Capítulo 5 — Chuva

Os três dias na casa dos Florence's foi de pura tortura para Oliver. Seu pai e sua mãe não sabiam falar de outra coisa a não ser o tal casamento de Nathaniel, que eles queriam que fosse o melhor e maior evento que qualquer um já viu. O acastanhado se perguntava se seu primo e Katheryn tinham avisado que queriam uma festa simples.

E mesmo que não estaria no país para prestigiar esse evento, sua mãe o forçou a ir a todos os salões de casamentos mais caros que tinham. Eram lindos, Oliver conseguiria se ver entrando em um no dia de seu casamento — se é que iria acontecer.

— Qual é o melhor sabor de bolo para o bolo? Red Velvet ou Chocolate com licor? — Sua mãe perguntava, enquanto lia uma revista. Na capa estava escrito bem visível “Como planejar o casamento perfeito”. Boa escolha que Nathaniel e Katheryn tiveram para padrinhos, mais ansiosos que os próprios noivos. pensou Oliver.

Ele e sua mãe se encontravam na cozinha, pois tinham acabado de tomar café da manhã, embora a mulher não tenha largado a revista por nada enquanto comia, nem sequer olhou para seu filho desde quando ele chegou no cômodo.

— Eu gosto de Red Velvet. — Respondeu sem nenhuma animação, só queria acabar logo seu macchiato e voltar para seu quarto antes que a mulher o arrastasse pela cidade a procura do vestido de madrinha, mesmo que Katheryn não tivessem nem denominado as cores do casamento.

— Eu acho tão simples. Prefiro chocolate com licor. — A mulher disse virando a página da revista.

— Então por que me perguntou? — Murmurou revirando os olhos.

O celular de Oliver soou anunciando uma chamada, fazendo-o atender sem nem ver o número que estava o ligando, não passando de um spam. 

Por que atendia as chamadas e notificações tão rápido? Não era como se tivesse esperando uma ligação ou mensagem de alguém. Ou estava? Bem, queria acreditar que não.

— Estou indo pro meu quarto. — Falou, mas não era como se sua mãe se importasse, ela nem sequer fazia questão de ter Oliver por perto ou não.

Assim que saiu da cozinha, deu de cara com seu pai, que não tinha uma cara muito feliz ao se deparar com o filho.  Desde a visita de Nathaniel ele está assim, mas não sabia o porque, pois seu pai não diria e meio que Oliver não ligava, apenas continuou a andar indo para o segundo andar da casa onde ficava o seu quarto, porém ao chegar no último degrau percebeu ter esquecido o seu fone bluetooth em cima da mesa.

Bufou, mas logo se pôs a descer todos os dezessete degraus indo em direção a cozinha, mas parando na porta ao ouvir a discussão de seus pais. Em um dia comum, ele apenas iria ignorar, mas o assunto da vez chamou a sua atenção.

— Com quem o Oliver andou saindo semana passada? — A voz era de seu pai e ele parecia estar falando com raiva.

— Sei lá, com o filho da Abigail… Jhonatan o nome dele, né? 

Oliver não precisava estar na cozinha para ver que sua mãe estava lendo a revista, também sem se importar com o que o marido falava.

— A família está viajando a um mês de comemoração do filho ter entrado na faculdade. Eu perguntei para os outros meninos que ele costuma sair e todos falaram que não o vêem a bastante tempo! — O senhor Florence se irritava. — Esse garoto está mentindo para a gente esses dias.

— E o que tem? Ele só deve ter saído com outros amigos, ou saído com alguma garota. Deixa o menino curtir enquanto ele não vai embora. — Quem visse de longe, até acreditaria que a senhora Florence era uma boa mãe. 

— Você não está entendendo! O Nathaniel falou com ele e que há probabilidade do nosso filho ser… gay! 

A afirmação chocou Oliver tanto que não soube reagir. Queria chorar, gritar, fugir, ou até mesmo rir. Nathaniel tinha mesmo lhe dedurado para seu pai? Por que ele faria alguma coisa dessas?

— Deixa de palhaçada, nosso filho não é gay.

Oliver não conseguiu passar despercebido, pois acabou não aguentando tudo que estava dentro de si guardado a muito tempo e preso a sete chaves.

