capítulo 3

── Bom dia, Don. ── Matteo me cumprimentava assim que eu abro a porta do carro, aceno em sua direção e caminho até a entrada da minha casa, passando pelos seguranças e finalmente entrando. ── A respeito da garota, o senhor pediu para que eu a observasse durante esse tempo e eu o fiz, ela não tentou nada demais. ── balanço a minha cabeça, em concordância.

── Obrigado pelas informações, está dispensado. ── digo e ele assente, fazendo um leve aceno com a cabeça e se retirando. ── Vocês também, aproveitem o dia de hoje e o de amanhã também, não iremos fazer nada demais. ── dispenso também os garotos e eles suspiram, em conjunto, como se estivessem aliviados. ── Pedi para Joseph transferir o dinheiro de vocês para as suas respectivas contas bancárias, por favor, confiram ao chegarem em casa. ── concluo e tento lembrar se há mais alguma coisa que eu queira dizer a eles ── Ok, agora sumam das minhas vistas. ── expulso-os sem mais um pingo de paciência e assim eles o fazem, saindo de minha casa

── Dora! ── chamo-a assim que me desloco para a cozinha, a mulher vem até mim como um furacão, um pouco nervosa por causa do tom que usei. ── Onde está Alyssa?

── No quarto dela, Don. ── a mulher me responde ── Não sei se está bem, ela está tendo alguns enjôos e ainda não almoçou. ── enrugo as sobrancelhas, me perguntando o que será que houve. Respiro fundo e caminho até o quarto da garota, não bato na porta, até porque não sou obrigado a ser cortês na minha própria casa

Ao entrar no cômodo, percebo a porta do banheiro estar aberta, não hesito em ir até lá e vejo Alyssa ajoelhada no chão, com o rosto no vaso, vomitando pra caralho. ── Porra, o que está havendo com você, garota? ── pergunto pasmo, cruzando os braços e a observando.

── Por favor, não olha. ── ela pede e nem sequer termina de falar, logo está novamente vomitando. ── Caralho.

── Você comeu algo que não te fez bem? ── ainda estou tentando entender o que está acontecendo aqui. Não é possível que ela tenha tido uma intoxicação alimentar ou coisa do tipo, os alimentos preparados nesta residência além de ser caros, são super saudáveis

── Não, eu não comi nada de diferente. ── Alyssa finalmente levanta e amarra o cabelo em um coque, lavando a boca na pia, alcançando a escova de dentes também. Pondero por uns segundos e de repente, algo parece se acender em minha mente, me fazendo arregalar minimamente os olhos

── Transaram com você sem camisinha? ── pergunto direto e ela me olha assustada

── Como assim?

── Quando te abusavam... ── eu começo, tudo parece estar se esclarecendo para mim agora ── Eles usavam camisinha, Alyssa? ── ela parece finalmente ter entendido. Seus ombros caem e quando seus olhos encontram os meus depois de uma breve desviada sua, eu percebo o desespero transbordando deles.

── Meu Deus. ── não me responde e eu suspiro, perdendo a paciência.

── Vem comigo. ── não peço, apenas ordeno que ela me siga, não preciso falar novamente pois ouço seus passos atrás de mim.

Quero tirar essa história a limpo, não é possível que tenham a engravidado.

A guio até uma espécie de enfermaria que existe em um andar inferior à minha casa, é justamente aqui que eu venho quando acontece algo, pois não gosto de frequentar hospitais, nem muito menos chamar atenção de ninguém. Peço para que ela se sente em alguma das poltronas postas ali e saco o meu celular do bolso, ligando para Kristen, que é a médica paga por mim justamente para me ajudar nessas situações.

── Don? ── a mulher indaga assim que atende a ligação, assustada. Às vezes o medo incessante que as pessoas sentem de mim me causa um pouco de raiva, pois em alguns momentos quero conversar com alguém firme no que fala e faz ── Aconteceu alguma coisa?

── Sim, apenas venha. Agora. ── ordeno e não espero que ela me responda, apenas desligo a ligação e ponho meu celular no bolso novamente, analisando Alyssa e percebendo seu rosto pálido. Com certeza há algo de errado com ela e eu vou descobrir o que é. Sinceramente, não quero ter muito trabalho com ela, mas caso seja uma criança, eu preciso saber o que ela quer fazer a respeito disso ── Você está se sentindo melhor? ── questiono, assumindo uma posição ereta e Alyssa me encara, percebo seus olhos marejados e mais brilhantes, está prestes a chorar.

── Eu estou com medo. ── ela fala, tremendo. Balanço a cabeça em negação e tento pensar em algo que possa acalmá-la nesse momento. Não sei o que fazer. ── Eu não posso estar grávida, isso não é justo.

── Sim, você pode estar grávida. ── a corrijo no mesmo instante ── Infelizmente, não é algo que está sob seu controle, mas não precisa se preocupar. ── tá, eu sou péssimo tentando ajudar pessoas.

Kristen não demora muito a chegar, cerca de trinta minutos depois ela chegou, sendo acompanhada por um dos meus seguranças. Quando ela entra no consultório, encara Alyssa pouco confusa ── Quem é ela? ── pergunta, curiosa.

── Interessa? ── indago, sem o mínimo de paciência ── Quero que recolha material sanguíneo dela para descobrir uma suposta gravidez. ── esclareço e a mulher loura à minha frente não fala mais nada, apenas começa a pegar todos os itens necessários para o que fará a seguir.

•••

── Kristen, essa porra de resultado precisa sair hoje. ── eu resmungo um pouco (ou muito) bravo. Eu estou cansado pra caralho, merda.

── Calma, senhor. ── eu já a apressei tanto que ela está nervosa, tremendo bastante. ── Pronto. ── suspiro aliviado, depois de duas horas essa droga aconteceu, finalmente.

Olho para Alyssa, que continua pálida. Suas mãos estão entrelaçadas uma a outra, suas pernas balançam muito e sua respiração ofega. Nem acredito que farei isso, mas eu me aproximo e toco o seu ombro, apertando levemente ali, querendo de alguma forma que ela saiba que não está sozinha agora

── O que foi, Kristen? ── indago, um pouco hesitante por causa de sua expressão ao ler o resultado do exame pela tela do computador. Seu rosto se torna mais sério e ela não demora a dizer

── Você está grávida, Alyssa. De seis semanas.

── O quê? ── ela questiona desesperada e eu passo os meus dedos pelos meus cabelos, sentindo vontade de matar cada miserável que a abusou ── Você tem certeza? Não é possível, eu-

── Sim, eu tenho certeza. ── Kristen enfatiza ── Bom, nós precisamos-

── Kristen, pode ir embora. ── a interrompo rapidamente. Não quero ouvir mais nada sobre isso, não hoje.

── Ok. ── recolhe suas coisas e se retira

── Eu não posso ter essa criança, Don. Não posso. ── suas lágrimas escorrem de seus olhos e eu fecho os meus por uns segundos

── Eu entendo que seja doloroso pra você. ── começo, soltando seu ombro ── Mas... Pensa bem. Não importa a sua decisão, eu comprei você e não vou te abandonar se é isso que está pensando. ── digo e ela nega, limpando suas lágrimas ── Eu vou te deixar um tempo sozinha.

Dito isso, eu saio do consultório, deixando-a para trás. Não sei bem o que dizer para ajudá-la, porém, independente do que ela decidir, eu vou apoiar? Não sei se essa é bem a palavra certa.