CAPÍTULO 5 - LUIZA

Ivaiporã é localizada no Norte do estado do Paraná, não é uma grande

metrópole, mas é uma cidade que está avançando a passos largos e muitas pessoas

que moram em outras cidades do Vale do Ivaí, vem aqui ao médico, trabalhar,

fazer compras e estudar. A faculdade Pinheiro (que é onde faço minha graduação)

trabalha de noite com graduações e especializações em várias áreas e funciona

como Colégio Pinheiro durante o dia, ofertando desde a educação infantil até o

ensino médio. Todos chamamos a Instituição apenas de “Pinheiro”.

Ela é muito bem-conceituada, em especial por ofertar oficinas que nos

deixam em contato com os indígenas dando ênfase para os povos Kaingang que é a

origem do nosso reitor Antônio Pinheiro.

Eu me empenho muito em meus estudos, então consegui uma das tão

concorridas vagas para fazer minhas práticas pedagógicas no Pinheiro mesmo.

Como estudante de pedagogia, com pouco menos de meio semestre para

concluir o curso, me dividi entre a prática pedagógica com as crianças de oito

anos que foi na parte da manhã, de tarde fiz os ajustes em meu trabalho de

conclusão de curso que minha orientadora sugeriu e finalmente de noite fui para

a aula da graduação. Chego em casa e sei que meus pais já estão dormindo, mesmo

assim não aguento de saudade e vou até o quarto deles para pelo menos dar um

beijo em suas testas.

Após um rápido banho, me aninho em minha macia cama. Fecho os olhos, mas

o sono não vem. O que surge em meus pensamentos, é a imagem que evitei o dia

todo: do homem desaforado com seu terno preto.

Por que fui tão desastrada? Por que ele tinha que falar daquele jeito,

quando eu apenas estava querendo evitar de lhe causar prejuízo? Será que ele

agiu daquele jeito por ter ficado tão bravo comigo? Pensando bem, ele pediu

para eu não passar mais naquela rua, e eu não percebi que era um aviso que

estava com raiva. Não é para menos, afinal tenho certeza que seu iphone já não

funciona mais e ele deveria ter sua agenda, seus contatos lá dentro. Há meu

Deus, o que eu fiz?

Voltando para a questão de ele ter me pedido para evitar aquela rua,

como posso evitar se preciso entregar meus suspiros no Grupo Biasi? Bem posso ir

mais cedo. Mais cedo não dá, é perigoso ficar por aí sozinha de madrugada. Já

sei! vou solicitar minhas práticas na parte da tarde e poderei ir no horário

normal que sempre fiz as entregas! Isso ajudará muito se ele estiver naquela

rua no primeiro horário da manhã. Espero que dê certo. Nesse pensamento,

adormeço.

Terça-feira, não preciso fazer entrega nenhuma então tenho que apenas

seguir para minha prática pedagógica. Quando passo pela cozinha, encontro um

bilhete de minha mãe grudado na geladeira, junto com minha lista de compras:

“Filha, Dona Maria Fernanda ainda não está bem. Seu pai e eu estamos

cuidando dela e acredito que essa semana será difícil nos vermos. Sei que vai

no SuperBiasi hoje, então compre frutas e legumes para nossa casa, não se

esqueça de se alimentar e beber água.

Logo essa correria vai passar e estaremos juntas novamente.

Beijos da mamãe. ”

Oh, me esqueci que hoje é dia o dia “verde” no supermercado e que

frutas, verduras e ovos estão na promoção, e como o ovo é um dos principais produtos

que uso, não posso perder esse dia. Junto a lista de compras com meus pertences

escolares e saio.

Vou de ônibus para o Pinheiro e mesmo pela janela do coletivo, fico

maravilhada com a beleza do Parque Jardim Botânico, amo admirar esse Lago, que

é rodeado por uma pista de caminhada, pequenas árvores e floreiras. Gosto de

ver as crianças brincando nos parquinhos, as pessoas andando de bicicleta, se

exercitando na academia ao ar livre, mas o pedalinho que sempre me chama

atenção. A maioria das vezes me pego observando os casais apaixonados que andam

nele apenas para aproveitar a companhia um do outro. Coisa que não quero ter

para mim.

Mas dentre todos os lagos de Ivaiporã o Lago de Furnas é o meu

preferido. Por ser em um condomínio fechado e rodeado pela natureza, é longe

para ir, mas quando preciso repor minhas esperanças, é lá que vou assistir ao

pôr do sol, é naquele lugar de poucos ruídos que o silêncio fala tudo o que

preciso ouvir.

Chego mais cedo no Pinheiro e a primeira pessoa que encontro é minha orientadora:

— Professora Ester, que bom ver logo cedo, podemos conversar?

— Luiza, vim justamente verificar se você e a Cássia estão vindo cumprir

suas horas de prática. Temos dez minutos para conversar, vamos até minha sala.

No corredor encontro Cássia, que ao me ver seguindo nossa orientadora,

gesticula erguendo suas mãos com as palmas para cima, sei bem que com isso quer

saber o que está acontecendo, mas agora não posso explicar, então também com as

mãos faço sinal de é para ter calma e que está tudo bem.

