Ao entrarem na sala da casa, Joana, Marina e Miguel foram surpreendidos por uma visão inesperada: Tereza, a matriarca da família, estava sentada no sofá. Sua postura era serena, mas seu olhar carregava um misto de surpresa e preocupação. Joana, sentindo a mistura de alegria e estranhamento, quebrou o silêncio.
— Mãe? O que a senhora está fazendo aqui tão de repente?
— Bem —, Tereza suspirou, sua voz carregada pelo peso dos acontecimentos, e continuou. — Vim para o casamento do meu neto, mas as notícias da tragédia me alcançaram, e eu decidi esperar por vocês aqui... — Seu olhar pousou em Miguel, que parecia carregar o luto em cada fibra de seu ser. — Meu querido, eu sinto muito pelo que aconteceu com sua noiva...
Os olhos de Tereza estavam marejados. Miguel, tomado pela dor e gratidão, aproximou-se e a envolveu em um abraço silencioso, mas repleto de significado.
— Obrigado, vó... de um casamento a um enterro, sua presença significa tudo.
Após o abraço, ele baixou a cabeça e saiu da sala. Marina, com um beijo carinhoso no rosto da avó, ofereceu suas palavras de acolhimento.
— Seja bem-vinda, vó. Vou deixar você e mamãe conversarem. Vou ficar com Miguel, ele não deve ficar sozinho agora.
Com um último abraço, Marina seguiu os passos do irmão, deixando Joana e Tereza a sós. Joana, sentindo a tensão no ar, aproximou-se e sentou-se ao lado da mãe.
— Mãe... agora que estamos só nós duas, pode me contar o que realmente a trouxe aqui?
Tereza segurou a mão da filha com firmeza, seus olhos refletindo uma seriedade incomum, e começou
— Minha filha, chegou o momento em que preciso de você e dos meus netos mais do que nunca.
— Mãe, você sabe que estamos aqui para o que der e vier... mas o que está querendo dizer? — perguntou Joana, intrigada.
A voz de Tereza baixou, quase num sussurro, como se quisesse retardar o peso da revelação.
— Quero que você e os meninos venham morar comigo no Rio de Janeiro.
— Mas por quê? — Joana franziu a testa, confusa. — O que aconteceu?
Tereza respirou fundo antes de responder, como se cada palavra fosse uma luta interna.
— Eu... eu... eu estou... morrendo, eu vou morrer!...
A dor era evidente em sua voz. Naquele instante, o mundo de Joana pareceu desabar. A sala, antes cheia de vida, mergulhou em um silêncio ensurdecedor. O impacto daquelas palavras ressoou em seu coração, como um golpe inesperado do destino. Tereza, com a voz baixa e um olhar ansioso, finalmente rompeu o silêncio:
— Então... qual é a sua resposta?
Joana suspirou profundamente, seus olhos refletindo a batalha interna que travava.
— Mãe, passamos a tarde inteira falando sobre isso... Eu preciso conversar com os meninos primeiro, ver se eles aceitam.
Tereza soltou uma risada leve, balançando a cabeça com um sorriso confiante.
— Ah, minha filha... Você sabe que eles vão aceitar. Quem não quer morar no Rio de Janeiro? O problema não são eles. É você.
— Não é tão simples, mãe. Depois de tantos anos... voltar pro Rio vai ser difícil pra mim.
Os olhos de Tereza suavizaram, cheios de ternura, mas sua voz carregava uma verdade inegável.
— Minha filha... eu estou morrendo. E tudo o que eu quero é passar os últimos dias da minha vida com vocês.
O coração de Joana apertou. Lágrimas discretas ameaçavam surgir, mas ela respirou fundo, buscando força. Então, segurou as mãos da mãe com firmeza e sorriu, seu olhar carregado de amor e decisão.
— Mãezinha... pode ficar tranquila. Eu vou falar com os meninos. Vamos morar com a senhora no Rio.
Tereza levou as mãos ao rosto, emocionada. Um sorriso radiante iluminou seu semblante, e ela puxou Joana para um abraço apertado.
Enquanto isso, no quarto de Miguel, o ar estava pesado, carregado de tristeza e desesperança. A única iluminação vinha da luz fraca do corredor, projetando sombras pelo chão, que estava coberto de areia. Marina, entrou no quarto e parou de repente, surpresa com a cena.
— Mas o que é isso? De onde saiu tanta areia? — perguntou, franzindo a testa.
Seus olhos vagaram pelo quarto até encontrarem Miguel, encolhido num canto escuro, o olhar perdido, como se estivesse preso em outro mundo. Marina respirou fundo e caminhou até ele, sentando-se à sua frente.
— Ei, não fica assim... levanta. Se anima um pouco.
