Ela Quer Ser Submissa: O Segredo da Secretaria
O cheiro de álcool e antisséptico invadia minhas narinas, familiar demais, e ainda assim, sempre nauseante. Minhas mãos estavam suadas, agarradas à bolsa no meu colo enquanto eu observava minha mãe, Dona Lúcia, na maca à minha frente. Ela sorria para mim, um sorriso brando que não alcançava seus olhos. Aquela calma, aquela doçura inabalável dela, me partia o coração em mil pedaços.
Era para ser só mais uma consulta de rotina, um check-up anual que mal cabia na nossa apertada agenda, ou no nosso orçamento. Mas a expressão séria do Dr. Almeida quando ele pediu para conversarmos em particular já me dizia que não era rotina. O silêncio na pequena sala dele, que antes me parecia impessoal, agora era opressor.
"Ana, Lúcia," ele começou, a voz grave, os olhos fixos na prancheta em suas mãos. "Os resultados dos exames… eles não são o que esperávamos."
Minhas mãos apertaram a bolsa com mais força. Senti o sangue gelar nas minhas veias. Mamãe pegou minha mão, um gesto de conforto, mas seus dedos estavam frios.
"O que é, doutor?" Minha voz saiu um sussurro. Eu já sabia. O universo tinha um jeito cruel de sussurrar os piores segredos antes mesmo de eles serem ditos.
Ele levantou os olhos, e a compaixão em seu olhar era uma faca cravada no meu peito. "É um tumor, Ana. No pâncreas." Ele fez uma pausa, e cada segundo daquele silêncio era uma eternidade de dor. "É agressivo. Câncer, Lúcia."
Aquelas palavras. Elas ecoaram na pequena sala, no meu cérebro, na minha alma. Câncer. Uma palavra tão curta, tão definitiva, que destruía tudo o que eu conhecia. Minha mãe. Meu porto seguro. Minha vida.
"Mas... tem tratamento, não tem, doutor?" Minha voz estava embargada, um fio tênue de esperança desesperada.
Ele assentiu lentamente. "Existem opções. Quimioterapia, cirurgia. Mas, no caso da Lúcia, devido à agressividade e à localização, o prognóstico... é delicado." Ele hesitou. "Há um tratamento experimental promissor na Sardenha. É de ponta, com resultados animadores para casos como o dela, mas... é extremamente caro. Milhões de dólares."
Milhões. A palavra me atingiu como um raio. O ar rarefeito na sala. O sorriso gentil da minha mãe, que agora parecia tão frágil. Eu a amava mais do que a mim mesma, mais do que tudo. A sensação de impotência me sufocava. Eu era apenas uma secretária pessoal, dedicada, competente, mas com um salário que mal cobria as despesas do mês. Como eu conseguiria milhões?
Saímos do consultório em um torpor. O mundo lá fora parecia o mesmo, pessoas apressadas, carros buzinando, o sol forte do meio-dia. Mas para mim, tudo havia mudado. Eu estava em uma bolha de desespero, e cada passo era um esforço monumental.
"Não se preocupe, filha," mamãe disse, a voz suave, como se a vida dela não estivesse por um fio. "Vamos dar um jeito."
Mas eu sabia. Sabia que dar um jeito significava eu. Somente eu. E uma ideia sombria, que vinha rondando meus pensamentos mais profundos, começou a ganhar força. Uma alternativa que eu jamais cogitaria. Algo que me faria cruzar um limite irreversível.
Cheguei ao trabalho, a Aslam Marketing Digital, como um autômato. O burburinho usual da agência parecia abafado. Minha mesa, antes meu refúgio, agora era apenas um posto de observação para o meu próprio tormento. Sentei-me, o corpo presente, mas a mente longe, nas palavras do médico, nos milhões de dólares, na imagem da minha mãe.
Foi então que o tablet vibrou na minha mão, o e-mail de Renata piscando na tela: "Tudo pronto com os Aslam do exterior?". Meu estômago gelou. O evento de aniversário da empresa, a festa de gala que eu vinha organizando há meses, a responsabilidade de cada detalhe… e eu havia cometido um erro. Um erro colossal.
Abri o arquivo e meu coração despencou. O sobrenome de um dos Aslam de Londres, um investidor crucial, havia sido omitido na lista VIP. Era um detalhe minúsculo, quase imperceptível para qualquer um, mas para Fernando Aslam, meu chefe, era um crime imperdoável.
O som da porta do seu escritório abrindo com um baque seco me tirou do transe. Seus olhos, antes focados em algum documento, varreram o corredor e encontraram os meus. Não havia fúria explícita, mas um brilho perigoso, uma intensidade que me fez recuar instintivamente. Era o seu jeito. Brutalidade silenciosa.
"Ana." A voz dele era um sussurro gélido, mas carregava a força de um trovão. Ele não me chamava assim a não ser que estivesse irritado. Ele queria me destruir. Eu senti meu corpo encolher. "Em minha sala. Agora."
