Capítulo 18

Uriel encara a mulher e as palavras pela primeira vez em sua vida parecem lhe faltar. Diante do seu silêncio, com uma imensa curiosidade, estreitando os olhos com um ar de interrogação, ela lhe chama mais uma vez a atenção.

_ Senhor??

Mas, o que exatamente ele poderia lhe dizer? ela era apenas uma empregada, certamente não tinha nada haver com a sua dor. Sim, ele queria mais do que nunca alguém para descontar sua raiva, sua frustração...Mas, confrontar, pressionar ou colocar uma arma na cabeça de uma pessoa indefesa, inocente e ainda por cima mulher não vingaria a morte dos seus pais pelo contrário, o faria se sentir ainda pior do que já está. Seu sangue ainda fervia pelo ódio descomunal mas não havia ninguém que tivesse culpa naquela casa, naquele momento para que ele pudesse enfrentar de igual para igual. E depois de chegar a conclusão de que aquela decisão foi impensada e impulsiva, se dá conta de que não deveria estar ali.

_ Desculpe, acho que acabei errando o endereço, ter vindo aqui foi um engano!

Uriel responde com seu semblante sombrio, já se esquivando pra sair; enquanto a mulher continua junto á porta parada se perguntando quem aquele homem bonito e aparentemente tão importante poderia ser; Certamente ele não era ninguém do bairro, caso contrário ela o reconheceria.

Em poucos minutos Uriel estaciona de volta na mansão Clark, ao descer do seu veículo segue direito para a academia; logo após trocar de roupa no vestiário, por um longo tempo fica preso no lugar, a esmurrar violentamente um saco de pancadas.

Já é fim de tarde, próximo ao anoitecer quando Uriel finalmente retorna para a casa de campo, não se sabe se ele retornou porque a Nicole ainda permanecia por lá ou se porque aquele ambiente no momento era mais propício para descansar sua mente. Ao Ouvir o barulho do Helicóptero no ar, Nicole sai correndo animada e feliz para encontrá-lo, ela está muito ansiosa e mal o veículo aéreo pousa sobre o campo espaçoso assim que desce, Uriel sente seu abraço.

_ Porquê não se despediu de mim hoje pela manhã, antes de sair? eu fiquei muito preocupada! (ela pergunta).

Nicole havia conseguido ligar para a mansão da cidade depois que pediu ajuda a um dos empregados; naquela manhã ela foi informada de que o Uriel estava perfeitamente bem; era normal os serviçais vê-lo sempre de mal humor por isso, eles não acharam que estivesse acontecendo nada demais. Mas enfim, ao abraçar o Uriel Nicole percebe o quanto ele está estranho e indiferente. Ele era um homem sério, enigmático, misterioso mas agora ele retornara frio, seu semblante estava vazio, distante...

Dois dias já haviam se passado e o Uriel sequer tirado uma palavra nem com a Nicole nem com os demais empregados, além de praticamente não ter se alimentado. Nicole estava bastante preocupada, ela podia sentir o quanto ele estava sofrendo, sabia que algo insistentemente o incomodava e angustiava mas, nitidamente se ele não se sentia confortável para conversar.

_ O que está acontecendo com você Uriel? Você poderia desabafar comigo, quem sabe eu não posso te ajudar?

Com seus olhos profundos ele a encara com desdém, como se o que ela acabara de falar não passasse de uma piada. Preocupada, ela então se aproxima dele por trás e começa a massagear seus ombros. Uriel havia acabado de tomar banho e vestia apenas um roupão branco enquanto tomava whisky, algo que ele havia feito a noite inteira passada. Ele seguia com seus pensamentos distantes, enquanto tentava respirar o ar puro do campo na sacada.

Diante do seu permanente silêncio ela não quis o pressionar, nem especular seus pensamentos afinal, seja lá o que ele estivesse enfrentando, sua vida participar não lhe dizia respeito. Ela havia se divertido bastante nos últimos dias e foi muito feliz ao meu lado mas aquela era uma posição que não lhe pertencia; pensando nisso, preferiu deixá-lo em paz, talvez ele precisasse um pouco mais de tempo para organizar suas idéias e refletir.

No dia seguinte, ambos haviam acabado de tomar o café da manhã quando o Uriel finalmente quebra o silêncio.

_ Arrume suas coisas daqui a pouco retornaremos a são Leopoldo!

