Jessica
O pedido do cara de olhar misterioso ficou no ar até eu me lembrar de que estava ali apenas para um simples acerto de contas — e para me divertir com qualquer idiota que quisesse “me comprar”.
— Só uma bebida? Não sei se vale o esforço...
— Se achar melhor, eu te compro o bar.
— O bar e mais quatro pares de Louboutin.
— Bem exigente, mas eu não me oponho. Só preciso afastá-la da sua amiga por alguns minutos... ou horas.
Sorri maliciosamente, demonstrando interesse na proposta de sair dali com ele. Minha amiga me lançava vários olhares como se quisesse me dizer algo importante, mas eu não queria sair do personagem e me tornar a certinha de sempre.
Caminhamos até o bar do andar de cima — uma espécie de área vip, com sofás de canto e mesinhas charmosas. Não era tão cheio quanto a parte inferior, mas cheirava a charuto: um aroma meio achocolatado e defumado, um pouco enjoativo.
Ele indicou um lugar para sentarmos. Rapidamente, um garçom veio nos atender, visivelmente nervoso com a presença do homem de olhos negros e misteriosos.
— O que o Sr. Parker deseja esta noite?
— Gin tônica. E para a moça?
— Um martíni com cereja, por favor.
O garçom anotou o pedido, fez uma leve reverência e se retirou. Aquilo foi estranho — das poucas vezes em que entrei numa área vip, nunca tinha visto esse tipo de submissão entre garçons.
— Então, olhos azuis, qual é o seu nome?
— Cooper... Jessica Cooper. E o seu, gigante?
— Não sou tão alto assim, tenho 1,80. Você que é muito baixa. Mas, respondendo à sua pergunta, sou Robert Parker. Achei que já me conhecia.
— Como poderia conhecê-lo se é a primeira vez que nos encontramos? O nome não me é estranho, mas realmente não me recordo. Posso ter visto em algum lugar.
— Achei que sabia quem eu era, por isso aceitou o convite... Mas, pensando bem, talvez seja melhor assim.
— Ah, não se sinta tão especial. Nós saímos com homens poderosos o tempo inteiro. É uma espécie de troca, sabe? Não é fácil manter as mensalidades da faculdade em dia e ainda ter roupas de grife.
— Entendo... Eu só imaginei que me conhecesse. Mas se você gosta desse tipo de acordo, quem sou eu para julgar? Mudando de assunto: me conte um pouco mais sobre você.
— É tudo bem raso e padrão. Curso Moda aqui perto, na University of Art. Faço compras quatro vezes por semana, venho a bares com amigas para conhecer homens que adoram nos mimar com coisas fúteis, e é isso.
— Onde você mora? Seus pais aprovam esse comportamento?
— Vá com calma. Moro com eles aqui na capital, mas não ficam tão em cima. Tenho vinte e dois anos — não sou uma criancinha que precisa da aprovação deles pra sair com homens.
— E o que te faz pensar que eu quero ser um desses homens?
— Você me chamou até aqui e...
Antes que eu continuasse, o garçom chegou com as bebidas. Assim que ele se retirou, o silêncio se instalou entre nós. Observei o rosto de Robert; ele era acima do padrão — e o jeito como falava pouco sobre si o tornava ainda mais intrigante.
— Você falou pouco sobre sua vida... Quantos anos tem?
— Trinta e quatro. Que bom que você também é maior de idade; não seria bom um escândalo com meu nome.
— Você parece mais jovem. Gosto de homens maduros... Trabalha com o quê?
— Sou empresário.
— Isso é bem vago. Muitos empresários frequentam esse bar. Qual é a empresa e com o que trabalham?
Ele fez uma longa pausa. Foi quando senti sua mão deslizar entre minhas coxas. Meu coração acelerou. Nunca havia passado por algo assim, mas não queria agir como uma garotinha inexperiente — decidi continuar o jogo.
Não me afastei. Ele se inclinou, encostando os lábios próximos à minha orelha esquerda, como se fosse me contar um segredo.
— Acho que o importante não é qual é a minha empresa... e sim o quanto eu ganho pra poder fazer o que quiser com garotas como você.
Não sabia o que fazer. Senti algo estranho no estômago; meu corpo parecia pegar fogo cada vez que a barba por fazer dele roçava em meu pescoço.
— Você faz isso muitas vezes por semana? Parece um pouco tensa. Relaxe... Vou te tratar como uma boneca de luxo. Não é isso que você gosta?
— Claro... Sou o que você quiser que eu seja — por oito mil euros.
Tentei sorrir, num tom sarcástico, mas ele parecia acreditar em cada palavra. Comecei a ficar receosa, torcendo para Alyssa aparecer e me salvar com alguma desculpa. Infelizmente, ela estava com o idiota do amigo dele, e eu não tinha como mandar sinal algum.
Robert
Estava tomado por um turbilhão de sensações: raiva por ela me tratar como um caixa eletrônico, tristeza por achar que seria diferente, e desejo — um desejo absurdo de levá-la pra casa e satisfazer cada impulso reprimido.
Só queria, por uma vez na vida, que as coisas fossem diferentes. Mas o universo parece se divertir colocando mulheres no meu caminho que acabam me deixando em frangalhos emocionais.
