Capítulo 10

Como assim eu tenho que ir no carro com esse traste?

Sarah exclama com as mãos na cintura depois do seu irmão ter dito que iríamos em carros separados. Isso é um encontro de casais? Afasto essa ideia, nunca vai rolar.

- Caralho Sarah já disse que eu vou no meu carro com a Helena e você vai no carro do David, para de k.o!

Dylan diz ríspido e gesticulando um pouco, ele tá sem paciência mesmo.

- Vamos amiga, o caminho não é longe, daqui a pouco a gente vai curtir.

Falo o mais convincente possível pra minha amiga não causar uma explosão catastrófica nessa garagem. Dylan olha pra minha cara meio confuso, acredito que imaginando o que seria "curtir".

- Tá bom então amiga, pelo bem da curtição.

Ela fala por fim e nós duas rimos, eles não acharam nenhuma graça acredito.

Entramos no carro e eu sento no carona, é um carro todo preto e bem grande, muito bonito e a cara do Dylan, o do Dv já é branco, mas no mesmo estilo do carro do Dylan, eles saíram na frente, porque o carro estava estacionado na frente da casa e logo atrás Dylan da partida. E ele fica mais atraente ainda dirigindo, mas não tá com uma cara muito boa.

De repente sinto algo quente na minha coxa e logo vejo que é a mão de Dylan que estava lá acariciando minha pele, como devo reagir a isso, tiro a mão dele e faço ele ficar mais bravo do que já tá, ou não coloco mais lenha na fogueira. Aquela eletricidade toda está de volta e meu corpo me entrega mais uma vez, por mais que eu não queira, não consigo fazer o contrário e não aceitar o carinho repentino, e mais uma vez, o que está acontecendo comigo, será que eu sou carente demais.

Dylan percebe que eu não me afastei do seu toque e continua com a mão ali, mas agora segura com mais força, posso apostar que a essa altura não consigo nem respirar, o ar parece quente, ele não fez nenhum gesto demais e eu já tô assim, tenho que me controlar, respiro devagar tentando controlar minha respiração.

- Tá passando mal bonequinha?

Ele fala me analisando de cima a baixo percebendo o que está fazendo.

- N... não.

Viro o rosto pra estrada.

- Você tem uma inocência tão grande. Gosto disso em você.

Ele fala olhando pro trajeto.

- Como é?

Me viro pra ele novamente mas agora com um pouco de irritação, porque ele me trata como criança, me ajeito no banco de couro.

- Bom, isso que você tá sentindo agora, eu também tô sentindo você pode apostar, mas você sabe o que isso significa Helena?

Ele fala com total convicção de suas palavras.

- O que exatamente?

Respondo rápido sem muito tempo pra pensar. Ele da uma risada baixa.

- O calor dentro desse carro, o corpo quente com o toque, a respiração irregular, a resposta automática a mim, você Helena, não vê a hora de pular em cima de mim, tô errado?

Ele me olha por um breve momento e coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha reparando que estou corada e não se preocupa em disfarçar que reparou nisso, ele tá tentando provocar e eu sou muito fraca nisso, nunca passei por isso, só tô agindo por impulso.

- Eu acho que talvez você esteja certo.

Falo olhando pelo vidro tentando disfarçar tudo que ele acabou de confirmar, ele lê muito bem as pessoas isso é um pouco preocupante.

Depois disso ficamos em silêncio o resto do caminho.

NARRAÇÃO - SARAH

Não acredito que vou ter que ir no mesmo carro que o David, ninguém merece ter que aturar ele. Logo entramos e me sento no carona, fico calada de cara fechada e olhando pra fora, logo ele da partida e até agora o meu querido silêncio prevalece.

- Porra loira por que você me trata tão mal assim?

Ele fala com a cara de confuso, ele não me engana mesmo, fico logo irritada, poderíamos ir em silêncio que eu iria amar.

- Aí cara se for possível ficarmos em silêncio e não tocar nesse assunto eu agradeceria, o que aconteceu foi um erro e não vou mais repetir.

