O Prêmio Perfeito

O Prêmio Perfeito

Um

Nova Orleans

Louisiana

Hei, garoto! olhei assustado quando um homem gigantesco gritou, olhando para mim enquanto eu tentava pegar uma maçã da banca de frutas.

Catei outra, o mais rápido que eu pude, e a coloquei no bolso do trapo velho que eu chamava de calças, antes de dar no pé.

Eu me orgulhava disso?

Não!

Mas era a única coisa que eu podia fazer para não passar fome.

Fazia algum tempo que eu estava vivendo nas ruas de Nova Orleans, depois que minha mãe tinha me mandado ficar esperando do lado de fora de um prédio velho, enquanto ela acompanhava alguns homens para dentro.

Não entendia o que ela tinha ido fazer lá, porque tenho apenas seis anos.

Dos três homens que entraram com ela, apenas um deles saiu, mais tarde.

Ainda consigo me lembrar do olhar que ele me lançou quando me viu sentado na calçada, do lado de fora.

Foi o tipo de olhar que me fez sentir muito medo, por isso eu me levantei e me afastei alguns metros da entrada do prédio, enquanto um carro preto parava e o homem entrava, indo embora.

Desde aquele momento, em que ela entrou naquele prédio, eu não a vi mais.

E ali estava eu, correndo feito um louco para não ser pego, apenas para ter alguma coisa para comer e não acabar morrendo de fome.

Virei em um beco e depois mais outro, até ter certeza de que não estava sendo seguido antes de entrar sorrateiramente no mesmo prédio onde ela tinha entrado aquele dia.

Ali era a minha casa agora.

Eu precisava ficar por ali, porque ainda tinha esperanças de que ela voltaria para me buscar.

Ela voltaria... pensei, me aconchegando em cima do monte de trapos velhos que eu tinha encontrado em algumas lixeiras por perto, tentando criar uma cama onde pudesse dormir e me aquecer nas noites frias.

Ela ia voltar e me buscar, então eu precisava ficar ali, caso contrário ela nunca mais me encontraria.

Abracei os meus joelhos e dei uma mordida na maçã roubada, sentindo as lágrimas escapando dos meus olhos.

Era horrível ficar sozinho.

Tudo o que eu mais queria naquele momento, era sentir os braços quentes da minha mãe em volta do meu corpo.

Não me importaria de continuar a viver ali, desde que fosse com ela.

Desde que eu pudesse olhar para ela todos os dias e não me sentir tão sozinho...

Terminei de comer e acabei adormecendo, cansado.

Acordei assustado, sentindo meu rosto ainda molhado pelas lágrimas que deixei vazar dos meus olhos, quando ouvi um barulho em um canto qualquer do prédio.

Ali era sempre silencioso, apesar de, às vezes, poder ouvir os ratos que corriam de um lado para o outro, procurando pelos restos que sobravam da minha comida.

Verifiquei se a outra maçã que eu tinha roubado ainda estava no meu bolso, pois eu sempre tentava trazer alguma coisa a mais, na esperança de que minha mãe pudesse voltar e estar com fome.

De repente, as portas enormes e velhas de madeira foram abertas, quase me cegando.

Mas, antes que eu pudesse ver quem estava entrando, fui puxado para um canto na escuridão.

Fica quieto, se não quiser que sejamos pegos! ouvi alguém murmurar atrás de mim, enquanto ele cobria a minha boca.

Onde estávamos, era escuro, portando não conseguia ver o seu rosto.

Mas ele não era tão maior do que eu, o que me fez pensar que era apenas mais um menino vivendo nas ruas, como eu.

Quem são essas pessoas? eu cochichei, voltando a minha atenção para um casal que olhava tudo em volta, conversando com um homem mais velho vestido de terno.

Eu não sei. ele respondeu, no mesmo tom.

Ficamos em silêncio, enquanto o casal caminhava, olhando tudo com uma atenção exagerada, sem se darem conta da nossa presença.

Esse lugar é perfeito para o que queremos. O homem mais novo, que andava ao lado da mulher elegante, disse, voltando-se para o mais velho.

Tenho certeza que não se arrependerão. ele disse, sorrindo abertamente. _Pode ser um prédio velho, mas com uma reforma e o dono certo...

Vamos entrar em contato com o senhor novamente, amanhã. A moça disse.

Ela parecia ser muito jovem.

Seus cabelos eram loiros e, mesmo de longe, eu consegui ver a cor dos seus olhos.

Era azuis...

