Capítulo 05: Vida conflituosa.

Jessica

 As luzes dos carros de polícia incomodavam meus olhos cada vez mais, tudo estava muito confuso, mas de uma coisa eu tinha certeza absoluta, eu estava muito encrencada, não encrencada é pouco, eu estava fodida mesmo. Assim que eu desci do carro parecia que minha mãe me fuzilava com os olhos, eu, no entanto estava tentando não fazer qualquer tipo de contato visual, um dos policiais entendeu a situação e soltou um sorriso de deboche como quem já estava ali tempo de mais escutando todos os tipos de desaforo para no final só se tratar de uma garota que quis curtir um pouco a noite sem a permissão dos pais.

 - Quando chamar a polícia lembre-se de que nosso trabalho é muito sério, sua filha está ai, sã e salva, ela desapareceu por menos de vinte e quatro horas e a senhora já queria uma busca, talvez todo esse mal entendido estivesse resolvido com uma ligação.

Madelyn – Peço desculpas pelo transtorno, eu entrei em desespero porque não é da natureza da minha filha passar a noite fora sem avisar, pelo menos era o que eu pensava...

Os policiais entraram nas viaturas sem dar muita importância para o que minha mãe estava sentindo, para eles tudo aquilo foi uma perda de tempo por causa de uma mãe paranoica que não conseguia parar de controlar a filha. Mesmo eu sendo maior de idade ela insistia em querer saber todos os meus passos isso já estava me sufocando.

Madelyn – Jessica entre. Nós precisamos ter uma boa conversa e estabelecer os limites...

Eu não concordava em levar uma bronca por conta de uma noite que passei fora, mas também não queria desobedecer ela bem no meio da rua, eu tinha certeza que ela faria um escândalo ali mesmo, então nós entramos juntas para poder esclarecer todo o ocorrido da noite anterior.

Sentei na pequena poltrona ao lado do sofá grande, minha mãe permanecia de pé, ela andava de um lado para o outro como se não soubesse nem o que iria fazer e novamente eu só conseguia pensar em como ela estava complicando uma coisa tão simples de se resolver. Eu estava em casa, isso era tudo o que deveria importar, eu não queria ter aquela conversa e dar satisfações então eu iria usar de todas as informações que me vinham à mente.

Jessica – O que você quer saber? Fala logo.

Madelyn – O que eu quero saber? Que tal você começar me contando onde você estava até agora?

Jessica – Eu fui para um bar e não queria dirigir depois de ter bebido.

Madelyn – Não se faça de desentendida, eu sei que você não dormiu no bar, então onde você passou a noite?

Jessica – Eu fui para casa de Alyssa.

Madelyn – Sabe algo bem estranho? E que Alyssa ligou essa manhã perguntando sobre você...

Jessica – Ela ligou? Eu também estava procurando por ela na hora de voltar para casa...

Madelyn – Não fuja do assunto e pare de mentir, ou você quer que eu conte para o seu pai que você passou a noite fora e nem a sua melhor amiga sabia do seu paradeiro?

Jessica – Sabe algo realmente interessante para ele saber?

Madelyn – Eu já disse para me contar a verdade.

Jessica – Porque você não conta a verdade também?

Madelyn – Sobre o que você está falando?

Jessica – Joel Miller se recorda de algo?

Madelyn – De onde você tirou isso? O que está insinuando?

Jessica – Agora você é quem vai dar uma de desentendida? Ou eu vou precisar falar com o meu pai para refrescar sua memória?

Madelyn – Como você descobriu? Quem te contou?

Jessica – Você deveria se perguntar como eu não descobri antes, você deixa tudo de fácil acesso para qualquer um que quiser ver.

Madelyn – E agora você se acha no direito de contar para todos? Depois de tudo o que fiz por você como mãe? É isso Jessica? Você vai destruir toda nossa família por conta de um erro? Pense bem.

Jessica – VOCÊ É QUEM ESTRAGOU TUDO!

Nesse momento eu senti a mão da minha mãe batendo contra o meu rosto, como um sinal de que eu deveria me calar, mas algo dentro de mim não aguentava mais todas aquelas farsas. Como eles viveram juntos como uma família feliz durante todos aqueles anos?

Jessica – Você quer saber por que eu passei a noite fora? Tudo isso é por culpa sua, depois de ter lido aquelas cartas nojentas. Eu simplesmente não conseguia voltar para casa e olhar na sua cara.

Madelyn – VÁ PARA O SEU QUARTO AGORA! Não saia até eu decidir o que vou fazer.