Já que era assim, decidi aproveitar o momento e fingir que tudo o que eu precisava estava bem ali, diante de mim. Eu a teria de qualquer forma — não importava o preço.
Entrelacei minha mão direita em seus longos cabelos, segurei-a pela nuca e puxei para um beijo intenso. Seus lábios eram incrivelmente macios; seu perfume tinha notas de baunilha que me deixavam embriagado. Quis trazê-la para mais perto, mas ela se afastou bruscamente — o que me surpreendeu, considerando o comportamento dela até então.
— Desculpe, mas não posso fazer isso em um local público.
— Tem medo de não conseguir se controlar tão perto?
— Na verdade, saio com outros homens que frequentam este bar, e não seria legal se um deles aparecesse...
Ferveu-me o sangue ouvir aquilo. A linda mulher à minha frente, a mesma que eu acreditava ter algo diferente, acabava de me provar o contrário. Mas, ainda assim, decidi propor algo.
— Que tal sairmos daqui e irmos para um lugar mais reservado?
— É que minha amiga...
— Ela já foi embora. Não achei que você desse esse tipo de desculpa pra não sair com um cara. Se não quiser, é só dizer.
— Desculpa, não é isso...
— Então o que é?
— Nada... Só achei que ela me esperaria. Já que ela foi, eu vou com você.
— Ótimo. Meu carro está logo ali.
Jessica
Caminhamos até o estacionamento. Assim que vi o carro dele, comecei a repensar minha decisão. Ele era dono de uma Lamborghini Veneno — ninguém tem um carro desses sem algum segredo obscuro.
Tentei adivinhar em que tipo de empresa ele trabalhava, mas antes que me perdesse em suposições, senti sua mão tocar meu ombro.
— Jessica? Aconteceu algo? Não gostou do carro?
— Não, só estava pensando em algumas coisas.
Ele abriu a porta para que eu entrasse. O silêncio tomou conta durante boa parte do trajeto, até que ele quebrou o gelo.
— Se você não estivesse satisfeita com o carro, eu poderia ir em casa e voltar com outro.
— Quem em sã consciência não gostaria de uma Lamborghini Veneno? E como assim, pegar outro carro? Já não gastou todo o dinheiro com esse?
— Nem um terço. Eu gosto de colecionar carros de luxo.
— Que hobby caro...
— Falando em hobbies caros, tenho uma proposta. Baseada no que você disse no bar sobre “fazer o que eu quiser por oito mil euros”.
— Tipo o quê?
— Eu te pago o dobro para você se comportar como a menina que aparenta ser.
— E como eu aparento ser?
— Divertida, gentil, carinhosa, inocente... e por aí vai.
— Nossa, não sabia que as pessoas me rotulavam assim antes de me conhecer.
— Foi a impressão que tive antes de você começar a falar tanto... O que me diz?
Fiquei gelada. Não sabia se deveria manter a farsa, mas gostei de como ele me descreveu — mesmo que sem saber quem eu realmente era.
— Tudo bem, estamos de acordo.
Ele entrou em um dos condomínios de luxo da cidade. Fiquei impressionada — nunca havia conhecido ninguém que morasse naquela região de City Flowers.
— Então... vamos entrar?
— Isso é um hotel de luxo?
— Não, é onde eu moro. Não está à altura das suas expectativas?
— Não é isso. Só é estranho você trazer uma completa estranha para a sua casa no primeiro encontro.
— Gosto do sigilo que esse lugar me proporciona.
— Dá pra perceber. Tem seguranças por todo lado. Você é o novo presidente e eu não tô sabendo?
Ele sorriu com a piada. Ainda assim, tudo aquilo me intrigava. Eu me sentia uma idiota por ter começado aquele joguinho só por vingança.
Quando Robert abriu a porta do apartamento, vi uma enorme sala de estar. Janelas amplas com vista para a cidade, decoração em preto e cinza, sofás que comportariam uma dúzia de pessoas, quadros, e — o que mais me chamou atenção — uma estante repleta de livros de literatura romântica.
Enquanto folheava alguns títulos, ele voltou da cozinha com duas taças e uma garrafa de Romanée-Conti 1994. Eu hesitei — não sabia se era uma boa ideia beber mais, mas aceitei.
— Não sabia que você também gostava de literatura romântica. Isso é real ou faz parte do teatro?
— É real. Minhas leituras me inspiram a criar roupas baseadas nas sensações que elas me trazem.
— Preciso ver um dos seus portfólios, pra descobrir o quão romântica você é...
A conversa me fez lembrar de casa — das minhas criações, das horas que passava sozinha no quarto costurando ideias e tecidos.
— Você está bem? Não costuma beber vinho?
Percebi que fiquei tempo demais olhando pra taça. Dei um gole generoso — o sabor era bom, reconfortante.
— Não... Só estava pensando em alguns trabalhos pendentes.
— Minha presença é tão tediosa assim? Ou você é uma estudiosa disfarçada?
— Não é isso, você é incrível. Só estou meio aérea hoje.
Quando percebi, ele já estava perto demais. Entendi perfeitamente o que queria.
O beijo foi breve, mas cheio de carícias. O vinho sempre me deixava mais sensível, e aquele homem... por mais que eu quisesse brincar com ele, tinha que admitir: ele mexia comigo.
— Você quer ir para o quarto?
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Atualizado até capítulo 24
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