— E se eu fosse? — A presença de Oliver fez a senhora Florence pela primeira vez no dia deixar a revista sobre a mesa e dando atenção ao jovem. — Hein? E se eu fosse gay, qual o problema?

— De que merda você está falando? Você nem pensa em uma coisa dessas! — O pai de Oliver gritava com ele.

— Por que? Não posso manchar essa família perfeita com a minha homossexualidade? Hein, pai? Me responda! 

Oliver confrontou o pai, ficando na frente dele. Sua mãe tinha se levantado da cadeira e tentou afastar o filho do marido, pois estava sentindo o clima piorando gradativamente.

— É muito ruim ter um filho que dá o cu? Acredite se quiser, mas fiz muito mais do que isso e você nem sabe! — Oliver sorriu sarcasticamente, mas o sorriso sumiu assim que um estalo ecoou por toda a cozinha. O senhor Florence tinha lhe estapeado, deixando uma marca de sua mão e bem vermelho o local atingido.

— Eu prefiro ter um filho morto do que um filho gay dentro da minha casa. — O tom de voz era grosso e alto. 

Oliver riu baixo, enquanto uma lágrima caia do canto de seus olhos.

— Filho, você está bem? — A mãe de Oliver se aproximou e tentou tocar a bochecha do mesmo, mas ele desviou do contato.

— Não precisa fingir que se preocupa! Sei que você nem ama esse homem, só gosta do dinheiro que ele pode oferecer, enquanto para ele, você é só uma putinha que aceita qualquer coisa em troca de fama e dinheiro. 

— Oliver! — A mulher repreendeu-o.

O senhor Florence pegou a gola do moletom azul do grupo e o levantou um pouco, levando em conta que o pai de Oliver era 10 centímetros mais alto. 

— Eu lhe dou três segundos para pedir desculpas…

— Ou o que? Vai cortar minha mesada? Vai tirar minha matrícula da faculdade? Vai me jogar na rua? — Oliver não estava mais com medo, na verdade, ele conseguiu em um minuto falar coisas que estavam presas na garganta desde os dez anos de idade. — Já imagina as notícias correndo: filho de famoso empresário é gay e foi posto para fora de casa. Hahaha, seria hilário ver essa matéria nos jornais!

O homem tinha se preparado para dar um outro tapa em Oliver, bem mais forte dessa vez, mas a mulher parou-o.

— Ele deve estar bêbado, não está falando nada com nada. — Elisa Florence protegia o filho, justamente pelas palavras, não queria ter o nome jogado na mídia como a mãe de um garoto gay que foi colocado para fora de casa. — Amor, por favor, deixa ele.

Steve Florence, seu pai, o jogou no chão, fazendo Oliver machucar seu joelho e cotovelo.

— Você me dá nojo, eu preferia que você nunca tivesse nascido! — O homem cuspiu as palavras e saiu da cozinha sendo seguido por sua esposa, enquanto o garoto estava no chão. Naquele momento, não conseguiu mais se segurar e começou a chorar. Sentia uma dor no peito que não podia explicar, simplesmente queria sumir.

Com uma dor pulsante em seu joelho, ele saiu de sua casa, correndo, pouco se importando com as densas nuvens que se aproximavam.

Ele estava se sentindo traído. Ele confiou em Nathaniel e mesmo assim seu primo falou? Seu pai realmente preferia que ele estivesse morto ou que nunca tivesse nascido? Bem, naquele momento Oliver também desejava não ter nascido. E o que adiantava falar? Afinal, o Florence era rico, tinha uma casa semelhante a uma mansão, tinha sempre de tudo do bom e do melhor, não teria nenhum motivo para reclamar, então ele poderia simplesmente engolir o choro e continuar a fazer o seu teatro de “filho perfeito”.

Quanto mais Oliver corria, mais sentia dor no seu joelho e as primeiras gotas de chuva já começavam a tocar a sua pele. Para onde estava correndo? Não tinha amigos para se refugiar em um dia desses e a pessoa que ele pensou que poderia confiar, lhe traiu. 

Havia se passado trinta, quarenta e até mais que cinquenta minutos correndo, sem pausa. Então, até que notou para onde seus pés estavam, inconscientemente, o  levando.

