7 anos atrás
"Mãe... esse cara não é coisa boa.. a senhora sabe."— o jovem diz pela milésima vez desde que a mãe reatou o namoro com o ex-marido.
"Theo, ele é o pai do Lucca!"— a mulher diz isso toda vez que o filho entra no assunto.
"Mas não significa que você precise ficar com ele pro resto da vida!"— responde já alterado. Ele odiava ver a mãe sendo feita de palhaça, mas parecia que a própria gostava disso.— "Você está sendo feita de trouxa mãe! Já te disse que ele não te quer, ele não te ama, ele não liga pro Lucca!"
"Théo Hernandez!"— a mulher grita e seu rosto retoma pra uma expressão autoritária.— "Já sou grande o suficiente pra tomar as minhas próprias decisões. Apenas se concentre nos seus estudos e deixe que da minha vida eu cuido."— sai pondo um fim nessa discussão.
Sua mãe está com esse cara há dez anos. Se separou e agora estão voltando novamente. A pior parte disso tudo é que ela sabe que ele não presta, sabe que foi traída, já apanhou e foi humilhada publicamente, mas sua justificativa é que ela quer que seu caçula cresça com uma família "unida" no sentido de ter pai e mãe juntos.
Théo incansável vezes já tirou sua mãe da mão do seu padrasto miserável. A mulher nem pode dizer nada que é motivo de ser xingada.
"VOCÊ SENDO HUMILHADA E TRATADA FEITO LIXO VAI AFETAR BEM MAIS O LUCCA DO QUE UMA SEPARAÇÃO!"— ele grita pra ela ouvir de onde quer que esteja na casa.
Outro ponto que Théo odiava, a casa. Sua mãe o obrigou a ir pra casa do canalha já que agora eles voltaram depois de dois meses separados. Um lugar onde ele não se sentia bem e estava preparado pra ir embora. Só precisa que sua mãe lhe escute e deixe ele voltar pra casa antiga da família que é localizada em um bairro comum, porém ele já é familiarizado com todos lá, além de ser onde a casa de seu pai fica.
Depois desse dia, sua mãe não puxou assunto com ele sabendo aonde sempre iriam parar. Também não demorou muito para acontecer uma briga escandalosa, mas a diferença dessa para as outras era que Lucca presenciou e Théo não.
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Tempos Atuais...
"¡Cómo has crecido!"— Théo diz abusando seu irmão. Ele foi visitar o caçula porque não estava se aguentando de tanta saudade.
"Está testando meu espanhol? Pois saiba que estou sendo forçado a estudar três idiomas. No tengo tiempo para español."— Lucca brinca. Sua mãe era uma das maiores admiradoras do idioma e ela não tinha nenhuma ascendência estrangeira, só Théo.
"Fico feliz que está bem e estudando bastante. Não esqueça de beber água e..."— ele para ao ver os olhos de Lucca lacrimejando— "não esqueça que te amo neném!"— o puxa pra um abraço. Um daqueles abraços que a vontade de largar é 0.
O tempo que eles ficaram afastados foi suficiente pra fazer Théo querer cometer um crime, do tipo: fugir com seu irmão menor de idade. Ele ama esse garoto com todas as forças e queria sim poder criar ele.
É triste ver que todo o esforço de sua mãe para manter uma família aparentemente agradável e unida, não deram nem um pouco certo. Pelo contrário, fez tanto mal a Lucca quanto a Théo, porém o mais velho não a culpa. Ela queria dar para os filhos o que não teve, uma família.
"Théo... eu prometo que não vou ser igual o meu pai"— sorri entre lágrimas.
"Não vai, você tem meu sangue."— brinca enxugando seu rosto.
"Certo, certo..."— se afasta sorrindo— "Veio me visitar, tá apaixonado? Ganhou na loteria? Já sei! Você descobriu que tem um filho"
"Errou todas. E até parece que eu vou me deitar com uma mulher e não vou lembrar"— ri travesso.
"Desculpe, esqueci que você não gosta de crianças"— diz se sentando no banco que tem ali.
"Eu vim porque eu quis. Porém não posso demorar, vou embora ainda hoje."— justifica se sentando também.— "Afinal, vamos a uma festa nesse final de semana. Você não tem direito de negar e eu vou pedir diretamente ao seu pai."
Ele já não suportava a humilhação que passou pra pedir liberação hoje, mas se humilharia pro pai dele, só pra passarem um tempo zoando os estilos dos outros.. faria tudo pelo garotinho ao seu lado, tudo mesmo.
"Obrigado Théozito!"— Abraça bem forte o irmão. Por outro lado, Théo deu um peteleco no garoto e disse para não o chamar assim novamente, mas no fundo ele amava os apelidos vergonhosos que seu irmão lhe dava.. "Théozito" era o mais razoável.
Depois de ter passado um dia todinho com Lucca, infelizmente chegou a hora de ir embora, ele só não contava que seu carro quebrasse quando estivesse chegando perto de sua cidade.
