— Be-be-bem, é que… Não tenho!
Henry dá um longo suspiro, prevendo um dia longo. — Pode passar.
Charles liga os fios na testa de Luke, e a máquina, então, começa a escrever, e em poucos minutos a longa folha surpreende Charles e Henry.
— Incrível! — Charles diz surpreso olhando para a folha. — Se ele souber usar seus poderes…
— Iguala-se ao poder dos Reis Celestiais! — Ele complementa a frase de Charles, ficando ambos surpresos com o que acabam de presenciar.
— Que magia você usa?
— So-so-sou um abjurador do fogo.
Nesse mundo há diversas classes diferentes de magos: as de proteção e cura, que são chamadas de Abjuração; as de Evocação, onde os que a utilizam podem conjurar desde criaturas até armas; há, também, a magia de Ilusão e Conjuração; e, por fim, a mais perigosa e temida de todas, a Necromancia, que fora expurgada pelas igrejas.
— Hum, magia de proteção... — Henry coloca uma das mãos no queixo, enquanto parece perdido em seus pensamentos. — Pode ir para o teste escrito.
Luke se retira da sala, deixando Henry com um sorriso irônico em sua face.
— O que foi?
— Esse garoto, ele é meio estranho, não acha?
— É… Não parecia muito inteligente. Duvido que passe no teste escrito.
《♤♡◇♧》
O sol estava se pondo em Laiden, deixando para trás sinais de neve derretida. Uma linda visão em tempos como esse, deixando a cidade um pouco mais bonita. Harley caminhava em direção à sala do coronel Klaus, quando avistou Henry escorado em uma janela, olhando o sol escarlate cair enquanto a fumaça do cigarro que fumava era levada pelo vento.
— Já se decidiu? — Henry fala apagando o cigarro na borda da janela.
— Já.
— Não sei sua resposta, mas acredito que você deveria aceitar. Você vai poder treiná-los durante meio ano, é meio ano longe da linha de frente, só fazendo missões internas, sem contar que você poderá descansar.
— Enquanto a guerra existir eu não posso descansar.
— Imaginei que diria algo assim. — Henry dá um sorriso singelo para o loiro.
— Isso um dia vai te matar. — Harley faz menção ao cigarro que acabara de ser apagado por Henry.
— O sujo falando do mal lavado.
— Ok, eu tenho o fígado mais resistente de toda a Garden. — Harley cruza os braços virando o rosto para o lado oposto, achando estar certo. — Não vou morrer por tomar dois copinhos de uísque.
《♤♡◇♧》
Harley se vê de frente para o coronel Klaus, na sala deste.
— E então?
Harley suspira.
— Eu aceito.
Mira, a secretária do coronel, entra com uma bandeja com duas xícaras de café. Klaus, então, faz menção para que Harley se sente.
— Você sabe que o major Roger e o tenente-coronel Henry são meus homens de confiança. — Ele olha para Mira, que parece estar desligada, mas teme que ela escute a conversa. Klaus pede que ela se retire.
Harley tira do bolso uma pequena garrafa de metal onde há uísque, levanta da cadeira e joga o café em uma planta, colocando no lugar todo o líquido da garrafa.
— Sou todo ouvidos. — Ele torna a sentar.
— Bem, tenho motivos para acreditar haver espiões entre nós. Pode ser qualquer um.
— Espiões de Wolfsburg?
— Não, não… Já ouviu falar dos Valetes?
Harley hesita em responder. Ele larga na mesa a xícara que estava em suas mãos e, como se seus pensamentos estivessem em outro lugar, ele então responde:
— Não!
— Imaginei… Os Valetes, os poucos que os conhecem, acham que são lendas ou mitos. Em minhas investigações descobri que eles tentam controlar a sociedade nas sombras. Podem ser qualquer um, de um alto escalão até um civil. Eles atuam em três das quatro grandes nações. — Ele tira uma pasta azul de uma das gavetas que havia na mesa. — Aqui está tudo que descobri sobre eles. Se algo me acontecer, você já sabe. Agora você também é alguém da minha confiança.
Harley se perde em seus pensamentos, mas sem perder sua postura firme.
“Isso é um blefe?! Se algo acontecer, terei que matar esse velho estúpido”.
— Há algo maior que essa guerra, e eles sabem o que é…
Harley suspira como se não tivesse dado a mínima para o que o coronel acabara de falar.
— E os cadetes novos?
— O tenente-coronel Henry me passou o relatório dos dois primeiros testes: no primeiro, de duzentos e cinquenta, passaram cem; no segundo, passaram doze.
— Doze?! — Harley diz surpreso.
— O terceiro teste acontecerá ainda hoje.
— Ok, então vou para lá. — Ele levanta e vai até a porta. — Até mais, coronel Klaus.
