Seu motivo de orgulho

Gina terminou de abrir a loja na manhã seguinte, sentindo aquele mal estar que agora ela sabia ser provocado pela gravidez.

Dalila chegou minutos mais tarde. Com seu costumeiro bom humor e dois copos grandes de café.

_ Bom dia, chefe! _ ela disse estendendo-lhe um dos copos da bebida quente, mas apenas o cheiro do café foi o suficiente para fazer seu estômago revirar.

_ Acho que o café não será uma boa ideia hoje... _ murmurou, sentindo- se enjoada.

Dalila e encarou, confusa.

Gina nunca negara café antes.

_O que está acontecendo? Você nunca dispensa o café...?

Gina largou a bolsa sobre o balcão da loja, suspirando profundamente.

_Lembra-se da minha consulta de fertilidade, que fiz meses atrás? _ perguntou e a menina assentiu, recordando-se. _Pois então...

Gina contou a Dalila tudo o que acontecera e a descoberta que fizera no dia anterior. Terminou contando sobre sua visita inesperada tarde da noite e a proposta ofensiva que Clive Jackson lhe fizera.

_Eu sei que existem mulheres que engravidam em troca de dinheiro, mas eu não sou uma delas e não pedi por isso! _ exclamou, ofendida. _ Não dessa maneira, pelo menos! Se eu tivesse tido escolha, jamais teria escolhido carregar o bebê daquele homem na minha barriga...

Ela ainda não conseguia entender como um homem tão bonito e viril como aquele, pudesse ser tão arrogante e asqueroso a ponto de lhe oferecer dinheiro em troca que entregasse seu filho quando nascesse.

O bebê que carregava em seu ventre podia ser resultado de toda aquela confusão, mas era algo com o qual vinha sonhando há muito tempo, desde o acidente.

E deitada em sua cama, naquela manhã, antes de se levantar para se arrumar para o trabalho, ela pousara as mãos em seu ventre, imaginando o pequeno ser que ali crescia antes de chorar pelo que ela perdera três anos atrás.

_ Talvez isso seja o destino brincando com vocês dois. _ disse Dalila sem se conter em fazer uma piada. _ Olhou para as mãos dele? Ele tinha aliança? Era bonito, pelo menos?

Dalila disparou um monte de perguntas, deixando Gina atordoada.

Pegou sua bolsa novamente, revirando os olhos enquanto caminhava para sua sala.

_ Você está sendo romântica demais, Dalila! _ respondeu. _E não, eu não olhei para as mãos dele e sim para a minha quando eu lhe dei um tapa. Agora deixe-me iniciar o trabalho pois tenho vários cheques para preencher antes do horário do almoço.

Dalila ficou estacada no lugar, completamente chocada, enquanto Gina entrava em sua sala e fechava a porta.

Precisava agilizar algumas coisas que ficaram pendentes no dia anterior, já que tivera de ir ao médico.

Era sexta-feira, fechariam a loja uma hora mais cedo e tornariam a abrir somente na segunda-feira. E ainda teria que passar na casa de seus pais para o jantar.

Só não sabia ao certo como contaria a eles sobre o bebê, porque ela não poderia esconder que seriam avós por muito mais tempo.

Assim que terminou de preencher os cheques, pegou algumas contas a loja que precisavam ser quitadas ainda naquele dia e colocou dentro da bolsa.

Perto do horário de almoço, ela saiu de sua sala, deparando-se com a loja cheia e sorriu satisfeita para Dalila.

_Boa tarde! _ ela cumprimentou as clientes que andavam pela loja, olhando as várias peças de roupas infantis.

_Gina, querida, sua loja está ficando cada vez mais linda e cheia de novidades! _ uma delas exclamou, deixando Gina orgulhosa.

Uma grávida pegava um macacão de recém-nascido e o levava ao rosto, com um olhar sonhador.

Gina sentiu um aperto no coração.

Sua mãe lhe dissera que não seria uma boa ideia abrir uma loja de roupinhas de bebê, logo após ter perdido sua filha. Seria como torturar a si mesma, observar várias mulheres grávidas entrando e montando seu enxoval, quando ela não tivera a mesma oportunidade.

Mas isso não a fizera mudar de ideia e ali estava, observando várias futuras mamães felizes enquanto pegavam as minúsculas peças, imaginando como ficariam quando as colocasse em seu filho ou filha quando nascesse.

