Laços e Despedidas

...⚜🔅⚜🔅⚜🔅⚜🔅⚜🔅⚜🔅⚜🔅⚜...

Na carruagem...

O pai de Karoll a observa com um sorriso cheio de orgulho, os olhos brilhando como se ainda a visse pequena.

- Você estava linda hoje, minha filha... - diz ele, com a voz embargada. - Quase chorei. Parece que foi ontem que eu te carregava no colo.

Karoll encontra o olhar carinhoso do pai e sente um calor familiar no peito, mas também uma pontada de melancolia.

- Obrigada, pai... Mas você sabe que não gosto quando me chama assim. "Bebezinha" já não combina mais comigo - diz ela, tentando conter a emoção.

- Ah, mas você vive dizendo isso... - comenta a Duquesa, ajeitando o vestido com delicadeza. - Ainda tem só um décimo de vida. É uma criança, sim.

Karoll engole em seco, sentindo o peso daquela verdade.

- É... você tem razão - murmura, e seu sorriso vai se desfazendo aos poucos. - Pai... eu fiquei preocupada com o imperador. Não consegui vê-lo, mas a mamãe comentou que ele desmaiou no meio do banquete. Ele está melhor?

As palavras escapam antes que ela perceba, sua voz levemente trêmula.

- Bom... o imperador já não é jovem, você sabe. A idade cobra o preço - responde o Duque, suspirando fundo. - Quando fui ao quarto com a imperatriz, ele estava tossindo sangue e se contorcendo de dor no peito. Gritava... gritava muito. E só chamava pelo nome de uma antiga concubina dele. Foi uma cena horrível.

Denarius olha nos olhos de Karoll com seriedade, compartilhando o peso da preocupação.

Ao ouvir aquilo, a pequena lady sente um arrepio subir pela espinha. O peito se aperta, sufocado pela incerteza e pelo medo do que está por vir. A ideia de perder o imperador - e com ele a estabilidade de tudo o que conhecia - a faz estremecer.

- Então... você está dizendo que o imperador está morrendo... e que eu vou ter que me casar com um príncipe mimado que vive chorando pelos cantos? - a voz de Karoll treme, carregada de desespero. As lágrimas já ardem nos olhos, mas ela se recusa a deixá-las cair. - Por que não posso simplesmente herdar o seu título, papai?

Denarius abaixa o olhar por um instante, como se aquela pergunta o atravessasse. Quando finalmente fala, sua voz é baixa, mas firme:

- Porque esse acordo foi selado desde seu nascimento. Eu não tinha escolha. O imperador... é o meu melhor amigo. E eu devo isso a ele.

Karoll se encolhe, como se as palavras do pai a golpeassem de verdade. O coração lateja com uma raiva contida, um sentimento de traição que cresce dentro dela.

- Então é isso? Seu melhor amigo vale mais do que sua filha? A sua única filha?

Denarius cerra os punhos, e por um instante parece não saber se grita ou chora. Ele inspira fundo e encara Karoll com uma expressão carregada.

- Sim, ele vale. Porque se não fosse por ele, talvez você nem estivesse aqui. Você foi um milagre nas nossas vidas, Karoll... Depois de tantas perdas, de tantos anos sem esperança, você nasceu. Mas até milagres carregam responsabilidades. E a sua é essa.

As palavras pairam no ar como lâminas. Karoll não responde. Apenas abaixa a cabeça, como se algo dentro dela tivesse quebrado.

A carruagem segue em silêncio até a mansão do Duque, mas ali dentro, não há mais espaço para palavras. Apenas o peso do que foi dito - e do que não pode ser desfeito.

...⚜🔅⚜...

Na manhã seguinte, Karoll foi despertada pelas servas antes mesmo de o sol subir por completo. O quarto ainda estava mergulhado em penumbra, mas a luz pálida do amanhecer já esgueirava pelas frestas da janela. Ela se mexeu com preguiça entre os lençóis, ainda agarrada ao travesseiro, com os olhos pesados e a mente turva dos acontecimentos da noite anterior.

Uma das servas mais velhas se aproximou em silêncio. Tinha o rosto sério e gentil de quem cuidava dela desde pequena, e sua voz saiu num sussurro conspiratório, como se temesse que alguém pudesse ouvir:

- Minha senhora... chegou esta manhã uma carta. É do Barão Gustav Elenorv. Muito estranho... achei melhor entregar direto à vossa alteza.

