04

Eros

Detestava esses cursos de reciclagem.

Inchação de linguiça.

Meu sonho era ter minha oficina, poder consertar carros, motos.

Eu amava fazer isso.

Desde pequeno carros e motos velozes eram meu fascínio, minha mãe vivia rindo de mim, dizendo que poderia virar piloto de corrida. Mas, no fundo, poder desmontar e montar motores novamente era meu desejo.

Ser bombeiro foi consequência.

Mas estava juntando uma grana e logo iria realizar meu sonho, então entregaria minha farda.

Salvar vidas é para super-heróis, não era meu caso.

Estava mais para pangaré revoltado.

Badboy.

Olhei para o slide à frente junto ao falatório do instrutor.

Tédio!

Minha mente se voltou para Rita.

Minha chocolate.

Aquela mulher era uma perdição.

Consertei a calça que apertou na frente ao imaginá-la.

Ainda cometeria uma loucura.

Aquela bunda empinada e sua língua afiada eram uma combinação perfeita.

Odiava quando alguém falava do João e ela ficava com o

olhar triste.

Era certeza que o coração dela ainda batia por ele.

Perder para um defunto é foda!

Mas também, eu não sabia se existia lugar para mim na vida da Rita.

Éramos muito diferentes.

Ela, patricinha toda arrumada naqueles saltos maravilhosos.

E eu, um bombeiro que não sabia o que queria da vida.

Como dizia meu pai, “um vagabundo tatuado”.

— Algum problema, Tenente? — perguntou o instrutor, azedo.

— Tédio!

Respondi, chocando-o, diferente de todos os alunos, que começaram a rir.

Levantei, deixando a sala.

Tomaria uma advertência.

Quem se importa?

Voltei para casa naquele dia mesmo, não iria conseguir me concentrar na droga do curso, minha mente estava na patricinha com sabor de chocolate e salto agulha.

A primeira vez que encontrei a Rita foi bem engraçado. Nem ela e nem eu estávamos preparados para o impacto daquela noite.

Só queria a droga de uma bebida e esquecer a última discussão com meu pai.

Mas aquela coisa minúscula entrou no bar e não era qualquer bar, era uma espelunca caindo os pedaços, onde só havia homens.

O vestido dela dizia: SEXO.

Aquela bunda! Que bunda!

Todos olharam e assim que ela tomou a bebida e se

engasgou, percebi que a doida estava no lugar errado.

E iria arrumar confusão.

Ainda bem que consegui tirá-la de lá antes que tivesse que entrar na porrada com alguém.

Odiava violência.

No fim foi uma grata surpresa. Me vi entre suas pernas chupando aquela boceta perfeita, e viciado, passando a só pensar nisso.

Desde aquela noite ela tomou minhas terminações nervosas, o seu cheiro ficou em mim para sempre.

A patricinha me deu uma chave de coxa, mas ainda tínhamos assuntos inacabados sobre aquela noite.

Ela não conseguiu me perdoar por abandoná-la no hotel e sair sem dar satisfação.

Foi horrível mesmo, mas tive fortes motivos. Acontece que ela não queria ouvir nenhum.

E me elegeu seu amiguinho de foda.

Estava fodido!

Rita

Helena me olhava chocada.

E eu já esperava isso, minha amiga era cheia de pudores e não iria entender.

— Mas por que você queria fazer isso? — interrogou.

— Eu li nos livros, ficava excitada, tinha sonhos eróticos com a situação e desejei fazer. — Toquei meu rosto e testa. — Eu sonhava em transar com dois homens.

Helena começou a tossir.

Levantei, peguei água e dei a ela.

— Sabia que você não iria entender — resmunguei, batendo em suas costas.

— Estou em choque, na realidade. — Bebeu mais água.

Voltei para minha cadeira, nervosa.

— Queria fazer isso antes dos trinta, antes de arrumar um namorado e me casar, ter filhos, sei lá — tentei explicar.

—  E acabou encontrando o Eros?

— Sim. Pesquisei o bar, dizia que era pertos de motéis, era um bar de encontros. — Suspirei. — Mas era uma espelunca cheia de homens nojentos.

— Mas o Eros estava lá.

— Sim, foi o que me salvou. Se não, estaria numa fria.

Ela riu de leve.

— Mas você transou com dois homens?

