Seguro
firme em minha arma ao entrar no beco. Encontro com três soldados que me
esperam. Estão com fuzis pendurados nos ombros. Alguns moradores nos observam
e, na maioria das vezes, nem se importam. É assim que convivem. Sabem que se
não colocar a mão no fogo, não tem porque esperar para queimá-la.
Passamos por dois vigias e subimos o morro, chegando em uma
casa desgastada, com aspecto sombrio. Um dos gerentes da boca abre a porta. Uma
mesa no canto esquerdo mostra uma grande quantidade de drogas sobre ela.
Encostado na parede dos fundos, amarrado em uma cadeira, está Marcos, um X9 que
sabe muito bem as consequências que tomou. Sua boca está amordaçada, e seus
olhos inchados demais de tanto chorar.
— É, Marcos... — Me aproximo. Texugo está ao seu lado,
segurando sua arma como sempre. O cumprimento com um aperto de mão. — Não
se pode confiar em ninguém, não é?
— Parece que alguém andou espalhando informações por
aí. — Texugo limpa a garganta ao dizer. — E aí, chefe. Como vai ser?
— Vocês sabem o que deve ser feito.
Marcos tenta negar com a cabeça e dizer algumas palavras, mas
nada acontece. Não consegue nem abrir a boca.
Não existe perdão para X9 na favela. Uma vez que a mensagem é
contada, é melhor rezar para não ser pego. E parece que Marcos não rezou o
suficiente.
— Podem começar — digo.
Alguém segura Marcos pelos braços e o levanta, tirando-o da
casa em seguida. O levam até um matagal a alguns metros de distância e o
colocam dentro de seis pneus. O que vai acontecer em diante foi tudo culpa do
homem que espalhou algumas informações por aí. Ele sabia o que estava fazendo.
Sabia dos riscos.
O fogo começa a se iniciar, e eu viro o rosto. Não que eu não
goste do que está acontecendo, mas eu disse a mim mesmo que tentaria comandar
sem assassinar o máximo de pessoas possíveis. Aparentemente eu não irei cumprir
com minha promessa. Pessoas são complicadas, e não resta outra escolha a não
ser tirar suas vidas.
— Já vamos iniciar o processo. Dois aviõezinhos foram vender
e o Vapor está cuidando do resto. — Texugo se aproxima ao dizer, quase em
um sussurro. — Minha parte eu já fiz. A questão agora é o armamento.
Parece que tem alguns canas dispostos a vender pra gente. Se quiser eu troco
uma ideia. Qualquer coisa eu peço para o Marrom resolver.
— Pode deixar com Marrom então. Não precisa se
preocupar. — Pego um cigarro em um dos bolsos da calça e o acendo. —
E quanto a carga?
— Duzentos quilos de maconha para hoje e cem de cocaína.
— O Wesley tá cuidando de tudo?
— Parece que sim. — Ele responde. — Amanhã vai
chegar mais uma carga e Wesley terá um compromisso pra ir. Deixei na mão do
Paulinho. Qualquer coisa te dou um toque e você faz outra sugestão.
— Tá ótimo. Paulinho pode dar conta. E quanto aos
meninos? — Indico com o queixo, duas crianças paradas na porta da casa.
— Tem uns turistas na cidade, e estão procurando por
alguma... você sabe, diversão. As crianças vão dar conta. Já fizeram isso
antes.
Concordo com a cabeça. Vejo Texugo se afastar e conversar com
dois gerentes mais adiante. O cheiro começa a me incomodar e decido sair de
perto. Cumprimento Texugo e outros caras que estão por perto e desço o morro.
Dois soldados me acompanham, ainda que distantes. Ficam sempre na retaguarda.
Chego no beco e subo em minha moto. Olho para esquerda e
direita e dou a partida. Está tudo em completa escuridão. Meu único pensamento
agora é chegar em casa e encontrar com minha mãe, pai e irmã, e dizer que tenho
novidades para contar.
Em menos de cinco minutos estou em casa. Escuto conversas e
risos na sala. Vou me aproximando lentamente. Sinto meu coração acelerar. Faz
muito tempo que não sinto esse nervosismo em mim. Passei por situações piores.
Matei homens. Troquei tiros com a polícia. E agora parece que borboletas estão
fazendo uma festa em meu estômago.
Vejo minha mãe sorrindo e meu pai ao seu lado, sentados no
sofá. Minha irmã e seu namorado no canto, sentados na mesa. A TV ligada.
A conversa é encerrada com minha chegada. Limpo a garganta.
— Victor — diz Tonhão, um homem magro com um cavanhaque.
Ele ajeita o corpo no sofá, como se minha presença o intimidasse.
— Oi, filho — minha mãe se levanta.
— Não precisa, mãe — peço, dizendo para se sentar. — Na
verdade, como todo mundo está presente, eu tenho algo importante para contar.
As quatro pessoas se olham e tentam encontrar respostas.
— Aconteceu alguma coisa? — Meu pai quem pergunta, um
senhor de pele morena e cabelos branqueados; não é meu pai biológico, mas o
trato com o mesmo respeito. Cuidou de mim e de minha mãe quando mais
precisamos, serei sempre grato. Usa um bigode acima dos lábios.
Respiro fundo. Permaneço de pé. Ansioso demais para me
sentar.
— Vocês sabem muito bem o quanto eu me esforço para manter
essa casa de pé. E também sabem que nem sempre é por meios legais, digamos
assim. Saio de casa sem saber se voltarei vivo, e é assim que o mundo funciona.
— Você está bem? — Minha mãe parece mesmo preocupada.
Eu dou um sorriso, mostrando que não precisa se preocupar.
— Mãe, eu sei que essa casa não é o que você sempre quis. Eu
me lembro quando era pequeno e você me contava querer sair desse lugar...
— Estamos muito bem, e é isso que importa. — Ela me
corta. — Não precisa se preocupar com isso.
— Esse é o problema, eu já me preocupei. A partir de amanhã,
vocês terão outra casa para morar. Outro chão. Outros móveis. Outra TV;
chega de tentar buscar sinal no telhado.
— O que quer dizer? — Minha mãe pergunta, e olhares
desconfiados seguem em minha direção.
— Que eu comprei uma casa pra senhora, mãe.
— O que... — Ela olha para o meu pai. Minha irmã está
com a boca aberta. Tonhão com cenhos franzidos. — Você comprou uma casa?
Como assim?
Meu sorriso aumenta.
— Exatamente isso. Uma casa. Na Vila Áurea.
— Vila Áurea? Mas... Filho... Porque... Como... — Sem
conseguir conter, seus olhos começam a se encher de lágrimas. Ela não demora
para limpar. — Está falando sério?
— Seríssimo.
Ela se coloca de pé. Começa a caminhar em minha direção sem
conseguir conter o choro. Eu a abraço mais forte do que já abracei em toda
minha vida.
Então todo mundo se levanta e vem em nossa
direção. Pai, irmã e cunhado. Recebo abraço de todos os lados. Por anos esperei
esse momento.
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Atualizado até capítulo 44
Comments
LadySillver34
ah, agora tindi
2024-03-10
0
LadySillver34
aí não, não envolve crianças não 😞
2024-03-10
0
LadySillver34
sou contra o crime, mas estou gostando dele, até agora, não vi ser cruel e nem matar inocente, isso q odeio no ser humano
2024-03-10
1