Capitulo 4

Passo rapidamente pela portaria, cumprimento o porteiro e entro no elevador, as portas vão se fechando lentamente, quando ouço uma voz feminina.

— Segura para mim!

Ponho a minha mão evitando que as portas se tocassem e no mesmo instante elas reabrem. Uma mulher jovem, muito bonita está em frente a elas. Seus cabelos e olhos são escuros, contrastando com a pele clara e a boca rosada, ela não está arrumada, mas tem um ar de beleza natural. Eu não sou muito alta, e ainda assim ela conseguia ser bem menor do que eu, o que não diminuía em nada a sua beleza.

Ela sorri brevemente, agradece, me cumprimenta com um boa noite, e eu retribuo. Paramos no mesmo andar, ela sai na frente e para no apartamento ao lado do meu que fica logo em frente ao elevador. Caminho para o meu apartamento, enquanto destranco a minha porta, o apartamento ao lado se abre. Não consigo ver quem está dentro, mas ela abre um sorriso que poderia iluminar o andar inteiro assim que seus olhos o encontram.

— Você chegou! — Uma voz masculina diz e eu a vejo abraçar e pular no colo de alguém, e então a porta se fecha. Eu finalmente encontro minha chave e entro.

Me jogo no sofá e a minha barriga ronca, sinalizando o quanto eu estava faminta, mas me lembro de que Emma havia dito que passaria aqui.

📨Mensagem On📨

Bonnie: Estou famintaaaaaa!

Emma: Já terminei por aqui, quase saindo do trabalho, aguenta firme! Passo na pizzaria e ir direto praí.

Bonnie: Ok, vem voando. 💨

Emma: 🏃‍♀️🏃‍♀️🏃‍♀️

📨Mensagem Off📨

Encosto a minha cabeça e ligo a TV. Assisto a um episódio da minha série favorita “Friends”, deixando a minha mente leve. Por um instante me distraio e me lembro da cena dos vizinhos, parecem apenas um casal apaixonado e feliz. Me lembro que um dia já tive aquilo e até cheguei a pensar que seria feliz para sempre.

Flashback on

Depois do concurso, Jack havia tentado de tudo para me fazer sair com ele, enviou muitas flores, viajou várias vezes de Greenville até Rosetown só para conversar comigo por meia hora e depois voltar.

Ele parecia um cara legal, talvez um pouco velho demais para mim, mas ainda assim, legal, ele tinha uma vida já estruturada, acabara de ser promovido a delegado em sua cidade, e mesmo assim, ainda encontrava tempo para vir me ver, mesmo que eu não desse esperanças a ele.

Estou divagando nesses pensamentos olhando através da janela do meu quarto, naquela noite, Emma havia ido dormir na casa de sua melhor amiga, Stella, e eu estava sozinha. Mamãe dormia no quarto ao lado, e meus pensamentos não saiam dos profundos olhos de Jack.

De repente, sou puxada dos meus pensamentos quando uma pedrinha bate contra o vidro da janela. No primeiro momento acho aquilo tão estranho, mas logo em seguida, outra pedrinha bate contra ela. Olho para baixo e lá está ele. Seus braços fortes marcam contra a camisa de algodão egípcio branca, deixando ele ainda mais sexy. Inevitavelmente um sorriso se abre em meu rosto e ele retribui lindamente.

Abro a janela da maneira mais silenciosa que consigo e falo tentando sussurrar para não acordar minha mãe.

— O que você está fazendo aqui?

— Fiquei com saudades.

— E não poderia ter mandado um SMS?

— Um SMS não me deixaria ver esse rosto perfeito, anjo.

Por um instante perco a fala e até o meu fôlego, ele mexe comigo de uma maneira que ninguém havia mexido antes. Mas eu sabia que não poderia me envolver, a minha mãe nunca aceitaria que eu estivesse com um homem onze anos mais velho que eu, e mesmo que aceitasse eu viraria o assunto na cidade inteira.

