Lavo as mãos rapidamente, tentando disfarçar minha respiração acelerada. A água fria escorre pelos meus dedos enquanto olho fixamente para o espelho à minha frente, tentando me recompor. Então, vejo Rebeca e suas duas amigas entrando no banheiro com um sorriso de deboche no rosto. Sinto ela esbarrar em mim de propósito, o empurrão parece quase calculado. Fecho os olhos, me apoiando na pia com força, tentando ignorar tudo ao redor.
— Além de feia, é suicida. Por que, ao invés de cortar só o pulso, não cortou o pescoço? — Rebeca diz, a risada venenosa escorrendo de sua voz.
Aquelas palavras cortam como lâminas. Ignoro o comentário, "não estou a fim de brigar", penso. Mas não posso evitar o desconforto de senti-la me olhando de cima a baixo, o olhar de Rebeca se tornando cada vez mais pesado e cheio de raiva. Quando ela percebe que estou usando a blusa do Gael, o olhar dela se enche de furor, uma fúria cega que me faz engolir em seco. Ela avança e, com força, segura meu cabelo, puxando de forma violenta. Deixo que algumas lágrimas escorram, incapaz de reagir de imediato.
— Me solta, sua maluca! Eu não fiz nada! — Digo, a voz falhando com o desespero.
Ela não me ouve. O grito dela é mais alto que qualquer outra coisa ao redor.
— Por que está com a blusa do meu namorado, sua vagabunda?! — Rebeca grita, seus olhos ardendo de raiva.
Eu tento me controlar, a minha voz trêmula.
— A minha sujou e ele me emprestou, só isso. Eu não quero nada com o seu namorado! Ele é só o meu melhor amigo! — Tento explicar, mas sinto minha voz vacilar, a tensão no ar tornando tudo ainda mais insuportável.
De repente, sinto a pressão nos meus cabelos desaparecer. Ela me solta bruscamente e, quase instintivamente, me afasto dela. Coloco meu cabelo em um coque improvisado, sem querer olhar para ela, evitando seu olhar furioso.
Rebeca dá um passo para trás e, com um sorriso cruel, fala:
— Tem sorte, Chokito. Se eu não tivesse aula agora, acabaria com você. — Ela se vira para sair, mas antes de abrir a porta, olha para mim com desprezo. — Vou fazer de tudo para tirá-la da vida dele. Não vale a pena ter amizade com uma inútil como você! — Ela dispara e sai, batendo a porta com força.
O som da porta se fechando reverbera no meu peito, como se o ar tivesse sido sugado de dentro de mim. Em silêncio, sinto uma pressão nos ombros, o peso das palavras de Rebeca esmagando minhas esperanças. Mas então, uma presença familiar me envolve. Gael entra no banheiro, seu corpo aquecendo o ambiente frio. Ele me abraça sem dizer uma palavra, e, de repente, as lágrimas que eu estava tentando segurar começam a escorrer. Respiro fundo, tentando não chorar, mas a dor é demais para ignorar. "Tô cansada de chorar", penso.
— Me desculpa por ela, vou dar um fim nisso. — Gael diz, a voz firme, mas cheia de uma tristeza que eu conheço bem.
— Não, Gael, não põe a minha felicidade à frente da sua, por favor. Não é a primeira nem a última vez que ela faz isso. O problema sou eu... — Dou um suspiro longo, tentando controlar a emoção que me consome. — Acho melhor eu ficar mais distante de vocês.
Sinto a dificuldade de me afastar dele, mas sei que preciso. Ele não merece carregar o peso dos meus problemas. Com alguma relutância, solto os braços dele e seco o rosto rapidamente. Não deixo que ele me veja fraca por mais tempo. Em um movimento rápido, saio do banheiro antes que ele possa me impedir. Eu me apresso, meus passos apressados me guiando para a sala de aula.
— Olha, você não estava procurando um palito de dente? — Um menino do meu colégio diz, com a voz cheia de sarcasmo enquanto passa por mim, acompanhado de seu grupinho de amigos. Eles riem como sempre.
