Três

Como ela está hoje? perguntei para o médico assim que cheguei no corredor do quarto onde minha avó estava internada e me deparei com ele, que tinha acabado de sair do quarto.

Boa noite, senhor Archer. O médico me cumprimentou, educadamente.

Estava tão preocupado que acabei me esquecendo das boas maneiras.

Se Jane visse isso, teria certamente me dado um bom puxão de orelha, já que ela foi a responsável por minha educação, todos aqueles anos desde que meus pais sofreram aquele acidente.

Boa noite, Dr. Parker. Me desculpe a falta de educação, estou preocupado com a minha avó. expliquei.

Ele me deu um sorriso compreensivo, antes de suspirar.

Não se preocupe, eu entendo perfeitamente. ele disse. _ O quadro de sua avó não sofreu nenhuma alteração. Mas será necessário que ela permaneça no hospital, Sr. Archer. Ela está muito fraca e necessita de cuidados constantes.

Não posso levá-la para casa e cuidar dela? eu quis saber, ainda mais preocupado.

Fazia dois anos que eu não morava mais com a Jane, pois tinha me mudado para o antigo Flat dos meus pais, sobre o Cassino.

De lá, ficava mais fácil para mim tomar conta de tudo sem incomodar minha avó com os meus horários loucos.

Mas, talvez, se eu tivesse permanecido com ela, teria notado que estava ficando doente e teríamos encontrado uma solução a tempo.

_Sinto muito, senhor Archer. Ela está sendo uma mulher forte, mas ainda depende de cuidados constantes. Aqui, temos enfermeiras que a adoram e que podem tomar conta dela a todo instante.

Assenti, pois sabia que ele tinha razão.

Jane sempre fora uma mulher forte e eu sentia orgulho de ser seu neto, mesmo que apenas adotivo.

Eu nunca me esqueci disso, apesar de Jane viver falando que me considerava seu neto de sangue.

Às vezes ela vinha com um papo estranho de que o destino havia nos unido e algumas outras coisas em que eu não acreditava, pois éramos tão parecidos como se eu realmente pertencesse aquela família.

Mas agora, ela estava doente e fraca e lá no fundo, eu sentia que o meu tempo com ela estava perto do fim.

A qualquer momento ela partiria e me deixaria sozinho no mundo... Novamente.

Tudo bem. eu disse, desejando encerrar aquela conversa, afinal, ele era o médico e sabia o que era melhor para a sua paciente. _Posso vê-la?

O Doutor Parker olhou para o seu relógio de pulso, fazendo uma careta.

Senhor Archer, o horário de visitas termina em dez minutos. ele avisou. _Por favor, seja breve. Ela ainda precisa tomar as medicações e descansar um pouco.

Assenti.

_Prometo que serei breve.

O médico concordou e me afastei em direção a porta do quarto onde ela estava, respirando fundo para me recompor.

Jane odiava quando eu entrava naquele quarto com uma expressão preocupada, porque ela havia dito várias e várias vezes que ainda não era a sua hora, então não havia porque eu me preocupar.

Ela só partiria depois que tivesse certeza que eu teria alguém ao meu lado, o que era praticamente impossível, porque eu não me relacionava com ninguém de maneira sentimental.

Na verdade, fazia algum tempo que não me encontrava com uma mulher, nem mesmo para uma única noite de sexo quente.

Desde que Jane tinha piorado.

Parei em frente a porta e não pude deixar de sorrir ao ver o que estava acontecendo lá dentro do quarto.

Eu venci, de novo! Jane dizia a uma das enfermeiras, que bufou, inconformada, ao abaixar as suas cartas.

Isso não é justo! A senhora sempre vence! ela resmungou, começando a juntar as cartas.

Foi nesse momento que Jane percebeu a minha presença na porta do quarto e sorriu para mim, marota.

Senhora Archer, acho que o médico não deve estar a par dessas partidas clandestinas de cartas aqui dentro, com a enfermeira. eu disse, entrando no quarto.

A enfermeira olhou assustada para mim, recolhendo as cartas rapidamente.

_Desculpe, senhor Archer, mas...

Não culpe a menina, ela só estava tentando entreter uma velha moribunda. Jane retrucou, batendo de leve na mão da garota, que sorriu para ela mais uma vez antes de se levantar da cadeira ao lado da cama, onde estava sentada.