Jessica – Você está esbanjando autoridade, mas no fundo você sabe que toda essa conversa se trata de uma troca. Você não abre a sua boca e eu não abro a minha.

Eu realmente fui para o meu quarto, não estava aguentando mais olhar para minha mãe como se ela pudesse me cobrar algo depois de todas as merdas que ela fazia.

Joguei-me na cama afundando o rosto em meus travesseiros por um momento eu queria sentir paz, mas

logo meu celular começou a ser notificado loucamente, talvez antes ele estivesse sem sinal e por isso achei que “ninguém” estivesse ligando para o meu sumiço de uma noite.

Estiquei minha mão para dentro da bolsa sem ao menos olhar e acabei sentindo o volume de uma papelada que não me lembrava de estar ali antes, deixei minha preguiça de lado e levantei para poder verificar melhor

o que seria. Mais um envelope, já estava farta dessas coisas aparecendo do nada, mas decidi abrir para conferir o que havia ali dentro.

Eu não podia acreditar que ele realmente tivera feito aquilo. Era uma quantidade absurda de dinheiro junto com uma carta, a essa altura eu nem sabia como eu iria justificar todo aquele dinheiro se meus pais descobrissem. O melhor a ser feito era devolver tudo, aquelas coisas que disse não passou de uma brincadeira de mau gosto, não imaginei que ele levaria tão a sério.

Em seguida eu abri a carta para ter uma melhor noção do que estava acontecendo.

 - Faça o que desejar com o dinheiro, não tente devolve-lo pois fazia parte do acordo. Eu não quero pensar que fiquei em divida com você então aumentei o valor do nosso acordo por todo o transtorno da noite passada, espero que fique bem.

Como eu poderia ficar com aquele dinheiro? Isso de certa forma soaria como se eu estivesse de acordo com tudo o que aconteceu, sei que eu dei minha palavra no acordo e quis ir até o fim, mas a maneira como aconteceu...

Peguei meu celular para conferir as mensagens e muitas delas eram de Alyssa tentando me dizer para não se envolver com o Sr. Parker. A forma como ela se referia a ele. Fez-me pensar que ele é muito importante naquela

cidade, mas ela não disse ao certo quem ele era, eu precisava conversar pessoalmente com minha amiga e descobrir o que de tão importante tinha esse homem misterioso.

 Apressei-me e escondi o dinheiro no fundo falso do meu guarda-roupa, eu sei que é muito estranho alguém tão “certinho” ter um fundo falso, mas tinham coisas que eu não gostava da ideia de ter alguém xeretando.

Liguei para Alyssa para poder saber melhor o que estava acontecendo.

 - Por que você não foi me buscar se sabia que era uma situação de merda?

 - Bom dia para você também Jessica!

 - Que bom dia o que, Bom dia para quem?

 - Me diz você afinal foi você quem passou a noite toda com o dono da University of Art.

 - Não acredito... Por que você não me impediu?

 - Você parecia tão decidida que eu só deixei você fazendo o que queria. A noite foi tão ruim assim?

 - Ruim é pouco, para completar eu ainda tive que aturar minha mãe com um questionário imenso logo pela manhã.

 - Sinto muito...

 - Não sente nada, você poderia ao menos ter me acobertado quando ela te ligou, mas ao invés disso você me deixou na mão.

 - Você queria que eu fizesse o que? Ele é um homem muito poderoso aqui pela cidade, se ele decidisse que iria dar um sumiço na garota com quem ele teve um casinho? O que eu ia responder aos seus pais? Que você saiu “daqui” pela manhã e nunca mais apareceu?

 - Mais uma vez você reforça que ele pode ser alguém perigoso, mas mesmo assim me deixou lá.

 - Você é adulta, eu não posso ficar te barrando quando tomar decisões amorosas.

 - AMOR É O CARALHO! Eu só queria descontar o meu ódio naquele babaca.

 - Já se vingou? Então está tudo certo, você está viva e daqui a alguns dias sua mãe esquece tudo isso.

 - Não é assim que funciona e você sabe disso.

 - JÁ CHEGA! Eu não vou azedar o meu dia só porque sua reputação de “santinha” foi ralo a baixo.

 - Você não foi minha amiga e está sendo babaca igual ele. Eu é que não quero mais falar com você.

Desliguei a ligação sem dar a ela a chance de me responder, como ela pode me deixar naquela situação mesmo sabendo que eu poderia sair machucada... Com que cara eu chego à faculdade amanhã?

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