"Comentários assim, todos os dias", penso, o desgosto subindo pela minha garganta. Mateus e seu grupinho são sempre assim, me xingam e me maltratam. Gael estuda no campus ao lado da minha escola, ele está prestando medicina, um sonho que sempre teve. Conheço Gael desde que tinha 8 anos; ele é filho do melhor amigo do meu pai.
Eu tenho 16 anos, estou no segundo ano do ensino médio, e desde a quinta série, a escola tem sido um pesadelo. Meu pai me trocou de escola várias vezes, mas sempre tem um idiota para me atormentar. Magrela, desnutrida, Chokito, fio dental, todos esses apelidos fazem parte do meu cotidiano. Sempre fui magra, mas depois da depressão, emagreci ainda mais. Agora, pesando 40 quilos e com 1,50 de altura, a luta contra esses rótulos parece interminável.
Desde os 11 anos, a depressão tem sido minha companhia constante, e mesmo com o apoio do meu pai, quando ele ainda estava aqui, tudo parecia piorar a cada dia. A sua ausência tornou tudo ainda mais difícil.
Ao final da aula, pego minhas coisas para ir embora, mas o professor me chama antes que eu consiga passar pela porta. Olho para ele e mantenho os olhos dele nos meus, algo que sempre faço, pois não gosto de falar com ninguém sem olhar nos olhos.
— As suas notas estão caindo muito, senhorita Still. Se continuar assim, vou ter que mandá-la para a Recuperação — ele diz, a voz preocupada.
— Me perdoa, professor Luiz, é que aconteceu tanta coisa... — Sinto a garganta fechar, mas não continuo a frase. A pressão aumenta, e tento segurar o choro. — Eu vou melhorar as notas, prometo! — Digo rapidamente, quase sem pensar.
O professor assente, e vejo um olhar de preocupação em seus olhos. Ele ajeita os óculos e diz:
— Sinto muito por tudo que está te acontecendo, mas não pode deixar esses problemas influenciarem na sua nota. Você precisa reagir, menina!
Aquelas palavras reverberam em minha mente, mas, na verdade, é fácil falar. Sigo em silêncio, saio da sala e, distraída, acabo esbarrando em alguém no corredor.
— Desculpa — murmuro sem olhar para a pessoa e continuo andando até o refeitório.
Me sento em uma das mesas mais isoladas do refeitório, como sempre faço. Não quero me envolver, não quero conversar. Coloco meus fones de ouvido e me desconecto do mundo, o intervalo inteiro se passando como um borrão. "Não estou com vontade de comer, mas estou com fome. Só não consigo. Se eu comer, vou acabar jogando tudo para fora."
Após o intervalo, volto para as aulas, fazendo as atividades de algumas matérias diferentes. Quando a última aula termina, decido caminhar para casa, evitando o ônibus. Gael me ofereceu uma carona, mas eu neguei. Não quero mais ser um peso para ele. Ao passar por uma ponte, paro e me apoio na mureta, olhando para baixo. O asfalto parece tão distante, o som dos carros passando em alta velocidade é ensurdecedor. Por um momento, minha mente sussurra para eu pular. Mas, como se uma força maior estivesse me segurando, eu resisto.
Chego em casa já tarde, mais de 19:30. Normalmente, teria chegado antes, mas hoje o tempo passou despercebido. Entro em casa, subo para o meu quarto e tomo um banho demorado. Os cortes no meu corpo ainda ardem, mas não ligo. Me encosto na parede do box, escorrego até o chão e fico ali, deixando as lágrimas caírem livremente. O dia foi péssimo. Tudo parece estar desmoronando ao meu redor. Acredito que chorei por horas, até ouvir minha mãe gritar do lado de fora do banheiro, me pedindo para sair.
Depois do banho, me deito na cama. Estou exausta, e em pouco tempo, pego no sono.
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Atualizado até capítulo 87
Comments
Leda
Que sofrimento dessa menina. Tem a auto estima baixa e se deixa intimidar.
2024-06-14
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