Capítulo 10

O Lucas seguiu tentando acalma-la e eles sentaram num dos bancos próximo ao lago.

Julia: Eu... vou entender se não quiser mais sair comigo.

Lucas: Desistiu dos nossos filhos? -rindo fraco e pegando na sua mão.- Não foi um primeiro encontro comum realmente mas... eu gostei muito.

Julia: Lucas! -rindo e tocando o rosto levemente machucado dele.- Ele é um idiota, não me deixa em paz e apesar de tentar...

Lucas: Te garanto que ele vai. -beijando a mão que ela acariciava seu rosto.- Isso agora é um assunto meu.

Ela sentiu seu coração acelerar, algumas lágrimas voltaram a escorrer mas não era de medo nem de tristeza, ela sentia algo inexplicável ao olhar nos olhos do Lucas e ouvir tudo aquilo a fez ter certeza, em sua mente romântica, que ele era o homem da sua vida. Ele não entendeu as lágrimas mas antes que perguntasse ela selou seus lábios nos dele iniciando um beijo lento e calmo. Ele segurou seu rosto e durante o beijo enxugou suas lágrimas, sua língua pediu passagem e a Júlia logo a permitiu invadir sua boca. Ele parou beijo lentamente e sorriu.

Julia: Você me acha doida? -rindo e deitando sua cabeça no peitoral dele enquanto ele passava seu braço em volta do pescoço dela e entrelaçava seus dedos nos dela.

Lucas: Acho. -rindo.- E estou gostando bastante de cada segundo aqui com você. Ele já fez isso alguma outra vez?

Julia: Terminei com ele recentemente definitvamente. Todas as vezes que tentei terminar ele meio que me obrigava a voltar mas... quando voltei das férias, eu reencontrei você no ônibus... eu decidi que não iria permitir que ele atrapalhasse o que eu estava querendo de verdade.

Lucas: Vou te proteger. -beijando o topo da sua cabeça.

Depois de um tempo em silêncio eles voltaram a falar como num primeiro encontro comum, família, trabalho e se divertiram por ali. A Marina estava ajudando a fechar tudo quando o Lucas entrou com a Júlia.

Marina: Ju! Lucas?! -sorrindo.- Espera, você é o Lucas do ônibus? -rindo e os abraçando.

Lucas: Sim. -rindo e beijando sua testa.

Julia: Se conhecem?!

Marina: Ele é o Lucas que te falei, que conseguiu esse emprego pra mim. Quase meu irmão.

Lucas: Quase? -arqueando a sombrancelha.

Nikolai: Nina, eu consegui achar... -parando ao ver o Lucas e a Júlia.- Tudo bem? Estamos fechados. -rindo.

Lucas: Eu sei, Niki. Vim apresentar as duas.

Marina: Julia é a minha amiga que dividimos quarto na universidade.

Julia: Como vai?! -estendendo a mão pro Nikolai.

Nikolai: Bem. -olhando pra mão dela e depois de muito pensar ele apertou a mão dela rapidamente.- Vou terminar lá dentro, se quiser ir embora, pode ir. Com licença. -saindo rapidamente de lá.

Marina: O que deu nele?

Lucas: Não sei. -disse confuso.- Eu vou dar uma volta e a Júlia vai dormir na casa do Gael, primo dela ou sobrinho. -rindo.

Marina: Você tá virado?

Lucas: Eu estou bem.

Marina: Você não dormiu ainda?

Lucas: Farei isso em breve. Não se preocupe. -beijando a testa da Marina.

Julia: Você conseguiu falar com o Gael?!

Marina: Não, porque? Devo me preocupar? Ele tinha dito que hoje é um dia ruim e...

Julia: É, geralmente ele nem trabalha mas precisou fazer isso na parte da manhã. Tentei ligar pra ele mas ele não atendeu.

Marina: O que tem hoje pra ser tão ruim?

Julia: Ah, isso eu acho que ele vai te contar em breve.

Marina: Você pode me ligar quando chegar lá pra eu falar com ele?

Julia: Farei isso sim. -abraçando a Marina.- Vai dormir lá na universidade?

Marina: Acho que não, estou pensando em dormir na casa do Lucas, vou contar pro meu pai hoje sobre tudo isso e... não vai ser fácil.

Julia: Boa sorte.

Lucas: Vai dar tudo certo. -sorrindo.

Eles se despediram e eles seguiram pra terminar o passeio. A Marina terminou suas obrigações e foi até o Nikolai.

Marina: Você está bem?