Karoll piscou algumas vezes, sem entender de imediato. O nome soava distante e familiar ao mesmo tempo. Gustav. O menino dos olhos brilhantes que tinha aparecido de repente em meio ao estresse do banquete, que falava de um jeito diferente, e que a fizera rir quando tudo parecia estar desmoronando.

Seu coração acelerou. Uma carta dele?

Ela se sentou depressa na cama, ainda com o cabelo bagunçado e a camisola amarrotada, e estendeu as mãos trêmulas. A serva lhe entregou o envelope com cuidado, o papel grosso e o selo de cera escura parecendo sérios demais para algo vindo de outro garoto.

Karoll segurou a carta contra o peito por um instante. Não sabia exatamente por quê. Talvez fosse medo, talvez fosse só o alívio de pensar em outra coisa que não fosse o imperador, ou o destino que diziam já estar traçado para ela. Naquele pequeno objeto havia mistério, e ela era apenas uma menina com medo do que não entendia - mas também curiosa demais para não descobrir.

Respirou fundo, tentando conter o tremor nas mãos, e levou os dedos até o selo.

"Minha cara amiga, Lady Karoll Sentiny. Não deu para nos despedir apropriadamente ontem do baile imperial, então queria que aceitasse as minhas humildes desculpas. Conhecer-te ontem foi a única coisa boa que aconteceu comigo durante o dia inteiro. Adorei também conhecer o outro lado da 'futura imperatriz', séria e forte, um lado fofo, engraçado e bondoso.

Adoraria que nos encontrássemos novamente, mas acho que isso manchará sua reputação. Espero realmente que no futuro nos veremos novamente.

De seu belo amigo, Gustav Elenorv."

Terminando de ler a carta, Karoll dá um pequeno sorriso no canto de sua boca, um lampejo de alegria surgindo em meio à tempestade emocional que a assola. Ela se senta em sua mesa para escrever uma resposta, a pena tremendo em suas mãos enquanto ela luta para encontrar as palavras certas.

"Fiquei muito feliz em receber uma carta sua, meu 'belo' amigo Gustav. Suponho que é muito novo para ter um ego assim. Adoraria também saber mais de você, mas como mencionou, vai ser difícil nos encontrarmos novamente. Podemos combinar isso no próximo baile que acontecerá, se você puder comparecer.

De sua bela amiga, Karoll."

Depois de envelopar a sua carta, Karoll chama sua serva, pedindo para entregar a carta ao Barão sem que ninguém saiba.

...⚜🔅⚜...

Depois de duas estações se passarem...

Na propriedade do Barão Elenorv, os dias pareciam longos e pesados para Gustav. Apesar de ser um jovem cheio de energia, ele não tinha permissão para sair e aproveitar o sol ou os jardins. Seus dias eram divididos entre os bailes formais e a rígida academia imperial. Ainda assim, nas sombras de sua vida controlada, ele encontrava pequenas brechas para se sentir vivo. Eram as saídas secretas que faziam seu coração bater mais rápido - momentos em que escapava para entregar e receber cartas de Karoll.

Essas cartas se tornaram a essência de suas alegrias. Depois da primeira troca, os dois se comunicavam com frequência. Cada carta era um pedaço de uma conversa que nunca terminava, sempre com uma nova pergunta ou uma resposta inesperada. Com o tempo, os encontros em bailes foram seguidos por combinações de encontros secretos, onde podiam ser apenas dois jovens, livres das correntes da nobreza.

Certa vez, durante um desses encontros às escondidas, decidiram explorar o centro da capital em um dia de festival, algo inédito para ambos.

A cidade pulsava com vida.

Os cheiros doces de maçãs caramelizadas e tortas recém-assadas enchiam o ar. Músicos de rua tocavam melodias alegres enquanto malabaristas e artistas encantavam as multidões com suas habilidades. Karoll e Gustav, vestidos com trajes simples e discretos, como se fossem plebeus, misturavam-se entre os cidadãos comuns.

Os olhos de Gustav brilhavam. Ele parecia um menino vendo o mundo pela primeira vez, seus passos ágeis, quase ansiosos. Cada novo detalhe capturava sua atenção: as luzes coloridas que adornavam as ruas, o som rítmico dos tambores à distância, o riso das pessoas ao seu redor.

