Gabriela me levou a um barzinho na orla, o lugar era tão fresco quanto deveria, na beira da praia. Eu estava absorta em pensamentos enquanto encarava o mar, tinha apenas um dia que eu estava fora de casa, e já sentia um pouco de nostalgia ao pensar em como seria bom ter os meus pais ou meus amigos aproveitando essa vista comigo.
Em alfenas eu cuidava de um projeto social voltado para leitura, isso era um dos maiores orgulhos da minha vida, eu me sentia um pouco absoleta sem praticar nenhuma ação social aqui no Rio, eu precisava urgentemente me ocupar com coisas que me fizesse sentir útil.
-Sabe Gabi, eu acho que só estou sentindo falta do meu projeto “livrar”. -Gabriela ergue uma das sobrancelhas em questionamento, sem entender ao que me refiro, então trato de esclarecer.
-“livrar” é o meu projeto social que incentiva a leitura, eu levava livros para as comunidades menos favorecidas de Alfenas, e propunha debates sobre os temas, emprestava obras de diversos temas para os jovens, adultos e até idosos, que participavam do projeto. Isso era incrível, eu me sentia nas nuvens ao ver o rosto de cada uma daquelas pessoas, a cada livro e história que elas conheciam.-eu falo com orgulho e melancolia, não estava mais cuidando do meu projeto me deixava realmente pra baixo.
-Que incrivel Mel, essa ideia é boa demais. Você manteve esse projeto por muito tempo?
-Sim. Pouco mais de 4 anos, eu iniciei na adolescência , meus pais incentivavam muito.
Ela parou um pouco, pensativa.
-Eu acho que posso te ajudar um pouco com esse problema. O meu amigo Ian, trabalha com alguns projetos sociais em escolas públicas aqui. Eu poderia apresentar vocês dois.
A minha animação se eleva instantaneamente.
-Sério, eu adoraria. Nada me satisfaz mais do ser útil de alguma forma.-eu digo m pouco eufórica demais.
Ela ri da minha animação e bebe um gole do seu drink, Gabi havia pedido um cosmopolitan e eu optei pela minha tradicional cerveja lager. Eu não gostava muito de outras bebidas além da cerveja, principalmente bebidas doces, eu tinha uma certa relutância em beber outras coisas além da cerveja.
-Você vai adorar o Ian, nos somos amigos desde a infância, nossos pais já eram amigos quando nascemos e nunca nos desgrudamos, também tem o Dante que é nosso amigo desde essa época, mas eu não sei se você gostaria dele.
Ela dá uma risadinha nervosa ao citar Dante.
-Por que eu não gostaria do Dante?
Ela dá de ombros, chupando o canudinho da sua bebida.
-Você não parece o tipo de garota que gosta de mauricinhos playboys, e o Dante é exatamente isso. Mão que ele seja uma pessoa ruim, longe disso. Apenas acho que a vibe de vocês não bate muito, sinceramente, ele também não seria meu amigo se não nos conhecêssemos desde a barriga de nossas mães.
Eu rio do seus comentários, qual seria minha vibe, o que ela enxergava?
-Qual a minha vibe, Gabi?
Ela fala rapidamente, como se já viesse pensando nisso há muito tempo.
-Você é descolada, gosta de livros, trabalho social provavelmente só toca MPB e Rock na sua playlist, você é conceitual. Isso, você é um conceito, você seria uma it girl dos anos 2010.-ela fala com naturalidade, como se não tivesse acabado de analisar.
Eu rio alto de tudo o que ela diz, então era assim que ela me enxergava?
Eu fixo em silêncio por um tempo, pensando em como ela havia me descrito tão bem, mesmo me conhecendo há menos de 24 horas. Diante do meu silêncio e da expressão distraída e pensativa em meu rosto, a Gabi franze as sobrancelhas preocupada.
-Desculpe, eu disse algo que não tenha gostado? -eu quase não presto atenção ao que ela diz, mas a Gabi desata a falar desenfreadamente, me tirando meu transe. -Eu sou assim, falo demais sempre. Você pode me mandar calar a boca sempre que se sentir desconfortável.
Eu sorrio pra ela, tranquilizando-a.
-Não, não foi nada que você disse, eu apenas estou pensando na vida. Isso acontece com frequência. -eu sorrio.
Era verdade, eu sempre me distraia e começava a divagar sobre a minha vida em vários momentos. Minha mãe costumava dizer que eu era avoada.
Ela retribui o sorriso.
-Eu entendo, também viajo sempre.
O dia com a Gabi foi excelente, divertido e muito alto astral. O barzinho da Orla foi o ponto alto da nossa saída e a cada cerveja que eu bebia, mais o animada e altinha eu ficava.
-Vou precisar ir ao banheiro. -além de precisar fazer xixi, eu também queria checar o meu rosto no espelho, eu não era uma bebedora de cerveja tão experiente, então qualquer quantidade de álcool que eu ingeria me deixava relativamente bêbada.
Gabi me apontou onde o banheiro ficava, e eu caminhei até lá sem prestar qualquer atenção ao redor. Eu estava apertada.
Entrei no banheiro espaçoso e abri a porta de uma das cabines, o meu xixi mal esperou que eu me sentasse no vaso, o alívio foi imediato. Saí do reservado e lavei as mãos na pia, observando o meu rosto no espelho, a imagem refletida nele não era tão ruim quanto eu pensei que fosse, os meus olhos estavam um pouco mais selvagens que o normal, mas nada que fosse alarmante, eu não parecia uma mulher bêbada e descontrolada.
Sai do banheiro e comecei a caminhar mais confiante de volta para a mesa, dessa vez eu analisei cada detalhe do local enquanto passava pelas mesas lotadas de pessoas, o clima era descontraído, eu sempre ouvi muito sobre a felicidade natural do carioca e a sua hospitalidade, e eu realmente me sentia acolhida por aquela cidade.
Reduzi a velocidade dos meus passos enquanto procurava pela minha mesa com os olhos, eu não conseguia encontrar o lugar no qual eu estava sentada antes de ir ao banheiro. A mesa onde eu julgava estar sentada antes , agora estava ocupada por dois rapazes desconhecidos e gostosos pra caralho.
Gostoso era pouco para descrever os dois homens que estavam na minha mesa, um deles tinha cabelos mais cumpridos e ondulados que chegavam aos ombros, o outro tinha um corte de cabelo mais sério e careta e eu não conseguia ver nada além de sua nuca.
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Atualizado até capítulo 42
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