Nikolai: Tratei mal sua amiga né? -terminando o que estava fazendo e olhando pra Marina.

Marina: Posso saber o que aconteceu?

Nikolai: Ciúmes.

Marina: Ciúmes?

Nikolai: Acho que minhas brincadeiras se tornaram verdades em mim. -baixando a cabeça.

Marina: Sou meio lerda, se puder desenhar...

Nikolai: Eu gosto do Lucas -sussurrou.- ... eu acho que gosto... sei lá.

Marina: O Lucas? Você... você gosta de homens?

Nikolai: Shiu! -puxando a Marina e fechando a porta da cozinha.- Não fala alto. -sussurrou.

Marina: Desculpa, isso me pegou de surpresa... você então...

Nikolai: É... eu sou... -suspirou.- E só ele sabe disso e agora você. -olhando o celular.

Marina: O que houve?

Nikolai: O Lucas perguntou se estou bem...

Marina: O que acha de sairmos um pouco?

Nikolai: Melhor do que voltar pra casa e fingir que está tudo bem.

Marina: Mas você tem namorada, então gosta dos dois?

Nikolai: É preciso fazer sacrifícios na vida pra ser aceito numa sociedade como essa que vivemos atualmente. -saindo da cozinha com a Marina e batendo na porta da sala de sua mãe.- Mãe, vou dar uma volta com a Nina e depois vou pra casa.

Ysma: Tudo bem, eu devo chegar tarde em casa. A Diana ficou de dormir lá.

Nikolai: Ah, que ótimo. -fechando os olhos e mordendo o lábio.- Ate já.

Ysma: Até, meu amor. Tchau, querida!

Marina: Tchau! -saindo de lá com o Nikolai.- Você finge então? Porque?

Nikolai: Depois que você escuta do seu pai que gays mereciam morrer e sua mãe fica calada... você entende que... pra eles você seria no mínimo a vergonha da família. Então prefiro...

Marina: Vai fingir pro resto da vida por causa deles? Vai viver infeliz sem amar por...

Nikolai: Prioridades. -sorrindo fraco a abraçando a Marina de lado enquanto caminhavam e a Marina visualizou o Gael que estava indo na direção deles e paralisou ao ver os dois.- Esse é o cliente mais gato que temos... por ele eu sou capaz até de me assumir... -rindo.

Marina: Gael. -sorrindo.- Que surpresa... tentei falar com você...

Nikolai: Se conhecem?! -disse animado num sussurro no ouvido da Marina enquanto o Gael chegou bem perto deles.

Gael: Hum. -observando os dois e tentando disfarçar o que sentiu com a cena.

Nikolai: Estamos indo fazer algo legal... quer nos acompanhar?

Gael: Ah! Não, não vou atrapalhar vocês... Eu nem deveria ter vindo. Divirtam-se. -respirando fundo com seu semblante péssimo e saindo de perto deles.

Marina: Espera! -tentando ir atrás dele mas ele subiu rapidamente na moto e saiu rapidamente dali.- Pronto, agora ele entendeu tudo errado.

Nikolai: Vocês estão juntos?

Marina: Estamos... nos conhecendo... estávamos... não sei mais. Ele estava péssimo.

Nikolai: Foi mal, eu tentei ser mais educado do que fui com sua amiga e...

Marina: Tudo bem. -sorrindo fraco.- Não foi de propósito. -avisando pra Júlia o que aconteceu e sentando num banco ali próximo.

Nikolai: Estou péssimo agora. Desculpe, se você quiser eu falo pra ele que... sou gay e...

Marina: Não, imagina.

Nikolai: Sem problemas. Meus pais não ficando sabendo eu não me importo que outras pessoas assim saibam. Não falo pra ninguém proximo porque convivem com meus pais e podem soltar isso.

Marina: Entendi, não se preocupe que eles não irão saber.

Nikolai: Está liberada pra contar pro seu boy gostoso. -sorrindo.

Marina: Então a Diana não faz ideia? Como faz pra... ficar com ela? Já chegou a... dormir?

Nikolai: É a parte mais difícil... acho que meus pais desconfiam e ao invés de fazer algo positivo ou falar comigo... eles preferem me jogar nisso.

Marina: E você sempre soube ou...

Nikolai: Meu pai me obrigou a ficar com uma... garota de programa quando eu tinha 11 anos. -suspirando.- Aquela mulher era louca... foi praticamente uma tortura. Eu tinha minhas dúvidas mas depois daquilo foi certeza que não era isso que eu gostava. Eu tentei, me esforcei e... -continuando com a voz embargada.- Acho que ainda tento ser hetero... -com os olhos marejados.

