O dia para Letícia foi tranquilo, mas ela estava ansiosa para que chegasse a hora de ir para o cursinho e ver novamente o tal rapaz. Desde que levantou, estava agitada e deu graças a Deus por sua mãe já ter saído para o trabalho e não vê-la assim, pois viriam as tradicionais perguntas e não queria contar sobre o rapaz, para ela.
Chegou da escola e se arrumou correndo, mas com um toque a mais de cuidado, até passou batom e perfume, o que não fazia normalmente. Se olhou no espelho de corpo inteiro e se viu diferente.
— Porque está fazendo tudo isso, menina? — perguntou para si mesma.
Pensando em tudo que aconteceu naqueles dias e analisando suas emoções agitadas, não gostou da conclusão e achou melhor não pensar mais no assunto, se não atrasaria e não pegaria o mesmo ônibus que ele. Saiu correndo de casa e foi para o mesmo ponto de ônibus de sempre. Esperou e logo o ônibus veio, entrou ansiosa, pagou a passagem e passou na roleta, já olhando para o fundo do ônibus e lá estava ele, olhando para ela.
Ele não esperava por aquele sorriso e sua expressão de espanto, fez ela alargar o sorriso. Não sorria mais para ele, mas sim, dele. Ela sentou-se em um lugar vago, ao lado de uma senhora, procurava nunca sentar-se ao lado de um homem. Assim se prevenia de indiscrições e contatos indesejados.
Não olhou para trás, o espanto dele foi suficiente para ela. O sorriso ainda estava em seu rosto e saber que soltariam no mesmo ponto e iriam para o mesmo lugar, era o suficiente.
Gostava dessa ansiedade diferente que estava sentindo. Nunca havia experimentado algo assim, era muito prazeroso e nem precisava fazer muita coisa para se sentir assim.
Não dava trabalho se apaixonar.
E ela nem entendeu que estava prestes a entrar em uma estrada sem volta, direto para o coração dele. Nico, no entanto, tinha receio dessas borboletas no estômago que estava sentindo, pois sua vida não era comum e podia ser muito perigoso arrumar uma namorada. Achou melhor ficar na sua e esperar.
Desceram do ônibus no ponto e ele esperou ela descer primeiro e ganhou mais um sorriso e sorriu também, meio acanhado. Foram para o curso e ele seguiu para a diretoria. Seu tio pediu para matricular Shirley, para que ela tenha o que fazer. É claro que Nico não gostou, pois aquilo nada mais era do que uma estratégia do seu tio, para lhe forçar a ficar de olho em sua prima.
Letícia ficou desapontada por ele não entrar na sala com ela, mas ficou prestando atenção em quando ele entrasse. O professor entrou primeiro e ela focou na aula, pois esse era seu objetivo primário e não podia perder o foco por causa de um garoto. Nico entrou de mansinho, para não atrapalhar a aula e sequer olhou pata os lados, indo direto para o seu costumeiro lugar.
Letícia nem notou a entrada dele, pois gostava de matemática e ficou atenta às explicações do professor. Na saída, ela foi na frente e ele atrás e seguiram assim para o ponto de ônibus, igual aos dias anteriores, com a diferença de que agora, não era só Nico a notá-la, ela também notara Nico.
Entraram no ônibus, ele passou por ela, que já estava sentada e trocaram um olhar. Ele sentou no fundo, mas estava feliz, pois agora seu orgulho masculino estava alimentado e sua carência emocional, com menos fome de atenção. Seguiram e ela desceu no mesmo ponto de sempre, mas manteve o olhar no dele até descer, ficou esperando o ônibus partir e quando viu que ele olhava para trás para vê-la, acenou.
Nico não cabia em si de emoção por ter recebido a atenção da branquinha e chegou em casa alegre, apesar de ter que informar ao tio que conseguiu reservar a vaga para Shirley.
— Então tá certo?
— Sim, só tem que levar os documentos amanhã e entregar o papel da matrícula preenchido. — Entregou o papel e o recibo da matrícula para o tio e foi para a cozinha, ouvindo o grito dele.
— Shirley?
— Oi, pai. — disse ela aparecendo na sala.
— Amanhã você vai com sua tia comprá roupas decente para ir ao cursinho.
— Qual o problema com minhas roupas?
Nico parou para ouvir, seria interessante essa discussão.
— Quer voltá pras corrente?
— Não, pai…— murmurou Shirley de cabeça baixa.
Terminou muito rápido e Nico tornou a caminhar para a cozinha. Gostou de seu tio finalmente ter tomado uma atitude e posto freio em sua prima destrambelhada, como dizia sua tia.
Olhou as panelas e sorriu. Pelo visto, quem cozinhou hoje foi o tio. A comida estava cheirosa e tinha feijão, arroz e frango ensopado com batatas.
— Obrigado, tio.
— Você precisa de sustança.
Nico sabia que aquele zelo era pelo que ele ainda faria por Shirley. Dias difíceis estavam por vir.
**
Letícia por sua vez, chegou em seu apartamento e estava vazio e escuro, era dia de plantão de sua mãe e ela só chegaria na manhã seguinte. Tomou um banho e foi à cozinha catar o que comer e achou uma lasanha na geladeira, com um bilhete da mãe.
" Coma tudo. Deus te abençoe."
Aquele cuidado de sua mãe era muito precioso para ela, pois fazia ela sentir a presença dela, mesmo não estando ali e a solidão batia em retirada, restando só sentimentos bons. Mas nesse dia em especial, nada roubaria sua alegria. A atenção daquele jovem, a nutriu pata vários dias, mas quando pensou que o veria no dia seguinte, sapateou na cozinha, fazendo uma dança estranha de felicidade.
Depois de colocar a lasanha no microondas, foi até a janela da sala, observar o morro, como era o seu costume e reparou que havia luz em uma das casinhas de vigilância no morro. Era assim que ela chamava as duas pequenas casas que haviam, mais ou menos, na metade da altura do morro. Já havia tentado descobrir o que era, mas ninguém sabia dizer.
Elas ficavam a uma distância de uns trinta metros, uma da outra e essa noite, por incrível que pareça, pela primeira vez desde que foram morar ali, havia luz em uma delas. Ficou observando, para ver se conseguia vislumbrar algo ou alguém, mas não conseguiu. O apito do micro-ondas tocou e ela foi pegar a lasanha. Colocou no prato, pegou o garfo e um pano para apoiar o prato e voltou à janela.
Não havia mais luz.
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Atualizado até capítulo 73
Comments
Maria Helena Macedo e Silva
pode não gostar ou ativar o medo que estava com a conversa da colega, é melhor não ficar observando para não se decepcionar🤦
2024-08-30
0
Celia Chagas
Deixa de ser curiosa criança 😕😕
2024-05-12
2
Luma Gonçalves
Tô amando a história 😍
2023-10-13
2