Os meus olhos se abrem de repente com o coração palpitando, quase saindo pela boca, as minhas mãos estão tremulas quando pego o celular e olho as horas, 4:27 da manhã. Eu havia acabado de ter um pesadelo, na verdade, estava mais para uma lembrança da minha última noite na minha casa em Rosetown.
Me levanto e vou até a varanda, sento-me no balanço que ficava no canto e encolho as minhas pernas, trazendo-as para perto do meu corpo. Nova York continua movimentada a essa hora, realmente, essa cidade nunca dorme. Ainda mantenho minha cabeça apoiada nos joelhos, quando pela visão periférica vejo as luzes do apartamento ao lado se acenderem.
Meus olhos seguem a direção da luz e eu o vejo, o mesmo corpo masculino da noite passada está andando pelo quarto, ele está vestido dessa vez, uma camisa cinza chumbo, uma jaqueta de couro, e calças jeans. Não consigo ver nada, além disso, a janela não deixa. A lâmpada do quarto se apaga novamente, me deixando com o vislumbre da imagem do meu vizinho.
As palavras de Emma vem a tona novamente em minha cabeça. “ Você mal se conhece, talvez seja a hora de se descobrir e se você não gostar, tudo bem, mas tenta conhecer as pessoas.” É claro que isso não deveria se aplicar ao meu vizinho, como bem vi na noite passada, ele já era comprometido, mas talvez, aquilo fosse verdade, eu deveria dar uma chance de conhecer alguém legal e solteiro. Passo mais um tempo encarando a vista do apartamento quando finalmente decido tomar um banho na banheira.
Preparo o ambiente, coloco os sais, tiro a roupa e afundo-me até o pescoço. Respiro fundo, deixando a tensão ir embora e por um instante, em muitos dias, consigo esvaziar a minha mente por completo. E então esse momento é interrompido pelo toque do meu telefone. Olho no visor e observo o nome de Vicky brilhando na tela numa chamada de vídeo. Ela fora minha melhor amiga desde que eu havia me mudado para Rosetown com Jack, e esteve comigo em todos os momentos até que eu saísse de lá, o que me assustava um pouco, era o horário, ainda não eram nem 6 da manhã. Atendi apressadamente preocupada.
📱 Ligação On 📱
— Oi, Vicky, tá tudo bem?
— Oi, Bon, como você tá?
— Tô bem, aconteceu alguma coisa?
— Senti a sua falta, precisava saber se você estava bem.
— E precisava ser às 5:30 da manhã? — Vicky sorri um pouco, mas percebo o nervosismo em seu rosto. — Você está me assustando, o que houve?
— Bem, antes de qualquer coisa, preciso te dar uma notícia.
— O que aconteceu, Vicky, fala pelo amor de Deus, eu já tô quase infartando.
— Não queria ter que te contar assim de longe. Eu também sei de tudo que você passou, mas imagino que vá ficar feliz por mim. — Os olhos dela marejam e o pescoço pende para o lado, percebo tentando ao máximo prender o choro.
— Meu amor, o que houve? Pode falar comigo.
— Estou grávida. — Um breve silêncio se instala e eu apenas arregalo os olhos.
— Oh, meu Deus! Quantas semanas?
— Oito.
— E você não me contou nada antes?
— Me perdoa, eu sei pelo que você passou quando perdeu o bebê, eu achei meio inoportuno, não sei, me senti mal.
— A sua felicidade, sempre será a minha Vicky, independente do que aconteça ou tenha acontecido comigo. E por favor, não se sinta mal, eu sei o quanto você queria isso e a sua vida será ainda mais linda daqui para frente. Tô tão feliz por vocês, como o Finn reagiu?
— Você conhece o Finn, ele não é o melhor em demonstrar sentimentos, mas acho que ele está feliz, sempre quis ter um filho e eu nunca achava que era a hora certa.
— Que bom, Vicky, de verdade, eu tô muito feliz. Vocês já fizeram algum ultrassom?
— Fizemos o primeiro para ter certeza que estava evoluindo, e está tudo lindo, em três semanas vamos fazer a próxima para ver se conseguimos ver o sexo.
— Ah, que bom! Eu já imagino uma mini Vicky, cheia de laçarotes correndo no seu jardim. — Nós duas gargalhamos um pouco, mas logo em seguida percebo o sorriso sumindo em seu rosto. — Tem mais alguma coisa, não é?
