O homem tinha se afastado por um momento, quando alguém o chamou, e eu fiquei ali, olhando a linda mulher tentando limpar a poeira de cima de uma mesa velha antes de estender um pano sobre ela.
Depois, ela pegou uma sacola grande, que eu não tinha percebido que estava ali, até aquele momento, e foi tirando algumas coisas lá de dentro.
Comida! Eu constatei, quando estiquei o meu pescoço um pouco mais para tentar enxergar.
Não havia luz no prédio velho e a pouca claridade que entrava, vinha das portas escancaradas e das frestas entre as ripas de madeira que cobriam as janelas.
Por isso eu permanecia quieto onde estava, em um canto onde a claridade não me alcançava, para que eu não fosse descoberto.
Michel havia dito para ficar quieto se alguém entrasse ali novamente, caso contrario eu seria levado.
Para onde, ele não disse, mas eu não estava a fim de descobrir.
Não estava mais sozinho e o Michel parecia ser um garoto legal, apesar de me assustar as vezes, enquanto encarava a parede sem piscar, como se estivesse perdido em seus pensamentos.
Eu nada sabia da vida dele, mas não me importava, desde que permanecêssemos juntos.
A mulher terminou de tirar as coisas de dentro da sacola e ajeitou tudo sobre a mesa improvisada.
Além dos potes de comida, também havia uma garrafa com o que eu imaginava ser refresco.
Minha boca salivou diante daquele banquete.
Tirando as frutas roubadas das bancas, a única coisa que eu tinha comido desde que minha mãe me deixou ali, foram baguetes de pão, porque era nojento revirar as lixeiras em busca de restos de comida.
Ouvi alguém chamando por ela e a moça deixou tudo ali em cima, antes de se afastar.
Fiquei atento, tentando ouvir se ela estava voltando, mas só havia o silêncio.
Era um prédio grande, então com certeza todos teriam ido para os fundos.
Saí do meu esconderijo lentamente, tomando todo o cuidado para não fazer barulho, e me aproximei da mesa.
Tinha tanta comida...
Minha barriga roncou enquanto eu olhava para todas aquelas coisas gostosas.
Devo ter ficado ali, observando aquela comida, me decidindo se deveria ou não pegar alguma coisa.
Por isso não ouvi quando ela voltou.
Oi... ela disse e eu pulei, assustado. _ Como você se chama?
Ela se aproximou um passo e eu recuei dois, temendo que ela jogasse alguma coisa em mim, como costumavam fazer quando me viam na rua.
Por favor, não tenha medo. ela disse, tranquila. _ Onde está sua mãe? Você estava aqui sozinho?
Senti minhas costas batendo de encontro a parede.
Não havia mais para onde ir e a moça continuava a olhar para mim com aqueles olhos que pareciam o céu.
Eu não vou machucar você. ela disse, parando de se aproximar e ainda me olhando, com o cenho franzido. _ Acho que deve estar com fome...
Observei enquanto ela se virava para a mesa de comida e pegava uma baguete de pão. Então ela colocou algumas coisas dentro do pão e depois o colocou em um prato descartável antes de se voltar para mim.
Pegue. ela pediu, estendendo o sanduíche para mim. _ Por favor, você deve estar faminto.
Hesitei por mais um momento, então minha barriga roncou alto.
Olhei para ela, constrangido, antes de finalmente criar coragem e dar um passo em sua direção.
Fiquei a uma distância de um braço, preparado para correr, se fosse necessário, e estendi minha mão para pegar o sanduíche.
Isso... ela disse, voltando a sorrir.
Agora que eu estava mais perto, podia sentir o cheiro do seu perfume.
Eu me chamo Judith, e você? ela quis saber, me observando, enquanto eu dava uma enorme mordida no sanduíche.
Caleb. respondi, após engolir e morder mais um bom pedaço.
Ela sorriu ainda mais, antes de se voltar para a mesa e abrir a garrafa de suco.
Observei enquanto ela colocava uma boa porção em um copo descartável antes de se voltar para mim novamente.
Beba um pouco de suco e coma maia devagar, pequenino. ela disse, estendendo o copo para mim. _ Tem muita comida, não precisa comer com pressa.
Assenti, pegando o copo de suas mãos e tomando um grande gole.
