Capítulo 2

Saio do quarto e Bianca vem logo atrás. Estamos suados e

percebo que preciso de outro banho. Mas não quero mostrar para minha mãe que

acabei de transar enquanto ela estava em casa preparando a janta.

— Parece uma delícia, senhora Ingrid — diz Bianca

retirando o celular do bolso e colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha.

Subo o zíper da calça e respiro fundo.

Minha mãe me olha por um momento e tenta esconder o

sorrisinho que se abre em seu rosto. Não parece funcionar. Mas não me importo.

Por mais que eu fique constrangido com seus olhares, estou acostumado com suas

provocações de forma indireta.

Sento na mesa e Bianca me acompanha. É uma casa pequena.

Cinco cômodos apenas. Minha mãe coloca o prato em minha frente e nem espero ela

se sentar para começar a comer.

— Tudo certo hoje, filho? — Ela pergunta, uma forma de

quebrar o breve silêncio que se estende.

— Perfeito.

Por muitas vezes eu entendo o que ela quer dizer. Perdi meu

pai quando eu tinha oito anos. O vi sendo assassinado na porta de

casa, recebendo três tiros no peito. Consequentemente, o medo de perder outro

alguém importante acaba pesando nessas circunstâncias. A questão é que não

encontro outra saída.

Eu entendo que o crime pode não ser o melhor caminho, mas sem

dúvida nenhuma é o único que me resta.

— Então o Tonhão está achando que vai gastar minha

grana? — pergunto e minha mãe sorri.

— Foi o que ele disse. Mas sabe como é. Ele quer agradar sua

irmã.

— Que agrade com o próprio bolso.

Bianca está mexendo em seu celular. Essa é uma de suas falhas;

não prestar atenção nas conversas e se perder em redes sociais. Mas o que posso

exigir? Não estamos namorando. E também não me importo. O sexo é bom, e isso é

o suficiente.

— Vou ter que dar uma saída agora. Pode dizer para minha irmã

me esperar voltar? Volto mais tarde. — Me coloco de pé e seguro o prato

vazio, levando-o até a pia.

— Vai demorar?

— Não. Vocês duas precisam me esperar voltar.

— Por quê?

— Porque... Alguém precisa tomar conta da casa. Sabe que

minha irmã é mais voada que tudo.

Minha mãe não responde, mas sei que ela fará o que eu disse.

Bianca nem sequer nota minha saída, o que é um alívio. Saio pela porta da casa

e retorno para a moto. Preciso apenas ir até a casa que comprei e a olhar mais

uma vez, decidir de uma vez por todas se fiz mesmo um ótimo negócio.

Corto carros em alta velocidade. Não estou usando capacete,

mas ele está seguro em meu braço. Estou indo para outro lado da cidade, não

posso arriscar ser pego por um policial qualquer. Dentro da minha área eu faço

o que bem entender, mas não o mesmo que acontece em outras partes. Não posso

vacilar assim.

Becos e vielas vão dando espaço para ruas asfaltadas e bem

construídas. Barracos deixam de ser visíveis e casas maiores e ajeitadas tomam

espaço. Eu poderia muito bem ter comprado uma casa na favela, onde minha mãe

certamente se sentiria confortável, mas prezo pela sua segurança mais do que

tudo. E onde posso mantê-la segura? Num bairro de ricos repleto de

policiamento.

Contraditório, não é? Comprar guerras para querer fugir delas

depois.

Esse era meu pensamento no início. Primeiro você briga, e

então você ganha, e depois deixa o local.

Paro em frente à casa e retiro meu capacete. É uma casa

grande, com dois andares e toda pintada de branco. Outras casas parecidas

preenchem a vizinhança. Tudo tão silencioso. Sem pessoas nas ruas. Sem crianças

jogando bola e acertando portões de moradores. Sem velhos espreitando e

esperando alguma fofoca.

Tudo o que sonhei para minha mãe. Agora ela estará em paz.

Ela, meu pai e minha irmã.

E quanto a mim? Não. Eu estou bem. Tenho uma favela para

comandar. Tenho pessoas em quem confiar. Não posso deixar tudo para trás dessa

forma. Quando o crime entra em sua vida, a saída nem sempre se torna uma

alternativa.

Observo uma garota saindo de uma casa vizinha. Ela usa uma bermuda curta e uma camiseta branca. Seus olhos pousam em mim por um segundo e

sustento o olhar. Ela nega com a cabeça, em desaprovação, e vira o rosto,

caminhando no sentido contrário que estou. Coloco meu capacete e ligo a moto.

Acelero imediatamente ao passar por ela, deixando um alto som

ecoar. Vejo no retrovisor seus olhos arregalados e não consigo esconder o

sorriso que se abre em meu rosto.

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Comments

LadySillver34

LadySillver34

por enquanto não está pesado , estou curtindo e já prevendo q ele pode se apaixonar de verdade ☺️

2024-03-10

1

LadySillver34

LadySillver34

o pai não foi morrido? 😔

2024-03-10

0

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