Um péssimo dia

Clive caminhou até seu carro completamente irritado.

Imaginava que resolveria a situação do jeito mais fácil possível, mas pelo visto a mulher não iria facilitar para ele.

O que ele dissera de errado? Perguntou-se, esfregando a palma onde ela havia batido, ainda aturdido.

Ele simplesmente lhe oferecera uma saída para aquela situação já que ela engravidara por engano.

Ela não parecia ter condições o suficiente para cuidar de uma criança, considerando o lugar onde vivia.

Ele percebera que não era uma pessoa rodeada pelo luxo, por isso mesmo precisavam entrar em um acordo antes que ela se desse conta de tudo o que podia receber se decidisse usar o bebê como moeda de troca.

Seria mais fácil para ela assinar um acordo agora e lhe entregar seu filho assim que nascesse.

Sairia com o bolso cheio de grana no final e não teria uma criança para bagunçar sua vida.

Era jovem, e ele não podia negar que era uma mulher muito bonita.

Seus cabelos, combinados aos olhos verde-jade e aqueles lábios rosados...

Entrou no carro e prendeu o cinto de segurança, parando um segundo enquanto olhava para a casa de onde acabara de sair.

Ou melhor, ser expulso!

“Lábios rosados”? O que ele estava pensando, afinal?

Deveria se concentrar e pensar em uma maneira de convencer a moça a lhe entregar o bebê e aceitar sua ajuda financeira, e não ficar perdendo tempo imaginando como seria sentir suas madeixas avermelhadas entre os dedos e provar daqueles lábios.

Pois fora isso mesmo que passara por sua mente assim que ela lhe deu aquele tapa.

Por uma fração de segundos sua vontade foi prensá-la contra a parede e invadir sua boca com a língua e provar cada pedacinho.

Talvez fosse efeito da adrenalina, ou melhor ainda, do tempo que permanecera sozinho sem um corpo quente e macio para aquecê-lo a noite.

Deu partida no carro e guiou para o único lugar onde poderia clarear as ideias àquela hora da noite.

_ Tem alguém que parece necessitar urgentemente de uma bebida... _ Carmem comentou, assim que ele se sentou em uma banqueta no bar lotado.

_Acho que uma não será o suficiente! _ resmungou e agradeceu quando ela colocou uma cerveja na sua frente.

Não era exatamente o tipo de bebida que precisava naquele momento, mas teria que servir, pensou ele dando um longo gole na bebida gelada.

Só precisava ficar sozinho e beber um pouco, enquanto pensava em uma solução para seus problemas.

Mas ao dar uma olhada em volta, no bar lotado, ele deparou-se com Róger, Marc e Donna.

_Droga! _ exclamou para si mesmo, virando-se de costas e fingindo que não os vira, torcendo para que não o reconhecessem.

Não que tivesse algo contra os velhos amigos, mas não estava no clima para os avanços de Donna.

_Acho que isso não vai funcionar para você essa noite. _ Carmem comentou, inclinando-se sobre o balcão com um sorriso divertido nos lábios.

Ela sabia que ele evitava Donna a todo custo e ao perceber o olhar dela por sobre seu ombro, ele entendeu o motivo do seu comentário.

_Clive, querido! _Donna disse bem próximo ao seu ouvido.

Se fosse outro homem com toda certeza teria ficado excitado ao som rouco de sua voz, somado ao perfume sedutor de Donna.

Mas Clive não estava interessado e esquivar-se dela só parecia aumentar seu interesse por ele.

_ Porque não se senta conosco? _ ela perguntou, deslizando as longas unhas por seu braço enquanto se recostava no balcão, bem ao seu lado.

Clive lançou- lhe um olhar desinteressado.

_Não pretendo me demorar aqui, Donna. _ respondeu friamente.

Donna fez beicinho.

_Faz dias que não se reúne conosco para tomar uma bebida. _ ela reclamou.

_Eu tenho andado muito ocupado nesses últimos dias. _ mentiu.

Na verdade, ele não andava no clima para sair.

Isso acontecia sempre que se aproximava o que seria seu aniversário de casamento, dali a um mês.

Nesse período ele gostava de ficar sozinho, acompanhado apenas por sua costumeira garrafa, de qualquer coisa que fosse forte o suficiente, para amenizar sua dor.

_ Você precisa se enturmar, Clive, querido...

_Outra hora, talvez. Mas hoje eu realmente preciso ir para casa. _ disse ele virando o restante de sua cerveja em um só gole antes de retirar o dinheiro da carteira e colocar sobre a caneca de cerveja.

Mas ela não desistiu, olhando para ele com seu olhar provocante.

_O que acha de me levar com você, essa noite? _ ela sugeriu. _Apenas nós dois, uma bebida... Longe de toda essa bagunça.

Clive suspirou.

Ela realmente não sabia quando parar? Ele se perguntou, irritado, enquanto se levantava da banqueta do bar e lhe lançava um olhar decidido.

_Hoje não. _ ele se virou para se afastar, mas ela o segurou pelo braço, impedindo que desse o primeiro passo para longe dela.

_Amanhã, então...

Ele realmente não queria ser rude, mas Donna sabia como testar sua paciência!

_Estarei fora durante alguns dias, Donna. Quem sabe quando eu voltar...

Isso pareceu satisfazê-la, pois lhe sorriu e se virou de maneira provocante para se afastar. Então lançou um olhar para ele por sobre o ombro.

_Bem, será um sacrifício que poderei fazer por você ao esperar tanto tempo..._ ela disse. _Volte logo, querido!

Donna saiu rebolando exageradamente enquanto Clive se despedia de Carmen com um aceno.

Caminhou para a saída rapidamente, antes que Donna anunciasse sua presença para os amigos.

Aquele com certeza não estava sendo um bom dia, pensou enquanto voltava para dentro do carro e seguia para sua própria casa.

Talvez tomar um banho e dormir fosse o melhor naquela noite.

No dia seguinte com toda certeza acordaria com alguma ideia para convencer Virgínia Summers de que seus planos beneficiariam aos dois. E então dentro de alguns meses ele não teria mais que fazer parte da vida dela e ambos seguiriam seus próprios caminhos.

Mas enquanto isso, ele não pretendia tirar os olhos de cima dela nem por um minuto sequer.

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