- Nossa, qual é o motivo de toda essa animação? Parece que nunca viu um festival antes... - provocou Karoll, com um sorriso malicioso dançando em seus lábios.

Gustav parou abruptamente, constrangido. Ele baixou o olhar, coçando a nuca, suas bochechas corando de leve.

- Bom, na verdade... eu nunca vi mesmo - respondeu ele com um sorriso envergonhado, tentando disfarçar sua timidez.

Karoll, percebendo o desconforto de Gustav, mudou de assunto rapidamente, os olhos brilhando de excitação ao ver algo à frente.

- Olha aquilo! Aquele cara acabou de soprar fogo do nada! Vamos, quero ver de perto! - exclamou ela, agarrando a manga da camisa de Gustav com gentileza e o puxando pela multidão, como uma criança curiosa.

Eles se infiltraram no mar de pessoas, rindo e tropeçando juntos, enquanto os sons e cores do festival os envolviam. O mundo ao redor deles parecia desaparecer conforme o dia se transformava em noite. O calor das tochas e o brilho das lanternas criavam um ambiente mágico, onde os rostos iluminados das pessoas ao redor pareciam tão distantes quanto as estrelas.

Quando a noite finalmente caiu, o coração da capital estava tomado por um grupo de músicos que tocavam na praça central, e as pessoas se moviam ao som de uma melodia doce e contagiante. Karoll e Gustav observavam de longe, lado a lado, sentindo o vento leve e fresco da noite passar por seus rostos.

Gustav, com uma expressão séria, olhou para Karoll, uma determinação suave em seus olhos.

- Quer dançar? - perguntou ele, estendendo a mão com um sorriso tímido, mas caloroso.

Karoll ficou surpresa por um momento, mas seus lábios logo se curvaram em um sorriso contido. Ela aceitou a mão dele com leveza.

- Claro - respondeu ela, com um brilho travesso no olhar.

Gustav a puxou delicadamente, sua mão pousando na cintura dela com cuidado, como se estivesse temeroso de quebrar algo precioso. Eles se aproximaram o suficiente para que suas respirações se misturassem, as bochechas de ambos corando levemente pela proximidade. Os olhos de Karoll observavam cada detalhe de seu rosto, e ela notou o pequeno sorriso que ele tentava disfarçar enquanto conduzia a dança.

A música envolvia os dois, e seus movimentos se sincronizavam com o ritmo da melodia. Eles riam e conversavam enquanto dançavam, esquecendo-se do tempo, dos olhares e das preocupações que sempre os rondavam.

Quando a última música terminou, eles pararam, um diante do outro, ofegantes e sorrindo.

- Uau! Você até que é um bom dançarino, vossa graça.

Gustav sorriu, um pouco mais confiante, e respondeu com uma leve reverência, os olhos azuis brilhando de orgulho.

- Estou apenas seguindo os passos da melhor dançarina da noite - disse ele, inclinando-se para mais perto dela por um breve momento, antes de recuar, tímido.

Foi nesse instante que o céu se iluminou com um espetáculo deslumbrante de fogos de artifício. O som das explosões suaves no ar foi seguido pelas cores vibrantes que dançavam no céu, refletidas nos olhos de Gustav, que olhava para cima, fascinado. Karoll o observou em silêncio, sentindo uma leve pontada de alegria ao vê-lo tão absorto no momento, como se todas as suas preocupações tivessem desaparecido.

A cada explosão, ele sentia uma emoção renovada, maravilhando-se com a beleza efêmera que se desdobrava no céu noturno. Mas quando seus olhos se encontraram com os de Karoll, sua admiração cresceu ainda mais.

O brilho radiante em seu rosto, a expressão de fascínio em seus olhos violetas, tudo isso mexeu com algo dentro de Gustav.

Um calor se espalhou por seu peito enquanto ele observava Karoll, percebendo que compartilhavam aquele momento especial juntos. Por um instante, eles se perderam um no olhar do outro, uma conexão silenciosa que os envolveu na magia da noite.

No entanto, logo se desviaram, suas faces coradas de vergonha diante da intensidade daquele momento. Gustav sentiu seu coração bater mais rápido, uma sensação estranha de excitação misturada com nervosismo. Aquele breve instante de conexão deixou uma marca indelével em sua mente, alimentando uma esperança tímida de algo mais entre eles.

