Ivaiporã é localizada no Norte do estado do Paraná, não é uma grande
metrópole, mas é uma cidade que está avançando a passos largos e muitas pessoas
que moram em outras cidades do Vale do Ivaí, vem aqui ao médico, trabalhar,
fazer compras e estudar. A faculdade Pinheiro (que é onde faço minha graduação)
trabalha de noite com graduações e especializações em várias áreas e funciona
como Colégio Pinheiro durante o dia, ofertando desde a educação infantil até o
ensino médio. Todos chamamos a Instituição apenas de “Pinheiro”.
Ela é muito bem-conceituada, em especial por ofertar oficinas que nos
deixam em contato com os indígenas dando ênfase para os povos Kaingang que é a
origem do nosso reitor Antônio Pinheiro.
Eu me empenho muito em meus estudos, então consegui uma das tão
concorridas vagas para fazer minhas práticas pedagógicas no Pinheiro mesmo.
Como estudante de pedagogia, com pouco menos de meio semestre para
concluir o curso, me dividi entre a prática pedagógica com as crianças de oito
anos que foi na parte da manhã, de tarde fiz os ajustes em meu trabalho de
conclusão de curso que minha orientadora sugeriu e finalmente de noite fui para
a aula da graduação. Chego em casa e sei que meus pais já estão dormindo, mesmo
assim não aguento de saudade e vou até o quarto deles para pelo menos dar um
beijo em suas testas.
Após um rápido banho, me aninho em minha macia cama. Fecho os olhos, mas
o sono não vem. O que surge em meus pensamentos, é a imagem que evitei o dia
todo: do homem desaforado com seu terno preto.
Por que fui tão desastrada? Por que ele tinha que falar daquele jeito,
quando eu apenas estava querendo evitar de lhe causar prejuízo? Será que ele
agiu daquele jeito por ter ficado tão bravo comigo? Pensando bem, ele pediu
para eu não passar mais naquela rua, e eu não percebi que era um aviso que
estava com raiva. Não é para menos, afinal tenho certeza que seu iphone já não
funciona mais e ele deveria ter sua agenda, seus contatos lá dentro. Há meu
Deus, o que eu fiz?
Voltando para a questão de ele ter me pedido para evitar aquela rua,
como posso evitar se preciso entregar meus suspiros no Grupo Biasi? Bem posso ir
mais cedo. Mais cedo não dá, é perigoso ficar por aí sozinha de madrugada. Já
sei! vou solicitar minhas práticas na parte da tarde e poderei ir no horário
normal que sempre fiz as entregas! Isso ajudará muito se ele estiver naquela
rua no primeiro horário da manhã. Espero que dê certo. Nesse pensamento,
adormeço.
Terça-feira, não preciso fazer entrega nenhuma então tenho que apenas
seguir para minha prática pedagógica. Quando passo pela cozinha, encontro um
bilhete de minha mãe grudado na geladeira, junto com minha lista de compras:
“Filha, Dona Maria Fernanda ainda não está bem. Seu pai e eu estamos
cuidando dela e acredito que essa semana será difícil nos vermos. Sei que vai
no SuperBiasi hoje, então compre frutas e legumes para nossa casa, não se
esqueça de se alimentar e beber água.
Logo essa correria vai passar e estaremos juntas novamente.
Beijos da mamãe. ”
Oh, me esqueci que hoje é dia o dia “verde” no supermercado e que
frutas, verduras e ovos estão na promoção, e como o ovo é um dos principais produtos
que uso, não posso perder esse dia. Junto a lista de compras com meus pertences
escolares e saio.
Vou de ônibus para o Pinheiro e mesmo pela janela do coletivo, fico
maravilhada com a beleza do Parque Jardim Botânico, amo admirar esse Lago, que
é rodeado por uma pista de caminhada, pequenas árvores e floreiras. Gosto de
ver as crianças brincando nos parquinhos, as pessoas andando de bicicleta, se
exercitando na academia ao ar livre, mas o pedalinho que sempre me chama
atenção. A maioria das vezes me pego observando os casais apaixonados que andam
nele apenas para aproveitar a companhia um do outro. Coisa que não quero ter
para mim.
