Quero que você seja a minha acompanhante

Esta semana, meu bebê completa um ano e sete meses. Não sei a data exata porque fiquei inconsciente por quinze dias e, ao acordar, ele já não estava mais comigo. Perguntei quando ele nasceu, mas ninguém me respondeu. No dia 23 de setembro de 2020, caminhei do meu alojamento para a última consulta antes do parto, que seria em dez dias.

Só me lembro de deitar na maca e, em seguida, ficar completamente vazia. Eu estava com quarenta semanas.

Esses dias são os piores; sofro a semana inteira.

Sinto uma mistura de angústia, tristeza e arrependimento. Por isso, não quero ter filhos. Durante uma conversa com Gustavo, mencionei isso e percebi a decepção dele. Apesar de gostar dele, não posso oferecer o que não tenho.

Isso me impede de ter um relacionamento verdadeiro.

Não posso condenar um homem a viver comigo, abrindo mão de ser pai; isso não é justo. Só me casarei com um homem que já tenha filhos. Isso também explica por que estou hesitando em me mudar para a casa do Gustavo. Temos mais do que uma relação de chefe e funcionária; ele sempre aproveita a oportunidade para me beijar e fazer carinho. Confesso que estou apaixonada por ele.

Além disso, faz três meses desde o incidente no banheiro do hotel. Meu relacionamento com Gustavo é tímido; tudo acontece devagar. Todas as noites, conversamos por videochamada, compartilhando ideias, sonhos e medos.

No escritório, enfrento vários tipos de boicotes; documentos e relatórios prontos desaparecem. Pastas organizadas aparecem completamente bagunçadas. Diariamente, surge um novo problema.

Um dia, enquanto estávamos no escritório, Gustavo me surpreendeu com um convite inesperado.

— Na sexta-feira, haverá um jantar na casa do meu tio Theodoro para comemorar o lançamento da nova coleção de joias, e eu quero que você me acompanhe.

— Eu! Não sei, não.

— Por que, Laura? Pensei que estávamos juntos.

— Tenho medo de te envergonhar. Você sabe que sou da roça, não entendo nada de etiqueta social.

— Por que você me envergonharia? Nos últimos quarenta e tantos dias, estivemos sempre juntos, e em nenhum momento senti vergonha de você; pelo contrário, me sinto orgulhoso de ter você ao meu lado.

— Eu sou pobre e você é rico. Sou simples, você é sofisticado. Você é extremamente elegante. Minhas roupas são...

Meu comentário claramente deixou Gustavo desconfortável.

— Por que você está nos olhando assim? Dinheiro não é um problema.

— Para mim é, Gustavo. E para os outros também. Todos me olham estranho porque sou sua assistente (sem faculdade); imagina se eu for sua acompanhante.

— Só há uma coisa que você precisa entender: eu preciso de você como preciso de ar para viver. Quando nos encontramos, eu estava morrendo lentamente.

— Tudo bem, eu vou. Como devo me vestir?

— Normal, acho que não é nada chique; é um jantar em família.

Não quero magoar Gustavo, mas estou muito insegura sobre ir a esse jantar. Quando conheci a Sra. Leona e o Sr. Theodoro, eles eram muito altivos, nem olham para as pessoas; imagina eu sentada à mesa deles.

Enquanto a semana passava, liguei para Helen, mãe do Bruno, pedindo ajuda para comprar um vestido.

— Oi, Helen, como você está?

— Estou ótima, e você? Soube da sua promoção, parabéns! Que você possa crescer ainda mais nesse trabalho.

— Obrigada, Deus te ouça. E sobre o trabalho, quero pedir ajuda.

— Diga no que posso ajudar.

— O senhor Gustavo me convidou para acompanhá-lo a um jantar de comemoração da nova coleção de joias; preciso comprar roupa e sapato, não tenho nada.

— Nossa, Laura, esses jantares são exclusivamente para familiares e pessoas muito próximas à família Alexandros. Vou te ajudar.

Combinamos de nos encontrar no shopping na quarta-feira e nos despedimos.

A Ellen foi super gentil, me deu dicas sobre como me comportar, o que fazer e o que não fazer, até como comer. Compramos as coisas. Agradeci muito a ela.

Desde segunda-feira, quando Gustavo me convidou, venho pesquisando na internet sobre etiqueta, como comer e como sentar. A Ellen me disse que os trajes para esses eventos são chamados de "casual chique". Comprei um vestido tubinho preto com um discreto decote em V, acima do joelho, uma sandália de salto 12 nude e uma bolsa tipo carteira também nude. Comprei brincos de ouro simples, mas elegantes; também me dei ao luxo de comprar aquele perfume que usei no meu primeiro jantar com Gustavo.

Sexta-feira chegou; estou feliz porque Gustavo me deu folga à tarde. Marquei um horário para pintar o cabelo, fazer massagem, unhas e sobrancelha. As meninas do salão sugeriram que eu depilasse as pernas para ficar mais bonita com o vestido. Saí de lá me sentindo uma princesa.

Cheguei em casa, já passava das 6:30. Tomei banho, coloquei meu vestido, arrumei o cabelo de lado, fiz a maquiagem e passei um batom vermelho. Olhei no espelho e disse: "Você é maravilhosa." Toquei a pulseira que a Sra. Meleque me deu; agora sei o significado do seu nome (anjo). Obrigada, eu nunca vou te esquecer. Agora só falta a sandália.

A campainha tocou; olhei para o relógio: 19:25. Ele estava cinco minutos adiantado. Corri para calçar a sandália e fui abrir a porta.

— Boa noite! Você está adiantado.

Ele estava vestido com um terno preto, camisa branca sem gravata e sapato social preto. Sempre muito elegante.

Gustavo: Boa noite! Desculpe, estava muito ansioso. Você está linda! Estas são para você.

Ele me beijou os cabelos e trouxe um lindo buquê de rosas cor-de-rosa.

— São lindas! Como soube que as rosas cor-de-rosa são as minhas preferidas?

— Eu deduzi pelo fundo da sua tela do celular. Gostou?

— Gostei muito, são lindas. Espere um momento para eu colocá-las na água.

— Claro, falou enquanto entrava na sala, observando tudo com curiosidade.

Levei as flores para a sala e sorri.

CONTINUA...

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