris não era grande, na verdade era bastante pequena, porém, era suficientemente grande para passar uma pequena temporada nesta cidade.

Eu iria ficar relativamente poucos dias aqui, já que queria me por a caminho e a decisão já estava tomada.

Pensei em ir para um país grande; porém, a América do Norte não era um bom destino pelo que se sabia.

Havia algumas Revoltas e se ouviam vozes de revolução para conseguir a liberdade e ser um país independente.

Por isso tanto meu pai quanto eu pensamos que seria um lugar perigoso para morar.

Já que a minha intenção era viver pelo menos uns dois ou três anos nesse país.

Ou talvez pudesse ficar lá para sempre, viver lá, ainda não sabia.

Meu pai achava que a minha decisão era muito radical, o que ele não entende é que estou cansada de viver no meio de uma sociedade hipócrita que só vive de aparências.

Não digo que me tornarei numa agricultora no meio do nada para me afastar da sociedade, isso não seria assim.

Mas queria um lugar tranquilo onde ninguém me conhecesse, onde pudesse viver em liberdade.

Sei que é pedir muito, visto que em todo lado há gente da nobreza, afinal é assim que a nossa sociedade funciona e em qualquer lugar que vá será igual.

E embora pareça bobagem ter um sonho como este.

Ter uma vida, um marido e filhos.

Sei que o mais certo é que não poderei ter os meus próprios filhos, mas isso não significa que não possa ser mãe.

Ser estéril não deveria ser um pensamento, que esteja distante na minha mente, mas depois de tanto ouvi-lo acho que até eu já estava a tomar isso como certo.

Mas a verdade é que ainda sou muito jovem, tenho apenas 21 anos e o facto de não ter engravidado em 5 anos não significa nada porque eu continuo a achar que essa criança que Amanda diz estar esperando não é filho de Harrison.

No entanto, as pessoas acreditam no que veem e como é ela que está grávida e não eu.

Pois acreditam que sou eu que não posso ter filhos.

Também tenho outros desejos, estes são um pouco mais íntimos.

Eu li: porque deixem-me dizer que adoro ler romances, histórias românticas ou de mistério, não importa o género.

E também li leitura erótica, isto porque queria saber porque é que muitos tinham amantes se a intimidade era realmente uma porcaria.

Pelo que percebi, a minha intimidade é que era uma porcaria.

Realmente não quero ficar com o fracasso que acredito que sou.

Também quero saber o que é o prazer, quero descobrir se a que não serve para tal prazer sou eu ou era ele.

Talvez tenha dito ao meu pai que não me interesso em constituir família porque não tenho interesse em saber o que isso implica.

Mas que pessoa não quer experimentar, que pessoa não quer ter uma família feliz, acredito que todo ser humano tem essa esperança.

Esperança que dia após dia, traição com traição e dor após dor se vai perdendo.

Não quero ser uma amargurada e uma solteirona que nunca desfrutou dos prazeres da vida.

Por isso, se tiver oportunidade, tentarei e é por isso que quero ir para o outro lado do mundo, onde ninguém me conhece, onde talvez possa ter a coragem até de uma aventura de uma noite, talvez ter um amante, sei lá.

Bem como tinha dito, tenho um novo destino e são as colónias espanholas.

Farán Cárter:

Minha filha, acredito que não sei o que ela quer, seus desejos são comuns nas pessoas que sofreram e nas pessoas que se sentem sozinhas.

Até eu já tive essa necessidade, afinal uma pessoa, não importa se é mulher ou homem, tem necessidades físicas.

Claro que como homens temos mais liberdade para saciar nossos baixos instintos e não somos julgados por isso.

É diferente para uma mulher, já que ela tem que chegar virgem ao altar para ser uma boa esposa e uma boa mãe.

Mas essas correntes já ficaram para trás para a minha filha, ela já as quebrou.

Então ela não precisa se sentir presa a essas regras da sociedade que não estão escritas.

Sei que é por isso que ela não quer ficar aqui, mas sim ir para um lugar onde não a conheçam e eu só quero que ela encontre a felicidade, por isso não me oponho à sua viagem.

Não vou dizer que não estou preocupado com ela, afinal de contas sou o pai dela e a segurança da minha filha é muito importante.

Não sou o mais efusivo no que diz respeito a demonstrar carinho ou dar abraços, sinto que demonstrar este tipo de comportamento é mostrar fraqueza.

No entanto, só quero o melhor para a minha filha.

Já passou quase um mês desde que estamos em Paris e há uma semana recebi um relatório sobre o que tem acontecido em Londres.

Ao que parece, Liliana tinha razão, Harrison e sua amante tinham toda a intenção de prejudicar a minha filha, usando a criança que ainda não nasceu como arma.

Mas há algo que me chamou a atenção e é que aparentemente houve alguém que ajudou a que essas escórias pensassem que estávamos na festa que se realizou poucos dias depois de termos iniciado a nossa viagem.

E embora tenham tentado investigar, não se sabe quem foi essa pessoa, mas suponho que haja pessoas que também sofreram sob o jugo dessas más pessoas.

Harrison e aquela rameira que ele tem como amante devem ter inimigos escondidos por todo lado.

E assim era Amanda, ela gostava de agir como uma dama frágil, doce e caridosa diante de todos, até se comportava da mesma forma na frente de Harrison Fenton.

Mas havia uma pessoa que tinha sido vítima desta mulher e que era a única que sabia e conhecia a verdadeira face do monstro que Amanda escondia bem no fundo.

Era uma pessoa que passava facilmente despercebida.

E só as pessoas que gostavam de magoar os seus semelhantes para se sentirem superiores é que a conseguiam notar.

É por isso que, embora tenham investigado, não descobriram nada sobre ela.

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