Chego em frente a enorme porta de vidro chumbada nas paredes rosa queimado. Editora Reader, essa seria a minha nova chance de crescer na vida e eu iria agarrá-la com unhas dentes. Já havia perdido muito tempo da minha vida com o diploma guardado na gaveta, esse era o momento de fazer acontecer.
Caminho porta adentro e logo de cara me deparo com Tifanny Reader, minha nova chefe. Ela olha para o relógio e me olha de volta, parecendo feliz com o que vê.
— Pontual… Já tem o meu respeito.
Sorrio um pouco tímida, novas relações não são bem o meu forte. Mas como secretária pessoal dela, preciso pegar um pouco de intimidade.
— Eu disse na entrevista que era uma das minhas qualidades.
— Bom saber que é uma mulher de palavra. Bom, seja bem-vinda, acompanhe-me por favor. — Ela começa a seguir para dentro do escritório e eu caminho atrás. Tifanny era uma ruiva bonita, a pele alva como a neve e os olhos azuis piscina. O seu tom de cabelo se acentuava pela camisa verde-escura, que ela usava, juntamente com calças de alfaiataria branca e scarpin nude.
Ela era estilosa e naturalmente bonita, sem precisar se esforçar, além disso, era uma editora excepcional, junto ao seu marido nessa empresa. Seguimos por todo o escritório, o ambiente era bem extenso, surpreendentemente maior do que parecia ser por fora, ela me apresenta a alguns funcionários, a grande maioria é indiferente com a minha presença, eu tento parecer gentil, mesmo com a timidez falando um pouco alto demais. Continuamos com a tour pelo escritório até uma mesa onde ela para.
— Bem, esse será o seu novo ambiente de trabalho. — A mesa era comprida em formato de L com duas cadeiras, uma de frente para uma porta, a qual eu presumi ser do escritório de Tifanny, e a outra virada para o outro lado, neste canto, alguns figure actions e quadrinhos estavam metodicamente organizados. — Aqui em frente fica a minha sala, então será bom para nos comunicamos com mais facilidade, você será responsável pela minha agenda e compromissos. Além disso, a minha antiga secretária costumava fazer a última revisão ortográfica dos trabalhos a serem publicados por mim, tudo bem para você?
— Claro! Posso fazer isso com certeza.
— Ótimo, qualquer dúvida, estarei no escritório aqui na frente. — Tifanny puxa um manuscrito que estava em cima da mesa. — Bom, esse vai ser o seu primeiro trabalho, irei te enviar as suas instruções por e-mail, todos os meus compromissos a serem agendados costumam ser enviados via e-mail também.
— Certo, qual o prazo para a revisão?
— Até a próxima sexta, acha que consegue?
— Consigo, Tifanny! Pode deixar comigo.
Sento-me na minha cadeira e começo a ler o e-mail de instruções de Tifanny, organizo os compromissos e atendo os telefonemas dela. Levo quase uma hora completamente envolvida nisso, quando um rapaz alto, com os músculos suavemente torneados numa camisa branca de botões, cabelos loiros, óculos, entra pela porta do escritório, ele cumprimenta os outros funcionários e por fim olha na minha direção me encarando um pouco. Por um instante aquilo me deixa acanhada, então desvio o olhar e me concentro novamente na tela do computador, consigo perceber sua presença quando ele dá a volta na mesa e põe seus pertences ao meu lado.
Harry Reinalds:
— Bom dia. — Ele dá a volta na mesa se sentando na cadeira. Seus olhos me percorrem analisando por um instante o que me deixa um pouco sem graça, e então ele sorri, um sorriso leve, seus olhos se espremem suavemente formando pequenas rugas ao redor. — Ah, você deve ser a nova secretária da mulher-dragão, estou certo? — Ele diz estendendo a mão em minha direção.
— De quem? — Pergunto franzindo o cenho, completamente confusa.
— Harry Reinalds, sou o auxiliar do Joe. — Ele dá uma risadinha e estende a mão, eu faço o mesmo e nós apertamos nossas mãos.
— Sou a Bonnie Wilson, a nova secretária, da Sr.ª Reader. — Sorrio um pouco tímida, enquanto aperto sua mão firmemente tentando disfarçar meu nervosismo. Ele é um homem bonito, com olhos azuis gentis.
— Prazer em te conhecer, espero que você dê certo por aqui, você fala, o que já é ótimo em comparação com a antiga secretária. — Um risinho escapa dos meus lábios devido ao comentário. — Espero que você se sinta acolhida aqui no escritório, o pessoal aqui é bem legal, só tem uma que é meio babaca, mas de resto é tranquilo. Bom, estaremos aqui lado a lado, então posso auxiliar no que for necessário.
— Obrigada, inclusive será que você poderia me ajudar com essa agenda digital? Não estou conseguindo marcar os horários.
— Normal, esse software é um pouco ruim, mas em breve você se acostuma. — Ele dispõe de alguns minutos me ensinando como mexer e eu presto atenção em cada detalhe, ele era muito paciente.
— Acho que consegui entender. Qualquer dúvida eu te pergunto.
— Claro, pode ficar a vontade. — Ele faz uma pausa me analisando. — Você é de Nova York?