- É... acho que já está tarde, temos que voltar para casa.

- Está certo, tenho que estar em casa antes das luzes vermelhas se acenderem... - concordou Karoll.

Com um aceno de despedida, seguiram caminhos separados, mas o brilho daquela noite permaneceria vivo em suas memórias por muito tempo.

...⚜🔅⚜...

Ao chegar à sua residência, Gustav evitou os portões principais de sua residência como um ladrão voltando ao esconderijo. Entrou pela ala dos servos, os passos ecoando como marteladas pelos corredores vazios. O ar da casa, embora conhecido, parecia agora opressor, e a cada passo seu peito se apertava mais, como se algo invisível o estivesse sufocando.

Quando empurrou a porta do próprio quarto, o mundo pareceu congelar por um segundo.

Sentado em sua cama, como um juiz à espera da confissão de um criminoso, estava o Barão Elenorv. As mãos cruzadas, os olhos frios, e sobre os lençóis, cuidadosamente alinhadas... as cartas. Todas as cartas que Karoll lhe havia enviado.

O coração de Gustav caiu no estômago.

- Você realmente acreditou que poderia esconder encontros secretos com a futura imperatriz? - a voz do Barão cortou o silêncio como uma lâmina, gélida e dura. - Com a noiva do príncipe herdeiro?

Gustav caiu de joelhos sem hesitar, como se suas pernas simplesmente tivessem desistido de sustentá-lo. Lágrimas brotaram dos olhos ainda antes que ele pudesse formar as palavras.

- Por favor, pai... me perdoe! Eu não queria te envergonhar... Eu juro que não há nada desonroso nisso. Nunca mais... nunca mais vou me aproximar dela sem permissão, mas por tudo que é sagrado, não conte ao imperador ou à imperatriz. A culpa é minha. Karoll não merece carregar isso. A reputação dela... - sua voz embargou, e ele se curvou ainda mais, o rosto contra o chão frio. - Eu suplico...

O Barão permaneceu imóvel por um momento, observando o filho com uma expressão indecifrável. Depois, se inclinou para frente, os olhos cintilando com algo que Gustav conhecia bem demais: cálculo.

- Vocês dois se importam um com o outro, hein? - ele perguntou com um tom quase irônico. - Desde quando estão se encontrando?

- Desde o baile de apresentação do príncipe herdeiro - sussurrou Gustav, ainda de joelhos.

O sorriso que surgiu nos lábios do Barão foi tão inesperado quanto inquietante.

- Então são como... amantes. Que precoce. Parece que puxou mesmo a mim. - Ele soltou uma risada baixa, sem humor.

Gustav ergueu a cabeça, revoltado.

- Pai, por Cellestya... isso é um absurdo. Somos apenas crianças! Eu nunca toquei nela, nunca tive sequer um pensamento desrespeitoso. Seria uma traição ao Império, à confiança que ela depositou em mim.

O Barão estreitou os olhos, ainda sorrindo, como quem achava graça na inocência do filho.

- E mesmo assim, continua pensando na honra dela enquanto se encontram escondidos... curioso. - Ele se levantou, começou a andar pelo quarto, como quem vê um tabuleiro de xadrez se formar diante dos olhos. - Sabe, essa relação pode não ser um escândalo... mas uma oportunidade. Ela está crescendo cercada por víboras da corte. Se conseguir conquistar a confiança dela de verdade, fazê-la se apaixonar... pode convencê-la a colocar nosso nome nas graças do trono. O imperador escutaria. E quem sabe... no futuro, você não se torna o braço direito dele. Ou mais.

Gustav levantou-se com um salto, como se as palavras do pai tivessem lhe atingido com violência. Seus olhos estavam úmidos, mas agora em chamas.

- Você é um miserável! - gritou, a voz tremendo de raiva. - Quer me transformar num manipulador? Usar a Karoll como uma escada?! Ela é minha amiga, confia em mim... E eu nunca - nunca - a trairia desse jeito! Prefiro ser exilado, virar um mendigo no fim do mundo, do que olhar nos olhos dela com mentira.