A chuva já estava forte o suficiente para não ter ninguém na rua, todos estavam em suas casas abrigados ou procuravam algum lugar aberto para se abrigar. Oliver se lembrou do dia que o conheceu, a mesma densa chuva, mas dessa vez, ele estava do lado de fora da cafeteira, conseguindo vê-lo atendendo a pedidos dos 5 clientes que estavam ali dentro.

Não, ele não podia estar ali. Kai não era nada para ele, apenas um rapaz que teve alguns momentos juntos. Seu coração estava apertado, queria voltar a correr e simplesmente gritar, mas seus pés não se mexiam mais, até que Kai notou sua presença do lado de fora e ele foi correndo até o Florence.

— Oliver? O que aconteceu? — Kai se molhava com a chuva ao ficar frente-a-frente com o acastanhado, mas não era como se ele se importasse. O rapaz notou que mesmo que Oliver estivesse encharcado, ele estava chorando e tinha um marca bem vermelho em seu rosto. — Espera aqui.

Kai entrou na cafeteria, tirou seu avental, falou alguma coisa para a outra atendente e voltou ao lado de fora, tomando uma das mãos de Oliver e o puxando levemente. Eles não conversaram nada pelo percurso e o Florence agradecia, pois não sabia o que falaria, afinal, nem ao menos sabia explicar o por que de estar ali.

Oliver tinha noção para onde Kai estava o levando, visto que tinha ido naquele lugar diversas vezes. 

O apartamento, diferente dos outros dias, estava mais bagunçado, levantando a hipótese de semanas atrás que Kai só limpava a casa quando fosse receber alguém.

— Vá tomar um banho, você pode ficar doente. — Kai ordenou apontando para o chuveiro e Oliver obedeceu.

Não teve forças para tirar nem sequer a roupa, mesmo que não fizesse diferença se estava já que elas estavam encharcadas. Então, após abrir a torneira, a água caiu sobre seu corpo, ele se sentou no chão em posição fetal e voltou a chorar.

O quão patético ele se encontrava? Estava chorando no banheiro de uma pessoa que mal conhecia. Mas, por que estava lá? Era só ir embora, não teria que se explicar para Kai, já que eles não eram nada.

— Eu peguei algumas peças de rou- — A fala de Kai foi cortada por si mesmo ao ver Oliver daquela forma no banheiro. Não se sentiu constrangido ao abrir a porta, mesmo sabendo que o Florence deveria estar tomando banho, pois só queria ajudá-lo.

Se aproximou dele, desligou a água e agachou frente a ele. Oliver continuava a chorar sem se importar de estar sendo observado e Kai não falou nada, apenas esticou a mão até os fios acastanhados e molhados e começou a acaricia-lo. 

— Pode chorar a vontade, eu estou aqui!

A fala de Kai transmitia toda a sinceridade que Oliver precisava naquele momento. Mais perguntas chegaram à cabeça do rapaz, por que Kai se importava com ele a ponto de largar o emprego em meio do expediente? Por que mesmo depois de ter falado que não queria mais nada, Kai ainda o estava ajudando? Por que? pensou enquanto seu coração acelerava cada vez mais.

Bem, no final, de todos os lugares do mundo, Oliver descobriu o motivo de ter ido se encontrar com Kai, pois de todos os lugares, ali era o único que ele se sentia realmente bem e confortável como nunca havia sentido em toda sua vida.

Oliver abraçou Kai fortemente, pois queria a confirmação de que ele estava mesmo ali e não era só uma miragem da sua cabeça. O rapaz de cabelos negros retribuiu o abraço, acariciando as costas do Florence que ainda se encontrava chorando.

— Me desculpa! — As palavras saíram como uma faca no coração de Kai.

— Não precisa pedir desculpas. — Kai assegurou, mas então seus olhos se arregalaram ao escutar as próximas palavras de Oliver:

— Me desculpa por eu gostar de você. 

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Comments

Juliana Biscoito

Juliana Biscoito

Eu li essa parte no Instagram e vim correndo para ler e agr que li quero chorar

2023-04-08

1

Luca Takahashi

Luca Takahashi

desculpa, mas eu ri

2023-04-08

2

Ver todos

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