Saio do quarto e Bianca vem logo atrás. Estamos suados e
percebo que preciso de outro banho. Mas não quero mostrar para minha mãe que
acabei de transar enquanto ela estava em casa preparando a janta.
— Parece uma delícia, senhora Ingrid — diz Bianca
retirando o celular do bolso e colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha.
Subo o zíper da calça e respiro fundo.
Minha mãe me olha por um momento e tenta esconder o
sorrisinho que se abre em seu rosto. Não parece funcionar. Mas não me importo.
Por mais que eu fique constrangido com seus olhares, estou acostumado com suas
provocações de forma indireta.
Sento na mesa e Bianca me acompanha. É uma casa pequena.
Cinco cômodos apenas. Minha mãe coloca o prato em minha frente e nem espero ela
se sentar para começar a comer.
— Tudo certo hoje, filho? — Ela pergunta, uma forma de
quebrar o breve silêncio que se estende.
— Perfeito.
Por muitas vezes eu entendo o que ela quer dizer. Perdi meu
pai quando eu tinha oito anos. O vi sendo assassinado na porta de
casa, recebendo três tiros no peito. Consequentemente, o medo de perder outro
alguém importante acaba pesando nessas circunstâncias. A questão é que não
encontro outra saída.
Eu entendo que o crime pode não ser o melhor caminho, mas sem
dúvida nenhuma é o único que me resta.
— Então o Tonhão está achando que vai gastar minha
grana? — pergunto e minha mãe sorri.
— Foi o que ele disse. Mas sabe como é. Ele quer agradar sua
irmã.
— Que agrade com o próprio bolso.
Bianca está mexendo em seu celular. Essa é uma de suas falhas;
não prestar atenção nas conversas e se perder em redes sociais. Mas o que posso
exigir? Não estamos namorando. E também não me importo. O sexo é bom, e isso é
o suficiente.
— Vou ter que dar uma saída agora. Pode dizer para minha irmã
me esperar voltar? Volto mais tarde. — Me coloco de pé e seguro o prato
vazio, levando-o até a pia.
— Vai demorar?
— Não. Vocês duas precisam me esperar voltar.
— Por quê?
— Porque... Alguém precisa tomar conta da casa. Sabe que
minha irmã é mais voada que tudo.
Minha mãe não responde, mas sei que ela fará o que eu disse.
Bianca nem sequer nota minha saída, o que é um alívio. Saio pela porta da casa
e retorno para a moto. Preciso apenas ir até a casa que comprei e a olhar mais
uma vez, decidir de uma vez por todas se fiz mesmo um ótimo negócio.
Corto carros em alta velocidade. Não estou usando capacete,
mas ele está seguro em meu braço. Estou indo para outro lado da cidade, não
posso arriscar ser pego por um policial qualquer. Dentro da minha área eu faço
o que bem entender, mas não o mesmo que acontece em outras partes. Não posso
vacilar assim.
Becos e vielas vão dando espaço para ruas asfaltadas e bem
construídas. Barracos deixam de ser visíveis e casas maiores e ajeitadas tomam
espaço. Eu poderia muito bem ter comprado uma casa na favela, onde minha mãe
certamente se sentiria confortável, mas prezo pela sua segurança mais do que
tudo. E onde posso mantê-la segura? Num bairro de ricos repleto de
policiamento.
Contraditório, não é? Comprar guerras para querer fugir delas
depois.
Esse era meu pensamento no início. Primeiro você briga, e
então você ganha, e depois deixa o local.
Paro em frente à casa e retiro meu capacete. É uma casa
grande, com dois andares e toda pintada de branco. Outras casas parecidas
preenchem a vizinhança. Tudo tão silencioso. Sem pessoas nas ruas. Sem crianças
jogando bola e acertando portões de moradores. Sem velhos espreitando e
esperando alguma fofoca.
Tudo o que sonhei para minha mãe. Agora ela estará em paz.
Ela, meu pai e minha irmã.
E quanto a mim? Não. Eu estou bem. Tenho uma favela para
comandar. Tenho pessoas em quem confiar. Não posso deixar tudo para trás dessa
forma. Quando o crime entra em sua vida, a saída nem sempre se torna uma
alternativa.
Observo uma garota saindo de uma casa vizinha. Ela usa uma bermuda curta e uma camiseta branca. Seus olhos pousam em mim por um segundo e
sustento o olhar. Ela nega com a cabeça, em desaprovação, e vira o rosto,
caminhando no sentido contrário que estou. Coloco meu capacete e ligo a moto.
Acelero imediatamente ao passar por ela, deixando um alto som
ecoar. Vejo no retrovisor seus olhos arregalados e não consigo esconder o
sorriso que se abre em meu rosto.
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Atualizado até capítulo 44
Comments
LadySillver34
por enquanto não está pesado , estou curtindo e já prevendo q ele pode se apaixonar de verdade ☺️
2024-03-10
1
LadySillver34
o pai não foi morrido? 😔
2024-03-10
0