Meu lugar.

Eu desembarquei no Aeroporto Galeão um pouco antes do anoitecer, o clima caótico da cidade já se anunciava assim que botei os meus pés pra fora do aeroporto e tentei pegar um taxi no meio da correria de pessoas que passavam de um lado para o outro na rua.

Quando finalmente consegui entrar em um carro passei o endereço do apartamento que viria a ser o meu novo lar, o apartamento era bem localizado em Copacabana, meu pai havia checado tudo antes de me permitir que eu viesse para o Rio. Eu tinha encontrado o anúncio enquanto procurava repúblicas nos grupos do Facebook, a Gabriela estava procurando por uma colega de quarto para dividir um apartamento super aconchegante e em conta.

Eu tinha trocado muitas mensagens com a Gabriela nos últimos dias, ela vinha se mostrando uma garota muito legal e descontraída, e apesar de não tê-la conhecido pessoalmente ainda, eu tinha um ótimo pressentimento sobre ela e a nossa convivência.

Quando o taxista parou em frente ao prédio, um sentimento diferente tomou conta de mim, eu estava emocionada. Todas as minhas inseguranças pareciam bobas diante de tudo que estava na minha frente, tudo estava dando certo.

Paguei o taxista e tirei minhas coisas do porta malas, caminhei confiante até o portão do prédio e interfonei para o apartamento 801. Depois do primeiro toque uma voz feminina soou pelo interfone.

-Sim?

-É a Melanie Nogueira, vim pelo quarto disponível.

-Oh Deus, sim. Eu me esqueci completamente, pode subir Melanie. -ela parecia atrapalhada pelo interfone, como alguém se esquece de uma coisa dessas?

Gabriela libera o portão e eu entro parando na portaria. Um homem baixo que eu julgo ser o porteiro se aproxima de mim pegando as minhas malas.

-Você deve ser a Melanie, a senhorita Gabi me avisou da sua chegada, pediu que eu te ajudasse com a bagagem. -ele para de caminhar e me estende a mão em cumprimento. -Nem me apresentei, desculpe por isso. Sou Carlos, o porteiro aqui do prédio, tudo o que a Senhorita precisar pode interfonar aqui em baixo que eu dou um jeito.

Pego na mão do Carlos e sorrio gentilmente pra ele agradecendo pela recepção, a minha primeira impressão sobre o Rio de Janeiro e os cariocas era muito boa, Carlos era simpático e prestativo, aparentava ter um pouco mais de 40 anos e muita disposição.

Carlos me levou até o elevador e apertou o botão do oitavo andar pra mim, se ofereceu para levar as malas até o apartamento mas eu recusei prontamente, não era necessário que ele abandonasse a portaria apenas para carregar minha bagagem.

Subi pelo elevador com a minha ansiedade a mil, arrastei minhas malas pra fora do elevador e bati na porta do apartamento 801, eu estava nervosa em conhecer a Gabriela pessoalmente, e se ela não fosse tão amigável quanto tinha sido pelas mensagens? Como eu moraria com alguém que não fosse legal como eu imaginava?

A porta se abriu depois de um minuto revelando uma garota sorridente dentro do apartamento, antes que eu dissesse qualquer coisa fui puxada pra um abraço caloroso e receptivo.

-Finalmente você chegou, eu estava ansiosa pra conhecer você.

Gabriela era alta e magra, tinha cabelos cacheados que iam até a altura dos ombros, sua pele negra brilhava e contrastava com seu enorme sorriso. Ela me puxava pra dentro do apartamento com euforia, falando sem parar sobre como era bom ter uma nova colega de quarto.

Eu estava um pouco perdida com sua empolgação, mas estava aliviada por ver que ela era tão gentil e calorosa quanto parecia ser pelas mensagens.

-Eu queria ter buscado você no aeroporto, mas cheguei em casa agora, fui almoçar com alguns amigos e acabei me esquecendo que era hoje que você chegava. Correu tudo bem o seu trajeto até aqui?

Soltei minha bolsa sobre o sofá da sala enquanto a tranquilizava.

-Não se preocupe Gabriela, foi muito bem, depois que consegui encontrar um taxi no galeão foi tranquilo. -sorrio pra ela.

-Podia ter me ligado, eu encontraria você sem problema nenhum. O Rio pode ser um pouco assustador inicialmente. -eu assinto.

-Sim, eu fiquei apavorada por um momento, mas estar aqui é realização de um sonho, nada vai diminuir a minha animação.

Ela bate palmas com empolgação.

-É isso aí garota, gostei da sua atitude. Não deixe que os pequenos problemas da vida urbana afetem o seu bom humor.

Eu rio da empolgação da Gabriela, eu já tinha percebido o quão animada e festiva ela era em apenas 5 minutos de conversa, o alto astral dela era contagiante e fazia com que eu me sentisse em casa.

Depois de conversarmos mais um pouco, ela me leva para conhecer todo o apartamento.

O espaço era amplo, maior do que parecia pelo anúncio. A cozinha americana conjugada com a espaçosa sala de estar era impressionante, eu estava esperando algo mais modesto pelo valor que estava pagando pelo quarto.

O apartamento também tinha um pequeno escritório com uma estante abarrotada de livros que cobria toda a parede, um lavabo moderno e dois quartos. Gabriela parou na porta de uma dos quartos e me deu passagem para entrar.

-O seu quarto vai ser esse Melanie, qualquer coisa que você precise pode falar comigo, tá bom? A Fátima limpou tudo e deixou algumas toalhas e itens de higiene pra você no banheiro.

Ela me mostrou onde tudo ficava e saiu do quarto me deixando sozinha com minhas malas e pensamentos.

