Meu pai franze a testa ao me ver entrando na cozinha
— Bom dia Luiza já está acordada?
— Bom dia papai, tenho prática pedagógica no Colégio Pinheiro e preciso
entregar no Grupo Biasi meus suspiros. Estava pensando em uma carona sua, o que
me diz?
— Posso te dar uma carona, o tempo está nublado e provavelmente vem
chuva. Mas precisa me deixar comer alguns suspiros fresquinhos enquanto fizer
sua entrega.
Arqueio minha sobrancelha encarando meu pai, ele não aprende.
— Há minha filha, não basta sua mãe ditar cada grão da minha
alimentação? Minha diabetes está controlada.
Permaneço encarando meu pai.
— Eu insisto, segredo nosso.
Avalio seu rosto de cachorro pedinte, seria deprimente se não fosse tão
cômico, até vale uma recompensa!
— Só porque sobrou alguns pacotes e por que você vai me levar até o
colégio.
Meu pai me abraça e me dá um beijo na testa. Vamos juntos da cozinha,
onde pego minha cesta de encomendas e ele seu pacote de gratificação, para a
garagem.
Logo estamos no carro rumo ao centro de Ivaiporã. A empresa que é minha
cliente, fica na avenida Souza Naves que é muito arborizada, deve ser muito bom
trabalhar com todo esse ar puro. O prédio comercial com no máximo 10 andares é
todo em vidro espelhado e em uma de suas laterais sobe uma enorme viga de
concreto marrom escuro, que tem grãos de café vazados de forma alternada, nessa
mesma viga, em gigantes letras cromadas e na vertical, está escrito Grupo
Biasi, esta é a sede administrativa de uma grande rede de supermercados.
Como meus pedidos aqui são frequentes (no mínimo uma vez por semana),
não demora muito para eu finalizar minha entrega e estar prestes a sair. Mas
diante da porta de vidro fumê da entrada, vejo que meu pai tinha razão, o tempo
está nublado. Um bolo se forma em minha garganta ao pensar que tudo pode
escurecer na minha vida de novo. Abro a porta sentindo meu coração acelerado,
fecho os olhos e começo a falar comigo mesma em voz alta: “Calma Luiza, o medo
só vai te atrapalha”. Abro meus olhos e ao ver que faltam apenas quinze minutos
para eu me apresentar no Colégio, não vejo opção a não ser correr até o carro,
pois a chuva já começou. Nesse pensamento, saio às pressas, mas no meio da
calçada minha passagem é interrompida por um homem de terno preto que observava
seu telefone. Nossos corpos se chocam de tal forma que sinto mentalmente minha
bunda se aproximar do chão, mas uma ágil e grande mão me segura pelo antebraço
me impedindo de chegar até a calçada molhada, enquanto sua outra mão consegue
pegar no ar seu celular.
— Droga, mil vezes droga. — Fala o homem franzindo o cenho para mim e me
trazendo junto de seu corpo.
— Desculpe senhor, é que estou atrasada. — A chuva agora se torna
intensa e ele começa a nos arrastar para um lugar coberto.
— Se sabe seus horários, deveria sair mais cedo, para evitar essas
situações.
A forma autoritária e grossa que falou me assustou. Afasto dele tão
rapidamente que acabo puxando a mão que segurava seu iphone, este, se choca com
o chão justamente em uma poça de água.
— Ó meu Deus, deixe ver se estragou seu celular.
Pego o aparelho e por estar molhado, escorrega de minhas mãos, caindo
novamente, arrisco olhar para cima e encontro um par de olhos azuis
semicerrados faiscando de raiva. Tenho a impressão de já ter visto esses
olhos...
— Então eu vou...
— Por favor, senhorita. — Me interrompeu. — Siga seu destino e de
preferência evite passar novamente por essa rua.
— Mas pode ser que estragou e estou em dívida com o senhor.
Ele levanta a mão em sinal para eu parar de falar, fecha seus olhos e
diz:
— Pode ser que estragou? Acha que um eletrônico encharcado funciona em
bom estado? Ou pretende que leve um choque quando conectar ao carregador?
— Posso dar um jeito, não quero que tenha prejuízos por minha causa.
Enquanto falo, levo meus olhos em direção ao aparelho.
— E como pretende me pagar? Estou curioso...
Cruza seus braços em cima de seu peito e percebo que um dos cantos de
sua boca se levantou em um sorriso, tive a impressão que era um sorriso bem
malicioso.
— Bem, eu não sei.
— Bom saber que seus pensamentos desaparecem diante de mim. — O que? Ele
acha que eu estou me insinuando para ele? — Se estiver mesmo disposta a reparar
o prejuízo, posso providenciar seu pagamento.
— Claro, conheço uma eletrônica muito boa para consertar seu telefone. —
Ele gargalha.
— Tem noção de quantas mulheres já tentaram o truque de esbarrar
casualmente? Não pensou que seria a primeira a fazer isso comigo, pensou? Vai
dizer que não é exatamente isso que estava planejando? Seja direta, porque meu
tempo é precioso! — Suas palavras agora me ofendem.
— Tenha um bom dia. — Saio de sua frente o mais rápido que posso e só
dentro do carro percebi que havia parado de respirar.
— Filha, está tudo bem? Você está pálida.
— Corri muito rápido que até esqueci de respirar. — Meu pai me observa
com uma sobrancelha arqueada. — O que? Estou praticamente atrasada, por favor o
senhor pode começar a dirigir?
Meu pai aparentemente acreditou em mim, e seguimos para meus
compromissos.
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Atualizado até capítulo 59
Comments
Sofia Carvalho
o seu bruto, não sabe que á telemóveis á prova de água!!??? podia ser um desses.... visto que acredito que é o CEO do super e que come seu suspiros 😂😂😂😂
2024-03-12
0
Rừng cây
Que narrativa incrível! Fiquei completamente envolvida! 👏
2023-08-15
4
Tít láo
Não consigo parar de pensar no que vai acontecer! Atualiza logo!
2023-08-15
2