#4

Com o dia da festa se aproximando, Théo só tinha um foco: pegar o irmão e levá-lo para sua casa na sexta. Ele ligou pro pai do mesmo e usou sua educação que lhe foi dada e claro, teve que ficar calado diante das piadinhas de mal gosto que o homem soltava. Esse tipo de coisa ele só faz por Lucca.

Na empresa esse era o assunto do momento, o quão grande seria essa festa. Não que Jeff nunca tivesse feito uma, porém essa é a primeira vez que ele convida funcionários, ele convidou uns dez: cinco do seu Departamento, Théo, Lana e outros dois que ele conhecia. Então por isso todos comentavam e rolavam até a conversa de que os escolhidos são muito sortudos.

"Vocês receberam o convite, que sorte!"— Jane diz com um belo sorriso, mas ainda assim é evidente que ela também queria ir.

"Toma"— Theo lhe entrega seu convite. — "Você quer ir mais do que eu, pode ficar."— sorri sincero.

Jane ficou sem reação, mas quando voltou a si negou rapidamente

"Não Théo! Não posso aceitar."— entrega de volta— "Se o Sr. Timberg lhe entregou pessoalmente, é porque ele quer a sua presença na festa. E não é pouco."— sorri. O sorriso de Jane era a coisa mais fascinante já vista, sem contar que emanava juventude e inocência.

"Você tem um ponto!"— Lana bate na mesa atraindo a atenção de quase todos no refeitório— "O meu ele pediu pro Mark, que é conhecido dele me entregar. Já o seu ele foi pessoalmente e é o único que pode levar convidado!"

"Eu não estou entendendo mais nada. Vou voltar pro meu trabalho, tchau."— ele nem dá chance de ninguém continuar a conversa, apenas sai dali.

Seu coração estava um pouco acelerado, o que ele chamou de bobeira. Não deveria sentir-se assim.

Ao entrar no elevador, também nem se deu conta de que seu chefe estava lá. Apenas entrou de cabeça baixa e só levantou minimamente para clicar no painel escolhendo o último andar, onde ficava a sala do "todo poderoso" do Dylan…

Acabou que o elevador parou de novo, mas dessa vez quem entrou foi o velho Jones e Jeff. "O que esse velho está fazendo aqui?!" Theo procurou uma maneira de se esconder, mas não deu. E pra piorar, descobriu Dylan atrás de si.

"Meu filho!"— foi como o Sr. Jones se referiu ao novo presidente da empresa.— "Se você arruinar minha empresa, eu te caço e te torno infértil."— ele completou.

"Quanto amor."— Théo pensou.

Foram longos cinco minutos (o elevador estava quase parando, sim, já no limite) com aqueles três. O pior de tudo pra Théo foi quando o velho o reconheceu. Ele estava rezando mentalmente para que isso não acontecesse, mas sabia que seria impossível depois de Jeff ter entrado e mostrado um de seus mais charmosos sorrisos.

O Sr. Jones depois de reconhecê-lo lhe disse coisas que jamais dissera enquanto era seu chefe. Elogiou, parabenizou, brincou. E Théo querendo socar a cara dele a cada segundo, porém disfarçando com um riso meio envergonhado.

Ao chegarem no andar desejado, Théo se sentou em seu lugar e ligou imediatamente para a seguradora que faz a manutenção dos elevadores. Claro, ele botou uma pressãozinha dizendo que quase ficaram presos lá dentro. Às vezes ele trabalha com um pouco de drama só para equilibrar.

"Ficou tão entediado lá dentro que a primeira coisa que resolveu fazer foi isso?"— Jeff pergunta se encostando na mesa.

"Por que você não entrou?"— Théo respondeu sua pergunta com outra e ele fez uma careta.

"Se você me responder, eu te respondo."— sorri.

"Hum. Sim."— afirma sério — "É entediante cinco minutos dentro de um elevador. Sem contar o risco que seria se alguém ficasse preso. E se esse alguém fosse eu, com aquele velho, com certeza morreria."— seu tom não foi muito brincalhão, mas Jeff ainda assim riu.

"Você vê as coisas por todos os lados. Interessante…"— admira mais um pouco aquele rostinho perfeito e conclui— "E eu não entrei porque queria falar com você. Agora já vou."— esse tem um jeito bem galanteador, saiu que até beijo mandou. ATÉ A PORTA ELE ABRE COM JEITO!

"É Théo Hernandez, você tem uma missão, e está falhando miseravelmente…"

Na sexta, Théo buscou Lucca e foram direto pro Shopping comprar uma roupa que parecesse ideal para usar naquele evento nada importante para si, ou talvez fosse já que até roupa ele quis comprar.

"É tão incrível fazer compras com você. A gente nunca fez isso, né?"— Lucca diz parecendo até mais feliz.

"Já fizemos, mas você era pequeno. Não deve se lembrar por causa disso."— o outro assente meio pensativo, mas decide ficar calado.

"Eu acho que você ficou perfeito com essa"— Théo muda o assunto fazendo o garoto se olhar no espelho. Ele tinha um grande senso de moda, então quando se tratava de comprar roupa, ele entendia muito bem.

"Se você gostou, eu gostei."— sorri

"Então você gostou."— brinca empurrando o mais novo de volta pro provador.— "Vamos levar essa."

"Ok, mas e você??"

"Eu já tenho, sou preparado. Todo ano somos contemplados com algum tipo de festa, na verdade é uma festa na empresa com os funcionários, essa é o aniversário de um dos funcionários. Mas a questão é que eu sempre estou preparado."