O silêncio que seguiu foi pesado como pedra. O Barão apenas o encarava. Mas Gustav não recuou. Pela primeira vez, seu coração batia mais forte que o medo.

O Barão arregalou os olhos, chocado com a súbita explosão de fúria do filho. Antes que pudesse recuar, Gustav já havia avançado, suas mãos tremendo ao envolverem o pescoço do pai. Os dedos se fecharam com força, o ódio queimando em seus olhos como brasas vivas.

- Mas o que...?! - o Barão engasgou, tentando puxar o ar. - De onde veio essa força...?

A surpresa deu lugar a um sorriso debochado, mesmo com a respiração falha.

- Então é isso... você se apaixonou... está perdendo o juízo por causa de uma garota.

Foi como se essas palavras o quebrassem de dentro pra fora. Gustav recuou num sobressalto, como se tivesse acordado de um transe terrível. Soltou o pai de imediato, os olhos arregalados ao perceber o que acabara de fazer.

- Eu... eu não... - murmurou, mas não teve tempo para terminar.

O Barão, com o orgulho ferido e a raiva pulsando nas veias, revidou com brutalidade. Um soco seco atingiu o estômago de Gustav, que caiu de joelhos com um gemido abafado, o ar esvaindo-se de seus pulmões. Antes que pudesse se erguer, o pai o golpeou novamente - um chute, outro soco - a fúria se revelando em cada impacto cruel, sem piedade.

- Você acha que pode levantar a mão contra mim, seu ingrato?! - o Barão rugiu, golpeando-o com mais força. - Espero que aprenda a respeitar quem te deu a vida!

Gustav se encolheu no chão, os braços protegendo a cabeça, o rosto sujo de poeira e lágrimas. Sua respiração era curta, trêmula, enquanto a dor física se misturava com uma vergonha corrosiva.

- Me perdoe, pai... - ele murmurou, a voz embargada. - Eu perdi o controle. Nunca mais... nunca mais farei isso de novo...

- Tanto faz! - rosnou o Barão, ajeitando as vestes, ainda ofegante. - Sua punição será a guerra. Daqui a um mês, você estará ao lado do príncipe herdeiro no campo de batalha. E até lá, vai treinar como nunca antes. Vai arriscar sua vida por ele, conquistar sua confiança, e provar que ainda serve para algo!

Ele cuspiu as últimas palavras com desprezo antes de sair, batendo a porta com força.

O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. A respiração de Gustav era um sussurro entrecortado pelo choro contido. Aos poucos, a dor física se transformou em algo pior: uma tempestade dentro de si.

E então, sem aviso, ele explodiu.

Gustav se ergueu cambaleante e começou a destruir tudo o que havia ao seu redor. A madeira estalava, o vidro se despedaçava, os livros rasgados voavam como folhas ao vento. Cada objeto que caía era um grito - um grito que ele não conseguia soltar.

Quando não restava mais nada a quebrar, ele tombou ao lado da janela, os punhos sangrando, o peito arfando de angústia. A lua brilhava lá fora, fria, alheia à sua dor. Sua luz pálida banhava o quarto destruído como um julgamento silencioso.

E, mesmo assim, no meio da dor, foi Karoll que lhe veio à mente.

Seu sorriso. Seu jeito espontâneo, sincero. A lembrança dela era como uma ferida aberta, que latejava com a ausência.

As lágrimas voltaram, agora mais pesadas, mais silenciosas. Ele chorou até que seus olhos ardessem, até que o tempo deixasse de fazer sentido.

Chorou por ela. Por si mesmo. Por um futuro que talvez nunca chegasse.

...⚜🔅⚜...

Com o passar de um mês, Karoll começou a se inquietar. Nenhuma carta de Gustav havia chegado. Nenhuma palavra, nenhum sinal. Temia que alguém tivesse descoberto seus encontros secretos e, em silêncio, encerrado aquilo. Por cautela - ou por medo da verdade -, ela também deixou de escrever.

Então, chegou o dia da partida do príncipe para sua primeira guerra. Como ditava a tradição, a noiva deveria se despedir de seu futuro marido.

- Filha, você pegou o lenço?

- Peguei, pai. Afinal, estou indo só por ele, não é mesmo? - respondeu Karoll, com um toque ácido na voz.

- Hoje, você precisa agir como se gostasse do príncipe. Ninguém pode suspeitar que a relação de vocês é... complicada.

