Capítulo 5

Subo

o morro e entro na casa desgastada. Agora são cinco mesas no canto, todas

suportando o peso de uma grande quantidade de drogas. Texugo está conferindo e

mais três pessoas o ajudam na tarefa.

Ele me percebe e faz um aceno com a cabeça.

— E aí? Tudo certo? — Faço uma pergunta.

Ele respira fundo.

— Parece que sim — responde, endireitando o corpo. Vem

em minha direção. — Já temos pessoas interessadas. Vapor está cuidando de

tudo.

— Ótimo. E quanto as armas?

Ele nega com a cabeça.

— Ainda sem respostas. Marrom disse que vai resolver essa

parada aí. Tamo no aguardo.

— Qualquer coisa me dá um toque. Tá de boa hoje?

— Hoje? Por quê? — Ele pergunta, com um sorrisinho que

não consegue conter.

— Vai rolar um baile mais tarde. Se estiver disponível...

— Perguntando pra mim se estarei disponível? É só chamar, meu

parceiro.

— E quanto a... Você sabe, Karol.

— No dia que uma vadia me prender em casa é melhor eu mesmo

me matar. — Ele abre ainda mais o sorriso. — Fechado?

— Fechadão, parceiro. — Aperto sua mão. — Depois nós trocamos ideia. Vou ver com Marrom essa parada aí. Confere direitinho e diz

pros meninos não vacilar. Tranquilo?

— Tamo junto.

Saio da casa e desço o morro. Alguns moradores me

cumprimentam. Entro em um beco, subo duas escadas e chego na casa do Marrom.

Toco a campainha.

— Quem é? — Ele pergunta instantes depois. Sabe que não

pode abrir a porta sem saber a pessoa que está do outro lado.

— Só vim dá uma conferida — respondo. — Tudo certo

aí?

— Chefe? Opa. — A porta se abre e observo um cara

branco, com cabelos platinados e tatuagens cobrindo o pescoço. — O que

pega?

— Posso entrar?

— Óbvio. Só não repara na bagunça.

Ele fecha a porta atrás de mim. É uma casa pequena. Marrom

mora sozinho, não precisa mais do que isso. Forte cheiro de maconha.

Entro na casa e, logo de imediato, em uma pequena

mesa, de frente para o sofá, está uma carreira de pó estendida. Garrafas de

cervejas espalhadas pelo chão e uma garota sentada no sofá, completamente

apagada.

— Eu disse para ela não me acompanhar. — Ele tenta

justificar. Mas eu não me importo.

— Tá conferindo o armamento? Texugo disse que deixou nas suas

mãos.

— Tudo certinho. Em poucos dias vamos conseguir umas armas

pesadas aí. Tô esperando os canas liberarem.

— Em quanto tempo?

— Dois ou três dias, por aí.

— Então não preciso me preocupar?

— Jamais. Pode ficar de boa. Tô cuidado de tudo.

Concordo com a cabeça. Dou mais uma olhadela ao redor.

— Aceita alguma coisa? — Ele pergunta.

— Não. Tô de boa. Só tenta ter mais cuidado. Não vai querer

ter uma garota inconsciente na sua casa.

— Pode deixar que o papai aqui cuida. — Ele mostra um

sorriso.

Em seguida, aperto sua mão em um cumprimento e saio da casa.

Eu entendo que nem todo mundo tem o mesmo pensamento que o

meu. Jamais deixaria uma garota desmaiada no sofá da sala, e isso porque eu não

queria vê-la nessa situação. Posso cometer meus pecados diariamente, mas isso

não envolve quem não merece punição.

Meu pensamento é simples: o crime é o crime, e quem não está envolvido

não merece passar por isso.

Por isso temos leis na favela. Temos regras a se cumprir. Mas

se Marrom não entende os riscos, quem sou eu para ajudá-lo.

Passo boa parte do dia ajudando meus pais na mudança. Ainda

não tive oportunidade de comprar os móveis para a casa nova. Passei anos para

conseguir o dinheiro do imóvel, que esqueci que precisamos de sofás, camas,

fogão, geladeira e outros itens. Mas não tenho o que temer; tenho certeza que

poderei pagar com o dinheiro que vou ganhar das mercadorias que chegaram.

No cair da noite Bianca aparece em casa. Dou uma desculpa de

que preciso resolver uns problemas e subo em minha moto. Na verdade, só tenho

uma direção para seguir: Baile de Favela.

A rua está fechada quando eu chego. O som é ensurdecedor. Funk

preenche todo ambiente.

Algumas pessoas sabem quem sou e vai abrindo passagem.

Outras, vindo de outras áreas, não fazem ideia. Não preciso que saibam meu

nome. Não preciso que saibam quem sou. Quanto menos pessoas souberem disso,

melhor.

Garotas dançam até o chão, rebolando a bunda. Alguns meninos

estão boquiabertos, enquanto outros chegam para conversar e tentam beijar na

boca. Combinei com Texugo de encontrá-lo próximo da barraca de churrasquinho, e

é exatamente onde o vejo. Ele está dançando com a arma na mão, apontada para

cima. Uma garota rebola próximo a ele, esfregando o corpo em sua perna.

Ele me observa e abre um largo sorriso. Parece ter bebido

mais que o normal. E usado outras drogas também.

— Fala, irmão! — Dá um grito e eu aceno de longe. Não quero

tomar conta de um bêbado hoje.

Digo para que ele aproveitar e eu saio de perto. Ele concorda

e continua dançando.

A música é envolvente. Dou umas mexidas no meu corpo e pisco

para algumas pessoas que me conhecem. Cumprimento garotas com beijos na bochecha.

Armas estendidas se tornam comuns de se observar. A minha está guardada na

cintura; sempre tento mantê-la por perto.

Não estou em clima para convencer uma garota a dormir comigo

hoje, então tudo o que eu faço é aproveitar o ambiente. Algumas até me olham de

longe, com certo interesse, mas faço questão de ignorar.

Compro um churrasquinho para mim e uma garota se aproxima.

Começa a dançar em minha frente, balançando a bunda e esfregando em mim. Vou me

afastando devagar. Ela parece não entender, então aponto para a carne, dizendo

que eu estou comendo. Dou um sorriso e saio de perto.

Parece que mais pessoas aparecem.

— E aí, chefe! — Um dos soldados, Maicon, me

cumprimenta. Ele aponta um fuzil para cima, balançando-o.

Dou uma piscadela em sua direção.

Com duas amigas ao seu lado, sendo uma garota negra e outra

com olhos esticados, observo a vizinha que encontrei mais cedo, que me ignorou

completamente. Ela ainda não me notou. Sei que não tenho intenção de levar

alguém para a cama hoje, mas não posso perder essa oportunidade.

Vou em sua direção.

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