— Como você ainda consegue fazer isso a tantos quilômetros de distância?
— Sou sua amiga há quase dez anos, se esqueceu? — Vicky respira bem fundo e então começa a falar.
— Ontem a noite, o Finn fez uma festa em comemoração a gravidez. Foi uma coisa pequena, só para os íntimos, o Jack apareceu aqui. — Meu corpo se enrijece totalmente, e eu endireito a postura na banheira.
— Ele fez algo com você?
— Não, mas ele sabe, Bonnie. E deixou bem claro, que se você não aparecer, a culpa cairá toda em mim, e ele faz questão de me levar presa.
— Porra.
— Eu não disse nada, você sabe que eu seria incapaz de dizer. Mas, Bonnie, eu tô assustada, e agora tenho um bebê.
— Ei, fica calma, nada vai acontecer nem com você, nem com o bebê, mesmo que eu tenha que voltar para Rosetown, eu nunca deixaria que nada acontecesse com vocês.
— Você não pode voltar, não quero que volte a viver aquele inferno, é exatamente isso que ele quer.
— Eu também não quero, Vicky. Vou dá um jeito, tá bom? Eu só preciso pensar um pouco.
— Tudo bem, Bon. Eu não acho que ele vá fazer algo de verdade, afinal ele e Finn são amigos de infância, mas…
— Jack é muito temperamental, nós duas sabemos disso. Mas prometo que darei um jeito.
— Tenho que desligar agora, o Finn chega daqui a pouco da delegacia, ele não sabe que sei onde você está.
— Foi bom te ver, vocês dois agora.
— Eu te amo, estou morrendo de saudades.
— Eu também, em breve isso vai acabar.
— Tchau…
— Tchau…
📱 Ligação Off📱
Ponho o celular de lado, me encolho por um instante na banheira e me permito chorar, até que as minhas forças de esvaem completamente, eu não podia acreditar que agora que eu estava reerguendo a minha vida sozinha, ele iria retornar e me tirar tudo, aquilo não era possível. Fico abraçada ao meu próprio corpo, até conseguir me recompor um pouco, disco o número de Emma e no primeiro toque ela me atende.
📱 Ligação On 📱
— Bom dia, flor do dia. — Ela me atende animada, posso sentir o seu sorriso largo através de sua voz, mas sou incapaz de retribuir sua alegria.
— Em, onde você está? — Forço, para que minha voz não pareça tão chorosa, mas é em vão.
— Bon, aconteceu alguma coisa?
— Não, tá tudo bem, só preciso conversar com você. — Digo tentando não preocupá-la tanto.
— Tem certeza?
— Uhum.
— Pode ser a noite? Passo por aí e...
— Emma, preciso de você. — Deixo a apreensão transparecer totalmente em minha voz.
— Tudo bem, então a gente pode se encontrar para um café, e depois eu te levo no trabalho, pode ser?
— Sim.
Combinamos de nos encontrar no café parisiense que fica perto da estação de metrô, eu me arrumo rapidamente e sigo para lá.
...****************...
Cerca de uma hora depois estou sentada em frente a Emma na mesa do Le Petit. Millie nos serve e enfim começamos a conversar.
— E então, o que houve? — Ela está curiosa, suas pernas balançam ansiosas.
— Vicky me ligou hoje pela manhã. — Começo lentamente para não assustá-la.
— Uma manhã de cheia de ligações pelo visto. O que ela queria?
— Ontem a noite o marido dela deu uma festa para comemorar o novo bebê dos dois. — Levo meu café a boca, aquecendo a minha garganta numa busca vã de conforto.
— Ela está grávida? Que legal!
— Pois é... — Crio coragem para contar a ela como vim parar em Nova York há 6 meses.
A porta do café se abre e vejo o mesmo homem de outro dia ele está ainda mais bonito, os cabelos suavemente despenteados caem sobre seu rosto, a mandíbula marcada se contrai em um lindo sorriso que ele esboça quando cumprimenta Millie. Só quando ele tira a jaqueta, percebo a tatuagem de lobo, no antebraço como a do meu vizinho e então me dou conta, a roupa era a mesma de hoje pela manhã, jeans, jaqueta de couro, camiseta chumbo. Seus olhos se cruzam com os meus por um breve momento enviando um arrepio intenso pela minha espinha, rapidamente desvio o olhar de volta para Emma.