— Desce aqui para eu te ver.

— Não posso, a minha mãe tá dormindo, se eu sair, ela vai escutar.

— Então eu subo.

— Jack! Não!

— Qual é? São só uns 10 minutos. Preciso te ver de perto, por favor, anjo.

Pondero por um tempo, deixar ele subir logo era menos pior do que algum vizinho acordar e vê-lo no meu quintal a essas horas da noite.

— Tá, mas tem que ser rápido.

Ele concorda e prontamente sobe pela escada que fica ao lado da casa e habilidosamente pula para dentro do meu quarto pela janela. Quando ele entra, o seu cheiro maravilhoso de ébano invade as minhas narinas, me fazendo querer me lançar em seus braços.

— Você é doido.

— E a culpa disso, é sua. Você está me enlouquecendo Bonnie Wilson.

— Jamais faria isso.

— Você precisa parar de me maltratar e sair comigo, eu juro que não mordo, exceto se você quiser.

— Não faço isso para te maltratar, mas se a gente sair hoje, amanhã, eu serei assunto na cidade inteira, e a minha mãe me mataria.

— Converso com ela, mostro a ela que sou um homem de verdade, para casar, não sou um qualquer que quer a filhinha dela.

— Você não conhece Alba Wilson.

— Por favor, Bonnie — Ele diz dando um passo em minha direção.

— Não. — Tento parecer firme, mas sinto a minha perna tremer com a proximidade.

— Por favor. — Ele dá outro passo.

— Não… — A minha voz fica ainda mais baixa e mais fraca com a proximidade dos nossos corpos.

— Por favor — Ele sussurra, a apenas um centímetro de distância dos meus lábios.

— Nã… — Não consigo terminar de falar por que apenas um segundo depois, nossos lábios estão colados. Ele põe as mãos em meus cabelos, e me puxa para perto e o meu corpo se entrega àquele desejo.

Flashback Off

A campainha toca, me fazendo voltar a realidade novamente, eu me levanto e corro em direção à porta. As lembranças sobre Jack e a nossa vida no interior, tem ficado cada vez, mais frequentes, talvez pelo fato de eu estar passando mais tempo, sozinha agora. Mas eu precisava parar de pensar nessa história, tudo isso agora era passado e eu precisava superar.

Abro a porta e encontro uma Emma extremamente sorridente do outro lado.

— A entrega de pizza chegou!

— Você demorou, eu estou faminta.

— Desculpa, acabei me enrolando no trabalho e, além disso, eu tive que passar na pizzaria.

— Achei que tinha me dito que já tinha acabado quando falei com você. — Ela passa por mim indo em direção ao balcão da cozinha enquanto fecho a porta.

— É, eu já tinha mesmo, mas o meu chefe precisou de ajuda com uma coisa e eu não podia dizer que não, ele é meu chefe. — Emma se senta na banqueta e desvia o olhar do meu, eu a conhecia muito bem para saber que ela só fazia isso quando estava mentindo para mim.

— O que você está escondendo? — Estreito os olhos e me sento no banquinho ao seu lado.

— Eu? Não estou escondendo nada. — Ela se levanta caminhando pela pequena cozinha do meu apartamento, tentando desviar do assunto. — Onde tem talheres?

— Na primeira gaveta. Você anda bem estranha de algumas semanas para cá, meio alegre demais, some sem explicação, demora para chegar nos lugares, isso não é coisa sua. — Viro a cabeça para o lado tentando descobrir o que ela esconde.

— Eu não, isso é coisa da sua cabeça. — Emma dá a volta no balcão, pega a pizza e me chama com a mão. — Vamos comer na varanda, eu amo a vista desse apartamento! Você tem vinho? — Ela estava agitada, o que não era incomum para Emma e eu sabia que ela estava animada com algo, que ela não queria me contar, então preferi respeitar.