Marina: Não tenho ideia do tamanho da tortura diária que deve ser pra você. -enxugando as lágrimas dele.- Bom, agora você pode contar comigo. O que vai fazer hoje?!

Nikolai: Se eu inventar mais uma desculpa pra Diana... não sei a reação dela... mas eu vou... tentar mais uma vez entrar no personagem hetero perfeito. -revirando os olhos e beijando a mão da Marina.- Você é muito especial.

Marina: Você que é... uma pena que tenha que fingir algo assim. Aqui as coisas são meio diferentes de onde eu morava mas se precisar... estarei aqui pra te apoiar no que resolver.

Nikolai: Nina, contar isso pros meus pais não é uma opção e nunca será. -sorrindo fraco.- Quer que eu te leve de carro?

Marina: Quero ir pra casa do Gael tentar... conversar.

Nikolai: Te levar pioraria tudo?

Marina: Talvez. -rindo.- Nunca tive e nem senti nada parecido... nem sei como agir ou conversar...

Nikolai: Siga o que seu coração. Você é livre pra isso então use e abuse dessa oportunidade. -abraçando-a.

Marina: Você também.

A Marina se comunicou com a Júlia e logo o carro por aplicativo chegou e ela foi pro endereço que a Júlia passou pra ela. Ela chegou no prédio e ligou pro Gael que não atendeu então falou novamente com a Júlia.

~ Whatsapp on ~

Julia: Ele está trancado no quarto desde que chegou.

Marina: Eu só vou subir quando ele me permitir.

Julia: Está começando a chover, não seja teimosa, eu já abri o portão, sobe.

Marina: Não vou. Ele vai ter que permitir, não saiu daqui sem falar com ele.

~ Whatsapp off ~

Julia: Ga! -batendo na porta.- Eu sei que esse dia... não é fácil pra vocês... Também não é pra mim. A Nina está lá embaixo e quer muito falar com você, começou a chover e ela só vai subir de você autorizar.

Gael: Cadê o Nikolai? Não está abracadinho com ela?

Julia: Olha, nunca te vi com ciúme assim. É até fofinho mas ela tá na chuva, ao menos diz que ela pode subir. Aparece na janela... sei lá.

Ele enxugou suas lágrimas e com seu rosto inchado, ao sair daquele momento notou como a chuva já estava forte e começou a trovejar.

Gael: Nina! -procurando ela mas seu olhar não a achava com tanta chuva e o som dos trovões talvez não o permitia ouvi-la.- Nina! -gritou e saiu do quarto.

Julia: Ela tem pavor de trovão.

Gael: Merd*! -descendo pelas escadas os 6 andares sem esperar o elevador e saindo do prédio. - Nina?! -gritou enquanto procurava ela e a avistou encolhida embaixo de uma marquise.- Graças a Deus. -indo até ela e a abraçando e ela já estava toda molhada.- Você é doida?! Um temporal desses...

Marina: Queria te explicar o que viu. -soluçando e se encolhendo no corpo dele e se assustando com mais um trovão.

Gael: Está tudo bem. -beijando o topo da sua cabeça.- Eu só estou num dia pior do que costuma ser. Desculpa! -apertando-a em seus braços.- Vamos pra minha casa?!

Ela agarrou o corpo dele cravando suas unhas e balançou a cabeça positivamente. Ele a cobriu com o seu corpo para tentar protege-la da chuva e eles entraram no prédio.

Marina: Não aconteceu nada entre mim e o Nikolai.

Gael: Desculpa, eu... talvez tenha sido um idiota... num misto de sentimentos novos e inesperados pra mim.

Marina: O que tem esse dia que te deixa tão perturbado? -ficando mais calma e tocando sua barba molhada.

Gael: Eu tinha uma irmã... tenho... -mordendo o lábio inferior.- Hoje é o dia de... aniversário de morte?! Não sei como chamam pra você esse dia. Fazem alguns anos... que ela morreu e a culpa é minha. -entrando no elevador com ela.

Marina: Calma, como assim?! A culpa é sua? -disse confusa.

Gael: Uma pessima e longa história. Eu não queria te contar isso assim... Eu estava indo te ver porque... pela primeira vez eu... queria tentar fazer esse dia ser menos doloroso mas...

Marina: Sinto muito. -Abraçando-o forte novamente.- Eu estou aqui agora.

Gael: Obrigado! -apertando-a contra seu corpo.

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