Miguel não a olhou. Apenas murmurou, a voz embargada:
— Eu não tenho motivos para ser feliz...
A dor naquelas palavras fez Marina apertar os lábios, determinada a não deixá-lo se afundar ainda mais.
— Não diga isso, Miguel. Você ainda vai ser muito feliz, você só não consegue enxergar agora.
— Olha ao meu redor. — Miguel soltou um riso seco, amargo, e apontou para o chão. — Só tem areia. É aqui que vai ser o meu túmulo...
Marina sentiu um aperto no peito, mas não cedeu à tristeza. Em vez disso, lembrou-se das palavras do pai.
— Ei, você lembra do que o papai sempre dizia pra gente?
Miguel levantou os olhos lentamente para ela.
— Sim...
— Então diz. Quero ouvir de você.
Ele respirou fundo antes de repetir, com a voz ainda tomada pela dor:
— A hora mais escura da vida... é a que vem antes do sol nascer. Com os raios do sol, a escuridão desaparece...
— Exatamente. — Marina sorriu, assentindo. — E essa escuridão que você está sentindo agora... vai passar.
O olhar de Miguel vacilou. Por um momento, ele pareceu resistir. Mas então, algo dentro dele cedeu. Seus olhos se encheram de lágrimas, e ele abraçou Marina com força, deixando finalmente o sofrimento escapar.
A noite quente do Rio de Janeiro pulsava ao redor do restaurante movimentado. Enquanto alguns clientes esperavam suas mesas, outros vivenciavam momentos inesperados. Um carro deslizou suavemente até parar ao lado de um sofisticado restaurante. A porta se abriu, e Pedro e Isaacs saíram, trocando olhares carregados de expectativa e um toque de ansiedade.
— Que lugar chique... — murmurou Pedro, seu tom de voz misturando surpresa e apreensão. — Será que vamos conseguir pagar a conta?
Isaacs riu de leve, um brilho divertido nos olhos.
— Não se preocupe, amor. Venho economizando desde a semana passada...
— Tem certeza disso? Isaacs
— Absoluta. — Isaacs segurou sua mão com firmeza, entrelaçando os dedos. — Esta noite é especial para nós.
Ao fundo, a melodia suave de Amor Vem Cá, de Armandinho, começou a tocar no rádio do carro, criando a trilha sonora perfeita para o momento. Eles trocaram um último olhar antes de seguir para o restaurante, prontos para viver uma noite inesquecível. Neste momento, ao lado do carro, uma jovem chamada Nicole emergiu da escuridão segurando um bebê nos braços. Seus olhos, carregados de tristeza e determinação, fitaram o céu por um instante antes de murmurar:
— Está na hora... isso precisa acontecer.
Com um suspiro profundo, abaixou o olhar para a criança e depositou um beijo suave em sua testa, como se buscasse forças naquele gesto. Em seguida, abriu a porta traseira do carro e acomodou o bebê com delicadeza, fechando-a logo depois. Encostada na lataria, deixou que as lágrimas caíssem silenciosas, observando seu filho através da janela, como se soubesse que aquele momento era uma despedida. Nicole, agora com os olhos marejados, deu um último olhar para o bebê e, com um gesto trêmulo, depositou um envelope no banco do passageiro antes de desaparecer na multidão, levando consigo um rastro de tristeza e mistério.
Nesse instante, Pedro e Isaacs saíram do restaurante, envolvidos em uma discussão leve sobre a reserva perdida. Isaacs estava claramente irritado, enquanto Pedro tentava aliviar o clima.
— Eu não acredito! Perdemos a reserva por causa de CINCO minutos! — resmungou Isaacs, cruzando os braços.
— Amor, relaxa. — Pedro segurou um riso contido, tentando acalmá-lo. — Vamos pra casa, pedimos comida chinesa e assistimos a um filme. Vai ser bem melhor.
— Tá bom... — Isaacs bufou, mas logo cedeu, esboçando um pequeno sorriso. — Acho que gostei da ideia.
Eles entraram no carro, mas, assim que Pedro se acomodou, seu coração disparou ao olhar para o banco traseiro.
— Meu Deus... tem uma criança no nosso carro!
A surpresa tomou conta do ambiente. Atordoado, Pedro pegou o bebê nos braços, enquanto Isaacs saiu rapidamente do carro para olhar ao redor, vasculhando o estacionamento. O peso do mistério parecia aumentar a cada segundo. Isaacs voltou, ainda mais confuso, e disse
— De onde essa criança saiu?!
— E você acha que eu vou saber! — respondeu Pedro num tom sério, igualmente desnorteado.
— Nossa, que explicação incrível! Muito útil!