Ele diz diretamente para a Nicole que assente com a cabeça já se virando para sair em direção ao quarto, afim de obedecer sua ordem.

Menos de uma hora depois ambos já estão prestes a sobrevoar, ela está sentada ao lado do Uriel e ele tenta lhe ajudar com o sinto, quando agarrada ao abafador de ouvido, da parte de trás da aeronave ela diz:

_ Mário, cuidado com as gaivotas!

Mário: O que disse senhora?

Nicole: As gaivotas, vocês viram como elas dançam lindamente no céu hoje?

Mário: Ah, não se preocupe, elas se assustam com o barulho do motor e fogem!

Uriel olha para fora da janela e não havia prestado atenção em quantas delas sobrevoavam o céu aquela manhã.

Já são dez horas da manhã quando aterrissam de volta na mansão.

_ Senhor Clark, senhora Celina sejam bem vindos!

O mordomo Damian cumprimenta os dois logo na chegada enquanto entram para dentro da casa.

Nicole contrai um pouco a testa pela forma a qual foi recebida mas ao encarar o Uriel por enquanto decide não falar nada.

Damian você pode conduzir a Celina até a suíte principal e ajudá-la com as malas?

Damian: Mas é claro senhor!

Uriel: Preciso resolver um assunto no escritório mas prometo não demorar! (fala diretamente para ela logo após receber uma mensagem em seu Celular).

Nicole: Ok!

Ele caminha para o escritório e Nicole acompanha o mordomo.

_ Então Damian, nós temos um assunto sério para conversar. Porque colocou calmante em minha água aquele dia? (fala em um tom e semblante sério).

Damian: Ah, me desculpe por aquilo senhora! (fala completamente sem jeito). Eram ordens médicas, a senhora estava muito agitada e bem... eu não tive escolha!

Nicole: Sei... Você não ousaria fazer isso de novo não é?

Damian: Mas é claro que não senhora!

Nicole: Mas é claro que não, se não receber ordens do Uriel não é mesmo?

Nesse momento o mordomo se encontra perdido e não sabe o que responder, então Nicole descontraídamente soltando um sorriso, diz:

_ Relaxa, eu sei que você é pago pra obedecer suas ordens!

Nicole nunca se sentiu a vontade para conversar com o Uriel sobre isso mas, o fato de Uriel nunca ter mencionado o nome de seus pais no período em que estiveram juntos lhe chamou a atenção então, caminhando por aquela casa que era enorme mas ao mesmo tempo parecia vazia, ela cheia de curiosidade pergunta:

_ Damian, os pais do Uriel também moram nessa casa?

Damian então com um olhar desconfiado responde:

_ Então a senhora não sabe?

_ Sabe, do que? Ela pergunta.

_ O senhor Clark ainda era uma criança quando perdeu seus pais!

Nicole: Isso significa que nós temos muito em comum! (solta em um tom baixo após pensar alto).

Damian: O que a senhora disse?

Nicole: O seu chefe e eu temos muito em comum, eu também não tenho meus pais!

Damian: Como assim e o senhor Demétrio e a senhora Clara?

Imediatamente Nicole se recorda dos pais da Celina e arranjando uma boa desculpa para o seu deslize, diz:

_ Ah, eles? Eles arruinaram a minha vida então deixaram de existir pra mim!

Os dois chegam até a suíte principal, Damian ajuda a Nicole colocar as malas dentro do quarto e sai.

Nicole fica por um tempo admirando o belo e enorme quando e a seguir reagindo, abre um pouco mais as cortinas e sai na sacada curiosa pela vista. Ela se aproxima da grade de proteção, ao firmar seus braços no parapeito de vidro, levanta a cabeça e respira fundo, enquanto fala consigo mesma:

_ Este sonho é realmente incrível Nicole, mas agora chegou a hora de retornar para a realidade!

Ao chegar em seu escritório, Uriel abre seu laptop e envia um arquivo que o arquiteto do seu novo projeto estava lhe cobrando, ao finalizar sai dali também em direção ao quarto.

Mal os pensamentos da Nicole se fundam e ele já está lhe atacando por trás:

_ Eu sempre admirei essa vista, achava que ela era perfeita até ter você aqui, agora ela é ludibriante!

Fala mordiscando seu pescoço, agarrando forte a sua coxa, levantando um pouco a barra do seu vestido, enquanto Nicole é pega de surpresa pelas correntes elétricas que lhe roubam de si mesma, e lhe dominam.

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