Você estava aqui sozinho? ela perguntou e isso me fez parar de comer no mesmo instante e olhar para o meu sanduíche, enquanto me lembrava do Michel.
Eu já tinha comido metade do sanduíche, mas poderia guardar a outra metade para ele.
Coloquei o que sobrou do sanduíche no meu bolso, sem responder a sua pergunta.
Ainda não estava certo se poderia confiar naquela mulher, apesar de ela parecer um anjo.
Por isso, preferi não falar sobre o Michel e apenas fiquei em silêncio.
Onde está a sua família? ela perguntou, se abaixando na minha frente, a alguns passos de distância.
Olhei para o chão, triste.
Eu não tenho. respondi.
O sorriso dela foi se desfazendo lentamente e isso me incomodou um pouco.
Ela era a primeira pessoa a olhar para mim e falar comigo sem nojo e raiva.
E a sua mãe? ela perguntou baixinho.
Senti meus olhos se encherem de lágrimas quando ela mencionou minha mãe, então eu ergui meus olhos para ela novamente.
E reparei no homem que estava com ela antes, vindo em nossa direção e olhando diretamente para mim.
Me virei imediatamente para correr e não parei, nem mesmo quando a ouvi chamando o meu nome.
Andei sem rumo pelas ruas da cidade, me mantendo longe do prédio até que todas aquelas pessoas fossem embora.
E quando retornei, tudo estava escuro novamente.
Michel já esperava por mim em nosso cantinho, com nossas camas improvisadas com trapos velhos e um pacote em seu colo.
Hei, onde você estava? ele perguntou, assim que me sentei ao seu lado, observando o pacote em seu colo.
Estive andando por aí. eu disse. O que é isso? perguntei.
Michel sorriu, como nunca o vi fazendo.
Alguém esqueceu essa sacola cheia de comida lá na entrada do prédio. ele respondeu. _ Deve ser do pessoal que esteve aqui mais cedo.
Sim, deve ser... comentei apenas, sem contar do meu encontro a linda mulher mais cedo.
Michel ficaria uma fera se soubesse que eu tinha falado com uma estranha.
Então me lembrei do sanduíche que tinha guardado no meu bolso.
Não seria mais necessário entregá-lo para ele, já que a bondosa mulher havia deixado uma sacola repleta de comida.
Vamos ter que encontrar outro lugar para ficar. Michel disse, chamando a minha atenção.
_ Por quê?
Michel suspirou.
Compraram esse prédio e pelo que entendi, vão construir um cassino aqui. ele respondeu. _ Aquele pessoal que esteve aqui mais cedo, não é nem a metade do que virá depois. Não podemos mais ficar aqui.
De repente, me senti ainda mais triste.
Aquele lugar era horrível, repleto de roedores e baratas, e era muito escuro.
Mas era onde eu vivia desde que minha mãe tinha me deixado ali, na frente do prédio velho.
Eu ia sentir falta daquele lugar, pensei.
No dia seguinte, Michel e eu fomos perseguidos pela polícia, após tentar pegar um pouco de comida nos fundos de um restaurante.
Íamos nos mudar aquela noite e procurar outro lugar para ficar, mas fomos pegos e corremos feito loucos.
Michel era mais velho e mais alto, por isso ele estava bem a frente.
Caleb, corre! Michel gritou, e eu juro que me esforcei para correr mais rápido.
Então eu acabei tropeçando e ninguém minuto seguinte eu sentia um par de mãos me segurando e me tirando do chão.
Agora já chega, moleque. um dos policiais disse, enquanto eu me debatia, tentando me soltar. _ Já estamos cansados de todas as reclamações que recebemos de você e do seu amiguinho.
Por favor, me deixe ir... pedi, tentando me virar para ver se Michel tinha conseguido escapar.
Vamos levar você para um bom lugar. ele disse, me levando até a viatura da polícia e me colocando lá dentro. _ Lugar de criança é na escola e não na rua.
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Atualizado até capítulo 103
Comments
Tania Cassia
que truste sem pai e sem mãe , sozinho no mundo
2025-01-01
0
Belinha Tavares
comecei lê e chorei orrores lindo
2024-07-03
5
Rosiane Alves
Coitados!!!
2024-06-04
1