— Agora não é hora de brigar! — Pedro revirou os olhos, tentando conter a impaciência. — Precisamos sair daqui, agora.
— O quê?! E levar o bebê com a gente?!
Em seguida, Pedro respirou fundo, ajustando a criança nos braços.
— A gente resolve isso depois. Primeiro, vamos pra casa.
Depois de um momento de hesitação, Isaacs suspirou, ligou o carro e acelerou, deixando para trás o mistério da criança inesperada e dando início a uma noite que prometia mudar suas vidas para sempre.
Enquanto Pedro e Isaacs chegavam ao flat. O cansaço pesava em seus corpos, mas nada se comparava ao turbilhão de emoções que os dominava. Sobre a cama, repousava o pequeno bebê que mudaria suas vidas para sempre. Pedro ajeitou a criança com cuidado, enquanto Isaacs cruzava os braços, inquieto.
— O que a gente vai fazer? — murmurou Isaacs, com um olhar aflito.
— Não sei... — Pedro suspirou, passando a mão pelos cabelos. — Mas agora, só nos resta cuidar dele.
— Cuidar?! — Isaacs soltou uma risada nervosa. — Pedro, nós mal conseguimos cuidar de nós mesmos. Como vamos criar um bebê? A melhor opção é entregá-lo à polícia.
Pedro virou-se para ele, surpreso com a firmeza da resposta.
— Não podemos simplesmente largá-lo assim.
— E por que não? — Isaacs arqueou a sobrancelha.
Pedro respirou fundo, escolhendo as palavras com cautela.
— E se um dia os pais quiserem ele de volta? Se estiver conosco, podemos garantir que estará bem.
Isaacs o encarou por um longo momento, o peso da realidade caindo sobre eles.
— Pedro... A sociedade já julga a gente por sermos casados e gays. Você sabe que, se ficarmos com essa criança, o preconceito vai ser ainda pior.
Pedro abaixou os olhos por um instante, antes de encará-lo novamente com firmeza.
— Eu sei. E sei que não vai ser fácil. Mas quero fazer o certo. E, acima de tudo, quero que você confie em mim.
Isaacs suspirou profundamente. Seu olhar suavizou-se, e um pequeno sorriso surgiu em seus lábios.
— Eu confio em você, meu amor.
Pedro sorriu de volta, aliviado. Ele puxou Isaacs para um abraço apertado, e, juntos, voltaram seus olhares para o bebê adormecido. Aquela criança chegou sem aviso, sem explicação. Mas, no fundo, talvez ela tivesse vindo para ensinar a eles o verdadeiro significado do amor e da família.
...(...)...
A noite era fresca e tranquila nas movimentadas ruas da Califórnia. Bianca e Erick caminhavam de mãos dadas, aproveitando o ar suave que trazia consigo o perfume das flores noturnas. A luz da lua filtrava-se pelas folhas das árvores, lançando sombras delicadas no asfalto. Bianca sorria enquanto acariciava a barriga, sentindo o pequeno ser que crescia dentro dela se mexer.
— Amor, senti nosso bebê de novo... — murmurou ela, com os olhos brilhando de felicidade.
Erick parou, um sorriso radiante iluminando seu rosto. Ele pousou a mão sobre a barriga dela e sentiu o leve movimento sob sua palma.
— Nossa, ela está tão ativa esta noite... Mal posso esperar para segurá-la nos meus braços.
— Ainda temos mais um tempinho, meu amor. — Bianca acariciou o rosto dele com ternura. — Hoje completamos oito meses com a nossa pequena...
Antes que Erick pudesse responder, o som insistente do celular rompeu a tranquilidade do momento. Ele suspirou, tirou o aparelho do bolso e atendeu a ligação. Bianca, sorrindo, soltou delicadamente sua mão e deu um passo à frente para atravessar a rua.
Foi quando tudo aconteceu.
Um carro surgiu do nada, em alta velocidade. Os faróis ofuscaram a visão de Bianca por um segundo, e então veio o impacto brutal. O corpo dela foi lançado no ar antes de atingir o asfalto com força. O telefone escorregou dos dedos de Erick. O tempo pareceu desacelerar enquanto o som do motor sumia na distância, sem que o motorista sequer diminuísse a velocidade.
— NÃO! BIANCA! — Erick gritou, correndo até ela.
Ele caiu de joelhos ao lado do corpo inerte da esposa, as mãos trêmulas procurando desesperadamente um sinal de vida.
— Amor, por favor, fala comigo... Meu Deus, não...
O coração de Erick batia freneticamente, e as lágrimas começaram a escorrer sem controle. O medo apertou sua garganta, enquanto ele alternava o olhar entre Bianca e o vazio da rua, onde o carro desaparecera na escuridão. O silêncio foi quebrado pelo som das sirenes ao longe. Um som que trazia uma mistura de esperança e desespero. Erick ergueu os olhos para o céu estrelado, sua mente implorando por um milagre.
