Eu estou doente

A porta do elevador se abre, e uma mulher entrou com o seu olhar altivo

"A secretária do Sr. Gustavo" uma mulher de 50 anos. Muito bem Vestida, no seu terninho preto, blusa clara, sandália de salto fino e cabelos muito bem presos em um coque

Passava credibilidade e profissionalismo,

Ela estava aqui há muitos anos e era respeitada por todas, invejada por muitas, naquele escritório, ali era a sua vida, ela dava, cem porcento para ser a melhor. Dedicação e desempenho exemplar. Sempre se esforçava ao máximo para realizar as suas tarefas e garantir que tudo saísse como planeado

Ela caminhou até a mesa onde eu estava sentada e nem bom dia! Me deu

— Está dispensada pode ir —

Disse fazendo gestos para eu me levantar

Voltei a minha realidade

Levantei-me ficando em pé em frente a ela

Que fez um gesto com impaciência para que eu saísse do lugar que lhe pertencia

Mas antes que eu desse meu primeiro passo o elevador abriu-se novamente e

"O MEU MORENO"

Entrou caminhando com passos firmes, a secretária praticamente arrancou a agenda da minha mão detalhe o choque que recebi ao vê aquela mulher fez-me esquecer que eu estava verificando os compromissos do dia

Ela vê o Gustavo sair do elevador, e puxa a agenda das minhas mãos. Ele faz um sinal com a mão para ela ficar onde está e só diz:

— Bem-vinda de volta, — ele diz para a secretária e faz sinal com a mao para mim segui-lo.

— Bom dia! Laura venha até a minha sala

— Bom dia senhor — respondo insegura

a secretária parece estar incomodada com a situação, talvez pensando que eu vou roubar o emprego dela

Ao entrarmos na sala, ele me aponta a cadeira para eu sentar

— O que deseja senhor?

— Sente-se

— O que está achando de trabalhar comigo?

— Exaustivo você não para, mas é muito gratificante, na verdade, estou adorando

— Eu tenho uma proposta para você

Quero que seja minha assistente pessoal que cuide de toda a minha vida

— Mas o senhor, Já tem um assistente, o Bruno, eu não posso roubar o trabalho dele.

— E não vai, o Bruno, insubstituível

Ele é o meu braço direito e às vezes até o esquerdo (risos) essa é uma vaga nova, já faz um tempo que sinto a necessidade de ter alguém que cuide da minha vida pessoal não só aqui na empresa

Mas também na minha casa, o salário é de quinze mil, mais plano de saúde, só terá que morar no emprego

— Eu não sei o que falar

— Pense, hoje e quarta-feira tem até sexta para me dar a resposta, agora vamos aos compromissos de hoje

— Senhor, a sua secretária voltou e agora...

— Pare de me chamar de senhor, pode me chamar de Gustavo você vai me auxiliar até ela se adaptar de novo, nós estamos num ritmo acelerado, não dá para ela entrar no trem assim, depois eu converso com ela

Continuamos a trabalhar, e a companhia dele é tão boa, que eu não queria que o dia terminasse

Não tem nada melhor do que chegar em casa, dá-me uma sensação de segurança mesmo estando muito feliz trabalhando com o Sr. Gustavo, voltar para casa não tem preço

tenho pensado muito em ter um gato para me receber quando eu chegar

Vou tomar banho, comer algo e fazer umas aulas de turco pela ‘internet’ até o sono chegar

Já eram onze e meia quando resolvi dormir,

O telefone tocou, era

uma mensagem do sr Gustavo

— Você está acordada?

— Sim! Aconteceu algo, está tudo bem, - indaguei com preocupação

— Estou bem,

Fica tranquila

E que não consigo dormir,

Na verdade, a última vez que dormi nos últimos dois anos foi aquela noite com você

— Sério?

Isso é grave, o senhor foi ao médico?

— Quando vai para de me chamar de senhor — suspiro chateado

— Você quer conversar por chamada de vídeo? (risos)

— Podemos?

— Claro, só me dá 5 minutos para eu me ajeitar

Desligo, nem espero ele responder, vejo a minha roupa, cato a bagunça que fiz na cama para estudar

Gustavo chamando:

— Pronto, podemos continuar

— Primeiro precisa deixar de me chamar Sr. Pode-me chamar de Gustavo ou Guto como a minha família e os meus amigos me chamam

— Tá! bom!

— Respondendo a pergunta não! Só contei para um amigo médico para ele passar um remédio para eu dormir no começo, funcionou, contudo poucos dias depois não fizeram mais efeito

Não consegui falar com ninguém, o que está acontecendo comigo até que você aparecer naquele banheiro

— É muito importante cuidar da saúde física e emocional, porque não dorme?

— Meu amigo diz que é por causa da depressão,

para mim é muito difícil confessar que estou doente e preciso de ajuda

Quando os meus pais morreram eu desenvolvi uma tristeza profunda, e o meu avô veio conversar comigo, ele disse-me: "Gustavo, já é um rapaz tem idade para entender que a morte faz parte da vida

Nos Alexandros somos fortes, e homens fortes nunca choram, ou ficam tristes nós enfrentamos a vida de frente não importa o que aconteça as pessoas não podem vê a sua fraquezas

Mas dentro de mim eu queria gritar

Havia um buraco enorme dentro de mim,

O meu avô me criou para ser um homem forte e

de caráter quando penso em dizer para alguém que estou doente automaticamente sinto-me um fraco

— Admitir que precisa de ajuda não é fraqueza, pelo contrário para mim é demonstração de força

— Eu preciso de você Laura Sei que parece loucura, mas...

— Você está sofrendo sozinho e precisa compartilhar com a sua família

— O estranho para mim é sentir-me bastante confortável em contar tudo, para você no normal me sinto constrangido em me abrir

— Eu também me sinto bastante confortável conversando com você

—Eu estou gostando muito de você, Laura.

— Eu também gosto de você

Não sei como agir e tento levar a conversa pra um lugar seguro