Pior e mais desgastante que o seu, permita-me dizer que sua reação inicial é
típica da maioria de minhas clientes. Cada uma acredita que seu problema "não é
tão ruim assim", mesmo quando se refere com compaixão a situações de outras
mulheres que, na opinião dela, possuem conflitos "reais".
É uma das ironias da vida o fato de nós, mulheres, conseguirmos reagir com
complacência e compreensão à dor na vida das outras, enquanto permanecemos
tão cegas à dor (e pela dor) em nossa própria vida. Sei disso perfeitamente bem,
tendo sido uma mulher que amou demais a maior parte do tempo, até que o
estrago físico e emocional se tornou tão sério que fui forçada a analisar meus
padrões de relacionamento com homens. Passei os últimos anos esforçando-me
para modificar aquele padrão. E esses anos foram os mais gratificantes de minha
vida.
Espero que, para todas vocês que amam demais, este livro não ajude apenas a
se tornarem mais conscientes da realidade de sua condição, mas também as
encoraje para começarem a se modificar, retirando sua atenção afetuosa de sua
obsessão por um homem e colocando-a na própria recuperação e na própria
vida.
Aqui, uma segunda advertência faz-se adequada. Existe neste livro, como em
muitos outros de "auto-ajuda", uma lista de etapas a serem realizadas para a
pessoa se modificar. Se você decidir que realmente quer seguir essas etapas,
serão necessários — como em toda recuperação terapêutica — anos de trabalho
e nada menos que seu total comprometimento. Não existe nenhum atalho para
sair do padrão de amar demais em que você se envolveu. E um padrão adquirido
na infância e praticado bastante, e abandoná-lo será um desafio cheio de medo e
ameaça.
Não advirto para desencorajar. Afinal, você estará certamente enfrentando
uma luta através dos anos se não mudar a forma de se relacionar. Mas, nesse
caso, sua luta não será com relação ao crescimento, será simplesmente com
relação à sobrevivência. A escolha é sua. Se escolher iniciar o processo de
recuperação, você passará de mulher que ama com doloroso sofrimento, para
mulher que se ama o suficiente para suprimir a dor.
Amar o homem que não corresponde a esse amor
VÍTIMA DO AMOR,
VEJO UM CORAÇÃO PARTIDO.
VOCÊ TEM SUA HISTÓRIA PARA CONTAR.VÍTIMA DO AMOR;
É UM PAPEL TÃO FÁCIL
E VOCÊ SABE DESEMPENHÁ-LO TÃO BEM.
. . . ACHO QUE SABE O QUE QUERO DIZER.
CAMINHANDO NA CORDA BAMBA ENTRE A DOR E O DESEJO.
ESPERANDO ENCONTRAR O AMOR.
VICTIM OF LOVE
Era a primeira sessão de Jill, que parecia cheia de dúvidas. De expressão viva
e boa aparência, cabelos loiros encaracolados, sentou-se formalmente, com o
olhar fixo em mim. Tudo nela parecia arredondado: o contorno do rosto, o corpo
levemente roliço, e principalmente os olhos azuis, que logo notaram os diplomas
e certificados pendurados em meu consultório. Fez-me algumas perguntas sobre
a universidade e meu trabalho profissional, e então mencionou, orgulhosa, que
fazia faculdade de Direito.
Houve uma pausa e ela olhou para suas mãos encolhidas.
— Acho que seria melhor começar dizendo por que estou aqui — falou
rapidamente, usando a impetuosidade de suas palavras para criar coragem. —
Estou fazendo isso, quero dizer, procurando um terapeuta, porque estou
realmente infeliz. Por causa dos homens, claro. Digo, os homens e eu. Sempre
faço algo para afastá-los. Tudo começa bem. Eles procuram por mim e tudo
mais, e depois que me conhecem — Jill ficou visivelmente tensa, tentando não
deixar a dor transparecer — tudo acaba.
Olhou para mim contendo as lágrimas, e prosseguiu lentamente:
— Quero saber o que estou fazendo de errado, o que tenho que mudar em
mim, porque mudarei. Farei qualquer coisa que for preciso. Sou persistente. —
Voltou a falar rapidamente. — Não é por falta de vontade. Eu só não sei por que
isso está sempre acontecendo comigo. Tenho medo de me envolver mais. Quero
dizer, sofro todas as vezes. Estou começando a sentir medo dos homens.
Ela se exprimiu com veemência, meneando a cabeça, os cachos
acompanhando seu movimento, e prosseguiu:
— Não quero que isso aconteça, pois me sinto muito só. Tenho muitas
responsabilidades na faculdade de Direito, e também trabalho para me sustentar.
Isso me manteria ocupada todo o tempo. Na verdade, foi tudo o que fiz no último
ano: trabalhar, ir à faculdade, estudar e dormir. Mas senti a falta de um homem
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Atualizado até capítulo 93
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