Capítulo 4

Acordo na manhã seguinte pronto para mostrar minha mãe sua

nova casa. Eu não sabia que ela ficaria tão empolgada com isso; e eu pensando

que ela recusaria por tudo o que construiu na favela. Fico contente em saber

que eu estava errado.

Entro no carro do meu pai e seguimos para Vila Áurea. Mãe e

irmã me acompanham. Tonhão não estava presente quando partimos, e terá outros

momentos para conhecer a nova residência.

Recebo uma mensagem no celular dizendo que a mercadoria

chegou. Respondo que mais tarde irei conferi-la, e que em quanto isso poderia deixar

nas mãos de Texugo, meu braço direito. Para isso que serve um gerente da boca.

Ele pode muito bem lidar com essa informação.

Digo o local exato e meu pai para o carro. Minha mãe ostenta

o maior sorriso que já vi na vida.

Ela desce do veículo completamente admirada.

— Essa casa é toda nossa? — Ela pergunta, com olhos que

se enchem de lágrimas.

— Toda sua, mãe — respondo, passando a mão em seu ombro

e trazendo seu corpo para perto do meu. Dou um beijo em sua cabeça. — O

que achou?

Ela parece pensar por um instante. Tenta enxugar os olhos

lacrimejados.

— É maravilhosa, filho. — Tudo o que diz.

Retiro as chaves do meu bolso.

— Toma, é sua. Agora vai conhecer. — Eu as entrego.

Toda minha família começa a seguir até a casa, atravessando a

rua.

— Você não vem? — pergunta minha irmã ao virar para

trás.

— Podem ir à frente. Alcanço vocês.

Observo por um momento a casa que comprei. É linda. Alguns

anos atrás eu nunca pensei que seria possível.

Quando entrei no tráfico, ainda como aviãozinho, meu pensamento

era conseguir dinheiro para ajudar em casa. Depois que meu pai biológico se

foi, minha mãe não conseguiu mais trabalhar. Passamos um bom tempo sobrevivendo

com o pouco de dinheiro que tínhamos.

De aviãozinho para vapor, e os pensamentos começaram a mudar.

Não queria ser apenas mais um. Se fosse para entrar no crime, era para chegar

no topo. Do que adiantaria arriscar minha vida se eu não estava ganhando o

suficiente para ajudar minha mãe?

De vapor para soldado. Os piores anos da minha vida. Matei pessoas

e não me orgulho disso. O medo estampado nos rostos das pessoas que me viam com

armas pesadas. Eu era uma ameaça. Mas não baixei a cabeça em momento algum; eu

sabia que seria questão de tempo para assumir a gerência. E então, realizando

tarefas e missões extremamente perigosas, passei a comandar o morro. Hoje sou o

culpado por tudo o que acontece dentro da favela, então é minha obrigação

deixar um bom exemplo para quem me observa.

Da casa vizinha, debruçada na janela do segundo andar, está a

garota que me ignorou ontem. Ela não me encara de volta. A aversão sobre mim, estava nítido em seu rosto. Seria minhas roupas? Minhas tatuagens? Minha moto?

Ou tudo o que tenho e o que sou?

Estou acostumado com rejeição. Não tenho intenção agradar

todo mundo; ou então eu não estaria comandando uma favela.

Retiro um cigarro do bolso e o acendo. Num rápido lampejo

percebo que a garota me encara por um instante, e em poucos segundos ela se

afasta, fechando a cortina.

Minutos depois caminho para dentro da casa que comprei. O

quintal é grande, maior do que o barraco que morei durante toda minha vida. Um

jardim no canto direito. Garagem que poderia suportar facilmente até quatro

carros. A porta de entrada está aberta. Minha mãe e pai estão na sala —

ainda vazia, sem móveis — olhando ao redor. Minha irmã deve estar no

segundo andar, conferindo seu novo quarto.

— O que achou? — pergunto ao me aproximar.

— É maravilhosa, meu filho. — Minha mãe me dá um abraço. —

Tem dois banheiros, quatro quartos e uma cozinha enorme. É mais do que sonhei

para mim. Muito obrigada!

— E aí, pai. Viu a área no fundo? Churrasquinho vai rolar

solto, em?

Meu pai abre um largo sorriso.

— Churrasquinho e futebol? Não poderia ser melhor. — Ele

diz.

— Cadê a Amanda? — pergunto.

— Lá em cima — responde minha mãe.

— Pode ficar à vontade, viu? Vou ver o que ela tá achando da

casa.

Minha mãe concorda e eu me afasto. Subo os degraus da escada

e chego no segundo andar. Quatro quartos disponíveis, e obviamente que ela

pegou o maior deles.

— Não é boba mesmo, em? — Digo e ela se vira para mim.

— Isso é incrível. Olha o tamanho desse quarto. Posso

finalmente montar meu estúdio de maquiagem.

— Se quiser podemos providenciar isso, em?

Ela concorda com a cabeça. Ainda não tem cama para sentar,

então ficamos em pé. O quarto dá de frente para a casa vizinha.

— Acha que mamãe vai se importar de onde esse dinheiro

saiu? — Pergunto e pareço pegá-la de surpresa. Minha irmã é a única que

sabe tudo o que faço. Passamos horas contando sobre a vida um do outro.

Ela morde o lábio. Respira fundo.

— Eu realmente não sei. Ela parece muito bem. Não acho que

vai se importar.

— E você?

— Eu? — Ela nega com a cabeça. Dá de ombros. — Não

me importo. Não nascemos em berços de ouro e não tivemos oportunidades na vida.

Duvido muito que teríamos conseguido se não fosse pelos caminhos que tomou.

Dou um curto sorriso.

— Obrigado.

Ela passa por mim e coloca a mão em meu ombro. Desce as

escadas e volta para o andar debaixo. Fico sozinho por um tempo, olhando tudo

ao redor. Posso sentir meu coração se alegrar repentinamente.

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