Tem chefe que pede pra ser odiado e Theo cumpre com o desejo desses com o maior prazer. Ele abomina a maioria dos ricos. Os humildes e honestos Theo chama de fingidos, já os arrogantes ele diz que é normal "dessa raça". Seu antigo chefe, sr. Jones, era insuportavelmente chato e sem graça. Ele despedia qualquer um que dissesse um "a" fora de hora. Extremamente controlador com tudo. Se um funcionário atrasasse 2 minutos, recebia um corte no salário relevante a esses dois minutos (centavos no caso).
Finalmente ele saiu e entrou no lugar o filho dele. De primeira o rapaz parece gente boa. Foi educado com todos, saiu perguntando como o pai administrava o lugar e pareceu chateado quando disseram a forma de presidência do seu antecessor.
Théo quase caiu na lábia encantadora do seu novo chefe, ele foi educado e muito elegante. Com seu terno azul escuro e caro, cabelo curto, um rosto perfeito acompanhado de um sorriso hipnotizante. Cheio de charme falando com todos.
A melhor parte pra Théo é que ele não fica muito no escritório, então seu trabalho automaticamente é reduzido, e o que ele faz? Fica jogando ou apagando fotos antigas. Se a galeria tivesse efeitos, o dele seria teias de aranhas e poeira. Fotos antigas de quando ele usava gel no cabelo e colocava a língua pra fora na hora da selfie.
"Essas merdas deveriam ter sumido automaticamente"— murmura olhando pro celular.
"Nada some automaticamente, a não ser que mágica existe e ninguém me contou."— uma voz completamente diferente do comum que faz qualquer um querer ver o rosto do dono dela.
Théo lentamente olhou pra cima. Devagar, primeiro percebendo as mãos largas com dedos finos e elegantes apoiadas em sua mesa, em seguida foi subindo e subindo... até ver que na verdade é seu chefe. O "gostosão" do Dylan, como chama Lana.
Lana é a funcionária do departamento de RH, gente boa, um pouco vaidosa, humilde e com os cachos sempre bem definidos. Seu andar é o quarto, mas ela de vez em quando faz visitinhas a Théo, e com a chegada de Dylan, ela correu pra lá assim que pôde e deixou uma carreta de elogios pro novo patrão.
"Posso ajudá-lo?"— Théo pergunta depois de se recompor.
"Ah sim!— ele sorri e entrega uma pasta azul escrita na frente "ideias".— "Preciso que revise esses papéis e mande pro departamento financeiro."
"Mas essa função não é do setor administrativo?"
"Mas você não é meu secretário?"
Ele morde os lábios e sorri completamente forçado. Pelo menos o velho Jones não me obrigava a ler nada, só mandava pro departamento administrativo e tava feito. Théo pensa enquanto encarava com sangue nos olhos pro rapaz a sua frente.
"E não esqueça da reunião que temos que ir amanhã."— Dylan fala agora mais autoritário.
"Não era eu quem deveria cuidar da sua agenda?!"— por mais baixo que tivesse tentado falar, sua raiva não o ajudou.
"O que disse?"— pergunta de costas. Sua voz não emitia nenhuma emoção, ele parecia normal. Talvez não quisesse se estressar em seu primeiro dia.
"Não esquecerei."— Théo debocha.
Rir na cara do perigo. Isso é o que ele faz de melhor. Nunca ligou pra classe de ninguém, trata todos igualmente, quase todos. Seu desprezo por rico sempre o fez caçar amigos que fossem no mínimo classe média.
Ele também acha insano seu nojo por pessoas que nasceram em berço de ouro, mas é algo que nem ele entende. Sua mãe pedia que ele fosse a um psicólogo, mas seu orgulho é tanto quanto sua vontade de estar em um relacionamento. Sim, ele sonha com um relacionamento.