— O que? — Pergunto pensando ter ouvido Emma dizer algo.
— Eu estou te chamando, o que você tava olhando que te deixou tão paralisada? — Ela se vira e vê o mesmo homem que eu. — Ah, uau.
— Repara no braço.
— Bem torneado mesmo.
— A tatuagem, Emma.
— Ah, você acha que é...
— Meu vizinho? Bom, quantos homens na redondeza devem ter essa mesma tatuagem de lobo? E hoje pela manhã eu o vi pela janela, era a mesma roupa.
— Droga.
— O que?
— Eu estava na esperaça de que o rosto fosse feio, ficaria menos triste por ele ser comprometido.
— Emma, sossega. Tá, vamos voltar ao foco. — Me endireito e viro novamente para ela me esforçando para manter a concentração.
— Certo, Vicky está grávida e o que pode ter de ruim nisso?
— É uma cidade pequena, Emma, você pode imaginar que ele estava nessa festa.
— Ele, tipo, o Jack? — Emma arregala os olhos e se inclina ainda mais para perto, eu não consigo nem pensar nele, então só balanço a cabeça afirmando.
— Em, você promete que não vai me julgar pelo que vou te contar?
— Eu nunca te julgaria, mesmo se me dissesse que matou aquele desgraçado, eu ainda te apoiaria.
— Eu só quero que você se lembre o quanto eu estava desesperada quando sai de lá.
— Me lembro bem.
— Lembra de quando eu te liguei? Você disse ser para eu vir, para recomeçar aqui.
— Claro, nunca me esqueceria daquela noite, nem que eu tentasse muito.
— Eu não queria ser um fardo para você.
— Bon…
— Eu sei, que você vai dizer que eu nunca seria um peso ou um fardo, mas eu não achei que era justo vir morar com você e deixar tudo em suas costas.
— Você sabe que seria o maior prazer da minha vida te ter ao meu lado.
— Bom, eu queria vir para Nova York me reerguer, o Jack não me deixava com dinheiro em mãos, eu sempre usava o cartão, mas se eu fizesse isso…
— Ele saberia cada passo seu.
— Exatamente. A gente tinha uma conta juntos.
— Se era conjunta, era dos dois.
— Na verdade, não era conjunta, eu meio que era dependente dele, então para grandes movimentações, eu precisaria da autorização dele.
— Droga…
— Vicky era gerente no banco, ela sabia de tudo, ela entendia o meu desespero, então ela burlou as regras, e me deixou pegar a grana.
— De quanto dinheiro estamos falando?
— O valor do apartamento, duzentos mil dólares.
— Puta merda.
— O Jack descobriu, Em, ele está ameaçando a Vicky.
— Você não acha que ele poderia fazer mal a uma mulher grávida, acha?
— Sinceramente, Em, não sei do que aquele homem é capaz, estive ao lado dele durante dez anos, e isso não impediu que ele fizesse tudo que fez comigo.
— E o que você quer fazer agora?
— Eu não sei, por isso pedi a sua ajuda, não posso deixar que ele faça mal à Vicky por minha causa, nem que eu tenha que voltar.
— Tá maluca? Você não volta para aquele inferno nem por cima do meu cadáver.
— O que faço, Em?
— A gente pode pôr a grana de volta.
— E onde a gente vai arrumar 200 mil dólares?
— Eu não sei, Bon. A gente dá um jeito, pega um empréstimo, faz um financiamento, mas uma coisa é certa, você não está mais sozinha nessa, você tem a mim, entendeu? — Abaixo a cabeça preocupada eu sabia que aquilo era verdade. Desde que eu tinha vindo embora, Emma esteve comigo o tempo inteiro. Quando levanto novamente o olhar, os olhos do vizinho estão em mim, quando nossos olhares se cruzam ele desvia o dele.
— Precisamos ir, tenho que trabalhar.
— OK, vamos.
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Atualizado até capítulo 110
Comments
Maria Inês
Pena da Bon, passando por sofrimento.
2025-03-02
0
Ligia Carvalho
Coloque fotos dos lugares,seria mais interessante.E,conte o que aconteceu entre o casal pra gente entender o drama.
2023-12-11
3