Mas dentre todos os lagos de Ivaiporã o Lago de Furnas é o meu
preferido. Por ser em um condomínio fechado e rodeado pela natureza, é longe
para ir, mas quando preciso repor minhas esperanças, é lá que vou assistir ao
pôr do sol, é naquele lugar de poucos ruídos que o silêncio fala tudo o que
preciso ouvir.
Chego mais cedo no Pinheiro e a primeira pessoa que encontro é minha orientadora:
— Professora Ester, que bom ver logo cedo, podemos conversar?
— Luiza, vim justamente verificar se você e a Cássia estão vindo cumprir
suas horas de prática. Temos dez minutos para conversar, vamos até minha sala.
No corredor encontro Cássia, que ao me ver seguindo nossa orientadora,
gesticula erguendo suas mãos com as palmas para cima, sei bem que com isso quer
saber o que está acontecendo, mas agora não posso explicar, então também com as
mãos faço sinal de é para ter calma e que está tudo bem.
Já na sala de orientação, observo as paredes forradas de fotos, com
todos os eventos pedagógicos importantes, me distraio quando vejo uma foto de
uma banca de júri da tradicional gincana do Pinheiro, e não acredito que estou
vendo o mesmo moreno de olhos azuis que trombei ontem, quem será ele para estar
no júri? Sou arrancada dos meus pensamentos pela professora Ester chamando meu
nome.
— Luiza, tem pouco tempo para estar na sala de aula, precisamos ser
rápidas.
— Perdão professora, estou um pouco distraída, mas é justamente pelo
horário das práticas que preciso conversar.
— Sabe que você não entra na sala de aula se estiver atrasada, não há
flexibilidade quanto a isso.
— A senhora não me entendeu, não preciso chegar atrasada, eu gostaria de
saber se não posso trocar o horário da pratica da manhã para a tarde.
— Há é isso, mas também não posso te ajudar, você fez um projeto para
esse colégio e essas turmas, que aliás só são ofertadas no período da
manhã.
Lá vamos nós correr o risco de encontrar o bonitão.
— Mas por que quer fazer essa mudança se já está finalizando as
práticas?
— É um motivo pessoal, nada muito importante.
— Raramente você pede para conversar, agora estamos sem tempo, mas de
noite na orientação vai me conta direitinho. Vamos logo dará o sinal.
Será que vou conseguir escapar de dar explicações para minha professora,
na dúvida, melhor arrumar uma boa desculpa. Passo pelo batente de madeira, e
uma pequena mão agarra meu braço, me arrastando pelo corredor.
— O que a dona modelo de comportamento apronto para logo pela manhã
estar na sala de orientação?
Pergunta Cássia me olhando com seus olhos arregalados. E agora preciso
muito de uma desculpa, pensa Luiza, pensa.
— Não fiz nada, apenas eu, eu...
— Para de gaguejar e fala a verdade. — Dizendo isso Cássia para perto da
sala de aula que vamos entrar, e com sua cara de brava, cruza os braços. Ergo
as mãos para cima em um gesto de rendição.
— Ok, fui pedir para mudar minhas práticas para o período da tarde.
— Você enlouqueceu? Está com todo o material pronto, o projeto está no
prazo, vai finalizar antes de todos na turma. — Suas palavras são cuspidas com
tanta raiva em mim que até parece que estou me mudando para a lua.
— Calma Cássia, a Professora Ester não aceitou e quero que fique claro
que tenho um motivo.
— Muito bem, você tem um motivo, e que motivo poderia ser?
O sinal toca para entrarmos na sala, mais uma vez sou salva.
— Amiga preciso entrar e você também, sabe que você não pode mais perder
horário.
— No intervalo você vai me explicar direito isso.
— Claro senhorita!
Cássia vira nos calcanhares
indo em direção a sala que precisa entrar, mas mesmo sem parar de andar gira a
cabeça e me dá um olhar gélido. Realmente tenho até o intervalo para pensar em
uma ótima desculpa. Ou isso ou terei que falar a verdade, e conhecendo a
Cássia, falar a verdade não é uma boa alternativa para meu próprio bem.
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Atualizado até capítulo 59
Comments
Sonia
Não tô entendendo nada 😐
2024-09-27
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