— Não, sou de uma cidade no sul, bem no interior, chamada Greenville.
— Ah, era óbvio, você tem a sutileza e doçura dos sulistas. — O elogio me pega um pouco desprevenida e tenho certeza que se não fosse pela base em meu rosto, minhas bochechas em chamas estariam gritantemente vermelhas.
— E você? É daqui? — Desconverso tentando disfarçar meu nevrosismo.
— Ah, não, sou de Miami. Abandonei a praia e a brisa fresca pela grande e gélida Nova York devido às oportunidades de emprego.
— Miami também é uma cidade grande, com certeza tem mais oportunidades do que a minha cidade com pouco mais de 11mil habitantes. — Ele engasga quando digo a população de Greenville.
— Puta merda! 11mil? Com certeza todos nessa cidade são primos.
— Quase isso. É o tipo de lugar que você não consegue ir escondido nem à esquina sem que todos saibam.
— Isso deve ser um saco, não me imagino viver assim, no meu caso não tinha nada disso, é só que fui indicado por um professor da faculdade para o Joe e desde então, não quis mais voltar, não tinha muitas coisas lá para mim. — O olhar dele se torna um pouco melancólico por um instante. — O que quero mesmo é conseguir uma única publicação de sucesso. O Joe já me deu algumas oportunidades, mas eu ainda não tive sorte, estou me aprimorando.
— Bem, já é um grande passo conseguir colocar no papel, eu nem isso.
— Você não escreve nada?
— Bom, eu tento, mas, não sei, não consigo a inspiração… Sabe?
— Sei bem.
— Inspiração é difícil, faz alguns meses que venho colocando algumas coisas no papel, mas, acho que ainda não saí do terceiro capítulo.
— É um começo, tenta não se cobrar tanto, costuma fluir melhor.
— Tenho dificuldades em não me cobrar. — Sorrio, pois só eu sei o quanto aquilo é verdade, e após perceber a sucessão de erros que foi a minha vida, aquilo havia se agravado.
— Todos cometemos erros, você não deve ter ultrapassado muito a quantidade normal.
— Você nem imagina o quanto. — Acho que deixo transparecer a minha tristeza em falar do assunto, pois ele muda o tom da conversa de repente.
— Sobre o que você escreve? Quando a inspiração vem.
— Gosto de romances.
— Parece combinar com você. — Ele sorri e me analisa, seu olhar fica profundo no meu, o que me deixa completamente sem graça, eu desvio os meus olhos de volta para a tela do PC.
— Bom, deixa eu voltar ao trabalho, não cheguei nem na metade da lista de coisas que a Tifanny me passou.
— Então corre, ela gosta dos checklists completos no fim do dia, se não entregar, ela tende a ficar furiosa.
— Ela não parece o tipo de mulher que fica furiosa, ela parece tão calma.
— Você não imagina o quanto, não queira vê-la nervosa.
Aceito o conselho e volto ao trabalho.
...****************...
No fim do expediente me jogo para trás na cadeira deixando o corpo relaxar um pouco. Olho para o computador e me sinto orgulhosa, todas as tarefas do dia haviam sido finalizadas.
— Nada mal para o primeiro dia. — Harry diz me observando enquanto meus olhos continuam fixos na tela com o checklist completo.
— É tão bom ter essa sensação de dever cumprido ao fim do dia. Parece que depois de tanto tempo, finalmente me sinto útil. — Assim que fecho minha boca, percebo que pensei alto e expressei os meus sentimentos demais. Sorrio um pouco tímida, e Harry inclina a cabeça, parecendo tentar me decifrar.
Me levanto rapidamente da cadeira, esticando a coluna, para evitar que ele me fizesse qualquer pergunta. Ele se levanta também e começa a organizar alguns papéis em sua maleta. Ponho a minha bolsa sobre o ombro e me preparo para me despedir.
— Bem, eu já vou, não posso perder o meu metrô, foi um prazer trabalhar com você, Harry, até amanhã.
— Ah, eu também já estou de saída, posso te acompanhar até o metrô se quiser.
— Não precisa, de verdade, estou bem.
— Tem certeza? Esse horário é um pouco perigoso.
— Tá tudo bem, fica bem perto.
— Então tá bom. — Harry joga as mãos para cima como um ato de rendição e sorri, docemente. — Vejo você amanhã.
— Até amanhã.
Sorrio e caminho para fora da empresa, enquanto ainda sinto seus olhos fixos em mim. Harry me parece ser alguém legal, e por alguns instantes ao longo do dia, tive a impressão de que ele flertava comigo. Balanço a cabeça tentando voltar a minha própria realidade, com certeza ele não estava flertando, estava só sendo gentil. Apresso o passo até o metrô, rapidamente entro na estação e embarco para o meu destino.
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Atualizado até capítulo 110
Comments
Maria Inês
Seguindo com a leitura cativante.
2025-03-02
0
Elisabete Polete Alves
tanto rapaz entrou que chamou a atenção dela,que não co wegui entender ainda o principal,o da cafeteira o Harry,mais seguimos
2024-08-25
2
Elaine Guimarães Pinheiro
não gostei e estranho a história
2024-07-31
1