Era doloroso, sim. Mas ao mesmo tempo era gratificante, pois aquele tipo de olhar que via nos olhos daquela jovem mãe, era o que a deixava realizada no fim do dia.

_Obrigado, Sra. Carter. _ respondeu. _ Espero vê-la mais vezes em minha loja.

A senhora em questão sorriu gentilmente.

_Você com certeza me verá aqui várias vezes ainda, querida. Minha filha mais nova descobriu que está grávida de gêmeos! _ disse ela, radiante de felicidade.

Gina sorriu e a parabenizou.

_Meus parabéns, vovó... _ ela a abraçou.

Sentia-se em casa naquela loja, com todas aquelas mulheres.

_Caso não encontre o que procura é só me avisar que farei o possível para encontrar, ok! _ ela disse, deixando a mulher ainda mais satisfeita antes de se afastar até Dalila.

_ Olhe todas essas grávidas... _ Dalila murmurou para que só ela ouvisse e então corou, ao perceber o que acabara de dizer. _Desculpe!

Gina sorriu e bateu de leve em seu braço.

_Vou até o banco pagar algumas contas e volto com o nosso almoço. _ avisou. _Acha que dá conta de tudo sozinha por uma hora?

Dalila assentiu.

_ Pode ir tranquila, tudo ficará sob controle. _ garantiu e então Gina se afastou novamente, ajeitando a bolsa no ombro.

Clive entrou na pequena loja, observando as mulheres que compravam roupinhas de bebê.

Bem, ele se sentiu deslocado, pois havia apenas ele de homem no meio de, pelo menos, umas dez mulheres e ele pôde sentir os dez pares de olhos se voltando para ele quando passou pela porta da loja.

Uma garota cheia de piercings se aproximou dele com curiosidade, um sorriso gentil em seus lábios.

_Posso ajudá-lo? _ ela se ofereceu.

_Eu acho que entrei na loja errada... _ ele comentou, olhando em volta para as peças minúsculas infantis. _ Procuro pela loja de Virgínia Summers...

A moça sorriu um pouco mais abertamente para ele.

_Então creio que esteja no lugar certo, senhor...

_Jackson. _ ele respondeu. _A srta. Summers está?

A garota meneou a cabeça em negativa.

_Ela saiu tem uns vinte minutos, mas disse que não ia demorar. _ ela disse. _Porque não espera por ela lá dentro? Ela não deve demorar muito mais...

Clive olhou para as mulheres dentro da loja, disfarçadamente, e assentiu.

A moça o levou para dentro de uma salinha pequena onde havia apenas duas poltronas, uma de frente para a outra, em cada lado de uma mesa de madeira escura simples.

Na parede atrás da mesa havia uma pequena janela enfeitada com cortinas de um tom de pêssego e no outro extremo um pequeno armário contendo alguns porta-retratos.

_ Sente-se e fique à vontade. _ disse ela. _Eu vou terminar de atender aquelas mamães lá fora e já volto com algo para você beber... Café, refresco...? _ ela indagou da porta, enquanto Clive se sentava.

_Apenas água, por favor. _ ele respondeu.

Não pretendia se demorar ali.

Passara toda a manhã distraído e mal prestara atenção nas plantas a sua frente, em seu escritório.

Ele acabara de fechar o contrato de compra de uma pequena pousada a beira da falência e precisava analisar o que deveria ser reparado antes de colocá-la a ativa novamente.

Era o que deveria estar fazendo naquele momento ao invés de estar ali, esperando pela mulher de gênio forte que se negava a fazer as coisas do seu jeito.

Quando viera até ali, não imaginava encontrar uma loja de roupas infantis.

Nem mesmo esperava que ela tivesse um negócio próprio! Pensou, mas seu investigador lhe entregara as informações que pudera encontrar em um período tão curto de tempo e faltava descobrir muita coisa sobre Virgínia Summers.

Assim que a moça o deixou sozinho, Clive se levantou novamente e andou pelo pequeno espaço da sala, parando em frente a pequena estante e observando as fotos ali em cima.

Em todas elas haviam apenas Virgínia e um casal mais velho que ele imaginava serem seus pais.

Observou o casal, seu olhar pairando sobre a figura paterna e descobrindo de onde vieram os cabelos cor de fogo.

Não sabia dizer ao certo quanto tempo ficara ali observando suas fotos, até que a porta se abriu e a garota voltou com um copo de água gelada.

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