Uma vez olhando pela janela do quarto que dividia com seu irmão mais novo, ele viu uma estrela cadente e fez um desejo. Desejou que um dia fosse feliz com alguém que o amasse de verdade. A questão é, todos que se aproximam ele afasta. Foi o trauma que ficou depois do relacionamento de sua mãe com o pai de Lucca.
"Acredita que ele veio se meter nos meus assuntos?!"— começa a sessão de reclamações no refeitório.
Théo chamou Lana, Jane e Otto pro refeitório, apenas pra esvaziar sua mente. Como eles tem direito a quinze minutos de pausa, sempre se encontram no refeitório pra fofocar ou algo do tipo.
"No que ele se meteu?"— Otto questiona parecendo curioso.
Otto é o colega tímido por esse motivo se candidatou pro Departamento Tecnológico, claro que na verdade ele estudou pra isso, porém segundo ele, não é necessário ter tanto contato com os outros, então seu trabalho se torna mais prático.
"Nem lembro mais"— mentira. Lembrar ele lembra, apenas não quer entrar em detalhes.
"Então você está aqui. O que fazem?"— Théo nem viu quem era, apenas seu instinto falou mais alto e ele respondeu antes de qualquer um.
"Rezando o pai nosso pra ver se meu trabalho fica menos chato."
"Meu senhor... cala a boca Théo!"— Lana repreende e ele finalmente olha pra trás. Não que sua expressão tenha mudado, ele só se arrependeu.
Jeff, o rapaz que o admira muito e por sinal é diretor do Departamento de RH e primo do atual CEO. Ele nem se importa mais com as atitudes de Théo, agora só acha engraçado.
"Pois bem, continue rezando pra eu não esquecer de te pagar esse mês, ok?"— diz rindo e faz um joinha com a mão, em seguida sai.
Um dos poucos diretores que Théo "tolera". Não é nem 'gosta', mas ele tolera pelo menos. Jeff é amigável, jovem e recentemente os fofoqueiros de plantão descobriram que ele só estudou com o primo a pedido da mãe. Sem contar que seu cabelo é lindo, rosto, corpo, tudo. Homem ideal. Não tem muitos nessa empresa (que prestam), outra coisa que Théo nem quer entender, é só desgosto atrás de desgosto.
Mas enfim, essa empresa D.J.E é um lugar até legal pra quem tem sanidade mental.
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No seu horário de saída, infelizmente ele não estava saindo. Dylan lhe entregou uma pilha de papéis pra assinar, ele quer entender qual o motivo da implicância pro seu lado. Nunca xingou seu chefe, nunca tentou matar, roubar ou agredir seu antigo chefe.. Isso é ridículo ao ver dele.
"Você ainda está aqui?"
"Não, é sua imaginação."— de novo ele responde sem ver quem é, mas até que ficou tranquilo quando viu que era Jeff. Imagina só ele dar uma patada no Dylan.— "Desculpe"
"Já me acostumei"— ri deixando uma carta bem chique na mesa e entra na sala de Dylan.
Théo ficou com um pé atrás se pegava ou não a carta. Ele poderia deixar lá e se o outro perguntasse o porquê dele não ter pegado, ele só responderia: você não disse o destinatário.
Porém, seu maior defeito é ser curioso e ele pegou a carta. Lá estava um convite de aniversário muito bem feito por sinal.
"Não sabia que pessoas com quase trinta comemoravam aniversário..."— fala mais pra si do que pra alguém ouvir.
No final dizia: •Direito a levar um acompanhante.
•Só é permitido a entrada de quem estiver com o convite.
Ele não vai negar, se sentiu importante sim sendo chamado pra uma festa privada. Claro que ele vai disfarçar até o osso, mas gostou de ser convidado por Jeff. Durante esse tempo trabalhando nessa Empresa, ele nunca foi convidado pelos "maiores" pra alguma festa. Essa é a primeira vez que Jeff convida e eles começaram a "se falar" nesse ano.
Era algo difícil de acreditar, mas quando se acredita se torna uma sensação maravilhosa.
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