Eu me levantei, as pernas bambas. A cada passo, sentia o peso do meu erro e o aperto no peito, uma premonição do que estava por vir. Cheguei à sua porta, e ele me esperava. Seus dedos envolveram meu pulso, não com força excessiva, mas com uma possessividade que me fez arrepiar. Era um toque que me puxava para dentro de seu universo, me aprisionando. Senti o calor da sua pele na minha, uma eletricidade proibida. Ele me arrastou para dentro, a porta se fechando com um clique audível, isolando-nos do mundo lá fora.
O cheiro dele me envolveu: cedro, couro e um toque cítrico que só ele possuía. A sala era um santuário de poder e mistério. A iluminação baixa, as paredes escuras, a vista panorâmica da cidade… tudo ali gritava a sua grandiosidade. E eu, Ana, era apenas um ponto minúsculo em seu vasto império.
Ele soltou meu pulso, mas não se afastou. Seu corpo pairava sobre o meu, e eu precisei inclinar a cabeça para encará-lo. Era um jogo de poder, e eu estava perdendo. Sempre perdia.
"A lista de convidados, Ana." A voz dele era um fio, carregada de uma decepção que doía mais do que qualquer grito. "Você revisou?"
"Sim, senhor. Eu… eu juro que revisei." Minha voz falhou.
"Jura?" Ele ergueu uma sobrancelha, o sarcasmo pingando de suas palavras. "Porque um dos Aslam de Londres simplesmente sumiu. Como um passe de mágica."
Meu estômago gelou. Eu queria sumir. Me esconder. "Foi um erro, Fernando. Eu posso consertar agora mesmo."
Ele riu, um som seco e sem humor. "Consertar? Ana, esse erro já está impresso em centenas de convites, na cabeça de milhares de pessoas. Isso mancha o nome Aslam." Ele se aproximou um passo, e eu senti o cheiro de sua pele, quente e tentador. Seus olhos desceram para a minha boca, um flash rápido, quase imperceptível, mas que me fez prender a respiração. Era um vislumbre de algo que ele escondia, algo cru e avassalador. Desejo. Puro desejo. Mas ele o enterrava sob camadas de raiva e autoridade.
"Você é uma decepção, Ana." As palavras dele eram lâminas, mas seus olhos, ah, os olhos dele me diziam outra coisa. Eles prometiam algo mais, algo que eu temia e desejava. "Eu confiei em você. Dei-lhe responsabilidades. E você falha nos detalhes mais simples."
Meu rosto queimava de vergonha. As lágrimas estavam presas em meus olhos, implorando para serem libertadas. Mas eu não o daria esse prazer. Nunca.
"Eu sinto muito." A frase saiu rouca, quase um sussurro.
Ele se inclinou, e eu senti sua respiração quente em meu rosto. Meu corpo todo tencionou, esperando o próximo golpe. "Sentir muito não paga as contas, Ana."
Naquele instante, enquanto ele me subjugava com seu poder, a imagem do tratamento na Sardenha, dos milhões de dólares, da vida da minha mãe, explodiu na minha mente. Pagar as contas. Aquela ideia sombria, que eu vinha empurrando para o fundo da minha mente, começou a ganhar forma, mais nítida, mais tentadora. O que eu não faria? O que eu não venderia? Meu corpo. Seria a solução? O pensamento era repugnante, mas uma parte de mim, desesperada, já calculava o preço. Seria uma entrega dolorosa, mas talvez necessária.
Fernando se afastou bruscamente, quebrando o feitiço. "Saia. E arrume essa bagunça. Se algum jornalista notar a ausência… não haverá perdão, Ana. E você não vai querer saber o que acontece quando eu não perdoo."
Aquelas últimas palavras, ditas com uma voz tão baixa que mal as ouvi, carregavam uma ameaça velada que me fez gelar. Saí da sala dele, sentindo o peso do mundo nas costas, mas também o calor proibido do seu olhar em minha pele.
Voltei à minha mesa, as mãos tremendo. Renata estava lá, os olhos preocupados.
"O que ele queria?" ela perguntou, a voz suave. "Ele parecia um demônio."
Eu me sentei, pegando a lista de convidados com mãos trêmulas. "Só… trabalho. Coisas da lista."
Renata suspirou, balançando a cabeça. "Sabe, às vezes eu acho que meu primo tem uma coisa contra você. Ele é sempre tão… intenso quando se trata de você. Parece que gosta de te colocar sob pressão."
Eu a olhei, meus olhos se enchendo de uma nova compreensão. O primo dela. Fernando. A agressividade dele. Aquele olhar faminto. O que ele realmente queria de mim? E o que eu estaria disposta a dar para salvar minha mãe? A linha entre o certo e o errado estava ficando cada vez mais tênue, e eu sentia que estava prestes a cruzá-la. O abismo me chamava.
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Atualizado até capítulo 23
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