Capítulo 03

De pé diante daquela vista, Felipe virou-se para a esquerda, onde os raios solares tocavam a relva molhada e as flores desabrochavam. Sentou-se então sobre uma toalha na grama molhada, admirando aquela bela visão. Começou a relembrar do passado, porém suas memórias eram vagas. "Como pude perder as memórias de metade da minha vida assim?" pensava Felipe, tentando encontrar respostas para a dúvida que o atormentava. O reencontro com sua amiga de infância o fez questionar se suas lembranças atuais eram reais ou apenas artificiais. Surgiram pensamentos que o cercavam e incertezas que o perseguiam, gerando diversas perguntas sem respostas.

Levantando-se de onde estava sentado, preparou-se para partir, mas notou algo preso em sua blusa. Por impulso, olhou para trás e viu Lilina segurando sua camisa com a cabeça baixa. Sem trocarem palavras, ela simplesmente o abraçou e ficaram em silêncio, imersos no abraço. "Você já estava aqui ou acabou de chegar?" perguntou ele. Quando Lilina segurou sua camisa, ela apenas acenou negativamente com a cabeça. Aproveitando o momento, ela abraçou Felipe sem dizer uma palavra, seu rosto mostrava tristeza e lágrimas começaram a escorrer.

Felipe abraçou-a também e tentou consolá-la, dizendo que tudo ficaria bem. Lilina ergueu o rosto, as lágrimas rolando por suas bochechas, e beijou Felipe, que ficou surpreso com a ação. Ele tentou afastar-se, mas Lilina não o deixou. "Por favor, não se afaste de mim de novo", implorou ela. Segurando a mão dele, continuou: "Eu senti muito a sua falta. Você nem imagina o quanto eu orei para que Deus me desse uma chance de te reencontrar. E finalmente esse dia chegou. Não quero que você desapareça de novo... Não quero que você suma como desapareceu no colegial..." Ela continuou, chorando e tentando se expressar: "Você me abandonou! Fiquei sozinha, senti sua falta. Tentei ir à sua casa, mas você tinha se mudado para outro país. Me senti sozinha todo esse tempo, até te reencontrar aqui. Por favor, eu te imploro, não suma de novo." Lilina soltou-se do abraço e partiu, deixando Felipe atônito.

Ele começou a dar passos lentos em direção a sua casa, pensamentos tumultuando sua mente. Distraído, atravessou um cruzamento sem perceber que o sinal estava verde para os carros. Ao tentar atravessar, foi atropelado por um carro. Luana, que estava na rua naquele momento, correu para ajudá-lo. O motorista chamou o Samu, que chegou após um tempo e levou Felipe para o hospital. Lá, ele entrou em coma.

Quando finalmente acordou, Felipe estava na cama do hospital. Vendo sua mãe conversando com o médico, tentou pegar na mão dela para obter respostas, mas sem sucesso, já que ela não o percebia. Ele saiu correndo para fora do hospital, mas, ao tentar sair, foi puxado de volta para o quarto. Olhou para seu corpo ferido e para a máquina conectada a ele, começando a compreender a situação. "Bom, morto eu não estou, acredito que não. Aquela máquina está mostrando que meu coração está batendo. Então, o que aconteceu... por que estou aqui?" ponderou Felipe, tentando relembrar o que tinha ocorrido, sem sucesso.

Lilina entrou no quarto, mas foi barrada por Luana ao tentar se aproximar da cama. As palavras de Luana foram carregadas de raiva, culpando Lilina pelo acidente. A discussão acirrada entre elas trouxe à tona lembranças de um evento ocorrido seis anos antes, quando algo similar já havia acontecido, deixando Lilina triste e sozinha.

Flashback...

Seis anos antes:

Felipe se aproximou de Lilina, que estava sentada no banco do parque. "Ei! Com licença, você quer brincar com a gente?" perguntou ele, enquanto Luana também se juntava a eles. Lilina aceitou o convite e, mesmo envergonhada, passou a tarde brincando com eles. Ao anoitecer, foram para casa.

Na manhã seguinte, no seu primeiro dia na nova escola, Felipe reconheceu as amigas que fizera no parque. À tarde, uma chuva torrencial os fez se abrigar na marquise da escola, enquanto Luana ia buscar um guarda-chuva. Felipe e Lilina ficaram sozinhos, e Lilina se declarou para ele. Assustado e sem entender, Felipe fugiu repentinamente, correndo pela rua e sendo atropelado por um carro.

Felipe foi socorrido pelo Samu e levado para o hospital, onde seus ferimentos foram tratados. Contudo, ele perdeu suas memórias dos últimos doze anos. Sua mãe decidiu mudar de endereço e escola para recomeçar.

Fim do flashback...

Ao acordar no hospital, Felipe se deu conta de sua situação. Ele percebeu que tinha perdido muitas memórias ao longo do tempo, mas não entendia o motivo. Observou Lilina entrar no quarto, mas antes que ela pudesse se aproximar, Luana a impediu. A discussão acirrada trouxe à tona lembranças de um evento semelhante ocorrido seis anos antes.

Lilina, sentada no banco da praça, observava o parque e as crianças brincando, rememorando os eventos de seis anos atrás...

Havia se passado seis anos desde então:

No dia em que se declarou para Felipe, Lilina, com o rosto corado, confessou seus sentimentos. No entanto, Felipe, assustado e sem entender, fugiu precipitadamente. Correu pela rua e acabou sendo atropelado por um carro desgovernado. Luana, que testemunhou a cena, desesperou-se e correu para ajudá-lo.

