Capítulo 3

O pai de Alana costumava dizer que não haviam limites para os tipos de habilidades que eram despertados pela magia existente nos corpos de cada um, apenas que era mais fácil, ter afinidade com as de elementos naturais, já que estávamos cercados por eles.

Assim como as bestas, que são animais depois de terem despertado habilidades, possuem poderes mágicos ligados ao que necessitam no ambiente em que vivem. Bestas aquáticas, por exemplo, vão despertar habilidades ligadas a água.

As plantas e pedras preciosas já são diferentes. Eles não possuem qualquer habilidade mágica, entretanto, acumulam a magia do ambiente em seu interior e, depois de muito tempo, a magia acumulada alteram suas estruturas e elas se transformam em plantas e pedras mágicas.

As plantas são usadas para fazer diversas medicinas de recuperação mágicas e as pedras podem ser embutidas em armas ou construções para aumentar a força ou defesa. Também existem algumas pedras mágicas especiais que podem armazenar coisas que não sejam vivas em seu interior, como um baú de armazenamento. Porém são muito raros e apenas pessoas muito ricas ou muito poderosas as tem.

A utilidades de plantas e pedras mágicas são diversas e o mesmo acontece com as bestas. A carne de besta é uma iguaria sem igual em sabor, que pode ainda aumentar a força mágica de quem a ingere. Sua pele é transformada em couro extremamente resistente e seus ossos podem ser transformados em armas de maior letalidade do que o aço comum.

Quanto maior o nível de magia, mais poderoso e forte são os efeitos dos itens. Isso serve para qualquer ser ou corpo com magia, sejam eles plantas, pedras, animais ou mesmo pessoas.

É muito fácil reconhecer visualmente aqueles com maior nível de magia interior, isso porque ocorrem mudanças na estrutura de qualquer ser que atinge um nível maior que o comum de magia em seus corpos.

Primeiro, ou eles se tornas itens mágicos como plantas e pedras, ou adquirem a habilidade de utilizar a magia como bestas e pessoas. Quando essa transformação ocorre, seus corpos também mudam e se tornam mais resistentes, fortes e velozes. Todos os seus sentidos ficam mais aguçados e as mudanças visuais também aparecem.

Se uma pessoa tem olhos castanhos médios, depois de despertar suas habilidades seus olhos ainda serão castanhos, porém conterão um brilho como se milhares de estrelas estivessem dentro, como um diamante ao sol. Sua pele se tornará muito mais brilhante e sedosa, qualquer espinha ou outro tipo de problema de pele deixará de existir. Se houver alguma doença, ela também será curada no momento do despertar.

É como se a magia interior limpasse todo o corpo e o deixasse em seu estado mais saudável e forte, com a magia refletindo em seus olhos como estrelas.

E quanto mais tempo passa, mais saudável e forte esses serem ficam. Depois do despertar, a capacidade de acumular a magia do ambiente se torna muito mais rápida e, se não houver qualquer contra-tempo, esses seres podem viver por indefinidos anos.

As plantas e pedras também brilham quando se tornam mágicas. E, como os olhos dos animais e das pessoas, quanto mais brilhantes forem as plantas e pedras, maior o nível de concentração de magia tem, refletindo diretamente na força e eficácia do corpo mágico.

Se levantando da margem do rio, Alana sacudiu as memórias de seu pai e voltou para o acampamento. Não era muito bom ficar longe de todos na floresta, mesmo que a mulher ruiva fosse forte ela era apenas uma. Assim Alana e a ruiva voltaram para o acampamento e se aproximaram da fogueira para pegar um pouco de água quente.

O líder da caravana, Marmond, fornecia uma grande panela para aquecer água para uso geral do comboio. Enchendo a cumbuca pequena que trazia na bolsa, Alana voltou para perto do carroção e tomou um gole. Não sentindo desconforto no estômago, Alana pegou um pão seco de deu pequenas mordidas.

Como já se passaram alguns dias em que o pão foi feito, estava duro e era necessário comer enquanto molhava na água quente para amolecer.

Depois de dois dias se sentindo tão desconfortável, era bom ter algo na barriga, fazendo Alana suspirar baixinho. Com sorte, ela não voltaria a se sentir mal quando a caravana seguisse viagem no dia seguinte.

Depois de comer, ela pôs mais um pouco de água do cantil na cumbuca e pegou um punhado de ervas abortivas de um saquinho na bolsa. Amassando em um polpa, ela bebeu a mistura verde escura e verificou a quantidade de ervas que restaram no saquinho. Não era muito, apenas o suficiente para mais três dias.

Por sorte, essa era uma erva comum e fácil de encontrar. Ela tomaria nota de procurar em volta do acampamento temporário todas as vezes em que parassem para descansar à noite nos próximos dias. Provavelmente não seria impossível achar ao longo do caminho.

Guardando suas coisas novamente na bolsa, Alana caminhou em volta para esticar as pernas e aproveitar para procurar ervas úteis ao redor.

Até a hora em que Marmond pediu que todos fossem para seus lugares para passar a noite, ela encontrou apenas um pouco de erva para estancar sangramentos. Mas já era bom o suficiente e, satisfeita, Alana subiu no carroção em que estava viajando para dormir. O casal também se acomodou em um canto para passar a noite.

Durante a noite, alguns pequenos animais selvagens se aproximaram do acampamento, mas nenhuma besta apareceu. A equipe de escolta e os funcionários da caravana lidaram com eles facilmente e acrescentaram um pouco de carne para a refeição do dia seguinte.

Claro que essa carne não seria dada aos três viajantes comuns de graça, se quisessem teriam que pagar algumas moedas de cobre, porém o valor pelo quilo já era maior do que as economias de Alana. Ela só podia virar para o outro lado e engolir seu pão duro no dia seguinte, ignorando o cheiro gostoso que vinha da pequena fogueira durante o café da manhã. Ela prometeu a si própria trabalhar duro para ganhar mais dinheiro quando chegasse a Truzia.

Assim, a viagem de 23 dias de Liande à Truzia chegou a sua metade sem maiores contratempos. Foi assim até a noite do 14º dia de viagem.

Àquela noite estava garantida a deixar todos com os nervos à flor da pele, quando um grupo de três bestas atacaram o acampamento no meio da noite, causando terror aos integrantes do comboio.

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