Capítulo 02

A caminho da escola, Felipe pensou no amor que tinha por sua amiga do jardim de infância antes de conhecer Luana e acabou esbarrando em lembranças desagradáveis que o entristeciam.

"Guardei todos os meus sentimentos e todas as lembranças que tenho dela, mas hoje vejo que foi desnecessário", pensou ele enquanto caminhava pela rua. "Por que a vida não é como um conto de fadas que sempre termina em um final feliz? Por que eu tenho que me martirizar pelo que ocorreu e nem foi culpa minha? Só queria voltar no passado e corrigir meus erros. Seria tão mais fácil, mas acredito que nem sempre as coisas acontecem como queremos", pensou ele.

Luana o encontra deprimido e pensativo e pergunta o que houve para ele estar naquela tristeza toda, porém não houve resposta. Felipe, após notar a presença de sua amiga parada ao seu lado, a observando, apoia sua cabeça no colo dela. "Me diz, Luana. Tem alguma coisa na sua vida que você queria mudar?", perguntou ele, fixando o olhar nas belas feições do rosto dela. "Felipe, eu nunca parei para pensar nisso", disse ela. Olhando para o rosto dele, ela gentilmente acariciou os cabelos dele. "No entanto, não tenho nada para mudar. Eu não me arrependo das coisas que fiz. Eu não poderia mudar. Se tivesse que escolher um, eu escolheria nunca ter nascido", disse Luana seriamente.

Enquanto acariciava os cabelos de Felipe, ele levantou a cabeça e suspirou. Ele pensou em perguntar o motivo da resposta dela, porém desistiu da pergunta. "Acho que se não nos apressarmos, vamos nos atrasar", disse Luana, apressando o passo.

Após as aulas, Luana sentou-se em um banco da estação e, ali, observando a movimentação das pessoas, começou a refletir. "Hoje me dei conta de que, para ajudá-lo, eu preciso estar bem. Não posso estar mal. Mas como vou conseguir ficar bem se não consigo esquecer o que aconteceu?", disse ela, abaixando a cabeça. "Há muitas dúvidas em minha cabeça, e uma delas é: por que ainda reluto em pensar que está tudo bem, sendo que não está? Acredito mesmo que essa depressão um dia passe, mas, mesmo com remédios, isso está acontecendo. Essas malditas crises estão acontecendo", pensou ela, em meio a uma crise de choro na estação.

Enquanto isso, Felipe estava concentrado no trabalho e pensava em desistir dos estudos, acreditando mais em conseguir bens materiais do que em adquirir conhecimento. Igual ao que seu avô fez, essa ideia estava notável em sua mente, e suas ações tentavam ao máximo esconder isso. "Se bem que vou desistir por um bem maior, por um emprego e pela possibilidade de conseguir tudo o que quero com a força do meu trabalho. Porém... se eu pensar bem, meu sonho vai ser arruinado. Sem meus estudos, não poderei ter um futuro digno de orgulho ou ter um diploma de médico, pois quero ser médico e salvar muitas vidas. São duas escolhas que não se dão bem, são duas opiniões e suas consequências... Ah, Deus, o que eu faço?", pensava ele.

Felipe tentou chegar a um acordo entre suas opções e as consequências de sua decisão. Então, tomou uma decisão e, na saída da escola, encontrou-se com Luana, que sem pensar duas vezes, agarrou a mão dele e saiu correndo até o parque. Segurando a mão dela e admirando a vista, Felipe sentou-se no gramado em frente ao lago e ficou observando os patos nadando. Luana, ainda meio assustada com a correria, arrumou seu cabelo e sentou-se na grama ao lado de Felipe. Num gesto meio involuntário, Felipe puxou a cabeça de Luana para o seu colo e acariciou seus cabelos cacheados. Luana, envergonhada, continuou ali recebendo o afago dele e virou o rosto para frente, admirando o rosto envergonhado de Felipe, que a olhava sem desviar o olhar.

"Escuta, Felipe. Lembra quando viemos aqui com nossos pais, quando éramos pequenos?", disse ela. Tentando quebrar o silêncio, ela continuou: "Você me puxou pelo braço dessa mesma forma e saiu correndo, escorregou na ponta do lago e caímos dentro d'água". Felipe, que não dizia nada, apenas olhou para o lago e sorriu, lembrando da bronca que tinha levado dos pais. "Somos amigos há tantos anos, que estar com você a cada minuto me deixa muito feliz. Não consigo imaginar meu futuro longe de você. Era como a mamãe dizia: meu bisavô sempre andava com sua amiga de infância. Dessa amizade surgiu a família Santos", disse Felipe, relembrando momentos felizes.

Luana ouviu o que ele disse e corou, levantando-se meio desajeitada. Olhando para Felipe, ela tentou se levantar, mas desequilibrou-se. Ele tentou segurá-la, mas acabou caindo sobre ela. Felipe olhou para o rosto de Luana, que estava toda envergonhada. Suas feições eram lindas: olhos castanhos claros como água de uma nascente e pequenos lábios rosados. Ali, quando seus olhos se encontraram, ele pediu desculpas a ela e levantou-se. Em tom de brincadeira, empurrou-a no lago e acabou caindo junto. E ali, todo encharcado, eles se olharam e riram do ocorrido. "Não importa quanto tempo passe, eu sempre vou estar ao seu lado", disse ela com uma voz fraca. "Em todos os momentos, conte sempre comigo", disse Felipe, abraçando Luana. Ela apenas encostou a cabeça nos ombros molhados de Felipe e fechou os olhos.