O Samu socorreu Felipe e o levou ao hospital, onde ele foi tratado por seus ferimentos. No entanto, ele perdeu todas as memórias dos últimos doze anos de sua vida. Sua mãe, preocupada, decidiu mudar de endereço e de escola, na esperança de ajudá-lo a recomeçar e superar essa difícil situação.

Ao acordar no hospital, Felipe finalmente compreendeu a extensão do que havia acontecido. Notou a máquina conectada a seu corpo e, ao tentar interagir com o ambiente, percebeu que ninguém o enxergava ou ouvia. Por mais que tentasse, suas tentativas de comunicação foram em vão.

A memória das palavras de Lilina ecoava em sua mente enquanto ele tentava desesperadamente encontrar uma maneira de se comunicar. "Por favor, não se afaste de mim de novo..." repetia em sua mente, refletindo sobre sua fuga anterior. Ele se culpava por não ter compreendido os sentimentos dela naquele momento.

A presença de Lilina no hospital trouxe uma mistura de emoções. Ela tentava se aproximar dele, mas era impedida por Luana, que expressava sua raiva. A discussão entre as duas meninas ressoava como um eco do passado. Lilina recordou o evento similar ocorrido seis anos antes, quando algo parecido já havia acontecido, deixando-a triste e solitária.

Enquanto observava a discussão, Felipe sentiu um turbilhão de sentimentos. A confusão, a perda de memória e as emoções intensas o sobrecarregavam. Ele desejava que Lilina o visse, que ela soubesse que ele estava ali, tentando se comunicar. Mas a barreira invisível entre eles permanecia intransponível.

As lembranças de momentos passados continuavam a invadir sua mente. Ele pensou em como havia se aproximado de Lilina e Luana no parque, em como as brincadeiras e a amizade haviam florescido. Lembrava-se de Lilina admitindo seus sentimentos, e o impacto que isso teve nele.

Um suspiro pesado escapou de Felipe. Ele ansiava por um meio de romper essa barreira invisível e se fazer presente para Lilina. Ansejava dizer a ela que agora compreendia, que lamentava por sua fuga anterior e que a reconhecia como alguém que tinha sido importante em sua vida.

No entanto, mesmo enquanto esses pensamentos percorriam sua mente, a incapacidade de se comunicar o frustrava. Ele estava preso, um espectador de sua própria vida, observando os eventos se desdobrarem sem ter voz ou influência. As lágrimas de impotência encheram seus olhos enquanto ele lutava contra a sensação de ser invisível e esquecido.

E assim, entre memórias fragmentadas, sentimentos intensos e a angústia de não poder interagir, Felipe permanecia preso em um limbo de isolamento. Sua determinação de se comunicar e romper essa barreira invisível continuava a queimar, mantendo viva a esperança de que, um dia, ele seria novamente ouvido e visto por aqueles que significavam tanto para ele.

Enquanto Felipe estava imerso em suas reflexões e lutas internas, a vida seguia fora de seu alcance. Luana, preocupada com seu amigo, mantinha-se ao seu lado no hospital, enquanto Lilina lutava contra as próprias emoções. A ansiedade, a tristeza e o desejo de se fazer presente na vida de Felipe a consumiam.

Os médicos continuavam a monitorar o estado de saúde de Felipe, tentando entender as razões por trás de seu coma profundo e das perdas de memória. Sua mãe permanecia a seu lado, compartilhando histórias e lembranças de tempos passados na esperança de que algo pudesse acordá-lo dessa situação.

No entanto, a barreira invisível que separava Felipe do mundo exterior persistia, deixando-o isolado e incapaz de interagir. Ele assistia impotente enquanto as pessoas se aproximavam dele, mas sem sucesso em perceber sua presença. Cada vez mais frustrado, ele tentava encontrar uma maneira de transmitir suas emoções, seus arrependimentos e seu desejo de estar presente.

As lembranças dos momentos felizes compartilhados com Lilina e Luana eram como uma luz que o guiava. Ele recordava os dias no parque, as risadas, os desafios e as conversas intermináveis. As palavras não ditas, as emoções não expressas e as promessas feitas ressoavam em sua mente, alimentando sua determinação de superar essa barreira invisível.

Enquanto observava os eventos se desenrolarem, Felipe percebia o quanto ele havia subestimado o impacto de suas ações em outras pessoas. Sua fuga após a declaração de Lilina havia deixado cicatrizes emocionais em todos os envolvidos. Ele desejava poder voltar no tempo e agir de maneira diferente, mas essa oportunidade lhe era negada.

À medida que o tempo passava, ele encontrava consolo nas memórias. Os momentos de amizade, as risadas e os desafios superados eram um testemunho do que eles compartilhavam. Ele sabia que, mesmo que não pudesse expressar-se no momento, aquelas memórias eram reais e significativas.

Enquanto a batalha interna de Felipe continuava, Luana e Lilina também enfrentavam seus próprios desafios. Luana estava frustrada por não conseguir entender a causa do acidente de Felipe, enquanto Lilina carregava um peso de culpa por ter confessado seus sentimentos. Ambas compartilhavam o desejo de ver Felipe acordar e retomar sua vida.

No hospital, Felipe estava preso em sua própria realidade, lutando para encontrar uma maneira de se fazer presente e romper a barreira invisível. Cada momento de observação e reflexão o aproximava de um entendimento mais profundo de si mesmo e dos outros ao seu redor.

E assim, entre lembranças, reflexões e a determinação de superar essa barreira, Felipe permanecia em seu estado de isolamento, aguardando o momento em que finalmente seria ouvido e visto novamente. Sua jornada interior era uma batalha silenciosa, uma luta contra a invisibilidade e o esquecimento, mas ele estava determinado a reencontrar seu lugar no mundo que parecia distante.

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