Vou até à cozinha para buscar um vinho que eu havia trazido da casa de Emma quando me mudei. Abro o armário, pego a garrafa e duas taças até que ouço a voz de Emma outra vez.

— U-A-U! — Emma exclama, e eu estico minha cabeça tentando ver através do vidro da porta da varanda o que havia deixado ela tão boquiaberta.

— O que houve?

— Isso deve ser realmente a visão do paraíso.

Caminho até ela com uma garrafa de vinho nas mãos e duas taças, quando finalmente consigo ver o que ela viu. Na janela do apartamento ao lado, o mesmo em que vi a mulher entrando mais cedo, um homem está parado, não é possível ver seu rosto, somente o tronco. Um antebraço com uma enorme tatuagem de lobo estampada que recobria toda a pele da região. O braço era bem delineado com veias saltadas e vizinho ao abdômen totalmente dividido recoberto por alguns pelos curtos. Nas mãos, a pele era bronzeada como se ele acabasse de sair de um sol de verão. Me pergunto como era possível alguém estar com aquele bronze em pleno outono. Mal percebo que passei tempo demais fazendo toda aquela análise, quase babando, assim como Emma, e então, ele sai do campo de visão e a cena da moça chegando, o vendo e pulando em seus braços vem em minha mente.

— Emma! Ele tem namorada.

— Como você sabe? Acabou de se mudar.

— Eu os vi mais cedo, eles parecem realmente apaixonados.

— Tá bom, ela é muito sortuda, mas olhar não arranca pedaço, o cara é muito gostoso, como ele é? O resto.

— Não sei, eu não o vi, eu só consegui ver ela o abraçando e ouvi sua voz, mas vamos mudar de assunto. — Me sento colocando as taças sobre a mesa junto ao vinho e a pizza.

— Hum, tá bom, então. — Ela faz um biquinho fingindo estar triste. — E como foi o seu primeiro dia no trabalho?

— Ah, na verdade, foi ótimo. — Enfio uma fatia de pizza na boca enquanto conto para Emma sobre o meu primeiro dia. Ela insiste na ideia de que provavelmente Harry deu em cima de mim, enquanto eu me esquivo disso.

— Irmã, não quero me meter na sua vida, mas sério, você só teve um homem a vida inteira, faz quase 6 meses que vocês se separaram, por que não dar uma chance de conhecer alguém?

— Não sei se estou pronta Em. — Meu olhar se abaixa instantaneamente, eu me lembro bem de como Jack era no começo, e o rumo que as coisas tomaram até o final, confiar meu coração a alguém outra vez seria difícil.

— Ei! — Ela toma minhas mãos entre as suas e me olha com ternura. — Eu sei, que deve ser difícil, mas nem todos os homens no mundo vão ser como o Jack, você encontrará alguém legal. E eu não tô falando para você conhecer alguém tipo o carinha do trabalho, se apaixonar e ter filhos. Talvez só sair, jantar, ter um encontro legal, um sexo gostoso e fim.

— Você sabe que isso não é a minha cara.

— E o que é a sua cara, Bon? — Ela me encara realmente reflexiva.

— Não sei. — Ultimamente eu vinha me dando conta de que não sabia ao certo do que eu gostava ou o que eu queria.

— Você mal se conhece, se envolveu com aquele cara quando era só uma adolescente. Talvez seja a hora de se descobrir e se você não gostar, tudo bem, mas tenta conhecer as pessoas.

— Vou tentar, prometo. — Eu não sabia se aquilo era exatamente verdade, eu ainda sonhava em ter um amor de verdade, como os que eu escrevia nas histórias, mas eu também havia perdido toda a minha esperança quando saí daquela casa em Rosetown.

Emma passa o braço por cima do meu ombro e me puxa para perto, nós passamos o resto da noite fofocando e comendo pizza, até que ela se vai e eu durmo.

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