Capítulo 9

O jantar chega e Varna só queria acabar logo e ir embora, ela olhava a todo o momento no relógio.

Daniel - Foi muito agradável o jantar, muito obrigado pela companhia, assim como você é sozinha eu também sou, depois do divórcio sofri bastante.

Varna diz em pensamento…” E quem liga?”

Ela sai de seus pensamentos e volta atenção para ele novamente.

Varna - De fato, o que aconteceu?

Daniel - Fui acusado por algo que nunca existiu, minha ex esposa quase acabou com a minha vida e reputação.

Varna - Não tem contato com sua filha?

Daniel - Infelizmente não, isso que mais me dói.

Varna - Espero que você consiga pelo menos a guarda compartilhada, sério, de coração.

Ele segura na mão dela, no entanto ela afasta.

Varna - Vamos? O jantar estava maravilhoso, mas como eu falei, estou preocupada com o meu gatinho de estimação, prefiro chegar mais cedo e ficar com o meu companheirinho de solidão.

Daniel - Adoro o seu senso de humor. Risos...

Ele pede a conta e paga, logo em seguida eles saem do lugar, Teodoro fica olhando até eles saírem pela enorme porta de vidro da entrada.

...

Eles chegam de frente a casa dela.

Daniel - Por mais dias assim!

Varna - Sim! Eu sei que não fui uma ótima companhia hoje, mas realmente estou bem triste.

Daniel - Eu entendo!

Eles ficam calados olhando para frente.

Daniel - Você é tão encantadora, vejo sua dedicação com as crianças no hospital, sempre de sorriso nos lábios, fazendo os dias difíceis delas serem mais leves, te admiro de verdade!

Varna - Ah doutor, o senhor é um excelente médico, muito dedicado.

Daniel - Vamos ficar aqui elogiando um ao outro? Risos...

Varna - Talvez, a conversa flui quando conversamos sobre isso, já percebeu?

Daniel - Sim, inclusive foi só falar no trabalho que você já voltou as formalidades comigo, queria que você fosse você, não a enfermeira e eu o médico.

Ele pega no queixo dela e se aproxima devagar do rosto retraído de Varna, que parecia fugir do toque das suas mãos.

Daniel - Gosto de você, vamos tentar fazer dá certo?

Ele sussurrou próximo aos lábios dela, ela tenta afastar a cabeça para trás, porém a segura com firmeza a trazendo de volta para o início de um beijo.

Varna - Não!

Ele não dá ouvidos e continua o beijo segurando firme na nuca dela.

Varna - Eu disse não!

Ela o empurra com os braços e desce do carro.

Daniel - Espere Varna!

Varna abre o portão e entra na casa.

- Que cara chato e insistente!

Ela joga a bolsa no sofá com raiva.

Varna - Eu juro que tentei me deixar envolver, mas não sinto nada por ele.

Ela falava para si mesma em meio a lágrimas descendo em seu rosto lembrando do professor no restaurante, o que mais doía nela era saber que estava apaixonada por um homem misterioso que a envolvia com a voz sedutora e o jeito extremamente educado de tratá-la.

Ela olha para o corredor da ala dos quartos e avista o Mimi vindo em sua direção, o coitadinho não podia correr pois ainda estava fraquinho, isso enche o coração dela que se levanta para pegá-lo, voltando a sentar com ele no sofá e olhar toda a extensão da sala.

Varna - Como a solidão dói!

Ela pega o celular tentando uma ligação para a amiga, mas uma vez sem sucesso.

Varna - Porque nada tá fazendo sentido na minha vida, meu Deus!

...

Teodoro já estava bastante impaciente no jantar de comemoração, então apressa a Letícia alegando que estava cansado e queria ir embora.

Eles se despedem dos amigos e vão a caminho do apartamento.

Letícia - Iae, vamos sair amanhã, nos curtir um pouquinho?

Teodoro - Não, você sabe que no domingo vou visitar a minha mãe.

Letícia - Visitar para que, querido? Ela não lembra de nada, nem lembra que você é filho dela mais, já está num estágio avançado.

Teodoro - O que você disse?

Ele a olha com uma expressão brava e sem paciência.

Letícia - Quem tem Alzheimer não tem cura, meu anjinho!

Teodoro - Porque sempre você tem que abrir essa tua boca pra falar merda, hein?

Letícia - Perdão, querido!

Ela abaixa a cabeça um tanto quanto triste.

Teodoro - Antes de abrir a boca para falar qualquer coisa relacionada a minha mãe lave essa boca venenosa, sua sem noção!

Letícia - Desculpa de verdade! Mas essa situação me entristece.

Teodoro - Porque? Você tem tudo, te dou do bom e do melhor, te falta alguma coisa?

Letícia - Amor, um pouco de carinho, atenção...

Teodoro - Não venha querer dá uma de esposa pois vou acabar me cansando de você, é muito boa no sexo, mas me satisfaz? Fica a pergunta.

Letícia - Como assim, o que está querendo dizer?

Teodoro - Tô cansado dessa relação de sexo selvagem!

Letícia - E o que você quer? Posso melhorar.

Teodoro - Para começar fique de boca calada sua desnecessária, e não me convide mais para lhe fazer companhia como um casal feliz e apaixonado, isso é desgastante, tenho preguiça disso tudo!

Ele para de frente ao prédio dela, Letícia tenta um beijo mas ele diz que não.

Letícia - Não vai descer?

Ele fecha os olhos um pouco arrependido por tudo que falou para ela.

Teodoro - Perdão... A realidade é que acabo descontando minhas frustrações em você.

Letícia - O que está acontecendo com você? Não quer se abrir comigo?

Teodoro - Não querida, apenas desça!

Ela abre a porta do carro muito triste, vai caminhando lentamente e entra no prédio.

Teodoro aumenta a temperatura do ar-condicionado para bem gelado, liga o carro e dirige pegando o caminho de casa, para no sinal e liga o som numa rádio noturna qualquer, estava passando a música do Caetano Veloso - "SOZINHO."

Ele fica parado escutando a letra com atenção, e lembra da Varna.

🎵" Às vezes no silêncio da noite

Eu fico imaginando nós dois

Eu fico ali sonhando acordado

Juntando o antes, o agora e o depois."

Ele pega o celular e fica na dúvida se ligaria para ela ou não, algo estava estranho dentro dele, pois vê-la com outro homem o deixou bastante mexido.

🎵"Por que você me deixa tão solto?

Por que você não cola em mim?

Tô me sentindo muito sozinho

Não sou nem quero ser o seu dono

É que um carinho às vezes cai bem

Eu tenho os meus desejos e planos secretos

Só abro pra você, mais ninguém."

O sinal abre e ele não escuta as buzinas dos carros atrás, que lhe tira do transe e ele segue em frente, a noite estava tão melancólica quanto ele.

Teodoro -  Não posso pensar nela desse jeito, meu propósito é outro.

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