Já na sala de orientação, observo as paredes forradas de fotos, com

todos os eventos pedagógicos importantes, me distraio quando vejo uma foto de

uma banca de júri da tradicional gincana do Pinheiro, e não acredito que estou

vendo o mesmo moreno de olhos azuis que trombei ontem, quem será ele para estar

no júri? Sou arrancada dos meus pensamentos pela professora Ester chamando meu

nome.

— Luiza, tem pouco tempo para estar na sala de aula, precisamos ser

rápidas.

— Perdão professora, estou um pouco distraída, mas é justamente pelo

horário das práticas que preciso conversar.

— Sabe que você não entra na sala de aula se estiver atrasada, não há

flexibilidade quanto a isso.

— A senhora não me entendeu, não preciso chegar atrasada, eu gostaria de

saber se não posso trocar o horário da pratica da manhã para a tarde.

— Há é isso, mas também não posso te ajudar, você fez um projeto para

esse colégio e essas turmas, que aliás só são ofertadas no período da

manhã.

Lá vamos nós correr o risco de encontrar o bonitão.

— Mas por que quer fazer essa mudança se já está finalizando as

práticas?

— É um motivo pessoal, nada muito importante.

— Raramente você pede para conversar, agora estamos sem tempo, mas de

noite na orientação vai me conta direitinho. Vamos logo dará o sinal.

Será que vou conseguir escapar de dar explicações para minha professora,

na dúvida, melhor arrumar uma boa desculpa. Passo pelo batente de madeira, e

uma pequena mão agarra meu braço, me arrastando pelo corredor.

— O que a dona modelo de comportamento apronto para logo pela manhã

estar na sala de orientação?

Pergunta Cássia me olhando com seus olhos arregalados. E agora preciso

muito de uma desculpa, pensa Luiza, pensa.

— Não fiz nada, apenas eu, eu...

— Para de gaguejar e fala a verdade. — Dizendo isso Cássia para perto da

sala de aula que vamos entrar, e com sua cara de brava, cruza os braços. Ergo

as mãos para cima em um gesto de rendição.

— Ok, fui pedir para mudar minhas práticas para o período da tarde.

— Você enlouqueceu? Está com todo o material pronto, o projeto está no

prazo, vai finalizar antes de todos na turma. — Suas palavras são cuspidas com

tanta raiva em mim que até parece que estou me mudando para a lua.

— Calma Cássia, a Professora Ester não aceitou e quero que fique claro

que tenho um motivo.

— Muito bem, você tem um motivo, e que motivo poderia ser?

O sinal toca para entrarmos na sala, mais uma vez sou salva.

— Amiga preciso entrar e você também, sabe que você não pode mais perder

horário.

— No intervalo você vai me explicar direito isso.

— Claro senhorita!

Cássia vira nos calcanhares

indo em direção a sala que precisa entrar, mas mesmo sem parar de andar gira a

cabeça e me dá um olhar gélido. Realmente tenho até o intervalo para pensar em

uma ótima desculpa. Ou isso ou terei que falar a verdade, e conhecendo a

Cássia, falar a verdade não é uma boa alternativa para meu próprio bem.

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Comments

Sonia

Sonia

Não tô entendendo nada 😐

2024-09-27

0

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Capítulos
1 CAPÍTULO 1 - LUIZA - HÁ SEIS ANOS ATRÁS
2 CAPÍTULO 2 - Luiza - DIAS ATUAIS
3 CAPÍTULO 3 - Luiza
4 CAPÍTULO 4 - FABRICIO
5 CAPÍTULO 5 - LUIZA
6 CAPITULO 6 - LUIZA
7 CAPITULO 7 - LUIZA
8 CAPÍTULO 8 - FABRICIO
9 CAPÍTULO 9 - FABRICIO
10 CAPÍTULO 10 - LUIZA
11 CAPÍTULO 11 - LUIZA
12 CAPÍTULO 12 FABRICIO
13 CAPÍTULO 13 - FABRICIO
14 CAPÍTULO 14 -LUIZA
15 CAPÍTULO 15 - LUIZA
16 CAPÍTULO 16 - FABRICIO
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30 CAPÍTULO 30 - LUIZA
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43 CAPÍTULO 43 - LUIZA
44 CAPÍTULO 44 - LUIZA
45 CAPÍTULO 45 - FABRICIO
46 CAPÍTULO 46 - LUIZA
47 CAPÍTULO 47 - FABRÍCIO
48 CAPÍTULO 48 - LUIZA
49 CAPITULO 49 – LUIZA
50 CAPÍTULO 50 - LUIZA
51 CAPÍTULO 51 - LUIZA
52 CAPÍTULO 52 - LUIZA
53 CAPÍTULO 53 - LUIZA
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55 CAPÍTULO 55 - FABRICIO
56 CAPÍTULO 55 - FABRICIO
57 CAPÍTULO 56 - FABRICIO
58 CAPÍTULO 57 - LUIZA
59 EPÍLOGO - FABRICIO
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Atualizado até capítulo 59

1
CAPÍTULO 1 - LUIZA - HÁ SEIS ANOS ATRÁS
2
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3
CAPÍTULO 3 - Luiza
4
CAPÍTULO 4 - FABRICIO
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