O quarto era uma suíte bem mobiliada, e eu estava começando a desconfiar de que havia algo errado com o valor do aluguel que tínhamos combinado. Um quarto daqueles valia muito mais do que eu iria pagar, porque a Gabriela alugava aquele lugar por tão pouco? E quem era Fátima?

Eu não queria começar a criar paranoias na minha cabeça tão cedo, e só de pensar que poderia ter alguma coisa de errado com o meu plano de mudança já me deixava arrepiada.

Tentei afastar a ideia do aluguel da minha cabeça, enquanto acomodava as minhas coisas pelo quarto.

A suíte era bem espaçosa, a mobília era branca com detalhes em um tom de verde oliva, havia um grande armário, uma cama Queen size muito macia que dava vista para uma TV enorme que ficava presa à parede, a escrivaninha encostada na janela com vista para o calçadão já tinha se tornado o meu lugar preferido daquela casa, eu já me via ali lendo vários livros enquanto olharia para as pessoas que passassem pela rua.

Depois de organizar as coisas em seu lugar e acomodar as minhas roupas no armário, decidi tomar uma ducha rápida para descansar o meu corpo, eu estava exausta pelo trajeto. Na suíte havia uma banheira que eu provavelmente não demoraria pra experimentar, mas naquele momento eu só precisava sentir a água quente escorrer pelo meu corpo e levar embora todo o meu cansaço.

A ducha foi exatamente o que eu precisava para recarregar as minhas energias, depois de alguns minutos de baixo do chuveiro eu estava completamente renovada. Peguei um dos meus pijamas e me vesti, olhei para o celular e me lembrei que precisava ligar para os meus pais pra contar que tinha chegado bem.

Uma batida na porta interrompeu a ligação que eu estava prestes a fazer, depois de ouvir minha voz Gabriela abriu uma fresta da porta. Ela estava bem diferente de algumas horas atrás, o short e a camiseta haviam sido substituídos por um vestido tomara que caia que valorizava todas as suas curvas, seu cabelo estava mais definido, com cachos grandes e volumosos. Era inegável a beleza dela.

-Uau, alguém tá muito bem arrumada por aqui, e não sou eu. -aponto para o pijama no meu corpo e rio pra ela.

Gabriela abre o seu característico sorriso.

-Você também tá ótima, eu diria até que esse é um pijama de gala, muito melhor que os meus.

-Nós duas rimos do seu comentário.

-Eu vim chamar você para darmos uma volta, você provavelmente deve querer conhecer a cidade né? Eu e os meus amigos vamos em um pub bem legal aqui no bairro.

Eu olho pra cama macia e convidativa e olho pra Gabriela toda arrumada para na minha frente, pelo nível da produção dela o tal pub deveria ser muito bem frequentado, e eu não estava com o menor ânimo pra me arrumar e sair de casa naquela noite e ainda tinha a ligação para os meus pais, o que provavelmente demoraria porque eles iriam querer saber de todos os detalhes.

-Eu agradeço muito o seu convite Gabriela, mas hoje é meio impossível pra mim, eu preciso ligar para os meus pais e gostaria de descansar um pouco. Você se importa? -ela sorri compreensiva.

-Não esquenta, eu entendo total. Também estaria esgotada no seu lugar, bom descanso pra você. -eu agradeço com um sorriso genuíno.

-Obrigada, divirta-se. Você com certeza vai chamar atenção por onde passar.

Ela dá um gritinho de animação e bate palmas da mesma forma como tinha feito mais cedo.

-Espero que sim, eu demorei muito pra me arrumar assim.- mais uma vez eu rio da sua empolgação jovial.

Depois de se despedir, Gabriela sai pela porta.

Me deitei na cama e liguei a televisão, enquanto assistia qualquer coisa aleatória peguei o celular e disquei o número da minha mãe, eram pouco mais de 8h da noite eles provavelmente estariam em seu horário de leitura diária. O telefone tocou uma vez antes da minha mãe atender com sua voz calma e tranquilizadora.

-Querida, oi. Estávamos esperando a sua ligação, vou colocar no viva voz para o seu pai participar da conversa. – a minha mãe sempre mantinha o mesmo tom de voz apaziguador, era impossível ouvi-la gritar ou se exaltar com o que quer que fosse.

-Oi filhinha, como foi seu voô? -a voz grave do meu pai soou no meu ouvido e eu tive que me segurar muito para não desabar em lágrimas, só o fato de ouvir a voz dos meus pais me trazia uma saudade incontrolável de casa.

-Oi mamãe, oi pai. O voô foi tranquilo, eu cheguei há algumas horas no Rio, estava me acomodando primeiro antes de ligar pra vocês. -falo rapidamente tentando manter a emoção longe da minha voz.

Pelos minutos seguintes os meus pais me enchem de perguntas sobre absolutamente tudo, o apartamento, a Gabriela, o meu quarto, o clima quente da cidade e eu não poupo detalhes, eu sabia que se eles soubessem de tudo ficariam mais tranquilos. Antes de desligar nossa chamada eu declarei mais uma vez o meu amor e gratidão aos meus pais por tudo o que eles faziam por mim.

-Eu já estou morrendo de saudades, a parte mais difícil de realizar um sonho é ter que abrir mão de alguma coisa, e com certeza abrir mão de estar sempre com vocês é o que mais me chateia nesse momento. -por mais que eu evitasse ser emotiva, era impossível não dizer aquelas coisas pra eles, eu precisava que eles soubessem o quanto eu valorizava nossa relação.

Desligo o celular com o coração aquecido, e mais tarde quando fecho os meus olhos para dormir, um enorme sorriso brota nos meus lábios, eu estava feliz pra caralho.

Mais populares

Comments

Fabi Ribeiro

Fabi Ribeiro

tô amando 🤗

2023-02-05

2

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!