A Delegada Do Morro
CAPÍTULO 01
MARINA
Acho que todo mundo conhece alguma menina patricinha, que vive uma vida de princesa morando em mansão, com carros de luxo, que esbalda viagens, roupas importadas e perfumes caríssimos.
Pois essa não é a minha realidade, não que eu julgue esse tipo de pessoa, afinal eles tem algo que a maioria não possui, grana. O dinheiro movimenta o comércio, o sistema, o mundo. E exatamente pelo dinheiro, que meu pai se tornou o dono do morro do Alemão, o senhor Lourenço, conhecido pelo vulgo MATADOR, entrou nessa vida para dar o que comer a mim e a minha mãe.
Ele sempre foi assim, um homem dedicado a família, que foi demitido do emprego que tinha a muitos anos atrás, por uma injustiça, simplesmente por ele ser de periferia, e sabe o que lhe restou? Absolutamente nada, NADA mesmo. Ele saiu de lá com uma mão na frente e outra atrás, e não tinha mais para onde recorrer, ele então entrou nessa vida, e hoje é o que chamam de DONO DA PORRA TODA.
Meu pai gostou dessa vida, por que ninguém poderia mandar nele novamente, e no caso ele é o chefe.
Mas é como eu sempre digo, nada nessa vida é fácil, ele começou por baixo, teve que subir cada degrau, e sabe o que trouxe para ele? Uma das piores cenas da nossa vida, ver minha mãe ser baleada na nossa frente. Dona Mara era uma mulher incrível, uma mulherona de 40 anos, cabelos castanhos de olhos da mesma cor, uma mãe exemplar para sua única filha, no caso eu.
Meu pai ficou arrasado, ele teve um surto e matou o cara que o feriu daquela forma tão cruel, ele foi até o fim, tomou o morro do jacaré com pudor e frieza, subiu o morro rival ao lado dos seus parceiros, até hoje ele os tem. Eduardo vulgo DUDU e Patricio vulgo PC.
A diferença é que Patricio assumiu o morro do jacaré e teve um filho chamado Marcos, que assumiu o lugar de Sub do morro do meu pai, e seu vulgo é PLAYBOY.
Marcos era um bom Sub mas sempre ficava no meu pé, ele assumiu quando tinha 18 e eu tinha 16 na época que morava lá. Confesso que eu era apaixonada por ele, não sei explicar, só sentia que tinha que ficar com ele, mas foi antes de tudo acontecer.
Bom, hoje estou longe do Rio de Janeiro, nem tão assim, moro em São Paulo, por ironia da vida, depois que minha mãe morreu, eu resolvi seguir a minha vida longe do morro e de tudo que me faria lembrar dela, e com apoio do meu coroa, eu vim para cá, estudei, entrei na faculdade, me formei em direito e hoje sou delegada da federal.
Como eu disse ironia demais, meu pai o dono do morro, e eu a melhor delegada do meu batalhão. Mesmo eu sendo a melhor, jamais entregaria a polícia o homem que me deu tudo, e proporcionou estar onde estou e ser quem sou hoje. Estou atuando a 3 anos, e estou a 9 anos longe do Rio.
Mas confesso que minha vida está vazia, eu ultimamente me sinto triste, longe da minha única família. Queria visita-lo, como estou para sair de férias na semana que vem acredito que farei isso. Eu nem sei se meu próprio pai me reconheceria, estou diferente, treinei muito e tive mais corpo, além de ter algumas tatuagens mais nada que me mudasse tão radicalmente, exceto o meu cabelo preto, mais o pior para mim seria se eu não mais o reconhecer.
Me bate uma neura de repente, minha mãe morreu tem um pouco mais de 9 anos, e foi justo no período em que se aproxima, e toda vez eu ligo para meu pai e ficamos um escutando a respiração do outro, até não aguentar mais e chorar. Todo ano é do mesmo jeito, e pela primeira vez passaremos juntos.
Estou no meu apê, sentada no sofá mandando umas mensagens para o batalhão, um peixe grande foi preso recentemente e todos estão feitos formiguinhas, quando acham um grão de açúcar, ou quando são espantadas e correm para todos os lados tentando se salvar. Estava uma grande euforia no batalhão.
Decido ligar para meu pai, e avisar a grande notícia.
MATADOR: Oi minha boneca, que milagre ouvir sua voz.
MARINA: Oi pai, tô ligando para te avisar que vou ir te ver semana que vem.
MATADOR: Ainda não morri, para que venha.
MARINA: Para com isso pai, sabe que me esforcei muito para chegar onde estou.
MATADOR: E eu matei para caralho para chegar onde estou, e mesmo assim não fiquei longe da minha boneca nem por um segundo quanto mais por 9 anos.
MARINA: Sabe por que não voltei.
MATADOR: Eu sei, queria ter ido com você, mas não sairia do aeroporto. Filha eu me culpo todos os dias pelo mal que fiz a você e sua mãe, eu deveria ter insistido mais em ser pessoa do bem.
MARINA: Pai, eu não o culpo de nada, você sempre nos deu o melhor, mesmo da forma errada. Eu te amo.
MATADOR: Quer matar seu velho mesmo né? Eu também te amo boneca.
MARINA: Vou ter que desligar, afinal para tirar férias preciso deixar tudo ajeitado por aqui.
MATADOR: Tá certo, até mais. Beijos boneca.
MARINA: Até logo pai, beijos.
Termino a ligação, pego minhas coisas e desço, afinal tem muito o que fazer durante esse dia e toda essa semana.
