Jessica
Eu me afundei nos lençóis enquanto escutava o barulho da porta se trancando. Ele voltou para a cama sem trocar mais nenhuma palavra. Eu realmente não entendia aquele comportamento — ele já havia feito tudo que queria...
— Eu não quero que você se sinta coagida, mas não é uma boa ideia sair daqui sozinha a essa hora. O mundo real não é um conto de fadas, e lá fora é muito perigoso.
— Tudo o que eu poderia sofrer lá fora já aconteceu aqui dentro, neste maldito quarto...
Depois de ter cuspido a verdade com tanta frieza, ele decidiu não dizer mais nada a seu favor. Ele finalmente dormiu e eu, no entanto, lutava contra os meus próprios pensamentos sobre aquele drástico final de noite.
As horas não passavam. Aquela cama era tão macia, o travesseiro parecia ser feito com penas de asas de anjos e os lençóis... Digamos que, mesmo se eu ganhasse uma quantidade absurda de dinheiro, eu não poderia comprar lençóis de seda — pelo menos não daquela qualidade. Era como ter um pedacinho do céu na terra. Mas, por diversos motivos, eu não conseguia relaxar e dormir.
Robert
Finalmente o dia amanheceu. Jessica havia adormecido, e eu não tinha a mínima intenção de acordá-la, visto que a moça virou de um lado para o outro praticamente a madrugada inteira.
Eu me sentia mal pelo ocorrido da noite passada, mas agora era hora de cumprir com a minha palavra. Fui até o cofre da casa, retirei trinta mil euros e coloquei na bolsa de Jessica. Eu sabia que ela não aceitaria, por simples orgulho.
Chegando à sala de jantar, me deparei com uma mesa farta. Eu não costumo comer muito pela manhã — Odete provavelmente deve ter visto que eu estava com alguém.
Sentei-me à mesa na esperança de que Jessica acordasse em breve. Servi-me de uma boa xícara de café; minha cabeça estava a mil, pensando na loucura que aconteceu. Eu não sabia o que estava por vir — se ela me perseguiria até que eu fizesse todas as suas vontades ou se faria um escândalo me expondo para outras pessoas. Todas aquelas dúvidas estavam me matando por dentro.
Jessica
Saindo do quarto, um pouco zonza e com lembranças um tanto quanto bagunçadas, me deparei com um extenso corredor. No fim dele, vinha uma claridade que me indicava que aquele seria um dia ensolarado, com uma brisa refrescante — era tudo o que eu precisava para exterminar os pensamentos ruins da noite anterior.
Fui caminhando lentamente na esperança de não ser notada por ninguém. Ao julgar pelo murmurinho que vinha da sala de jantar, eu tinha certeza de que ele ainda estava em casa e seus empregados se preparavam para mais um dia de muito trabalho naquele apartamento imenso.
Aproximei-me da sala de estar e agradeci aos céus por já ter trocado de roupa e por minha bolsa estar bem ao meu alcance. Dessa vez, eu caminhava como se fosse uma criminosa tentando sair de uma cena de crime sem ser pega pela polícia. Quando estava apenas a dois passos da minha bolsa, uma mão tocou meu ombro, fazendo-me tremer dos pés à cabeça. Eu quase fui capaz de gritar. Estava com medo de verificar quem estava atrás de mim, mas não havia outra forma a não ser me virar e arrumar uma bela desculpa por estar saindo de fininho.
À medida que eu movimentava a cabeça, sentia meu coração disparando. Minha garganta secou, eu sentia o sangue pulsar na língua, o ar preso em meus pulmões — e então, finalmente, eu me virei por completo...
— O Sr. Parker pediu para que eu a acompanhasse até a mesa do café. Ele já está à sua espera.
— Si... sim, eu já estava indo para lá. Só preciso checar algumas mensagens no meu celular. Não é educado mexer no celular à mesa.
— Tudo bem. Se precisar de mim, estarei às suas ordens. Meu nome é Odete.
Eu não estava acreditando que tive um mini infarto por conta de uma idosa. Se ela for a segurança desta casa, o “Sr. Parker” está com sérios problemas. Eu não imagino que uma mulher de aparentemente sessenta anos, um metro e meio e tremedeira nas mãos possa ser uma lutadora nata — quer dizer, talvez ela seja uma agente disfarçada, tipo a Vovó Zona. Ri dos meus próprios pensamentos, mas, na verdade, o fato de ela ter me pego no pulo me obrigava a ter que passar mais um momento desagradável com aquele homem...
— Senhorita? — disse Odete. — O Sr. Parker precisa que você compareça à sala de jantar.
— Eu já entendi. Não vou demorar, pode ir à frente.
Robert
Eu estava ficando realmente impaciente pela demora de Jessica. Eu tinha consciência de tudo o que fiz a ela na noite anterior, mas me evitar como uma criança pirracenta não resolveria nada. Então por que ela demorava tanto para ir até a sala de jantar? Será que ela foi embora sem ao menos se despedir?
