Um acordo ofensivo

Gina desceu as escadas novamente, enquanto Clive a esperava pacientemente na sala.

Ela tivera de subir e se vestir o mais rápido que conseguira, pois não estava segura de ter feito a coisa certa deixando-o entrar em sua casa.

Então se aproximou dele lentamente enquanto ele observava as fotos de sua família expostas na estante ao lado da tv.

_ Desculpe a demora. _ disse ela para chamar sua atenção, apesar de sentir que não lhe devia desculpa alguma. Ele é quem aparecera em sua porta inesperadamente!

O Dr. Roberts lhe dissera conhecer o dono do material que fora inseminado nela por engano e marcariam um encontro para falarem a respeito da criança já que ambos o queriam.

Estava em uma situação completamente confusa e não sabia ao certo o que faria a seguir.

Ela não queria contato algum com o pai da criança, mas ele também não era culpado pelo engano da clínica.

E processar o doutor Roberts em nada resolveria os seus problemas.

Mas enfrentar agora o “pai” de seu bebê, cara a cara, quando sabia que qualquer informação ao seu respeito deveria ser sigilosa, a deixou furiosa, entre outras coisas.

Como se já não tivesse feito o suficiente, o Dr. Roberts ainda quebrara o sigilo médico!

_ Me desculpe pela aparição repentina. _ ele disse, soando agora um pouco mais gentil do que quando chegara momentos mais cedo.

Gina terminou de amarrar os cabelos em um rabo-de-cavalo solto, sentindo-se pouco à vontade na presença de um completo estranho em sua casa àquela hora da noite.

_ Acho que ambos fomos pegos de surpresa, apesar de eu ter certeza que fui a mais afetada. _ disse ela com sinceridade. _ Imaginava que qualquer informação ao meu respeito fosse confidencial...

_ Não culpe o doutor Roberts, eu o pressionei a me dizer quem você era. _ ele explicou.

Gina arqueou uma sobrancelha.

_ Pressionou?

Clive assentiu, inexpressivo.

_ Sou Clive Jackson e o Dr. Roberts é meu cunhado! _ ele explicou estendendo a mão para um aperto, e Gina se sentiu em uma situação ainda mais embaraçosa.

Cunhados! Só lhe faltava isso... pensou, angustiada.

_ Mesmo que sejam parentes, ele não deveria ter feito isso! _ ela exclamou, aceitando o cumprimento educadamente, mas sem deixar de demonstrar seu desagrado. _ Mas então, o que veio fazer aqui?

Clive observou a mão da moça na sua por um momento antes de finalmente soltá-la com o senho franzido.

Pele macia…

Com certeza não estava acostumada ao trabalho duro, diferentemente de suas próprias mãos ásperas. Mas ele sempre fizera questão de trabalhar, pensou observando tudo em volta.

E não parecia que ela fizesse o mesmo, apesar de não viver rodeada por luxo como ele imaginava a caminho de sua casa.

Mobílias comuns, uma tv velha e sofás gastos...

Ficou curioso em saber mais sobre a garota que carregava seu filho ou filha no ventre, ao mesmo tempo em que tentava encontrar uma maneira de dizer o que viera dizer.

Olhou diretamente em seus olhos, notando que ela os desviou dos seus quase que imediatamente, de maneira nervosa.

Sentiu um sorriso repuxando o canto de seus próprios lábios, surpreso com sua própria reação.

Algo nela o intrigava e ele não sabia exatamente o quê.

Mas percebera isso no exato momento em que pusera os pés dentro de sua casa, enquanto ela trajava apenas um roupão de banho atoalhado.

Para quantos outros homens ela já teria aberto a porta tarde da noite, vestida daquele jeito? Pensou com desagrado.

_ Precisamos entrar em um acordo... _ ele disse por fim, voltando ao que interessava.

Gina franziu o cenho.

_ Que tipo de acordo? _ ela quis saber. _ Eu não farei um aborto, se é o que veio me pedir.

Gina cruzou os braços, seu olhar sério e decidido o encarando de volta, combinado ao queixo empinado.

