"Eu sou ruim pra caralho!"
Fazia 14° fucking graus e não era nem de noite ainda. May jogava videogame e tentava passar uma fase difícil, na verdade não era tão difícil assim, mas ela era realmente muito ruim. Sentada de pernas cruzadas no sofá, de moletom, os dedos apertavam rápida e repetidamente o controle. Sua cabeça acompanhada pelo seu corpo, de vez em quando, bruscamente, movia-se de um lado para o outro acompanhada de suas mãos como se isso fosse ter algum efeito dentro do jogo. Após tentar vencer mais uma corrida e capotar seu carro pegando fogo, ela desistiu e arremessou o controle para o lado do sofá.
As vezes ela não sabia se o jogo fazia realmente bem para ela, causava uma certa ansiedade por sempre querer vencer. Alongou os braços para cima e estalou suas costas. Colocou a mão no bolso de sua blusa de moletom e apalpou sua caixinha predileta. Ela sabia que era um mal hábito fumar, na verdade ela tinha um plano em sua mente para parar que variava de médio a longo prazo, dependia muito de seu ponto de vista, talvez quando fizesse trinta, "Com certeza" ela repetia pra si mesmo toda vez que pensava sobre o assunto.
Levantou-se e foi para a varanda. Ao longe se via o mar, um pedacinho no meio de alguns outros prédios e começava a anoitecer mas não havia pôr do sol. Ouviu um barulho na maçaneta da porta da frente. A porta abriu e um homem com camisa listrada, entrou em seu apartamento e sorriu em sua direção.
"Oi bonita! Tudo bem contigo guria?" Era seu amigo, Marcos.
"Oi bonito! Suave e você? Por onde andou hein?" Perguntou a ele curiosa.
Marcos estava com uma sacola na mão e a levantou para a amiga. A sacola era do supermercado ali próximo. Pela transparência da sacola ela conseguia identificar algumas latinhas e uma garrafa de algo colorido terminado em "off".
"Aí sim, pra onde vamos?" quis saber May.
Ele foi falando seguindo para a cozinha "Então, vai rolar um lualzinho aqui perto".
Ele retornou da cozinha com duas latas de cerveja na mão, entregando uma delas a amiga.
Eles brindaram e sentaram no sofá. May então perguntou "Quem é?"
"Quem é quem amiga?" Disse Marcos parecendo surpreso e confuso. Ele deu um gole longo na cerveja olhando para o outro lado da sala.
A amiga riu e deu uma almofadada nele e os dois começaram a rir.
"Para Marcos, você sabe o que eu te perguntei" ela disse.
"Aí amiga tá bom, é um boy novo, da turma de manhã, final do primeiro ano de biologia. Conheci na biblioteca".
"Nem sabia que você frequentava esse tipo de lugar." Disse May sorrindo mavaldamente.
"Besta! Mas é pura verdade, fui devolver um livro e achei a cachorrada". Eles riram alto com o comentário de Marcos.
"Você também pode se dar bem hoje a noite, aliás você sempre se dá!" Disse o amigo.
"Só quando eu quero e ultimamente você sabe que eu tenho evitado problemas". Disse May com um olhar distante.
"Ei, eu sei amiga, mas você talvez só precise relaxar e esquecer um pouco, é um povo mais novo que vai colar lá hoje" o amigo se aproximou e pegou em sua mão.
Ela sorriu de canto para ele.
"Eu sei, é por isso que vou com você". Disse ela sorrindo para ele.
Eles brindaram novamente e terminaram de beber a cerveja. Acendeu mais um cigarro, sentou em uma cadeira próxima a mesa da varanda e pegou seu violão o apoiando em sua perna, o cigarro pendia da boca, mas seus lábios o seguravam com firmeza. Começou a dedilhar sem muita direção.
Ela estava tentando fugir dos problemas. Seu último relacionamento tinha sido tóxico, muito tóxico e sabia que tinha sua parcela de culpa. Além disso, havia uma pendência que a prendia ainda com sua ex e May mais cedo ou mais tarde teria que resolver e enfrentar. Mas estava tentando adiar o máximo que podia, como sempre fazia.
Deu um longo trago em seu cigarro. Às vezes ela só queria voltar ao tempo quando tudo era mais fácil.
Lembrou da época em que saía com seu pai de carro, ele dirigindo e ela ao seu lado cantando alguma música que ele gostava, naquele tempo tudo era mais fácil. Ele colocava um de seus CDs no rádio do carro, ele sempre dizia que eram clássicos do rock. Sentiu um aperto doloroso no coração, até às lembranças por mais doces que fossem doíam como tivessem jogado óleo quente em seu coração. Tentando agarrar-se apenas ao lado bom, começou a dedilhar a entrada de uma música.
"Que música linda amiga! Quem canta hein? É mais um daqueles seus clássicos né" perguntou Marcos.
"É sim, chama Wonderwall, do Oasis". Disse May sorrindo.
"Bem massa! Você poderia tocar hoje na festa né?" Disse seu amigo encantado pela melodia, dançandinho na cadeira mais próxima.
May deu seu sorriso de lado enquanto pensava.
"É eu podia".
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Atualizado até capítulo 55
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