Horas depois... o chalé alugado, a música da boate ainda ecoava ao longe, mas dentro da sala, João Victor estava sozinho, sentado no sofá, com as mãos entrelaçadas e o olhar perdido. A expressão séria denunciava sua perturbação. Eloy entrou apressado, franzindo a testa ao ver o amigo naquele estado.
— Victor, onde você estava? Te procurei na boate inteira! Cara, é o seu aniversário, você devia estar lá curtindo. O que tá pegando?
Antes que Victor pudesse responder, Analú entrou na sala com os olhos arregalados e a respiração acelerada.
— Ele atropelou uma mulher... — soltou de uma vez, a voz trêmula.
Eloy virou-se para ela, o sangue gelando nas veias.
— O quê? Como assim?
— Foi no caminho pra boate. A mulher apareceu do nada... e ele não parou. — Analú engoliu seco, desviando o olhar.
Victor levantou-se num salto, o rosto tomado pelo desespero.
— Eu não queria machucar ninguém! Pelo amor de Deus, me ajuda! O que eu faço?!
— Agora? — Analú suspirou, cruzando os braços. — Agora não tem mais nada que você possa fazer...
Victor passou as mãos pelos cabelos, andando de um lado para o outro.
— Estou ferrado... Muito ferrado...
Eloy estreitou os olhos, pensando rápido. Então, com a voz firme, declarou:
— Não se você sair daqui agora. Você vai voltar pro Brasil. Hoje.
— Como assim? — João Victor parou abruptamente. — E o que eu digo pros meus pais?
— Inventa qualquer coisa. Diz que passou mal, que se cansou da viagem, qualquer desculpa. Mas você pega o primeiro voo e some daqui.
Victor assentiu, sem ter outra escolha. Correu para o quarto para arrumar as malas. Enquanto isso, Eloy e Analú permaneceram na sala. Ele virou-se para ela, seu olhar carregado de intenção.
— Precisamos dar um jeito no carro.
Analú arregalou os olhos.
— O quê?! Por que eu?!
Em seguida, Eloy cruzou os braços, um sorriso discreto surgindo no canto dos lábios.
— Porque agora você é cúmplice.
O silêncio pairou entre os dois. Analú hesitou por um segundo, mas, enfim, estendeu a chave do carro para Eloy. Ele pegou a chave, virou-se e esboçou um sorriso contido.
...(...)...
No dia seguinte, o amanhecer tingia o céu do Rio de Janeiro com tons dourados, e os primeiros raios de sol se infiltravam pelas cortinas da casa de Nicole. Sentada no sofá, ela tamborilava os dedos sobre a perna, a ansiedade formando um nó em sua garganta. Passos firmes ecoaram no corredor. Nicole levantou os olhos no exato momento em que Vicente entrou na sala. Seu olhar carregava um misto de impaciência e fúria contida.
— Por que você não estava no portão do presídio me esperando? — Sua voz cortou o silêncio, carregada de expectativa e frustração.
Nicole engoliu em seco antes de responder, tentando manter a calma.
— Eu… eu estava ocupada, não pude ir.
A justificativa só pareceu inflamar ainda mais a raiva de Vicente.
— "Ocupada"? — Ele riu, sarcástico. — Eu passei anos naquela cela, contando os dias pra sair, e você não teve tempo pra me esperar?!
Nicole respirou fundo, seus dedos se retorcendo no colo. Ela sabia que esse momento chegaria, mas não esperava que fosse tão difícil.
— Vicente… eu... eu engravidei. Tive um filho seu.
O silêncio que se seguiu foi sufocante. Vicente ficou paralisado por um instante, os olhos arregalados. Mas logo sua expressão se fechou em fúria. De repente, ele avançou. O tapa veio rápido e violento, estalando contra o rosto de Nicole. A dor queimou sua pele, mas o que a feriu mais foi a incredulidade no olhar dele. Antes que pudesse reagir, Vicente agarrou seus cabelos com força, puxando-a para perto.
— Como você ficou grávida, sua vagabunda?! Eu estava preso! Para de mentir pra mim! — Ele gritou, sua voz reverberando pelas paredes.
Nicole prendeu a respiração, os olhos marejados. Mas não disse nada. Não implorou. Não tentou se justificar. Apenas encarou Vicente, sua expressão endurecida. A sala, iluminada pela luz suave da manhã, tornou-se palco de um confronto brutal. Entre segredos e verdades amargas, Nicole sabia que nada mais seria como antes.
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Atualizado até capítulo 27
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