De tudo que Théo disse, Lucca só entendeu que ele já estava preparado, então concordou com o irmão mesmo sem entender.

Mais tarde, já em casa, eles madrugaram assistindo. Théo quase nunca faz isso, então frequentemente caía no sono e Lucca o acordava com um tapa ou falava no seu ouvido usando um tom grave. Isso assustava muito o mais velho.

"Se você fizer isso de novo, te mando pra Marte"— dá um peteleco na testa dele.

"Foi mal"— mostra a língua.

"Ousado"— empurra a cabeça dele.

"Ei, posso xingar quando estiver com você?"— Lucca pergunta bem normal. Theo observou um tempinho e depois sorriu

"Não"— ele diz, fazendo Lucca assentir parecendo chateado.— "Não esconda quem você é."— ele reformula a frase.

"Hm?"— vira surpreso

"Você não deve fingir ser um “good boy” perto de mim. Eu xingo, me estresso, falo mal.. nunca escondi isso nem da nossa mãe."— ri parecendo lembrar— "Acho que sempre fui muito pra frente."

"Ah… Acho incrível ter alguém como você, sério…"— agarra Theo dando um abraço daqueles bem apertado.— "E vou me sentir melhor ainda com você depois da sua autorização pra ser eu mesmo."— aperta o abraço

"Só não fume, não roube, não mate, não trafique, não faça nada que você se arrependa mais tarde."

"Mas a vida não é feita de arrependimentos?"

"A vida é feita de escolhas, algumas geram arrependimentos.. Você vai ter a escolha de fumar ou não, se você fizer isso e viciar, mais tarde vai se arrepender."

"Entendi."— Lucca assente— "Você é incrível!"

"Por que você me exalta tanto?"

"Porque você é o melhor irmão do mundo e eu te amo muitoooo!!!"— solta o irmão e agarra de novo. Lucca é muito grudento, fato. Mas Théo ama isso.

"Tá, agora vai pegar alguma coisa pra eu comer, anda."— ordena em tom brincalhão e empurrando ele — "Vai servo"

Lucca grudou nele igual chiclete. Théo brincava tentando empurrar e assim eles ficaram a noite toda. Assistindo, comendo, brincando.

"Eu sei que você é rico, pede pizza tamanho família e açaí. Vai!!"— Lucca pede e já passa o celular pra Theo.

"Rico é teu pai"

"Também"— ri colocando o último biscoito na boca.

"Só vou comprar porque estou de bom humor."— ele realmente comprou. E não foi só uma pizza, foram duas. E o açaí ele deixou Lucca escolher e o mais novo literalmente extorquiu.

"Eu amo açaí!"— Lucca diz se deliciando com a sobremesa da madruga.

"Já são três horas da manhã, somos muito incovenientes."— Theo diz— "E você ama tudo, credo."— completa.

"Ninguém mandou eles serem 24 horas.."— Dá de ombros.

Quando terminaram de comer, os dois capotaram ali mesmo. Dormiram feito pedras.

Já no dia seguinte, acordaram quase meio-dia e foram comer pizza com refrigerante. Só uma vez na vida não mata. Ainda mais eles dois que têm uma alimentação completamente equilibrada. Lucca porque não tem escolha, Théo porque perdeu vontade de comer tanta besteira conforme foi crescendo tanto físico quanto mentalmente.

"Que horas é essa festa?"— O caçula pergunta com uma voz sonolenta ainda.

"Começa às nove da noite."— responde— "Se você não quiser ir, podemos ficar em casa ou passear."

"Eu tenho a impressão de que você não está querendo ir mais"

"Não, não… é que eu não curto muito aquela gente. Só vou por causa da Lana."

"Sua namorada?"

"Você sonha que um dia eu te apresente uma garota dizendo ser minha namorada, né?"

"Que isso? Não mesmo!"— nega tão rápido quanto fofoqueiro quando é descoberto.

"Olha Lucca, eu não gosto de mulheres e espero que você entenda isso."— ele fala sério e olhando nos olhos do irmão.— "No momento eu não gosto nem de mim mesmo, quem dirás do resto"— solta um riso triste nasalado e volta a arrumar a sala.

"Théo, eu não quis fazer você se sentir mal. Eu só estava brincando."

"Eu sei, não se preocupe. Só quero deixar as coisas claras o suficiente."— volta sua atenção pra ele — "Não sei se você tem medo de eu não te dar uma sobrinha ou sobrinho, de um dia seus amigos perguntarem sobre seu irmão e você ter que dizer que ele é gay. Não sei. Mas eu espero que você não tenha problemas com isso por minha causa."

"No fundo eu já sabia Théozito, só queria que você me contasse."— fala e sorri— "Tinha pegado umas pistas sua lançada ao ar, mas o fato de você nunca comentar sobre essas coisas… só queria sua sinceridade"

Théo sorri orgulhoso daquelas palavras.

"Você é um anjo."— seus olhos enchem de lágrimas — "Por que você tem que se parecer tanto com ela?"— na mesma da hora Lucca abraçou Théo.

Era inexplicável o quanto seu irmão havia puxado a mãe.

Infelizmente Théo se tornou uma pessoa tão dura consigo mesmo, tão amargurada com a vida e já não tem mais a inocência de antes, tipo Lucca. Independente do que aconteça, Lucca nunca perde a essência dele.

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