Sentimento de culpa

O Anjo tentava fazer com que Felipe continuasse a sua missão.

Pense um pouco mais… como eu te disse, vai ficar como um anjo da guarda temporário por algum tempo… não desista dela… O anjo da guarda que sempre esteve sereno, agora estava triste. Eu preciso ir. Disse partindo antes que pudesse revelar seu segredo a Felipe que percebe que ele escondia algo dele.

Felipe fechou os olhos, queria estar em outro lugar. Ao abrir os olhos estava no hospital, exatamente no leito onde estava internado. Para ele era desesperador ficar olhando o próprio corpo, imóvel, parecendo sem vida.

_ Por que tem que ser tão difícil. Murmurou. Sua família estava sempre presente e vê-los, a principio, lhe fez bem.

Oi filho, aqui é a sua mãe. Sua mão sempre que vinha, ficava conversando com ele. Por favor acorde, eu preciso tanto do seu sorriso e do seu bom humor, do seu carinho... Você não merece ficar assim, tem uma vida inteira pela frente... Sua mãe estava arrasada.

_ Oh mãe, não fique assim, eu vou voltar… Falou sem muita convicção.

_ Meu amor, temos que ter esperanças. Falou o pai. _Ele já está sem o respirador, e isso é uma boa notícia. Observou o pai.

 Por dois dias ficou no hospital observando como as pessoas que o amavam estavam tristes e preocupados, e por fim ele ficou mais deprimido. Vê-los daquele jeito era uma tortura. O anjo da guarda havia sumido nesses dias e ele não voltou a ver Camila.

Naquele dia, até Carlos foi visitá-lo.

_ Ei amigo, dá um jeito e acorda. A vida te espera. Falou Carlos. Você está fazendo falta, todos gostam muito de você. Até a sua colega de ensino médio perguntou como você estava. A Camila parecia muito preocupada, quem sabe ela também gosta de você, hein? Falou. Então, faz uma forcinha extra e volta, minhas notas nas disciplinas de cálculo vão agradecer. Brincou no final. Sofia, irmã de Felipe, chegou.

_ Oi amor. Cumprimentou Carlos com um selinho.

_ O que é isso? Quis saber ele surpreso. Não sabia que a irmã e o amigo estavam juntos.

_ Oi linda, ele não apresentou nenhuma melhora? Perguntou Carlos abraçando Sofia.

A única melhora que teve foi no sistema respiratório, já retiraram o respirador. Ela suspirou. É tão triste vê-lo assim.

_ Felipe é um cara tão bom. Estava com medo ele sentir ciúmes se soubesse da gente que acabei não contando antes de tudo que aconteceu.

Quando ele melhorar nós contaremos, e eu acho que ele vai aprovar, você é o melhor amigo dele.

Espero. Falou Carlos fazendo um carinho na face dela.

Meu melhor amigo  namorando a minha irmã? Como vocês esconderam isso de mim? Tudo na minha vida está tão louco, parece que todo mundo está me escondendo alguma coisa… Que saco. Disse chutando o ar. Viver naquele leito do hospital não estava fazendo bem para ele. Não quero mais ficar aqui. Fechou os olhos e pensou na praça que ficava perto da faculdade onde gostava de ficar observando as pessoas ou pensando na vida. Ao abrir os olhos já estava lá.

_ Essa é a única vantagem de estar nesse estado, nada de caminhar, nada de transito ruim, só pensar e chego aonde quiser. Pensou descobrindo que poderia estar onde quisesse, bastava pensar no lugar.  Já anoitecia. A noite seria fresca e a praça estava calma como ele gostava.

_ Há quantos dias eu não venho aqui? Observou. Foi até o banco que tinha o costume de ficar e sentou-se. Ficou observando as pessoas, ora passavam calmamente, ora com pressa, sozinhos ou acompanhado. Mas ele continua invisível para todos, não importava o quanto ele quisesse fazer parte daquele lugar. Sua cabeça parecia que ia explodir de tanto pensar no quanto se sentia sozinho e impotente diante da sua situação.

O que eu devo fazer? Quero a minha vida de volta... Era a única coisa que tinha em mente. Um tempo depois, percebeu que alguém parecia olhar para ele, e esse alguém era Camila, sentada em um banco que ficava em frente para o que ele estava sentado. O que ela faz aqui? Viu ela se levantar e caminhar na direção do banco em que ele estava. Sentou-se ao seu lado. Era a primeira vez depois que se reencontraram que a via tão de perto. Felipe pode ouvi-la sussurrar.

_ Você não devia estar em coma, você devia estar aqui…

_Ela sabe que eu venho aqui?  Felipe estava surpreso e ficou confuso, pois tinha certeza que ela o desprezava.

Felipe… Ela falou seu nome e foi como se ele sentisse o seu coração disparar, o que aconteceu no hospital chamando atenção da equipe médica. Se eu tivesse te chamado naquele dia, eu poderia ter evitado o acidente… eu tenho culpa por  você estar no hospital. Ela chorava. Ele ficou chateado consigo mesmo ao vê-la daquele jeito e por ter se afastado depois do encontro com Michele. Sentiu que ela não o odiava.

Camila, não foi sua culpa, me escuta… aff como se ela pudesse me ouvir. Esfregou as mãos não sabia o que fazer. Ela saiu da praça e pelo caminho que seguia, estava voltando para casa. Felipe a seguia. Aos poucos, as batidas do seu coração voltou ao normal no hospital e ele sentiu-se mais calmo ao lado dela. Camila se preocupa comigo… Um sorriso surgiu na sua face. Então eu devo cuidar dela. Concluiu

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