Acabei rindo de sua curiosidade.

— Não, lógico que não! Percebi que era loucura da minha mente fértil — esclareci. — Mas acabei na cama com o Eros.

— Por isso sua animosidade com ele de cara.

— Já tinha encontrando com ele na cidade, confesso. Veio com um papo de reviver o que aconteceu naquela noite. — Idiota! Achava que eu esqueceria fácil. — Até parece que vou esquecer tudo assim.

Helena me analisou e mordeu a unha, sabia que ela iria fazer uma análise psicológica das coisas, a conhecia bem.

— Bem, amiga, ele deixou você naquele quarto de hotel com o dinheiro do táxi, foi grosseiro, admito que tenha razão. — Aguardei em silêncio. — Mas ele veio para essa cidade atrás de você e... bem, o João morreu.

— Isso não tem nada a ver com o João — a calei. Não queria falar sobre aquilo. — Passado!

— Você se trancou, Rita. Pode parar — ela me interrompeu, dessa vez. — Se fosse em outra época estaria louca para namorar, assumir, grudar no Eros. — Minha amiga levantou o dedo. — Agora usa o cara de estepe.

— Nos usamos de estepe, Helena. Ele aceitou os meus argumentos e entrou sabendo o que eu tinha para oferecer. — Suspirei — Não quero namorar ninguém.

— Para! Nem todos têm uma paixão de infância como a sua e do João!

— Helena!

— Olha só. Você vai perder o Eros e eu vou dizer “EU

AVISEI” bem na sua cara. — Levantou-se ela, pegando a bolsa. — Você está sendo covarde!

Saiu, chateada.

Droga!

Por que ninguém me entendia?

E será que eu estava errada e o Eros se cansaria?

O domingo estava sem graça, Eros viajando, não tinha nada para fazer.

Pensei que deveria ter aceitado o convite para o churrasco na casa da Helena, mas, com certeza ela e o marido iriam abordar o assunto “Eros” novamente e não estava afim de discutir sobre.

— Tem um barbudo lá embaixo — minha mãe falou da porta do quarto. — Esperando você montado em uma moto.

Olhou-me feio e bateu a porta, saindo.

Não acreditei que ele havia ido até lá.

Calcei o chinelo e desci.

Parado na calçada, vestido totalmente de preto e braços cruzados.

Eu deveria estar parecendo uma louca, cabelo preso para cima, shorts curto e camiseta.

— Não estava viajando? — O meu coração batia feito louco.

Eros mexia com minha libido e emocional de um jeito insano.

Era um homem lindo, rústico e com jeitos grosseiros, mas eu sabia que tinha um coração bom, eu o vi com os filhos do Vince e com outras crianças, era um ogro derretido.

— Voltei mais cedo. — Deu de ombros. — Podemos dar uma volta?

Hum... Isso seria bom? Ou poderia causar problemas?

— Hum, não sei...

— Como amigos? — Sorriu deliciosamente.

— Ok, vou trocar de roupa.

Ele piscou e eu me derreti.

Difícil resistir a uma revista em quadrinhos deliciosa daquelas.

Voltei para casa rapidamente.

— Cuidado com esses homens tatuados — Meu pai falou quando passei. — Ainda branco de olhos azuis? Ruum! O que ele quer com uma mulher negra?

Revirei os olhos e fui me trocar.

Precisava de um canto só meu, e urgente.

Vesti uma calça colada e blusa solta, pondo um brinco grande e arrematando com maquiagem leve e um batom vermelho.

— Filha, se cuida. Vou anotar o número da placa dessa moto

— meu pai gritou e eu bati a porta.

Eu mereço.

— Vamos?

Ele continuava me olhando como seu eu fosse um pedaço de torta deliciosa.

Uau! Acho que eu tinha me molhado.

— Vamos — disse e me entregou o capacete.

Montei na moto segurando firme em sua cintura.

Os vizinhos saíram à porta para olhar. Ainda mais essa. O povo da minha rua era tudo fofoqueiro.

Ele ligou a moto e ganhamos as ruas.

Aproveitei para encostar a cabeça em seu ombro e sentir o contorno de seu corpo em minhas mãos.

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Comments

Amanda

Amanda

Uau, confesso que quero saber o motivo dele pra deixar ela sozinha no quarto 🤔🤔🤔🤔

2023-08-08

1

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