- Eu sei. Só queria voltar logo para casa, para o sul... Depois que terminarmos as coisas aqui na capital, podemos voltar?

O Duque sentiu pena de sua filha. Tudo o que desejava era que ela encontrasse a felicidade.

- Eu prometo, Karoll! Vamos voltar para casa ainda nesta primavera!

A chegada ao castelo foi marcada por uma multidão em prantos. Cavaleiros se despediam de suas famílias, mulheres seguravam filhos pequenos com olhos marejados, e o som abafado das armaduras misturava-se ao lamento do povo. Karoll detestava aquela atmosfera - aquele cheiro de adeus.

Ela desceu as escadas com um pouco de vergonha até chegar ao portão principal do castelo, onde Gilbert a esperava.

Lá estava ele: usando uma armadura dourada com detalhes prateados que parecia grande demais para seu corpo esguio de menino. Tinha as mãos apertadas ao lado do corpo e os pés inquietos, como se tentasse manter a compostura que aprendera há pouco tempo.

- Saudações, príncipe herdeiro do Império, Gilbert Quátez. Estou bastante triste com a sua partida - disse Karoll, mantendo o tom formal, embora um tanto desconfortável.

Gilbert forçou um sorriso e respondeu com a voz um pouco trêmula:

- A... honra é minha, Duquesa Karoll. Eu... também estou triste. Quer dizer, por não termos... nos conhecido melhor. Desde aquele dia. - Ele desviou os olhos por um instante, pigarreando nervosamente antes de continuar: - Mas... quando eu voltar da guerra... eu queria... marcar mais encontros com você. Pra gente se conhecer. Melhor.

Karoll piscou, um pouco surpresa com a tentativa desajeitada dele. Era visível que o discurso fora ensaiado - talvez até decorado - mas havia sinceridade por trás das palavras. Ele estava tentando.

Ela então estendeu um pequeno lenço com o símbolo imperial bordado.

- Fiz este lenço para você. Leve consigo. Para não se esquecer de mim.

Gilbert pegou o lenço com cuidado, quase hesitante, como se temesse amassá-lo. Enfiou-o com delicadeza no bolso da armadura, e por um momento seus olhos se fixaram no chão, antes de erguer o olhar de novo.

- O-obrigado. Eu... eu não vou esquecer. Da sua... da sua gentileza.

O silêncio entre eles pesou por um instante. Então, Gilbert, meio sem jeito, se inclinou rápido e depositou um beijo na bochecha de Karoll. Ela ficou paralisada, surpresa com o gesto - e o rubor em seu rosto denunciava a vergonha. A multidão pareceu prender a respiração por um momento.

Karoll recuou um passo, tocando a bochecha e murmurou:

- Espero que volte em segurança, Vossa Alteza Imperial.

Gilbert sorriu de novo e subiu em seu cavalo, dando um último olhar para trás.

Karoll o acompanhou com os olhos... até notar, ao lado do príncipe, uma figura que fez seu coração parar por um instante. Gustav.

Ali, montado e pronto para partir, ele também cavalgaria para o front. Sem cartas. Sem explicações. Apenas distância.

Foi só então que ela entendeu: algo tinha acontecido. E só descobriria o quê se ele voltasse.

A guerra levaria o príncipe. Levaria Gustav. Levaria também os últimos traços da infância.

Nos dias que se seguiram, Karoll passou a viver com uma única esperança no peito: que ele voltasse. Que ambos voltassem. E que, talvez, não tivessem mudado tanto ao longo do caminho.

...⚜🔅⚜🔅⚜🔅⚜🔅⚜🔅⚜🔅⚜...