— Bom dia... — disse ela. — Eu não quero prolongar as coisas. Você não precisava ficar aqui me esperando, eu tenho que ir para casa.
— Meu tempo é precioso. Eu não fiquei aqui te esperando para receber uma resposta como esta. Sente-se.
— Por que está fazendo tanta questão? Nós não temos nada, não gostamos um do outro, então para que ficar me prendendo aqui?
— Eu pensei que fosse diferente...
— Infelizmente, você também me decepcionou muito.
— Você poderia ter me contado a verdade, talvez...
— Pode parando por aí! Eu sei que fui uma idiota por fazer tal brincadeira, mas ninguém deve ser tratado dessa maneira. Você foi insensível e cruel porque as coisas não saíram do jeito que queria... Isso não te dá o direito de...
— Não me dá o direito de quê? De te tratar como uma vagabunda? Eu acho que você se esqueceu de que estava agindo como tal.
— Quer saber? Foda-se! Vocês, ricos, acham que podem tudo — e isso nunca vai mudar, porque essa sujeira está enraizada até a sua alma!
— Não baixe o nível dessa forma. Eu só queria ter uma conversa decente para esclarecer tudo.
— Já está tudo bem esclarecido! Eu não vou ficar aqui escutando um monte de bosta de um filho da puta que foi um escroto comigo!
Jessica
Meu sangue estava fervendo de tanto ódio que eu sentia. Eu queria chorar, mas não iria dar esse gostinho a ele — não depois de tudo o que ele me fez na noite passada. Eu só precisava sair imediatamente daquele lugar.
Levantei-me sem nenhuma delicadeza e saí andando sem olhar para trás — e ai de alguém que tentasse me impedir de sair dali. Passei pela sala de estar para pegar minha bolsa, mas, assim que abri a porta da frente, senti as mãos dele segurando meus braços.
— Você não pode sair daqui assim, nós não terminamos de conversar.
— Você está machucando meus braços! Me solta e eu entro para conversar.
— Você jura?
— Sim.
Assim que ele me soltou, eu dei um chute bem no meio das pernas dele. Ele caiu no chão, e logo avistei alguns seguranças indo em sua direção, enquanto ele urrava de dor.
— QUEM JURA, MENTE!
Corri o máximo que pude e, para minha sorte, assim que consegui sair do condomínio, havia muitos táxis à disposição. Entrei no primeiro que vi e pedi para o motorista ir o mais rápido possível para o estacionamento da faculdade.
Aquela, de longe, parecia a viagem mais longa da minha vida. A cada segundo que se passava naquele táxi, eu lutava contra meus próprios pensamentos. Como uma noite com um desconhecido podia mexer tanto comigo daquela maneira? Eu só precisava chegar em casa, tomar um longo banho e passar pelo menos uns três dias dentro do meu quarto sem falar com ninguém. Era tudo o que eu precisava até que meus sentimentos se estabilizassem.
Chegando ao estacionamento da faculdade, fui até o carro da minha mãe pegar dinheiro para pagar o taxista, que, por sinal, já estava bem impaciente com a minha demora. O ambiente estava extremamente calmo — um vento refrescante indicava que naquela tarde choveria...
— Moça, eu não tenho o dia inteiro, preciso fazer outras corridas.
— Perdoe-me, eu acabei me distraindo. Aqui está o dinheiro pela corrida. Espero que você tenha um dia melhor do que o meu.
Assim que o taxista se retirou, entrei no carro da minha mãe. A primeira coisa que fiz foi gritar até que minha garganta ardesse. Logo em seguida veio o choro e o desespero. As lágrimas escorriam quentes pelas minhas bochechas, e a única certeza que eu tinha era que, quando chegasse em casa, ainda teria um questionário a ser respondido.
Eu não estava em condições de pegar no volante, mas não tinha outra saída. Segui viagem já pensando em tudo o que diria aos meus pais quando chegasse. Era revoltante ter que dar satisfação à minha mãe depois de tudo o que li naquelas cartas. O que ela estava pensando deixando-as em um lugar de tão fácil acesso? A não ser que... Não, eles não fariam isso só para manter as aparências. Meu coração ardeu quando pensei na possibilidade de meu pai saber de tudo e, mesmo assim, compactuar com aquela sujeira.
Eu pensava que não tinha como piorar, mas, assim que estava bem perto do portão da minha casa, avistei algumas viaturas e minha mãe gritando desesperadamente com alguns policiais. Eu gelei na mesma hora. Nunca imaginei que minha mãe faria esse escarcéu por eu não ter voltado para casa no mesmo dia. O que ela estava pensando? Que eu fui raptada? Com certeza, aquele seria mais um peso para o meu dia.
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Atualizado até capítulo 24
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