E ela parecia um anjo, enquanto olhava mais uma vez em volta.

Seus olhos passaram por onde eu e o outro garoto estávamos escondidos e, por um momento, eu pensei que ela tinha nos visto.

Recuei um passo, pisando, sem querer, no pé do outro garoto, que resmungou um palavrão.

Desculpe. pedi.

Ele não disse nada, e quando olhei para a frente de novo, o casal já estava partindo.

As portas se fecharam e voltamos a ficar na escuridão com a qual eu já estava acostumado.

Quem é você? eu perguntei, quando finalmente saímos daquele canto escondido.

O garoto me encarou, com desconfiança.

Michel. ele respondeu. _E você?

Olhei para ele atentamente.

Ele parecia pálido e fraco, e estava ainda mais sujo do que eu.

_Eu me chamo Caleb.

O que fazia aqui, sozinho, Caleb? Quantos anos tem? ele perguntou, sentando-se em um canto qualquer.

Fiquei um pouco inseguro em responder, afinal, ele ainda era um estranho para mim, mesmo que eu já soubesse o seu nome.

Mas algo no olhar dele me fez acreditar que podia confiar.

Então, eu me sentei também, sobre o que eu chamava de cama.

Eu tenho seis anos e estou esperando a minha mãe voltar. expliquei.

Ele me encarou por um momento, em silêncio.

Ela mandou você ficar esperando aqui? ele quis saber.

Fiquei surpreso por ele ter adivinhado, por isso assenti, confirmando.

Michel encostou a cabeça na parede, parecendo ainda mais fraco, enquanto fechava os olhos e suspirava pesadamente.

Sinto muito, cara... ele murmurou. _Mas elas nunca voltam.

O que quer dizer com isso? eu quis saber, sentindo minha garganta apertar de repente.

Ele não podia estar falando sério...

Michel abriu os olhos novamente, me encarando.

Os olhos dele eram tão escuros quanto os meus, e, de repente, senti um calafrio.

O que eu quero dizer, pequeno Caleb, é que você está tão sozinho no mundo quanto eu. ele respondeu, fazendo aquele aperto na minha garganta aumentar ainda mais.

Bem lá no fundo, eu sabia que ele estava certo.

Já devia ter se passado meses e minha mãe não tinha voltado.

Senti o único fio de esperança que ainda havia em mim, se arrebentar depois que Michel falou aquilo.

Ele fez uma careta de dor, de repente, envolvendo a própria barriga com os braços.

O que você tem? eu quis saber, fungando, para não permitir que novas lágrimas escorressem por meus olhos.

Michel me olhou de lado.

Estou com fome. ele respondeu. _Faz três dias que estou fugindo e não comi nada.

Do que está fugindo? eu perguntei, mas o olhar que ele me lançou dizia claramente que não queria falar sobre isso, então apenas suspirei, respeitando o seu silêncio.

Levei minha mão até o bolso da calça e tirei de lá de dentro a maçã que eu estava guardando.

Pegue! eu ofereci, estendendo a fruta para ele.

Michel me encarou, desconfiado, antes de olhar para a maçã em minha mão.

Eu estava guardando para quando a minha mão voltasse, mas... Acho que isso não será mais necessário. expliquei.

Ele levou alguns segundos ainda, antes de se aproximar e pegar a maçã da minha mão.

Observei enquanto ele comia, em silêncio, praticamente devorando a maçã em questão de segundos antes de limpar a boca com as costas das mãos.

Olhei para o que restava da maçã.

Sinto muito, eu só tinha essa. eu disse, me desculpando, antes de pegar um pedaço de pano velho que estava sob o meu corpo e oferecer a ele. _ Está velho, mas ajuda a se manter aquecido.

Ele pegou o pano da minha mão e eu me virei, me deitando de costas para ele para que ele não visse as lágrimas que, mesmo contra a minha vontade, escorriam dos meus olhos.

Ouvi enquanto ele se movia, imaginando que estivesse tentado encontrar uma boa posição para dormir, e depois havia apenas o silêncio.

Estou em dívida com você, Caleb. ele disse, baixinho, no escuro.

Não me voltei para responder, porque, na verdade, eu nem sabia o que isso queria dizer.

Como ele poderia ter uma dívida comigo só porque lhe dei uma maçã?

Então, apenas suspirei e fechei os meus olhos para tentar dormir, porque a noite era preciso sair e revirar as lixeiras em busca de algo que me ajudasse a sobreviver.

Porque a única coisa que eu tinha de mais valioso naquele momento, era a minha própria vida.

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