Um olhar que ardia feito fogo, assim como seus cabelos.

_ Eu não vim até aqui para pedir isso. _ ele explicou, colocando as mãos nos bolsos da calça novamente.

Isso fazia com que o tecido de sua camisa se ajustasse mais ao seu corpo, revelando os músculos de seu tórax, assim como os bíceps muito bem trabalhados.

_ Eu vim lhe propor uma troca. _ ele disse, trazendo Gina de volta a realidade quando se pegou cogitando que tipo de trabalho ele fazia para ter um corpo em forma daquele jeito...

_ Uma troca...? _ ela já estava se sentindo uma completa idiota enquanto repetia tudo o que ele falava.

Estava exausta, tanto física quanto mentalmente devido ao dia que estava tendo e ele não chegava logo ao ponto que o trouxera até ali, pensou enquanto descruzava os braços, impaciente.

_ Sim, uma troca. _ ele repetiu sem titubear. _ Você me diz quanto quer e leva a gravidez até o fim… _ ele explicou. _ E então me entrega o bebê...

Clive não conseguiu terminar a frase, pois no instante seguinte a palma de Gina batia contra o lado esquerdo de sua face, deixando a marca de seus dedos.

Clive fechou e abriu os olhos rapidamente, sentindo o local do impacto queimar ligeiramente antes de voltar a olhar para a mulher completamente furiosa a sua frente.

As maçãs do seu rosto estavam coradas, ela respirava rapidamente enquanto suas narinas inflavam e mantinha uma postura defensiva.

_ Saia já da minha casa! _ ela gritou, apontando então para a porta por onde ele entrara momentos antes.

_ Eu não farei essa proposta novamente Virgínia Summers... _ ele avisou, completamente tenso.

Nunca levara um tapa no rosto antes, em toda a sua vida!

Mas algo lhe dizia que levaria outro a qualquer momento, pois a mulher a sua frente parecia um vulcão prestes a entrar em erupção.

_ Então eu não terei que me dar ao trabalho de lhe dizer aonde deve enfiar essa proposta, Sr. Jackson! _ ela disse rudemente, afastando-se e indo até à porta para abri-la para ele.

Clive ainda levou alguns segundos para acreditar que aquilo realmente estava acontecendo e tensionou o maxilar enquanto caminhava até ela.

Gina sentiu-se fraquejar por um momento quando enfrentou seu olhar.

O homem parecia furioso, contendo-se para não extravasar sua fúria.

Mas ela se sentia da mesma maneira e não se importava de ofendê-lo.

Fora ele quem começara quando havia considerado que ela aceitaria vender seu filho ou filha, como se fosse alguém interessada apenas no dinheiro que ele possuía.

Ele merecera o tapa que lhe dera e não estava nem um pouco arrependida.

Ergueu o queixo, para mostrar que não estava se sentindo intimidada quando ele parou novamente a sua frente.

_ Eu voltarei novamente quando estiver mais calma. _ ele avisou, saindo pela porta como se nada tivesse acontecido e isso a irritou mais ainda.

_ Pois não se dê ao trabalho! _ ela gritou batendo a porta quase na cara dele antes de recostar-se nela, respirando fundo.

_ Que merda foi essa! _ ela disse a si mesma antes de afastar-se da porta quando sentiu que suas pernas estavam firmes o suficiente para sustentá-la.

Aquele homem era um completo maluco, apesar de ser muito bonito e charmoso, pensou, seguindo diretamente para a cozinha a fim de pegar seu pote de sorvete e pôr em prática seus planos anteriores antes de ser interrompida.

Então quando olhou para o sorvete de morango, não sentiu a empolgação costumeira e fechou novamente a geladeira.

A visita inesperada de Clive Jackson não lhe tirara apenas o autocontrole, como também o apetite!

Inconformada, ela pegou o aparelho de celular e subiu as escadas para o seu quarto.

Já estava perto das 22:00 e ela precisava levantar cedo no dia seguinte para abrir a loja.

Tudo o que precisava fazer era esquecer a existência daquele homem terrivelmente rude e descansar um pouco.

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