UMA SEMANA DEPOIS…
Desço no aeroporto do Rio de Janeiro, e cá estou, nesse calor de matar qualquer um, inclusive a mim que não estava mais acostumada. Avisto uma folha com meu nome, segurada por um homem de barba preta e cabelos da mesma cor, olhos castanhos, bem forte até, acredito que seja um dos vapores do meu pai, confesso que o cara é bem gato, além de ser todo tatuado.
Me aproximo e o vejo me olhar de cima a baixo, ele fecha a cara logo ao me encarar.
PLAYBOY: A madame é a Marina?
MARINA: Sim sou eu, e madame é o caralho.
PLAYBOY: Relaxa patricinha, fica de boas ai.
MARINA: Você só está piorando as coisas, falando assim. Vamos logo tá legal?
PLAYBOY: Você que manda.
Ele me dá um sorriso sarcástico, pega as minhas malas e sai andando na frente, eu fico sem acreditar na ousadia do sujeito, mas é abusado mesmo né.
PLAYBOY: Quer que eu te carregue igual suas malas?
MARINA: Já estou indo.
Otario mesmo esse daí, até parece que me conhece ou tem noção de quanto pode sofrer pela ousadia comigo, meu pai não o perdoaria.
Entramos no carro, e ficamos em silêncio o caminho todo, depois de um tempo, avisto a entrada do morro, fortemente protegida por homens armados, alguns não são homens, são garotos ainda.
PLAYBOY: Bora JEFIN abre essa porra aí.
Ele fala colocando a cabeça para fora do carro.
JEFIN: Calma ae fi, não é assim não.
Um menino fala de costas para nós, ele estava pegando algo da mão de outro menino.
PLAYBOY: Como é comédia? Tá pensando que é o que seu merda, para falar assim comigo?
Ele sai já apontando a arma na cabeça do menino, eu saio em contrapartida tentando amenizar a situação.
JEFIN: D-Desculpa ai cara. Eu não sabia que era você.
MARINA: Foi um mal entendido, abaixa essa arma por favor.
PLAYBOY: Acha que vai chegar aqui dando ordem? Se eu não ensinar a lição pra esse filho da puta, todos eles vão pensar que podem subir em cima de mim.
MARINA: Já conheço a lei do morro, mas não conheço você.
PLAYBOY: Não sabe com quem fala é princesinha? Sou o Sub dessa porra.
MARINA: Marcos? É você?
PLAYBOY: Quem é você garota, da onde me conhece?
MARINA: Não achei que fosse ficar irreconhecível assim, até mesmo para você. Sou a filha do MATADOR, esqueceu que a filha dele se chama MARINA?
Marcos não diz nada apenas me olha novamente, de cima a baixo, surpreso.
MARINA: Vai Marcos libera ele, para subirmos, preciso descansar, não quero passar minhas férias aqui torrando no sol.
PLAYBOY: Agradeça aquela ali pela sua vida, que não se repita em.
Sinto o menino tremer de medo, e soltar o ar depois que o Marcos se afasta dele. O vejo me olhar e com um cumprimento de sua cabeça, eu entendo que ele quis me agradecer.
Volto para o carro junto com o Marcos, e eles nos dão passagem para entrarmos no morro, confesso que muita coisa mudou, e o morro não está nada mau.
PLAYBOY: Aí Marina, me chame de PLAYBOY, não quero comédia espalhando meu nome por aí.
MARINA: Tá bom.
Falo revirando os olhos, fazendo o Marcos soltar um riso anasalado. Eu havia me esquecido do quanto ele é bonito, mas desvio o olhar, por que não vou dar esse gostinho pra ele.
Chegamos numa casa em que eu reconheceria a distâncias, a minha antiga casa, que por sinal, a única coisa que não mudou em tantos anos, meu pai havia conservado tudo por fora, todo o designer que foi pensado pela minha mãe, ele deixou tudo como ela sempre quis.
Avisto o meu pai na porta da casa enorme, e corro para abraçá-lo, ele já estava limpando as lágrimas que insistiam em sair, a saudade era tanta, que também tive que me conter. Marcos estava se aproximando com as minhas malas.
PLAYBOY: Trouxe sua encomenda.
MATADOR: Obrigado, agora pode ir ver o restante das encomendas que estão para chegar.
PLAYBOY: Pode deixar, fé. Até mais bebezinha.
MATADOR: Fé aí.
MARINA: Até mais, Marquinhos.
Falei para provocar mesmo, já que ele me pediu para não chamá-lo pelo nome, e eu havia pedido para não me chamar de bebezinha nunca mais, resultado foi vê-lo sair de cara fechada e desfazer o sorrisinho de deboche dele em segundos.
Meu pai carrega as malas e me conduz para dentro, a casa estava intacta, sempre foi muito linda. Ele me leva ao meu quarto, que não mudou nada também, e deixa as minhas coisas nele.
MATADOR: Meu amor, sei que não nos vemos a tempos, e queria mais do que tudo ficar aqui com você, mas aproveita e descansa, pois seu pai precisa sair por um tempo, vou mandar uma companhia daqui a pouco para você.
MARINA: Está tranquilo pai, pode ir. Não se preocupe.
MATADOR: Te amo boneca, está mais linda do que nunca, eu volto para jantarmos juntos tá.
MARINA: Tá bom. Também te amo pai.
Ele sai e eu resolvo explorar esse quarto que a nove anos eu deixei de chamar de meu, e vejo que tudo está como eu havia deixado. Arrumo minhas roupas no Closet, e parto para um banho, como conheço esse lugar, e sei que faz muito calor, trouxe minhas roupas mais leves, pretendendo comprar mais por aqui. Minha estadia será de um mês, vamos ver o que me aguarda no morro.
Espero que a partir de agora, somente venham coisas boas.
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Atualizado até capítulo 23
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