Capítulos
1 O Nascimento dos Príncipes
2 Primeira impressão
3 Laços e Despedidas
4 Grandes mudanças
5 O que seria felicidade?
6 Encontros desajeitados
7 " Somente você "
8 Um destino duvidoso
9 Intrigas e Alianças: Decisões à Mesa do Império
10 Entre Rosas e Cravos
11 Promessas de um futuro incerto
12 Suspeitas perigosas
13 Confronto de Emoções
14 Véus de Nostalgia
15 Mostrando-lhe a " verdade"
16 Contrafação
17 Resiliência Imperial
18 Pouco para outra vida
19 Promessas e Incertezas
20 Paixões e Invejas
21 Núpcias
22 Repulsão
23 Lugar de fala
24 Encontros Proibidos
25 Conhecendo pessoas
26 Algo está por vir...
27 Correntes Invisíveis: O Dever da Coroa e o Campo de Batalha
28 O plano prossegue...
29 Um Passado Muito Distante
30 "Minha Linhagem"
31 Consequências do Estresse
32 Perdas e Vitórias
33 Sombras e Chamas
34 A Coroação
35 Sob o Peso da Coroa
36 Melancolia
37 Promessas não cumpridas
38 Escolha de Guarda
39 Ruptura
40 Esfriando a Mente
41 A Revelação que Queima
42 A Chegada de Tynes
43 Conhecendo os Tynes e as Ambições de um Conde
44 As Metáforas de Uma Estrangeira
45 A Intrusa Imperial
46 A Decisão da Ferida
47 O Começo do Caos
48 Confissões
49 Dois Destinos, Uma Herança
50 A Intimidade da Dúvida
51 Segredos
52 A Esperança Renasce
53 Ambição
54 O Bebê Rejeitado
55 Corações em Conflitos
56 Um Príncipe Apaixonado
57 No Limite do Desejo
58 O Jogo da Víbora
59 A Rosa na Fortaleza
60 Fragilidade
61 Ato de Rendição
62 Reconciliação
63 Toners: Despedidas e Revelações
64 Pressentimentos Estranhos
65 Viagem ao Templo Sagrado
66 A Bênção
67 Um Acordo
68 Ecos da Tempestade
69 Sombras da Verdade
70 O Retorno de Luz do Império
71 Sombras do Dever e Desejo
72 A Chegada a Capital
73 O Conselho e a Praga
74 Distância Proibida
75 Um Acordo Entre Serpentes
Capítulos

Atualizado até capítulo 75

1
O Nascimento dos Príncipes
2
Primeira impressão
3
Laços e Despedidas
4
Grandes mudanças
5
O que seria felicidade?
6
Encontros desajeitados
7
" Somente você "
8
Um destino duvidoso
9
Intrigas e Alianças: Decisões à Mesa do Império
10
Entre Rosas e Cravos
11
Promessas de um futuro incerto
12
Suspeitas perigosas
13
Confronto de Emoções
14
Véus de Nostalgia
15
Mostrando-lhe a " verdade"
16
Contrafação
17
Resiliência Imperial
18
Pouco para outra vida
19
Promessas e Incertezas
20
Paixões e Invejas
21
Núpcias
22
Repulsão
23
Lugar de fala
24
Encontros Proibidos
25
Conhecendo pessoas
26
Algo está por vir...
27
Correntes Invisíveis: O Dever da Coroa e o Campo de Batalha
28
O plano prossegue...
29
Um Passado Muito Distante
30
"Minha Linhagem"
31
Consequências do Estresse
32
Perdas e Vitórias
33
Sombras e Chamas
34
A Coroação
35
Sob o Peso da Coroa
36
Melancolia
37
Promessas não cumpridas
38
Escolha de Guarda
39
Ruptura
40
Esfriando a Mente
41
A Revelação que Queima
42
A Chegada de Tynes
43
Conhecendo os Tynes e as Ambições de um Conde
44
As Metáforas de Uma Estrangeira
45
A Intrusa Imperial
46
A Decisão da Ferida
47
O Começo do Caos
48
Confissões
49
Dois Destinos, Uma Herança
50
A Intimidade da Dúvida
51
Segredos
52
A Esperança Renasce
53
Ambição
54
O Bebê Rejeitado
55
Corações em Conflitos
56
Um Príncipe Apaixonado
57
No Limite do Desejo
58
O Jogo da Víbora
59
A Rosa na Fortaleza
60
Fragilidade
61
Ato de Rendição
62
Reconciliação
63
Toners: Despedidas e Revelações
64
Pressentimentos Estranhos
65
Viagem ao Templo Sagrado
66
A Bênção
67
Um Acordo
68
Ecos da Tempestade
69
Sombras da Verdade
70
O Retorno de Luz do Império
71
Sombras do Dever e Desejo
72
A Chegada a Capital
73
O Conselho e a Praga
74
Distância Proibida
75
Um Acordo Entre Serpentes

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