Ele não me responde, continua prestando atenção na estrada.

Na real ninguém sabe o que aconteceu entre a gente pra mim ter tanto ranço da cara dele, e eu não quero ter que explicar isso e ficar vulnerável. Ele sempre ia lá em casa e sempre ficou perto do meu irmão por causa do morro e tudo mais, eu sempre achei ele gatinho mas apesar de eu ser livre leve e solta eu não sou tão vivida assim não, eu acabei tendo um crush nele por um tempo e acabei pegando ele me olhando pelos cantos.

Mas nunca tínhamos tido nenhum contato direto, até que meu irmão fez um baile especial no morro pra comemorar uma aliança com outro morro e eu fui pro baile com uma colega que é esposa do aliado do meu irmão. Nós duas curtimos e dançamos a noite toda e ele não parava de me olhar, até que eu fui ao banheiro e ele me deu um fecho no corredor do baile e acabamos nos beijando.

Depois disso ele nem trocou uma palavra comigo e nem me procurou pra esclarecer nada do que tinha acontecido, é claro que eu fiz o mesmo e segui minha vida. Depois fiquei sabendo que ele tinha ficado com outras pessoas e até hoje não sei se ele é galinha ou se eu que achei que tava rolando algo a mais e me iludi sozinha. Meu irmão não soube disso, se não ele teria surtado certeza.

- Você tá falando daquele lance que teve no baile?

Ele pergunta seco e acho que ainda não entendeu que eu não tô afim.

- Exatamente David, como eu disse não quero tocar nesse assunto, aliás você também não quis não é mesmo.

Ele me olha rápido e depois desvia com um olhar pesado. Continuo olhando pra fora.

- Poxa loira, naquela noite eu tinha bebido muito e você tava com aquele vestido apertado dançando até o chão eu fiquei puto demais e agi sem pensar.

Olho pra ele indignada e cruzo os braços.

- Agiu sem pensar? Que desculpa é essa?

Falo irritada.

- Sim, assim que eu percebi o que tinha feito eu me afastei porque sei que perderia a cabeça se continuasse com isso.

Ele fala com a voz baixa e minha irritação vira chateação.

- Eu pensava que você também reparava em mim como eu reparava em você David.

Falo com a voz triste e ele fica com a expressão de surpresa.

- Eu sempre reparei em você Sarah, você é a loira mais gata desse morro. Já ouvi vários manos falando de você e aquilo me dava vontade de socar a cara de cada um. Todos os lugares que você ia eu sempre te via de longe pra você não reparar que eu tava olhando e pra teu irmão não reparar também, e puta merda Sarah, você é perfeita demais, eu não sou o suficiente pra você, você sabe que minha vida é como a do teu irmão e ele não quer isso pra tu, eu tive que me afastar de você antes que eu não conseguisse me controlar e te agarrace na frente de todo mundo mesmo e foda se o resto. Loira, eu preferia que você sentisse ranço de mim ao invés de desprezo, pelo menos eu poderia ser próximo a você de alguma forma.

Acho que depois de tudo que eu ouvi eu não tenho como descrever o que eu sinto em relação a isso e a ele. Fico em silêncio absorvendo.

- Mas você ficou com outras pessoas mesmo assim.

Ele me olha e vê que eu estou de cabeça baixa.

- Não quero que você pense que eu fiz isso pra fazer você sofrer. Eu tentei tirar você da cabeça de todas as formas, mas não tem igual a tu não loira, não poder ter tua boca junto da minha igual naquela noite, é foda demais.

Não sei se acredito nele, mas 80% de mim quer acreditar nisso e também quer que ele me beije de novo. Ele pega na minha mão que está gelada e a aperta com carinho e ficamos ali, o resto do caminho todo em silêncio e refletindo todos esses meses que ficamos sem resposta um do outro.

Não sei se arrisco e me permito como naquela noite ou se esqueço tudo isso e o deixo de lado pra sempre, meu corpo quer ele, ele quer sentir o David. Droga Sarah o que você vai fazer agora?

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