Eu vou deixar vocês dois a sós e volto em breve para te dar a medicação. ela avisou, pegando sua prancheta antes de se encaminhar para a porta.

Seu olhar se encontrou com o meu brevemente, antes que a moça corasse e os baixasse para o chão imediatamente.

Obrigado, enfermeira Alice. eu disse, pegando-a de surpresa.

Ela olhou para mim, espantada.

Oh, eu... Não é nada, senhor Archer. ela disse, gaguejando, antes de sair do quarto.

Quando ergui meus olhos, Jane olhava para mim, com um enorme sorriso nos lábios.

Está vendo? Com esse corpão e esse charme, você pode ter a garota que quiser e mesmo assim fica aí, teimando em não se casar! ela ralhou, enquanto eu me aproximava da cama e tomava o lugar que a enfermeira tinha deixado vazio.

Suspirei.

Sabia que ela ia voltar com aquele assunto, mais cedo ou mais tarde.

Se eu posso ter a mulher que eu quiser, como a senhora está dizendo, então, por que eu haveria de me casar? Posso aproveitar esse corpão e esse charme para ter várias mulheres, sem envolver casamento na história. respondi, sabendo que ela ficaria brava comigo.

Mas, ao invés de ficar brava e ralhar comigo, como ela sempre fazia, Jane apenas suspirou e baixou os olhos para as próprias mãos.

Caleb, eu não estarei aqui para sempre e não pode me culpar por desejar vê-lo feliz, com uma esposa e filhos. ela disse, fazendo meu coração se apertar dentro do peito. _Todo mundo precisa conhecer o amor, assim como aconteceu comigo e depois, com seu pai.

E quem disse que eu não conheci o amor? eu devolvi, pegando sua mão carinhosamente. _ Conheci o amor no pouco tempo que pude passar ao lado dos meus pais e também ao seu lado, quando cuidou de mim depois que eles morreram.

É diferente, e você sabe muito bem do que estou falando! ela resmungou. _Você precisa criar raízes, meu neto.

Olhei para o relógio, ansioso para fugir daquele assunto.

Por favor, se dê uma chance. ela pediu, apertando a minha mão e me fazendo olhar para ela novamente. _ Esse é o meu último desejo antes de partir, Caleb. Depois, poderei ir, tranquila, sabendo que você não estará mais sozinho.

Novamente senti aquele aperto no meu peito.

Não me lembrava a última vez que tinha sentido aquilo.

Ah, sim. Quando recebemos a notícia de que meus pais tinham sofrido um acidente e não voltariam mais para casa.

Me lembro de ter sentido uma dor terrível em meu peito, mas não chorei.

A última vez que chorei, foi naquele dia, quando Judith e Herry Archer me levaram para sua casa, depois que fui levado ao orfanato, quando conseguiram me pegar.

Michel e eu tínhamos entrado nos fundos de um restaurante, a fim de tentar pegar um pouco de comida.

Isso foi duas noites depois que o casal esteve no prédio onde nos escondíamos, pela segunda vez.

Na primeira, eles não perceberam a nossa presença, e foi quando conheci Michel.

Ele não foi embora e permanecemos juntos.

Na segunda vez que voltaram, Michel tinha saído e eu estava sozinho.

O casal tinha retornado com alguns trabalhadores, que se espalharam pelo local, medindo e fazendo anotações.

Fiquei escondido pelo máximo de tempo possível, apenas observando os dois.

Ela era tão linda...

Seus cabelos pareciam os cabelos de um anjo e o seu sorriso...

Mas eu não era o único que admirava o seu sorriso.

O homem, que eu percebi ser o seu marido, a olhava de maneira amorosa e sorria de volta toda vez que ela sorria para ele.

Nesse dia, senti as lágrimas escorrendo de meus olhos novamente, diante da percepção que jamais teria alguém olhando para mim daquela maneira, novamente.

Só a minha mãe tinha me olhado daquele jeito, e ela não estava mais ali.

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Comments

Joselma Trajano

Joselma Trajano

eu tô gostando de lê , a história dele e sofrida demais,

2025-01-27

0

Sara Arimatea

Sara Arimatea

Essa história é forte viu! Eita que tem emoção de mais pela frente.

2024-11-26

2

Livia Marina Romao Salmazo

Livia Marina Romao Salmazo

Nossa

2024-10-30

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