Ele continuava animado, conversando sem saber que estava falando sozinho. Luana havia desmaiado em seus braços. Quando Felipe percebeu, a levou imediatamente para o hospital. Luana foi examinada, medicada e ficou na sala de observações durante toda a noite. Na manhã seguinte, teve alta e agradeceu a Felipe por estar ao lado dela. Após ser liberada do hospital, ela seguiu rumo a sua casa. Felipe, no auge de sua alegria, caminhou pela rua distraído, seguindo em direção à montanha.

Lá, de frente para aquela bela vista de um céu limpo e azulado, com as montanhas cobertas de neblina nos topos e vales verdes, uma visão esplêndida se apresentava como uma pintura detalhada de um pintor famoso. Com expressão maravilhada, ele admirava essa vista e tirava fotos de diversos lugares e ângulos diferentes. Até que ele se deparou com uma bela jovem que também estava admirando a mesma vista que ele.

Ele se aproximou e admirou essa jovem com seus cabelos cacheados e um olhar penetrante. Sua baixa estatura e olhos brilhantes davam um charme especial a essa bela mulher diante dele. Felipe não conseguia parar de admirá-la a cada segundo, sua beleza era de tirar o fôlego. Cada traço do sorriso dela era uma maravilha para ele. Ele estava tão distraído que não percebeu quando ela se aproximou, colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha e olhou para ele envergonhada. Ao perceber o olhar dela, Felipe ficou todo corado.

"Com licença, você vai ficar só me olhando de longe ou vai chegar perto de mim e falar comigo?" disse ela, tomando coragem. Envergonhado, Felipe se virou e foi embora apressadamente, esquecendo até sua carteira na montanha. "Felipe, um nome bonito, gostei. Só não entendi por que ele me ignorou e foi embora", disse ela, segurando a identidade dele nas mãos.

No dia seguinte, Felipe se arrumou para ir à escola e, ao procurar a carteira, percebeu que não estava na cômoda. Lembrou-se de tê-la esquecido na montanha. Então, aprontou-se e seguiu em direção à escola. Na escola, Luana veio correndo para conversar com Felipe no pátio. Após várias tentativas de diálogo sem resposta, Luana decidiu ir para a aula. Felipe a havia ignorado, pois estava pensando freneticamente na menina que vira na montanha. Seus pensamentos fluíam com tanta intensidade que ele se desconectou do mundo real e se perdeu em sua imaginação.

"Me desculpe, mas como você consegue ser tão desleixado assim, Felipe?" disse ela, olhando-o. "Você não muda mesmo... sempre o mesmo atrapalhado de sempre e esquecido", disse ela, entregando a carteira a ele. Ao ouvir isso, Felipe retornou ao mundo real, perguntando-se quem era aquela menina.

"Quem é você? E por que sabe meu nome?" disse Felipe, curioso. "Não lembra de mim, Felipe? Sou eu, Lilina Sanada. Estudamos juntos no colegial", disse ela, estendendo a mão para entregar a carteira a Felipe. Ele pegou a carteira em mãos e ficou chocado, deixando-a cair novamente, sem acreditar no que havia ouvido. "Não acredito. É mesmo você, Lilina-chan. Quando te vi na montanha, não havia reconhecido, mas sabia que eu a conhecia. Você cresceu bastante, está muito linda e fofa", disse Felipe, rindo e pegando na mão de Lilina, que estava tremendo. "Idiota. Não diga essas coisas constrangedoras em voz alta, isso é embaraçoso", gritou Lilina, puxando a mão das mãos de Felipe, assustada e com o rosto corado. "Ah... desculpe-me, Lilina-chan. Não era minha intenção te deixar constrangida, mas você é muito fofa quando está envergonhada", disse Felipe, sorrindo enquanto admirava Lilina toda envergonhada.

Naquela mesma tarde ensolarada, o céu fechou rapidamente e uma chuva torrencial se formou. Na chuva, Lilina havia esquecido sua sombrinha e estava parada na marquise da escola, esperando a chuva passar. Felipe, que também esquecera sua sombrinha, parou na marquise ao lado de Lilina. "Você está livre no sábado, Felipe?" disse Lilina, olhando para ele. "No sábado? Por que logo no sábado?" perguntou Felipe. "Quero te mostrar algo. E quero que seja honesto ao ouvir o que vou te dizer. Por favor, esteja no sábado na montanha onde nos encontramos", disse Lilina, antes de entrar no carro do pai dela e ir embora.

Felipe se estapeou para ter certeza de que não estava sonhando e percebeu que aquilo era real. Naquela bela manhã ensolarada de sábado, os raios de sol refletiam pela janela, iluminando aquele quarto escuro. Felipe estava debaixo das cobertas, não havia dormido o suficiente após assistir animes a madrugada toda. Os raios de sol insistiam em entrar pela fresta da cortina e, em meio à animação de Felipe, ele chutou a coberta e levantou da cama. Enquanto se espreguiçava, lembrou do que Lilina havia dito no dia anterior e sorriu. Em seguida, foi até a janela, puxou a cortina e admirou aquela bela visão. Respirou fundo e ficou imerso em suas fantasias, imaginando milhões de coisas. Depois de um tempo admirando a vista, ele resolveu se arrumar e ir escalar as montanhas para fotografar aquela paisagem deslumbrante.

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