《♤♡◇♧》
A lua brilhava no céu junto às estrelas, o vento norte soprava indicando que a chuva estava próxima. Harley caminhava em meio à lama do campo de treinamento. À sua frente havia uma fileira com doze cadetes novatos. Andava e olhava nos olhos deles, um por um. Ele para na frente de Luke, olhando para o menino com um olhar frio e firme. Intimidado, o garoto ruivo começa a suar de nervoso, mesmo estando no inverno. Não era a intenção de Harley intimidar o garoto; ele só se perguntava como alguém tão jovem havia passado na seleção. Luke tinha quinze anos, ele havia mentido sobre sua idade no formulário de inscrição, visto que a idade mínima para entrar no Exército de Garden era de dezessete anos. Ninguém havia percebido a mentira de Luke, até o oficial Harley colocar os olhos nele e ficar desconfiado.
— Bem, vamos começar! Vocês vão fazer duplas, e lutar um contra o outro.
Ele olha para um homem velho que estava ali:
— Como membro do conselho de Garden, o primeiro-tenente-coronel William irá decidir quem serão os membros dessa equipe. Não se esqueçam, vencer não é um dos critérios para entrar na equipe.
— Com licença, as duplas serão por sorteio? — A garota que fez a pergunta tinha uma aparência séria, com cabelos pretos e presos em um rabo de cavalo, olhos em um tom cinza. Ela usava uma blusa branca e calça preta e, assim como os outros, seu olhar fixo demonstrava respeito e serenidade. Harley olha para ela dos pés à cabeça.
— Seu nome? — Ele caminha até uma carroça, sentando-se.
— Judith Allen!
— É o seguinte, senhorita Allen, quando estamos no meio do campo de batalha, sorteamos quem iremos atacar? — Ele cruza os braços esperando a resposta da garota, que não responde. — Responda!
— Não!
— Ok, foi o que pensei. Ataque quem quiser. Podem começar!
Enquanto todos conversavam entre si, Luke estava imóvel, temendo ser escolhido por alguém, até que ele escuta uma voz masculina chamá-lo:
— Ei, você!
Luke olha, e um garoto com idade próxima à dele o observa com um sorriso sarcástico. Ele pega Luke pelo ombro:
— Qual é seu nome?
— Lu-Lu-Luke — Luke responde com medo ao perceber que o garoto era duas vezes o seu tamanho.
— Eu me chamo John Galphin!
— Ok, quem serão os primeiros? — pergunta o oficial.
— AQUI, ÓH! — John puxa Luke pela mão.
John e Luke ficam frente a frente. Harley dá o sinal para que eles comecem a luta. John então desfere o primeiro golpe, Luke desvia do soco fazendo com que John acerte o chão. Nesse momento, John transforma sua mão direita em uma garra, com unhas afiadas e tamanho desproporcional à mão esquerda, ele parte para cima de Luke, que cria pequenos escudos laranjas para cada golpe que John desfere.
— Vai ficar só na defensiva?
— Se-se-se for necessário, para não me machucar.
John coloca mais força em seus socos, conseguindo, assim, quebrar um dos escudos de Luke, Ele então acerta o queixo de Luke com sua mão esquerda, o garoto ruivo cai no chão, sujando sua blusa branca de lama. Assim as lutas acontecem até que William anuncie os que farão parte da equipe.
— Bem, pude avaliar cada um de vocês…
Enquanto William falava, John e Luke conversavam sussurrando um para o outro:
— Será que o nanico vai ser nosso comandante? Por que mais ele estaria aqui?!
Harley percebe que eles estão cochichando.
— Com licença, senhor! — ele interrompe William e vai até os dois que cochichavam, encarando-os mortalmente com seu olhar turquesa, frio como um oceano no inverno. — As madames querem um café para fofocar melhor?
— Desculpe, senhor! — os dois dizem juntos, em tom uniforme, olhando para a frente.
— Como eu ia dizendo… Os que eu chamar, por favor, um passo à frente…
William olha para um papel em suas mãos, onde havia anotado os nomes dos integrantes da equipe — John Galphin, Judith Allen, Luke Fallett e Amélia Campbal.
Ele olha para Harley:
— Agora seu comandante vai falar algumas palavras.
— Estão prontos? Estão prontos para ir ao inferno e voltar? — Ele olha para os quatro, e todos respondem “sim” em simultâneo, mas dentre esses “sim” ouve-se um “não”. — Luke, não é mesmo? — Luke só confirma com a cabeça. — Do que você tem medo no inferno?
— Ca-ca-peta!
— Não te contaram? — Harley olha diretamente nos olhos castanho-avermelhados de Luke, amedrontando o garoto. — Sou o capeta! Bem-vindo ao meu inferno!
— Assustando os novatos? — Klaus olha para Harley, sorrindo e entregando um papel para o baixinho. — Localização de seu QG.
— Vocês agora vão para casa, arrumar suas coisas. — Ele levanta a folha para que todos enxerguem. — Quero vocês aqui amanhã às dez em ponto, sem atrasos.
— Mas isso é muito longe, e minha casa é fora da cidade! — John diz preocupado.
— Então acho melhor você sair agora e correr, porque não vou tolerar atrasos.
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Atualizado até capítulo 32
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