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Com seu celular descarregado e carro quebrado no meio da estrada, Théo ficou sem saber o que fazer. Nunca esteve numa situação dessa e não fazia a mínima ideia de como iria parar um carro pra pedir carona ou pedir emprestado o telefone pra fazer uma ligação. E foi quando menos esperava uma ajuda, que apareceu.
"Pediu folga pra ficar observando o trânsito fora da cidade?"— aquela voz fez todos os pelos de seu corpo arrepiarem.
Ele hesitou em virar pensando nas mil possibilidades de pessoas e depois se culpou por ficar de costas pro lado que vinha os malditos carros. (tipo: os carros só estão indo por um sentido, e ele tava justamente virado pra esse lado. Ou seja, se um carro parar atrás do dele, ele não perceberia a menos que o motorista fizesse barulho)
Ao virar ele se sentiu tão aliviado que estranhou. Um embrulho na barriga. "Espero que seja fome", ele pensa.
Ainda não tinha se passado duas horas que ele estava preso ali. Dois carros pararam oferecendo ajuda, mas ele recusou por motivos desconhecidos ou apenas medo. Agora Théo finalmente estava a caminho de casa graças a seu... seu o que afinal? Quase chefe? Colega? Colega é estranho na mente dele. Ele recusou três vezes em entrar no carro do mesmo, no entanto, Jeff não desiste fácil e mesmo que ele não seja tão próximo de Théo, esse já é um passo pra se darem bem.
Dylan, seu chefe e primo do homem que estava lhe dando uma carona, está sentado bem atrás dele. O mesmo não falou quando ele entrou, e ele também não disse nada. Apenas agradeceu a Jeff.
"Hum... Como o seu carro quebrou?"— perguntou Dylan que estava o tempo todo no banco de trás com a cara no tablet. Ele não aguentava mais o silêncio.
"Se eu soubesse teria consertado." — curto e grosso ou apenas resumido, fica a critério.
"Bom... Você tinha muito tempo ali?"— Jeff pergunta pra quebrar o clima tenso que ficou após a resposta muito bem dada a Dylan.
"Não."— responde após um longo suspiro. Ele olha pra perto do volante e vê um carregador portátil. Como sua mãe sempre dizia: se precisar e for urgente, peça. Assim ele o fez.— "Posso?"— Jeff e Dylan olham pra ele e seguem os olhares até onde seu dedo apontava.. Ao ver que era o carregador, o motorista apenas assentiu.— "Obrigado."
Agora um questionamento na cabeça de Théo é: sua mãe lhe ensinou isso pro caso de precisar de algo ou ir ao banheiro? Bom, o que importa é pôr em prática.
Pelo menos com meu carro quebrado significa que vou de ônibus, melhor ainda! Vou chegar tarde e dizer que a culpa foi do ônibus que deu uma longa volta no bairro. Se eu atrasar demais, ponho a culpa no trânsito. PERFEITO!— Rapidamente Théo sai dos seus devaneios ao perceber que estava quase sorrindo pensando em futuras mentiras com seu patrão perto de si.
"Onde você mora?"— Jeff pergunta diminuindo a velocidade do carro.
"Eu posso ir daqui. Muito obrigado!"— agradece sinceramente achando que iria descer, mas Dylan que parecia querer provocá-lo disse 'levaremos você'. Ele nem está dirigindo!!
Theo como um ótimo ser humano, porém, uma péssima pessoa paciente, passou a viagem toda suspirando e batucando os dedos na janela, uma mania que ele tem quando está desconfortável ou estressado.
"Você suspira tanto que chega a ser preocupante."— Dylan solta uma leve e dócil risada. Jeff estaciona o carro de frente ao prédio e observa Théo sair.
"Eu... eu... tchau, obrigado."— Théo sai sem nem pensar duas vezes, porém para ao ouvir seu nome ser chamado. Hesitante em virar ele acaba fazendo e vê o lindo e gentil Jeff segurando um cartão na mão.
"O número da mecânica que pegou seu carro."— sorri. Seu sorriso era tão lindo quanto seus olhos, e seus olhos tão lindo quanto seu sorriso... Théo pegou com sua atenção fixada ainda nele. Quando Jeff acenou e se ajeitou no carro, finalmente o outro despertou do seu transe e correu pra casa com a mão dando leves tapas em seu rosto.
Não é hora de achar ele legal, bonito, maravilhoso, cavalheiro, inteligente... não, não e não!!!
"Théo", ele começa sua conversa consigo mesmo. "Ele é praticamente quase seu chefe. Não goste dele. Um convite pra festa de aniversário não significa nada, certeza que ele convidou outros... E você nem sabe do que ele gosta! Não pode se apaixonar, nem gostar!", suspira pesado se jogando no sofá. "Sabia que essa história de suportar alguém não daria certo..."
De tanto reprimir seus sentimentos, acho que agora eles vão acabar se governando por conta própria...
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